Capítulo 21

— TY, VOCÊ por acaso não sabe alemão ou sabe? -Pedi com a sobrancelha levantada e seu olhar inteligente me analisou com calma.

— Não sei, Ali, e o que quer que esteja tramando, não vai dar certo comigo.

— Não estou tramando nada. -Resmunguei revirando os olhos, mas não insisti mais no assunto.

Era óbvio que Tyron não me responderia.

Como eu havia previsto, o dia estava insuportavelmente quente e aproveitei para dar um mergulho na piscina, não sem a companhia do meu segurança particular.

O sol queimava minha pele embebida em bronzeador e me virei ficando de bruços em cima da espreguiçadeira, a cabeça apoiada nos braços cruzados.

Não corria sequer um vento fresco e embora eu estivesse relaxando, ainda assim preferia o frio.

Pelo menos no frio, havia a possibilidade de ficar debaixo das cobertas vendo filmes horríveis na companhia de certa pessoa e não aqui com dificuldades de respirar por conta do clima abafado e suando em lugares que não queria nem descrever.

Ty ficou em silêncio por alguns minutos talvez com medo de acabar sendo atingido por outra onda de indagações.

Os outros seguranças de Viktor passeavam tranquilamente pela mansão como se fossem apenas visitantes, mas debaixo das blusas ajustadas, você encontraria uma enorme quantidade de músculos além das armas nas cinturas finas que seriam rapidamente disparadas se algum maluco se atrevesse a entrar na fortaleza no meio do nada.

A propriedade era tão grande que a pessoa se perderia antes mesmo de conseguir chegar a algum lugar, de todas formas.

— Posso te fazer uma pergunta? -Virei o rosto para conseguir olhar para o armário de quase dois metros do meu lado.

— Acho que acabou de fazer uma...

— Engraçadinho.

Ty sorriu divertido, mas ficou em silêncio outra vez à espera de que eu falasse algo.

— Você... -engoli em seco — você já matou alguém?

As íris escuras me encaravam com cautela e eu sabia que ele estava pensando na melhor resposta para me dar, mas ao perceber que não conseguiria mentir, ele deu de ombros antes de responder.

— Sim. -Os lábios carnudos se apertaram em um suspiro desanimado.

— Ele mereceu?

Sua cabeça se moveu para cima e para baixo lentamente e eu podia ver o medo à minha reação cintilando nos seus olhos astutos.

— Escuta, eu estou aprendendo a lidar com essa atmosfera obscura que rodeia Viktor e todos os envolvidos, mas prometi a mim mesma que não iria julgar mais ninguém...

O alívio na sua face foi tão visível que tive que me sentar para continuar falando.

Segurei sua mão na minha em um gesto carinhoso.

— É só que, ainda não consigo parar de pensar no que vi.

— Aquele cara poderia ter abusado de você, Alícia e...

— Viktor já me deu esse sermão, pode acreditar.

Sorri de leve lembrando de no que aquele sermão acabou nos levando..

— Isso foi antes ou depois de vocês transarem?

Arregalei os olhos.

— Tyron!

— Qual é Alícia, todos aqui já sabem... além do mais, vocês dois só faltavam se comer com o olhar.

— Contra fatos não há argumentos... -brinquei me aproximando um pouco mais do seu corpo — mas não mude de assunto. O seu chefe já matou alguém? -Soltei de uma vez e seu olhar endureceu tão rápido que eu não teria percebido se não estivesse prestando atenção.

— Eu só vou te dizer uma coisa porque gosto muito de você e sei que você está louca por Schultz. -Arfei sentindo minhas bochechas ficando quentes. — Viktor não é um ser imaculado, -oh droga — mas ele também não é um sádico que ama sair por aí cortando membros alheios sem ter um motivo. Nesse mundo existem certas situações que precisam ser resolvidas pelas nossas próprias mãos e por mais que isso seja ilegal, não quer dizer que não seja o justo.

