Capítulo 14
OS CORREDORES ficaram cada vez mais apertados enquanto eu caminhava até a minha cela.
Conforme ia passando pelas grades fechadas, mãos tentavam me segurar, arranhando minha pele, puxando meus cabelos e me impedindo de continuar.
Minha boca se abria e fechava para gritar, mas nenhum som saía e de repente gargalhadas ressoavam ao meu redor, me deixando tonta e desnorteada.
Harvey e Josh apontavam suas armas para mim, Suzanna me censurava com o olhar, balançando a cabeça para os lados e Viktor... Viktor simplesmente passava por mim como se nem me conhecesse.
E quando eu tentava segurar o seu braço em busca de ajuda, ele lançava um olhar carregado de fúria e se afastava com um semblante enojado.
Que merda estava ocorrendo?
Agora eu conseguia caminhar melhor, mas minha pele se sentia estranha, se sentia machucada, ferida.
Minhas pernas cambaleavam em cima das placas de cimento e eu me apoiava nas paredes para não cair no chão frio.
De repente meus pulmões pareciam pesar toneladas e eu puxava o ar com força, como se estivesse me afogando em um rio escuro e denso de puro medo.
— S-socorro, alguém... alguém me ajude... por... favor...
Apertei meu pescoço, a visão ficando nublada, mas conseguindo enxergar o suficiente para não errar o caminho.
O barulho de uma buzina tocou de longe e virei meu corpo procurando de onde vinha.
Sombras dançavam na escuridão repentina como se eu tivesse sido transportada para aquele bar.
Para aquele dia onde tudo começou e que me colocou nessa situação.
Agora eu estava do lado de fora, meu corpo oscilando para frente e para trás pela enorme quantidade de álcool que circulava no meu organismo.
Olhei para trás e tudo sumiu.
Era apenas eu, um carro e minha arma.
Mas ela estava diferente.
Aquelas não eram minhas mãos.
Meu coração batia acelerado e olhei para os lados procurando uma saída.
Procurando uma forma de fugir dali.
Eu tinha que escapar...
Eu tinha que sobreviver...
— Mas que porra! -Meu sentei na cama respirando com dificuldade.
Demorei alguns minutos para focar a vista na escuridão banhada apenas pela luz fraca vinda do corredor.
Um momento...
Do corredor?
Arregalei os olhos ao notar a porta do quarto semi aberta.
Será que eu tinha esquecido de fechá-la antes de me deitar?
Procurei Chess para fazer um carinho para tentar me acalmar e franzi o cenho ao não ver minha gata em lugar nenhum.
— Oh não... não... não... -Pulei da cama revisando em cada canto com o coração batendo cada vez mais rápido.
Isso não podia estar acontecendo.
Se Chess fugisse e se perdesse por minha culpa, eu jamais me perdoaria.
Corri para o corredor sem nem lembrar de colocar minhas pantufas.
Já não bastava ter aquele maldito pesadelo, agora outro tipo de medo me invadia: o medo a perder uma das poucas coisas que me tranquilizava.
Desci até a sala, olhei na cozinha, revisei as portas de entrada e saída e nada.
Estava tudo trancado para o meu alívio, mas não achei a minha gata em lugar nenhum.
Voltei para o andar de cima tentando engolir aquela bola na minha garganta.
— Onde você se escondeu, sua pestinha? -Murmurei para mim mesma.
Repassei cada canto que procurei e cheguei à conclusão de que só havia um cômodo que eu não tinha olhado: o quarto de Viktor.
— Droga. -Caminhei com cuidado até a sua porta, percebendo que assim como a minha, ela também estava meio aberta.
Empurrei a madeira delicadamente para não fazer barulho e engoli em seco ao entrar no quarto passo por passo, ofegando ao escutar o ronco suave de Chess que dormia em cima da cama ao lado de um Viktor vestido apenas com uma blusa de algodão e uma cueca boxer.
— Oh Deus... -Tentei não olhar para as suas pernas musculosas cobertas por tatuagens como eu tinha imaginado tantas vezes.
Desviei a cabeça para outro lado e pelo que eu conseguia enxergar com a baixa iluminação, o seu quarto era bem parecido com o meu, a única diferença era que em uma das paredes havia uma prateleira que ia do chão até o teto, carregada de livros, estátuas e outros objetos que não sabia identificar.
