Miojo
capítulo 5
O banquete estava servido. Haviam proteínas, massas, carnes e peixes temperados com ervas, tudo vindo de muito longe.
Yoongi decidia o que escolher entre os pratos coloridos e amontoados na mesa baixa onde antes estavam seus exercícios, agora esquecidos em canto qualquer do quarto.
Na verdade, nem estava com tanta fome assim, mas ao pegar o cheot-garak¹ e levar uma pequena porção de carne cozida, escutou um som estranho vindo da barriga de Taehyung.
No mesmo instante o estudante se encolheu envergonhado.
— Saiam todos! — mandou o loiro. Ele deixou o talher sobre a mesa e esperou os servos irem embora apressadamente. — Menos você, duende.
O estudante assentiu.
Quando finalmente a porta se fechou e ficaram à sos, o rei empilhou uma porção generosa de arroz e peixe, levando ao alcance dos olhos de Taehyung.
— Abra a boca e... aaaaah. — ele desviou miletricamente da boca salivante do outro e comeu, dando um sorriso debochado. — Como se atreve a ficar desejando minha comida, colher baixa²?
Taehyung bufou.
— As pessoas mal tem comida para se alimentarem direito, mas alguém aqui sopas, carnes e uma colher de ouro! — acusou, enfurecido.
Min Yoongi se engasgou ficando vermelho pela falta de ar, então recorreu à um copo com água e começou a comer de novo.
— Todos como você, classe baixa, precisam estar conformados com o que a terra pode dar, por causa da seca. — falou de boca cheia, lambendo os lábios gordurosos.
Só de ver o bico contrariado que o rapaz fazia, mais lhe dava apetite.
—"Classe baixa"... Você continua me chamando assim. — espreitou os olhos acusatoriamente. — Mas o gosto da classe baixa é muito melhor, estimado "colher de ouro³".
— O gosto da classe baixa? — repetiu ligeiramente curioso. — Não brinque comigo!
— Quer ver? — desafiou o mais alto, estufando o peito. — Me diga onde fica a cozinha.
— A cozinha?
— Parece um papagaio... Sim, o lugar onde toda essa comida ai foi feita!
Geralmente o estudante não era corajoso, mas se tinha algo que lhe deixava mais irritado do que o normal, era sentir fome.
[...]
Os dois mais pareciam crianças fazendo algo escondidos dos adultos, ao entrarem no comodo cheio de utensílios recém lavados do almoço. A grande parte dos criados estavam em seu horário de descanso, o que facilitou a fuga da dupla.
Taehyung pulou empolgado tirando sua mochila das costas, enquanto Yoongi retrucava evergonhado por se deixar levar pela tagarelisse do mais novo.
— Aigoo, como pode um homem entrar em um lugar como este — Yoongi disse, olhando ao redor.
Estava constrangido.
Nasceu naquele palácio, mas aos vinte e cinco anos, era a primeira vez que colocava seus pés ali e ainda assim, não parecia o certo.
— Me dê dez minutos, okay? — Taehyung pediu, já pegando sua mochila, cantarolando algo inglês ao mesmo tempo que organizava o que precisaria. — Dananana eeeeh, dananana. Ai que saudade do micro-ondas.
O estudante pegou o copo plástico onde estava o macarrão instantâneo e abriu o lacre acrescentando o tempero em pó, depois a água fervente. Assim como um ovo para dar um toque a mais no miojo.
Três minutos depois, estava pronto, então sentados lado a lado, Taehyung pegou um cheot-garak soprando seguidas vezes para enrolar o macarrão nos palitos e fazendo pequenos círculos no ar em direção a Yoongi. Esse abriu a boca com expectativa, mas Taehyung desviou e comeu fazendo um gemido prazeroso.
— Sim, isso é muito bom. Não importa onde eu estiver, vai ser sempre minha comida favorita! — disse nostálgico.
Yoongi, ainda franzido as sobrancelhas grossas, lambeu os lábios ao olhar curioso o macarrão diferente. O cheiro era sensacional.