Concordei à contragosto.

Desde que fui acusada de um assassinato que não cometi, comecei a enxergar como as coisas ao meu redor eram uma enorme farsa.

Tudo pelo que eu lutei, todos aqueles caras que levei à prisão, as garotas que liberei das suas mãos nojentas, nenhum desses atos pareceu valer realmente a pena.

Não quando eles seriam soltos no dia seguinte para continuar fazendo tudo de novo.

E começava a suspeitar que alguns nem mesmo eram culpados, apenas iscas para que os peixes gordos se livrassem.

— Aquilo que você viu no barracão foi um cara frio, porém dominado pela fúria ao ficar sabendo que a garota que ele preza esteve a isso -ele uniu o dedão com o indicador — de virar mais uma na lista do obituário. Viktor pode chegar a ser irritante às vezes, mas ele é leal e protege aqueles que ama sem importar as consequências.

— Ty, e-eu...-esfreguei o rosto com as mãos — Eu não sei o que dizer. Fiquei com tanto medo de vocês. Aquilo foi... Deus, foi horrível.

— Eu sei, querida, mas nós só fizemos isso porque sua segurança e integridade é muito importante para nós. -Sorri me sentindo afortunada apesar das circunstâncias. — E se quer saber, eu faria tudo de novo se fosse preciso.

Ty só queria me proteger assim como Viktor e embora ainda não achasse correto o caminho que eles tomaram, eu finalmente entendia suas motivações.

— Sua namorada é definitivamente uma sortuda em ter um cara tão legal quanto você. -Abracei seu corpo de lado com cuidado para não manchar sua roupa com bronzeador.

— Na verdade, o sortudo sou eu. -Seu sorriso se juntou ao meu. — Além do mais... -Fomos interrompidos pelo toque do seu celular dentro do bolso da calça e me afastei para que ele pudesse pegá-lo.

Ty franziu o cenho ao ver o nome na tela antes de atender me deixando curiosa.

Será que era a sua namorada?

Encostei na espreguiçadeira esperando que ele terminasse a chamada e também para dar algo de privacidade ao segurança apaixonado.

— Kevin está fazendo isso nesse momento, chefe. -Franzi o cenho ao escutar sua risadinha. Estranho. — Sério? Ok, você é quem manda.

Ty estendeu o celular na minha direção apontando com o queixo para que eu o tomasse.

O que era tudo aquilo?

— Alô?

— Olá, liebe, está aproveitando a piscina?

— E-eu, sim? -Olhei para os lados procurando-o efusivamente.

Será que Viktor tinha chegado mais cedo e resolveu me pregar uma peça?

— Não estou aí, Alicia. Vejo vocês pelas câmeras. -Fiquei em pé sem parar de sorrir, entendendo o que estava acontecendo.

— É mesmo? -Dei alguns passos para a borda da piscina. — Está me vendo ainda?

— Sim. -Sua voz ofegante do outro lado da linha fez meu corpo inteiro estremecer. — Deus, esse biquíni precisava ser tão minúsculo?

— Por acaso está com ciúmes, senhor Schultz? -Provoquei baixinho.

Meus pés queimavam nas pedras que contornavam a piscina, mas eu não ligava para isso, simplesmente não conseguia ficar parada, a euforia dominava meu corpo somente com a menção do seu nome e eu precisava queimar toda essa adrenalina de uma forma ou de outra.

— Não, Alícia, eu estou aqui sentado no meu escritório, vendo como você está irresistivelmente quente nesse biquíni e morrendo de vontade de largar tudo para tirar cada peça do seu corpo com os dentes.

— Hum... se quiser posso te esperar aqui com Ty. Ele ainda tem que passar protetor nas minhas costas e... -Sorri sabendo muito bem que ele estava se corroendo por dentro.

— Não acha que já abusou muito da boa vontade do meu segurança por hoje?

— Foi você mesmo quem o colocou para me vigiar, Vik. Além do mais, eu adoro a sua companhia. Ty é uma pessoa muito interessante para a sua informação.