Ele também tinha uma pequena mesa e uma poltrona cinza, além da porta que dava ao banheiro e curiosamente, não havia uma televisão na parede como no meu quarto.
— Caramba... -Disse para mim mesma ainda maravilhada com o tanto de coisas que ele tinha naquela prateleira e morrendo de curiosidade de saber o que mais Viktor escondia ali.
No entanto, eu precisava sair rápido para não correr o risco de acordá-lo, então caminhei lentamente até Chess e tentei puxá-la para fora do colchão macio recebendo um miado descontente como resposta.
— Vamos Chess, ele não gosta de você! Vai ficar furioso se te encontrar aqui... -Sussurrei para a gata colocando seu corpo gorducho no chão antes que ela resolvesse fazer mais escândalo.
Chess escapuliu porta afora assim que a soltei e praguejei mais uma vez enquanto me virava para sair.
Contudo, antes mesmo que pudesse dar um passo sequer, fui puxada subitamente para trás, caindo em cima da cama de Viktor que me encarava com os olhos vidrados apertando meu pescoço com força, ao mesmo tempo em que apontava uma arma para a minha cabeça.
Por um milésimo de segundos cogitei a possibilidade de ainda estar sonhando, no entanto, aquilo era muito real.
O cano frio da arma tocando minha pele era a prova disso.
— Que porra é essa, cara? Ficou maluco? -Gemi tentando me soltar do seu aperto, mas ele era mais forte, o peso do seu corpo sobre o meu me empurrando contra o colchão e me fazendo lacrimejar de dor.
Por que diabos ele dormia com uma arma? E pior ainda, por que ela estava a apenas centímetros do meu ouvido?
— Por favor, saia de cima de mim! E-eu sei que não deveria ter entrado aqui, só queria minha gata, eu...
Viktor só me encarava sem dizer nada, o cenho franzido como se estivesse confundido, as íris perdidas e a respiração acelerada.
Na verdade ele parecia nem mesmo saber quem era a pessoa que estava ameaçando explodir o cérebro em mil pedacinhos e um click soou dentro da minha mente assustada em um instante de lucidez.
— Viktor, sou eu, Alícia! Por favor, afaste essa arma daqui! -Pedi mais uma vez e nada. — Caralho cara, sou eu! Sua amiga, sua vizinha! Sou eu, Alícia... por favor só... -Eu começava a me desesperar com a possibilidade de levar um tiro, quando seu aperto se suavizou no meu pescoço e ele afastou a mão armada para o lado, soltando a Glock bem parecida com a minha como se ela estivesse pegando fogo.
— Coelhinha? -Viktor piscou devagar parecendo finalmente acordar e balancei a cabeça para cima e para baixo deixando escapar algumas lágrimas de alívio e medo. — Oh Deus! M-me desculpa Alícia, eu não queria... oh por Deus!
De repente ele se levantou angustiado, seus pés se moviam pelo quarto como um animal enjaulado enquanto ele apoiava as duas mãos atrás do pescoço respirando com dificuldade.
Será que ele estava tendo um ataque de pânico?
Seria bem irônico, já que quem tinha quase levado um tiro, era eu.
— O que foi tudo isso, Viktor? -Me sentei no colchão encostando na cabeceira apertando meus joelhos contra meu peitoral, sentindo meu corpo inteiro tremer, mas isso não tinha nada a ver com o clima e sim com a adrenalina que ainda percorria minhas veias.
— Alícia eu... eu não sei o que aconteceu, só... me perdoa por favor! -Ele se aproximou rapidamente, se sentando ao meu lado e me prendendo nos seus braços quentes e aconchegantes apesar do que tinha acabado de acontecer.
Seu semblante parecia realmente arrependido e senti como se estivesse de volta naquele dia do funeral.
— Tudo bem, já passou... eu estou bem. -Sussurrei para tranquilizar sua mente conturbada.
— Você não entende, eu... eu jamais te machucaria, Coelhinha. Jamais! -Nossos corpos balançavam para frente e para trás e ele repetia a mesma frase uma e outra vez, como se quisesse se convencer mais do que a mim. — Me perdoa, por favor...