— Aaaaaah, abra a boca. Vamos, vou deixar você provar.
Mesmo desconfiado fez o que o rapaz pediu, então abriu bem a boca e masticou uma, duas vezes até os olhos se arregalarem com o sabor explodindo em sua boca.
— Me dê isso! — pegou o pote das mãos de Taetae apressadamente, para abocanhar mais uma porção.
— É delicioso, não é? — perguntou feliz, vendo Yoongi devorar tudo entre gemidos fofos.
— É perfeito! Muitíssimo bom! — concordou.
— Sim, mas é picante. Beba água.
— Um pouco picante, mas consigo comer. — recusou, devorando mais um pouco a comida simples porém saborosa ao seu paladar requintado, não se importando em lambuzar a boca com o caldo que escorria pelos cantinhos.
— Olha só como você come bem! Gu, gu, gu. — fez aegyo, só para receber um carranca do outro que não parava de mastigar. — Cinco vezes nove?
— "Quarenca e cincu". — respondeu de boca cheia.
— Yeees! — gargalhou Taehyung mais feliz do que nunca, achando aquilo adorável. Se sentia até orgulhoso em encontrar algo que o loiro apreciasse.
[...]
Gritos e mais gritos vinham de dentro dos aposentos reais. Os servos entravam e saiam apressados com toalhas, ervas, ou o que mais servisse para amenizar a agonia de sua majestade, que berrava aos quatro ventos:
— Onde está aquele maldito? Há fogo no meu estômago! — Yoongi trincava os dentes, seu rosto ganhando um tom vermelho. Sua barriga parecia ter vida própria ao fazer um barulho alto. O rei se estribuchou na cama, suando frio a cada onda de dor. — Aquele eunuco podre!
Tragam ele aqui, agora!
Minutos depois Taehyung estava lá, mas ao invés de temer alguma punição do rei, foi logo colocando as mãos na cintura, por sinal bem contrariado.
— Você não conhece Hei Joon⁴? Não me diga que acredita nesses amoletos?! — bufou o moreno, retirando o papel colado na testa do loiro. — Não acredita na medicina?
Yoongi deu de ombros, amuado.
— Ei, olha. — apontou para o próprio corpo. — Este é o estômago e aqui fica o intestino. A comida precisa ser bem digerida, mas caso seu corpo recuse o que comeu, aqui que dói. — explicou, pausadamente. — Você ficará bom logo, precisa apenas ingerir muito líquido para eliminar logo o que te fez mal.
O loiro piscou letárgico, não conseguindo absorver muito o que Tae falava. Há pouco seu corpo sofreu de tal forma, que até achou mesmo que fosse morrer.
— Aish, como pode ser tão fraco?! — continuou o estudante, mandando para os ares a pouca impaciência. — Você disse que matemática era importante, entretanto agora está acreditando em superstições? — esbravejou arrancando o pepel colado na testa do rei, onde algumas palavras em chinês estavam escritas para afugentar os maus espíritos. — Olha pra mim! — pediu impaciente, se aproximando mais. Então levou as mãos ao peito. — Coloque as mãos aqui e tente sentir algo batendo! Esse é o coração. — Min Yoongi imitou o gesto do rapaz. Porém seu rosto entediado ainda permaneceu, ao negar que não sentia nada. — Como isso é possível? — questionou Taehyung, tentando verificar.
— Como se ousa tocar no meu corpo?! — subiu o tom de voz ao se surpeender com tamanha audácia.
Taehyung engoliu em seco.
— Hum, desculpa. Mas também não pode continuar para sempre sem saber... — refletiu pesaroso. — Já sei! Quando há uma pessoa na qual se gosta muito, por exemplo, esse músculo involuntário baterá mais forte, então saberá que ali é seu coração! — disse sorridente. Se sentia bobo explicando coisas tão singelas pra alguém mais velho.
— Oh... — murmurou Yoongi. — Então deixe-me sentir! — quis saber, já colocando as mãos no peito de Taehyung.
O calor do toque repentino fez o estudante dar um pulo. Seu rosto pegava fogo quando conseguiu formular uma frase.