— Alicia...

Seu tom ríspido me deixou ainda mais ardente e embora fosse divertido provocá-lo, aquilo era um sinal de que ele estava no limite.

— Deus, é tão fácil te tirar do sério.

— Quando eu chegar, vou fazer questão de te castigar. -Levantei uma sobrancelha me segurando para não implorar para que ele viesse imediatamente e cumprisse sua palavra.

— Isso é uma ameaça ou uma promessa?

— Definitivamente uma promessa.

— Nesse caso, saiba que eu estou esperando ansiosamente por isso.

Usei um tom de voz tão sensual que nem eu mesma estava acreditando.

— Porra, Coelhinha, eu... -Viktor parou de falar de repente e algumas vozes de fundo chamaram a minha atenção. — Linda, vou ter que desligar. Nos vemos mais tarde e por favor, não fique tanto tempo na piscina ou acabará tendo uma insolação.

— Tudo bem, eu já estava indo tomar um banho de qualquer jeito. Até mais tarde, Schultz.

Encerrei a ligação antes de devolver o celular para Ty que só faltava mostrar os molares com o sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto moreno.

— Se Viktor não fosse meu chefe, eu provavelmente estaria zombando dele nesse mesmo instante.

— Por quê?

Seu sorriso se alargou ainda mais.

— Porque só você não percebe que ele morre de ciúmes de mim.

Oh, eu tinha percebido sim.

E por mais que soubesse que era algo errado, de certa maneira eu gostava disso.

Gostava de vê-lo bravo cada vez que me encontrava com Ty ou que falava sobre Josh.

Era ridículo, mas eu sentia como se fosse uma vingança por todos esses anos em que ele passou fora me fazendo sentir sua falta, me fazendo desejar ter seus lábios sobre os meus outra vez.

— Se você diz. -Dei de ombros. — Eu só não entendo como Viktor não sabe que você tem namorada.

— Esse tipo de informação eu prefiro manter em segredo para protegê-la. Digamos que meu trabalho não é normal e não gosto de imaginá-la em risco por minha conta.

Agora tudo fazia sentido.

— Ela sabe o que você faz?

Meu coração se acelerou à espera da resposta.

Se ela não soubesse, seria um choque gigante caso descobrisse, assim como eu quando vi Viktor em ação e não desejava isso a ninguém.

— Infelizmente sim. -Respirei aliviada. Isso de uma maneira bizarra era bom. Pelo menos evitava o fator surpresa. — Eu não consigo mentir para ela, sabe? Não podia esconder meus ferimentos nem meus punhos machucados quando batia em alguém.

Engoli em seco.

Tyron, por mais que fosse um homem enorme, tinha essa aura de garoto bom que te fazia pensar que ele não seria capaz de matar uma mosca, no entanto, como diz o ditado: as aparências enganam.

— E como... como ela reagiu quando descobriu?

Cobri meu corpo com a canga antes de me sentar outra vez na espreguiçadeira.

— Ela terminou comigo.

— Oh...

Bom, pelo menos eu não era a única a ficar impressionada e furiosa.

— Não faz ideia de como eu fiquei louco, Alícia. Pensei até em pedir demissão para Viktor, mas trabalhar para ele era a única coisa que eu sabia fazer e o salário era muito melhor do que qualquer outro...

— E como fez para que ela te aceitasse de volta.

Eu a pedi em casamento.

— O quê?!

Me levantei em um pulo quase saltando e batendo palmas como uma criancinha que acaba de ganhar um pônei.

— Sim. -Ty sorria tanto que parecia que seu rosto estava paralisado. — Eu disse a ela que não olhasse para o que eu fazia, que eu não era uma pessoa má e que acima de tudo, a amava com tudo o que tinha aqui. -Ele apontou para o próprio peito. — Mag não quis me aceitar no início. Foi difícil convencê-la de que éramos feitos um para o outro, mas no final deu tudo certo.