Ficamos assim nesse ciclo, ele pedindo desculpas e eu tentando fazê-lo entender que estava tudo bem, que não estava brava, até que seus movimentos foram ficando mais lentos, os braços ainda me apertavam contra si, no entanto, sua respiração antes acelerada, agora parecia mais calma, mais tranquila.
Não sei em que momento acabamos deitados abraçados um ao outro enquanto ele me consolava e olhei para o lado e negando com a cabeça ao encontrá-lo dormindo pacificamente, embora ainda mantinha aquela expressão culpada no rosto.
Sem conseguir me conter, deslizei os dedos pelo queixo angulado contornando a cicatriz na sua bochecha, subindo até às sobrancelhas grossas e me perdendo nos cabelos sedosos arrancando-lhe um leve gemido seguido de um suspiro.
— O quê fizeram com você, Viktor? -Pensei comigo mesma.
O que será que tinha acontecido para fazer com que ele dormisse em estado de alerta com uma maldita arma debaixo da almofada?
Por um breve momento pensei que não me reconheceria, que me mataria ali mesmo, em cima da sua cama e quando ele me enxergou, foi clara a mudança no seu comportamento.
Meu peito se apertou ao ver o desespero no seu olhar ao entender que se tratava de mim.
Nada disso deveria ter acontecido.
Droga, eu precisava sair dali.
Ele certamente ficaria furioso no outro dia por ter a sua convidada invadindo a sua privacidade.
O problema, era que seus braços apertavam a minha cintura de tal maneira que era difícil me mover sem acordá-lo.
— Porra...-Rosnei deslizando para baixo até uma posição mais deitada ao seu lado.
Viktor se moveu levemente e prendi a respiração com medo de ter estragado tudo.
Estava quase conseguindo sair do seu aperto, quando ele me puxou ainda mais para si, me abraçando por trás e enfiou o nariz no meu pescoço respirando fundo de maneira inconsciente, enviando uma corrente de tesão até o meio das minhas pernas me obrigando a conter um gemido excitado.
Droga, droga, droga.
O que eu faria?
Não queria acordar a fera e cada vez que tentava me afastar, ele me puxava para mais perto.
Eu estava cansada e sonolenta, só queria voltar a dormir, porém não havia maneira de escapar, então só me entreguei ao sono decidindo que lidaria com toda aquela merda no dia seguinte.
Abri meus olhos franzindo o cenho ao mesmo tempo em que esfregava o rosto com as mãos.
Estiquei o braço para dar bom dia a Chess como de costume, no entanto, encontrei o outro lado da cama vazio, porém desarrumado como se algo bem maior tivesse dormido ali.
Ou melhor dizendo, alguém.
Nesse momento, as memórias da noite anterior me atingiram em cheio como fogos de artifício e me sentei subitamente na cama sem ânimos para enfrentar a fúria de Viktor.
Para a minha sorte eu ainda estava vestida, o que significava que não tinha rolado nada além do sono profundo e suspirei sentindo uma mistura entre alívio e decepção.
Joguei o edredom para o lado e saí literalmente correndo para dar o fora dali.
Cruzei a porta com o coração quase pulando para fora do peito tão nervosa, que por pouco não vi Bertha vindo ao meu encontro com um sorrisinho travesso no rosto.
— Bom dia meu bem, estava indo te deixar isso... -Ela apontou com a cabeça para a bandeja que tinha em mãos contendo o que parecia ser um café da manhã completo. — Como dormiu? -Suas sobrancelhas se uniram e ela sorriu ainda mais, fazendo minhas bochechas queimarem.
— Primeiramente, não é nada disso que você está pensando. -Comecei girando os olhos ao lembrar de que quando alguém dizia isso, significava que era exatamente aquilo que estavam pensando.
— Eu não disse nada, meu bem. -Levei uma mão até a testa antes de me aproximar dela e pegar a bandeja e acabar logo com aquela caminhada da humilhação.
— Obrigada por isso, Bertha, mas não precisava ter se preocupado por mim.
— Na verdade, quem fez tudo foi Viktor, porém ele me pediu para levar até o quarto porque ligaram para ele do cassino e ele teve que sair...
Engoli em seco apertando as pálpebras sem acreditar no que estava escutando.
Viktor preparando um café da manhã? Boa tentativa, Bertha.
— Como seja, -suspirei- vou ver como está a minha gata e tomar um banho. Obrigada novamente por... -Olhei profundamente nos seus olhos antes de me virar e entrar no meu quarto na velocidade da luz milagrosamente sem derrubar nada do que tinha nas mãos.
Como era de se esperar, Chess dormia na minha cama como se nada tivesse acontecido e coloquei a bandeja na mesinha de centro antes de ir até ela e acariciar seus pêlos macios.
— Você ainda me paga, mocinha. -Sua boca se curvou em um sorriso e podia jurar que ela estava dizendo algo como "não me arrependo de nada". — Desde quando invade o quarto de Viktor para dormir com ele, hum? E como o babaca ainda não percebeu isso? -Indaguei mesmo sabendo que não obteria nenhuma resposta.
Era um milagre que ela passasse despercebida, caso contrário, eu já teria levado uma bronca e ela provavelmente sido expulsa, o que acarretaria uma grande confusão.
— Que seja, - continuei - de todas formas, a partir de hoje eu vou trancar a porta, aí quero ver você conseguir sair e... -fui interrompida pelo ronco no meu estômago em um sinal claro de que ele precisava de combustível.
— Vamos fazer uma pausa, mas você ainda não se livrou, heim? -Caminhei até a poltrona, me sentei com calma e puxei a bandeja para mais perto.
Meu estômago roncou novamente ao sentir o cheiro do café fresco e fiz uma careta satisfeita e surpreendida ao ver quanta comida havia ali.
Organizados perfeitamente em cima da bandeja, encontrei um quiche de carne seca e ricotta, um sanduíche de peito de peru e muçarela de búfala, biscoitinhos de maisena, ovos mexidos e um copo gigante de suco de laranja.
— Caramba, Bertha, você se superou hoje. -Murmurei enquanto comia deixando que o sabor maravilhoso me tranquilizasse.
Só percebi que estava morrendo de fome quando terminei tudo em questão de minutos.
E no momento em que estava juntando toda a vasilha suja para levar para a cozinha, um papel que parecia estar colado em algum lugar escorregou até o chão atraindo a minha atenção.
Me abaixei para pegá-lo e ver o que era e meus batimentos aceleraram ao reconhecer novamente a letra de Viktor nele.
"Ia te levar o café da manhã pessoalmente, mas precisei ir até o cassino resolver um problema que surgiu.
Nos vemos mais tarde.
V. "
— Mas que diabos? -Exclamei amassando o papel e jogando-o para longe.
Eu já estava ficando irritada com essa sua mania de deixar bilhetinhos para escapar de uma conversa de adultos.
Provavelmente essa história de problema no cassino era apenas uma desculpa para ele fugir da realidade e por mais que o medo também me dominasse às vezes, eu sabia que uma hora ou outra teríamos que colocar as cartas sobre a mesa.
Vários dias tinham se passado depois do nosso episódio e cada vez que eu tentava falar com Viktor, algo surgia e ele precisava sair ou chegava super tarde do cassino e ia direto dormir, para no dia seguinte sair antes mesmo do sol nascer.
E eu já estava de saco cheio de ser feita de idiota.
Tomei um banho rápido depois de me levantar e me vesti mais rápido ainda antes de ir para a cozinha e tomar uma xícara de café carregada.
Precisava sair daquela mansão e ir até a cidade por dois motivos:
O primeiro era que meu pesadelo queria me dizer algo. Sonhei com aquela noite no bar e depois de analisar várias vezes cada acontecimento, cheguei à conclusão de que eu devia ir até aquele bar para ver o que tinha acontecido realmente.
E segundo: iria pessoalmente falar com Viktor, e de quebra, conhecer o lugar onde ele passava a maior parte do seu tempo fugindo de mim.
Tinha pedido para Suzanna falar com o dono do bar e pedir uma cópia da gravação daquela sexta-feira maldita e para o meu alívio, ele havia concordado com a condição de que eu não contasse para ninguém.
Como se eu fosse fazer isso de todas formas.
Depois de muito insistir, também consegui convencer Ty a me levar, o que pessoalmente foi um feito e tanto.
O segurança era uma pessoa boa, porém leal ao seu chefe, ainda mais quando se tratava de mim.
Mas ele entendeu que eu realmente devia fazer aquilo para averiguar como conseguiram me incriminar sendo que eu não me lembrava de nada.