— Mag?

Magnólia. É o seu nome.

Era incrível como cada vez que Ty falava da namorada, quero dizer, da noiva, seus olhos brilhavam com aquele amor puro e sincero.

E eu tinha que admitir que sentia um pouquinho de inveja ao ver sua adoração por ela.

Queria aquilo para mim.

Que me olhassem com aqueles olhos, que abrissem aquele sorriso ao tocar no meu nome mesmo quando eu não estivesse por perto.

Deus, eu... eu queria ser amada daquela forma.

Incondicionalmente.

— É um nome muito bonito. -Eu disse com a voz embargada depois de alguns minutos. — Mas por que você chama ela de namorada e não de noiva?

— Porque ela mesma quis assim.

Minhas sobrancelhas se uniram em confusão.

— Mag é uma garota muito reservada e apesar de ter me aceitado de volta, ela meio que impôs algumas condições.

— Hum... e quais seriam?

— Que eu não matasse mais ninguém, a não ser que fosse estritamente necessário. -Ofeguei mais uma vez. — E que se alguma garota desse em cima de mim no cassino e por conta do trabalho eu tivesse que seguir o jogo, estava tudo terminado.

— Não me diga que as garotas dão em cima de vocês no cassino. -A pergunta saiu em um gemido esganiçado.

— Você se surpreenderia como existem mulheres malvadas nesse mundo. Os Red Demons também têm sócias, Alicia, e elas são brutais. Uma vez Viktor transou com uma e ela o perseguiu por meses e...

Ele parou de falar ao ver a expressão furiosa no meu rosto.

— Eu sabia que ele já tinha se metido com aqueles nojentos. Droga.

Me levantei em um pulo e caminhei a passos firmes para dentro da mansão.

Ty correu para me alcançar, segurando meu braço com a intenção de me fazer parar.

— Isso foi literalmente há anos, Ali. Depois desse episódio ele não se atreveu mais a se meter com as mulheres da RD. Além do mais, não sei porque perde o seu tempo ficando com ciúmes, aquele cara só falta te colocar em um pedestal.

— Claro que sim... e eu não estou com ciúmes. É só que odeio os Red Demons, por culpa deles estou aqui.

Bufei cruzando os braços.

— Vou fazer de conta que é só isso mesmo. -O deboche na sua voz foi evidente. — Estou falando sério, quando eu fui te buscar na sua casa, ele queria ir junto, mas acabou percebendo que seria uma péssima ideia. E tenho certeza de que ele teria matado aqueles dois policiais se tivesse estado lá.

— Oh por Deus.

— Se eu fiquei tão furioso que só não os matei porque a prioridade era você, imagine Viktor.

— Tudo bem, já entendi. -Levantei as mãos em rendição.

— Schultz pode ser qualquer coisa, Alicia, mas ele não é um traidor.

— Caramba, você realmente tem um apreço por ele. -Apertei os olhos com a revelação.

— Não diga a ninguém, por favor. -Ty sussurrou com uma piscadela. — Viktor e eu temos o mais próximo de uma amizade. Ele é sério na maior parte do tempo, mas como qualquer outra pessoa, tem seus momentos.

— E pelo fato dele ainda não ter arrancado as suas bolas por passar tanto tempo perto de mim, acho que o sentimento é mútuo. -Brinquei empurrando seu ombro com o meu.

— Ele sabe que eu não faria isso com ele, por mais que sinta ciúmes. Viktor confia em mim e eu não pretendo romper essa confiança.

— Até porque, Mag te mata se você fizer isso.

— Eu me mataria primeiro se chegasse a ser tão idiota de trair a minha gata. Sou louco por ela...

— Nossa, sério? Não tinha percebido.

Debochei passando pela porta de entrada em direção à cozinha indo de encontro à Bertha que acabava de colocar alguns bolinhos em cima da mesa, o avental quase todo coberto com farinha e a pia carregada de utensílios sujos.