— Está pronta, Ali? -Ty apareceu na cozinha com o celular em mãos e levantei uma sobrancelha desconfiada.
— Não me diga que avisou Viktor que estamos saindo? -Bufei e ele sorriu ficando corado de imediato.
— Alícia, acha mesmo que te tiraria da propriedade sem dizer ao meu chefe? Além do mais, é melhor assim. Já parou para pensar se acontece algo e ele não fica sabendo? Viktor me mataria antes mesmo de eu conseguir me explicar. -Engoli em seco balançando a cabeça para cima e para baixo.
Ty tinha razão.
Eu estava correndo um risco e não podia simplesmente fazer de conta que não era uma foragida e agir como uma adolescente teimosa.
— Tudo bem... vamos. -Coloquei a xícara vazia na pia e peguei minha bolsa com o celular, óculos e um moletom com capuz para servir de disfarce.
O caminho até a cidade foi mais longo do que eu me lembrava e quase cinquenta minutos depois, estacionamos no beco que ficava atrás do bar em questão.
De dia, o beco não era tão intimidante quanto de noite, no entanto, a expressão impaciente do homem na minha frente não era das melhores.
O cara era enorme, os braços tatuados e um olhar de quem poderia quebrar o seu pescoço apenas com a força do pensamento.
— Se você falar para alguém que eu te dei isso, é uma garota morta. -Seus dedos seguravam um envelope contendo o CD com a gravação e concordei rapidamente.
— E se você tocar em um fio de cabelo dela, ficará na mira de Viktor. -Ty respondeu tranquilamente. — E sabe muito bem que ele não tem pena de quem se coloca no seu caminho.
Engoli em seco pela milésima vez.
Em que tipo de pessoa Viktor tinha se transformado? E por que todos tinham medo dele?
Essa era uma das milhares de perguntas que sempre fazia a mim mesma.
Queria saber mais sobre ele, entender o que tinha acontecido para que ele voltasse a South Oaks completamente diferente daquela criança amável que eu conhecia.
— Que seja, só dêem o fora daqui. Já cumpri com o que prometi, não quero mais vê-los no meu bar, principalmente você. -Ele resmungou apontando para mim.
— Obrigada... vamos Ty, ainda temos que passar no cassino. -Respondi baixinho e o homem entrou pela mesma porta que tinha saído, desaparecendo como um fantasma.
Voltei para o carro tão nervosa que o envelope na minha mão parecia queimar como se fosse fogo vivo.
A curiosidade para ver as imagens me corroía, mas eu tinha que acertar primeiro as coisas com Viktor ou não ficaria em paz.
— Tem certeza que é uma boa ideia ir até lá, Alícia?
— Não. Mas não estou nem aí. Além do mais, eu nunca fui no Rainha de Copas, quero conhecer o lugar onde o seu chefe se esconde de mim. -Sorri levantando as sobrancelhas sugestivamente.
— Ele não se... quer saber, esquece. -Dei de ombros e entramos em um silêncio confortável até chegar no estacionamento do enorme centro comercial onde ficava o cassino de Viktor.
O local era como aquelas avenidas de Las Vegas onde você podia encontrar várias coisas.
Havia ali um cinema, lojas de grife para pessoas milionárias, um supermercado com produtos mais caros que o socialmente aceitável e até mesmo uma clínica de botox atendida por um dos melhores cirurgiões do país.
E é claro, o cassino que ocupava quase metade da estrutura.
— Ainda dá tempo de desistir, Ali. -Ty repetiu ainda com as mãos no volante.
— Está tentando tanto me convencer a não subir, que o único que consegue é me fazer ficar ainda mais curiosa para saber o motivo.
Cruzei os braços e Ty soltou uma longa respiração sabendo que havia perdido a batalha.
— Tudo bem, vamos.
Descemos do carro e rumamos até o elevador.
Ty apertou a senha correspondente e a caixa de metal começou a se mover no mesmo instante.
Tinha que admitir que estava ansiosa e nervosa por esse encontro.
Era a primeira vez em todos esses anos que eu entrava no lugar que pertencia ao cara que dominava a maioria dos meus pensamentos e tinha medo do que ele fosse pensar.
E se ele fosse aquele tipo de pessoas que não gostava de ter uma garota na sua cola no seu trabalho?
Droga. Agora que eu tinha parado para pensar nisso.
Conforme subíamos até o escritório de Viktor, minha respiração falhava e sentia que desmaiaria a qualquer momento.
Mas era tarde demais.
Eu já estava aqui e não havia volta atrás.
Principalmente quando as portas se abriram e fui praticamente escoltada pelo corredor até uma outra porta dupla de madeira protegida por outro interfone com botões.
Ty apertou o botão vermelho com cuidado sendo respondido em segundos.
— Olá Ty, tinha visita para hoje? -Uma voz feminina soou do outro lado.
— Olá, Helena. Não tinha, porém avisei a Viktor que viria.
A mulher pareceu debater consigo mesma por alguns minutos.
E eu não parava de pensar no fato de que Viktor tinha uma secretária.
Caramba, sequer deveria ligar para isso.
Eu e ele não éramos absolutamente nada.
— Oh, nesse caso tudo bem. Já liberei a sua entrada, irei avisar Viktor de que está aqui.
— Obrigado.
Um click soou e a porta se abriu como em um passe de mágica.
Ty fez um movimento com a cabeça para que o seguisse e só podia pensar em como o lugar exalava luxo em cada centímetro quadrado.
Desde o chão coberto por um tapete cinza até as cadeiras de uma madeira fina com detalhes em veludo verde escuro.
Uma mesa de mogno com uma cadeira vazia que supus ser de Helena, ocupava um lado da pequena sala de recepção e haviam apenas alguns papéis além de uma tela com vários quadradinhos que reproduziam imagens da porta, do corredor, elevador e até mesmo do cassino lotado apesar de não passar das dez da manhã.
Continuamos nosso caminho por outro corredor até parar diante de uma porta dessa vez sem painel para colocar códigos, apenas uma maçaneta dourada tão brilhante que podia ver nosso reflexo nela.
Com a aprovação de Ty, levei a mão até o metal frio e o girei delicadamente empurrando a porta com o coração saltando dentro do peito.
Tinha que admitir que estava animada para ver Viktor, no entanto, de todas as coisas que pensei que encontraria ao entrar, definitivamente não tinha contemplado a cena bem diante dos meus olhos.
Viktor estava sentado atrás de uma mesa bem parecida com a da entrada, só que o dobro de tamanho, em uma cadeira que era quase um trono e em cima das suas pernas, uma mulher com um corpo invejável e cabelos loiros que desciam até a sua cintura dando-lhe uma forma quase angelical.
Ao nos ver, ela sequer expressou uma reação de surpresa como se fosse um comportamento recorrente e fogo puro correu pelas minhas veias.
Cruzei os braços com a sobrancelha levantada e podia jurar que vi Viktor empalidecer.
— Mas que porra... onde está Ty? -Suas mãos praticamente empurraram a loira para longe e soltei uma respiração entrecortada.
— Aqui, chefe. -O moreno que se escondia atrás de mim deu um passo para o lado, entrando na sala.
— Por que diabos não me avisou que viriam?
— Eu mandei uma mensagem, mas acho que não deve ter visto.
Viktor retirou o celular de dentro de um dos bolsos do terno e franziu o cenho praguejando.
— Está sem bateria - ele resmungou com as bochechas levemente coradas dessa vez. — Agora, eu gostaria de saber o que estão fazendo aqui?
— Só queria te visitar, mas pelo visto cheguei em um mal momento. -Balancei a cabeça para os lados dando passos para fora do seu maldito escritório.
Como eu podia ser tão estúpida?
Era óbvio que eu era a única culpada por ficar me iludindo sozinha.
Minhas mãos coçavam de vontade de dar uns tapas em Viktor para que ele se sentisse como eu me sentia naquele momento, mas eu não sujaria minhas mãos com aquele idiota.
Não mais.
Me aproximei da porta limpando algumas lágrimas que caíram enquanto caminhava, quando de repente fui detida por dedos quentes apertando meu ombro e me fazendo suspirar.
— Alícia, espera...
NOTA DO AUTOR
Helloooooo amoressss como estão?
Espero que ótimos e que tenham gostado desses 2 caps.
Tenham uma ótima semana,
e não se esqueçam de votar e comentar.
Amo vcs, 🥰
bjinhossss BF 🖤🖤🖤
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