— Oh, chegaram bem a tempo. -Ela sorriu limpando as mãos em um pano de prato antes de desamarrar a cordinha que prendia o avental no pescoço e cintura.

Analisei os bolinhos dentro do recipiente por alguns minutos, meu estômago roncando ao sentir o cheiro delicioso de café fresco e da fritura.

Os bolinhos eram redondos, polvilhados com açúcar de confeiteiro por cima e pareciam estar recheados com um creme amarelado que parecia ser creme pasteleiro, mas eu não estava segura.

— Isso deve estar uma delícia. -Ty estendeu a mão para a vasilha recebendo um tapa antes mesmo de conseguir chegar até um deles.

— Vá se lavar primeiro. E isso se chama berliner ou bolas de Berlim, que muita gente conhece também como sonho.

Sorri carinhosamente.

Bertha amava a sua cultura, mas amava ainda mais ensinar aos outros sobre ela.

Tinha quase certeza de que essa era a sua maneira de manter a memória do seu país viva, de não esquecer as suas origens apesar de ter sofrido à beça na Alemanha.

— Bolas de Berlim? -Ty observou enquanto lavava as mãos. — Esse nome não é um pouco... sugestivo demais?

Contive uma gargalhada.

Bertha quase fuzilou o coitado com o olhar, mas se recuperou rapidamente.

— Se continuar com gracinha, vai ficar sem as suas bolas.

Dessa vez foi praticamente impossível não cair na risada e em questão de segundos uma leveza espontânea dominou a cozinha e nos sentamos para tomar um café entre conversas animadas interrompidas apenas pelas mordidas nos quitutes deliciosos.

Passamos quase a tarde inteira nos divertindo, até que tanto Ty quanto Bertha tiveram que voltar ao trabalho e aproveitei para subir até o quarto e lavar meu corpo que cheirava a bronzeador e cloro de piscina.

Ao passar pela porta, fui direto para alimentar Chess e brinquei um pouco com a gata que, embora fosse bastante independente, ainda assim precisava de atenção de vez em quando.

Assim como eu.

Alguns minutos depois ela se cansou de receber carinho, voltando para a sua cama e pegando no sono quase que de imediato, então troquei o chinelo de estar do lado de fora pelo de tomar banho e fui em busca de uma toalha limpa.

Não cheguei a dar nem dois passos, quando meu celular começou a tocar em cima da mesinha de cabeceira.

Corri até ela pensando que se tratava de Viktor e me senti péssima ao ficar desapontada ao ler o nome de Suzy piscando na tela.

— Olá amiga. -Recitei todo o esquema que tínhamos para nos certificarmos de que podíamos falar tranquilamente.

Uma vez que ela respondeu confirmando que estava tudo limpo, forrei a poltrona com uma toalha e me sentei com cuidado para não sujá-la.

— Te liguei para saber como estão as coisas por aí, já que você não me liga há dias... -Ela parecia magoada e me senti pior ainda por negligenciar a minha amiga daquela maneira.

— Me desculpe Suzy, esses últimos dias foram como uma avalanche aqui eu... Deus, tenho tanto para te contar.

Nesse momento comecei a relatar tudo sobre o caso, Tyron, Bertha, Viktor e eu.

Susanna escutou em um silêncio suspeito e continuei contando tudo até que fiquei sem nada para falar.

— Vocês transaram. -Arregalei os olhos para a tela mesmo que ela não pudesse me ver naquele momento.

— O-o que está dizendo?

— Que você e Viktor transaram. Está mais do que óbvio, até o seu jeito de falar sobre ele mudou.

— Suzy...

— Não adianta tentar mentir para mim, Ali. Pode ser que eu esteja errada, mas tenho quase certeza de que não é o caso.

Respirei fundo.

E eu que pensava que conseguia esconder algo.

— Sim, você tem razão. Viktor e eu nós... -cocei a garganta — nós transamos, várias vezes.

— Eu sabia que não demoraria muito para que isso acontecesse. Você sempre gostou dele.

— Sim... -Meus batimentos cardíacos se aceleravam só de lembrar do que fizemos. — Ele soube como derrubar todas as minhas barreiras e quando transamos, caralho, foi algo incrível . Viktor resultou sendo uma pessoa carinhosa e puta que pariu, o cara tem uma ferramenta enorme e sabe muito bem como usá-la, se é que me entende. -Mordi o canto do dedo.

As imagens da noite anterior faziam meu corpo tremer e uma vontade insana de implorar para que Viktor voltasse mais cedo me invadia cada vez que lembrava de como era bom ter seus dedos sobre mim, dentro de mim...

Porra, Viktor era milionário, por que tinha que ir ao trabalho todos os dias?

— Eu fico muito feliz por você, Alícia. -A voz de Susanna me puxou de volta para o presente.

— Eu também estou, amiga... -Sussurrei com a respiração entrecortada.

— Mas?

— Mas eu tenho medo.

— Medo do quê, gata?

— Dele sumir de novo.

O silêncio se interpôs entre nós duas.

— Viktor já fez isso comigo no passado sem nem pensar duas vezes e eu... droga eu não quero ser paranoica, é só que sinto como se ele fosse desaparecer de novo assim que tudo isso acabar. Quero dizer, agora ele está me ajudando e tudo mais, mas e quando eu provar minha inocência? Como vamos ficar? Não quero ter meu coração quebrado outra vez, Suzy. Eu não aguentaria mais um golpe desses.

Uma pequena lágrima escorreu pela minha bochecha e a limpei rapidamente tentando impedir que a comporta se abrisse.

Não era o momento nem lugar para isso.

— Oh Alícia... eu entendo sua preocupação, mas não deixe que ela te consuma e te impeça de viver o que você sonhou por tanto tempo. Não importa o que aconteça, você vai saber que pelo menos deu tudo de si, que foi sincera e verdadeira.

Balancei a cabeça para cima e para baixo devagar.

— Você tem razão. -Chess se levantou da cama caminhando até a porta e franzi o cenho estranhando seu movimento, no entanto, continuei conversando sem me importar.

— Sempre tenho, querida. Agora preciso ir, estou no médico fazendo alguns exames para saber qual será a data do parto.

— Droga, eu queria tanto estar aí com vocês... me desculpa por não poder ver o nascimento do nosso Rico.

Minha garganta se apertou e tentei engolir o caroço que me impedia de respirar.

Susanna era minha amiga, uma das poucas pessoas que eu considerava parte da família e saber que não estaria presente em um momento tão importante para ela me doía na alma.

— Está tudo bem, meu anjo. Já você terá tempo para conhecer o seu sobrinho e vai poder brincar muito com ele. -Acenei triste. — Até outro dia, Alicia, e por favor não suma, ok?

— Ok. Te ligarei mais vezes para que fique tranquila. Até outro dia, amiga. Te amo.

— Também te amo, Ali. Fique bem.

Apertei o botão vermelho para encerrar a ligação antes de colocar o celular em cima da mesa de centro.

Não podia acreditar que em pouco tempo Rico nasceria e eu não veria nada disso.

Participei praticamente de toda a gravidez de Suzy e por mais que soubesse que ela estava em boas mãos, ainda assim queria colaborar, nem que fosse para lhe acompanhar depois do parto.

Vamos, de que serve chorar assim? -Murmurei para mim mesma me sentindo tonta por citar aquele bendito livro infantil.

Aconselho a parar com isso agora mesmo! -A voz rouca me fez levantar em um pulo e levei a mão até o coração para evitar que ele pulasse pela minha garganta e saísse correndo pelo corredor.

— Porra Viktor, você e Bertha vão acabar me mandando para o hospital desse jeito! -Grunhi me aproximando desconfiada ao ver Chess descansando em seus braços musculosos. — Desde quando está aí parado me espiando?

Ele não respondeu.

Em vez disso, colocou a gata no chão e segurou meu rosto com as duas mãos me atraindo para si até que nossos lábios estivessem tão perto que eu podia sentir sua respiração sobre mim.

— Isso não vai acontecer.

Seu olhar sério me encarou e o encarei de volta sem entender nada.

— O quê?

— Não vou mais sumir, Alícia.

Oh não. Ele havia me escutado.

Uma vergonha me invadiu e rezei para que ele não pensasse coisas erradas sobre aquela maldita frase.

— Viktor não foi isso que eu quis...

Seus dedos apertaram de leve a minha boca para me fazer calar.

— Já cometi esse erro uma vez e não seria nem louco de fazer isso de novo. Não agora que já sei como é estar dentro de você... -ele beijou meu pescoço enquanto sussurrava — agora que sei qual é o seu sabor... -seus dentes prenderam meu lábio inferior — seria estúpido e idiota te deixar ir.

Apertei as pálpebras saboreando cada palavra como se fossem o mais puro mel.

— Eu não vou mais sumir da sua vida, Alícia, a não ser que você me peça por isso.

— Você me promete? -Pedi baixinho me sentindo como uma criancinha desconfiada, mas não estava nem aí.

Só queria me certificar de que meu coração estivesse protegido.

Viktor segurou meu queixo levantando meu rosto e olhou profundamente dentro dos meus olhos para então responder.

— Eu prometo, liebe.

Levei os braços até o seu pescoço ao mesmo tempo em que sorria aliviada.

Eu acreditava nele.

Via apenas a verdade na imensidão azul do seu olhar e me sentia maravilhosamente feliz por saber que podia confiar na sua palavra.

Beijei suas bochechas, depois a sua boca e pescoço respirando fundo para sentir o cheiro do perfume masculino.

— Alguém estava com saudades, pelo visto. -Suas mãos apertaram a minha bunda, me levantando como se eu não pesasse nada e passei as pernas na sua cintura para não cair enquanto ele me levava até o seu quarto.

— O que pensa que está fazendo?

— Te levando para tomar um banho comigo... -Ele respondeu sem parar de me beijar.

— Oh...

— A tarde inteira fiquei pensando em como seu corpo fica delicioso com esse biquíni. -Sorri sensualmente. — Você ama me provocar, não é mesmo?

— Não faz a menor ideia.

— Bertha me contou que vocês comeram bolas de Berlim hoje. -As pontas dos dedos de Viktor subiam e desciam pelas minhas costas nuas depois de uma rodada de sexo maravilhosa.

— Sim, estavam deliciosos. Ela cozinha malditamente bem.

Minha cabeça descansava no seu peitoral, os batimentos cardíacos ritmados me distraíam fazendo meu corpo inteiro relaxar.

— Ela era cozinheira na casa do meu tio.

— Sério?

— Sim. Quero dizer, ela fazia mais coisas, mas a sua tarefa principal era nos empanturrar com comida. -Sua risada nostálgica sincera era a coisa mais bonita que eu já tinha visto.

— Pelo jeito as coisas não mudaram muito.

— Aqui Bertha é minha convidada, Alícia. Ela não trabalha para mim.

— Como assim? -Me levantei de leve olhando para o seu rosto sereno.

— Eu não a trouxe para ser uma funcionária. Bertha me ajudou na Alemanha, me deu seu apoio quando eu mais precisava.

— Caramba, ela me contou algo assim, mas acho que a história era ao contrário, que você a salvou.

Viktor soltou uma gargalhada sonora.

— Eu a salvei? -Ele se sentou me puxando para cima sem nem perceber. — Certo... hum... logo que eu cheguei naquele país, não sabia nada do idioma. Mesmo assim meu tio me matriculou em uma das escolas mais prestigiadas de Munich -sua pronúncia perfeita fez minha pele arrepiar. — Como todos os alunos lá eram filhos de pessoas extremamente ricas, eles achavam o máximo me zombar já que eu não entendia nada e aquilo me deixava maluco.

— Oh não... pobrezinho. -Beijei seu ombro me sentindo realmente mal por ele.

— Mas mesmo assim eu tentava seguir minha vida, estudar a língua e mandar todos se foderem do jeito que eu conhecia.

— Hum...

— E eu estava fazendo isso muito bem, no entanto, um dia uma garota fez de conta que estava afim de mim só para poder zombar do meu jeito de falar diante de todos.

— Que vadia! -Exclamei irritada.

Viktor negou com a cabeça sem deixar de sorrir com a minha reação.

— Eu fiquei tão furioso, que cheguei em casa e praticamente quebrei meu quarto inteiro.

— Acho que já vi essa cena. -Refleti lembrando do seu quarto na casa ao lado da minha e de como encontrei tudo de ponta cabeça quando cometi a loucura de invadir a sua propriedade.

— Bertha me encontrou quando tentava jogar um colchão pela janela. -Viktor continuou como se nem estivesse me escutando mais. — Ela não se assustou. Não me julgou e muito menos brigou comigo.

— O que ela fez então?

— Me puxou para um abraço e disse que tudo ficaria bem, antes de me perguntar o que estava acontecendo. Então eu expliquei que era praticamente uma chacota por não saber alemão e desde aquele momento ela se dispôs a me ensinar todos os dias por quase um ano.

— Caramba.

— Eu fiquei fluente, como você pode perceber e no último dia de aula, chamei um dos caras que mais me zombavam e lhe chamei para uma briga. Ele me disse que eu era um bastardo e eu lhe respondi denn das hat mir deine mutter gestern nicht gesagt, als sie ihren mund auf meinem schwanz hatte.

— Estou com medo de perguntar o que isso significa.

— "Não foi isso que sua mãe me disse ontem, quando estava com a boca no meu pau".

— Meu Deus Viktor! -Engasguei com a minha própria saliva e meu corpo se sacudiu com a sua risada divertida. — E o que ele fez?

— Partiu para cima de mim com um canivete...

De repente, as peças começaram a se juntar na minha cabeça e deslizei o dedo na sua bochecha, contornando a cicatriz que só o fazia parecer ainda mais sensual.

— Então foi assim que você a conseguiu.

Ele acenou lentamente.

— Sim, eu tive sorte de não ficar cego ou de perder o olho.

— Teve mesmo. Seria uma pena se isso acontecesse, seus olhos são lindos. Só transei com você por eles, inclusive. -Provoquei passando uma perna por cima da sua cintura em uma posição quase sentada.

— Tem certeza de que não foi por conta da minha enorme ferramenta? -Viktor sussurrou no meu ouvido me arrancando um arquejo de surpresa.

— Filho da mãe! Pensei que só tinha escutado a última parte. Vou começar a trancar minha porta a partir de agora.

Considerei pensativa.

— Pode trancar se quiser, de todas formas você não vai mais dormir lá.

— Mas é um convencido mesmo. -Movi minha cintura para frente e para trás sentindo-o endurecer debaixo de mim.

— Seu lugar é aqui comigo Alícia, essa agora é a nossa cama. Não me vejo mais dormindo sozinho e tenho certeza que você também não.

NOTA DO AUTOR

SEXTOUUUU galerinhaaaa 
Vou deixar esse cap aqui e aproveitar para avisar
que semana que vem não teremos caps por 2 motivos:
1 - a apresentação do meu tcc é segunda (aleluia)
2 - meus pais resolveram vir me visitar, portanto não sei se terei
tempo de escrever nesses dias...
mas não se preocupem que se eu tiver um tempinho, vou fazer o possível pra
não deixar vcs com saudades do nosso casal Viklícia. 
Espero que tenham gostado desse cap,
Não se esqueçam de votar e comentar.

Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF 🖤🖤🖤

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