— Yaah! Não p-pode fazer isso! — estava nervoso, não sabendo direito o porquê de estar tão afetado. Começou a andar para trás, enquanto pensava em uma desculpa plausível para um pequeno chilique. — Q-quer dizer, se não posso te tocar, você também não pode tocar em mim... — parou de falar aos sentir as costas bateram na estante. — A-além disso, sou um colegial do futuro, conheço um monte de coisas! Por isso, só confie em mim, hum? E não acredite em superstições bobas como esta... — pigarrou, limpando uma gotícula de suor que descia pela nuca. — Parece que está mais quente hoje.
— Você é mais útil do que imaginava. — disse Yoongi se aproximando sorrateiramente, colocando de forma perigosa um braço por cima dos ombros alhei, onde pousou a estante, encurralado assim Taehyung.
A diferença entre o tamanho dos dois poderia ser maior, se o loiro não tivesse usando sapatos feitos por medida, lhe deixando alguns centímetros mais alto. Dessa forma seus olhos se conectaram com mais facilidade, causando um certa tensão.
O estudante fechou as pálpebras ao sentir a respiração perto demais do seu rosto, aguardando ansioso por mais.
Já Yoongi perdeu alguns segundos admirando aquele rosto perfeito, notando até mesmo a pontinha minúscula no nariz delicado. Logo a boca bem desenhada de Taehyung lhe chamou mais atenção, parecendo macia e convidativa.
O rapaz era lindo, precisava admitir, todavia era estranho achar beleza em outro homem, isso ia contra seus princípios. Confuso com os rumos dos próprios pensamento, Yoongi balançou a cabeça, colocando a culpa no cansaço das últimas semanas.
— Vamos lá, me siga, duende. — continuou o Rei, endireitando a postura antes de empurrar a estante, que na verdade era uma porta secreta.
Taehyung abriu os olhos atordoado, fazendo esforço para se equilibrar. Suas pernas ainda tremiam quando, enfim, conseguiu se arrastar para ir atrás do loiro.
Um silêncio estranho se instalou entre ambos. As luzes das lanternas de fogo fixadas nas paredes robustas, iluminavam bem o corredor estreito, então nada precisava ser dito.
Não muito longe outra porta foi vista e após dois toques com ritmos difetentes, a mesa mesma foi aberta, mostrando uma ala escondida do palácio onde estudiosos discutiam algo, analisando um homem deitado em uma espécie de maca. Parte do lençol cobria o corpo imóvel do mesmo.
Taehyung foi até lá à um convite breve de Yoongi. Curioso, o estudante percorreu com os mirantes ao redor da sala, se deparando com milhares de desenhos.
— Posso? — perguntou, pegando sua caneta que estava escondida nos fios castanhos, presos em um coque frouxo.
— Claro. Informe o que sabe. — assentiu o loiro, ficando em uma distância considerável do grupo.
— Okay. Os órgãos principais são estes aqui. Os rins também são importantes, tomem cuidado para eles não serem retirados! — observou, riscando os desenhos presos às paredes, ao mesmo tempo que apontava para o homem na maca. — Este é o cérebro, e não "celebro". Tem gente que confunde e fala errado a vida inteira, assim como "imbigo", mas o correto é umbigo. Hã, o que é umbigo? É o buraquinho no meio da barriga, onde tinha o cordão umbilical, daí se vem o nome. Anotem isso!
— Interessante. Mas não seria melhor mostrar isso na prática? — questionou um erudito.
Taehyung empalideceu, olhando para o corpo.
— N-não podemos dessecá-lo, é muito tedioso! — desconversar,
franzindo o nariz em uma careta. Seu estômago revirava só de pensar em tal coisa.
Então, qual não foi sua surpresa, ao ver o homem estendido na cama se mexer, dizendo que sentia frio e queria se vestir? Taehyung quase o estapiou pelo susto, saindo aos gritos para se esconder atrás de Yoongi.
— Me desculpem, me desculpem... — pediu envergonhado, quando todos gargalharam.
Yoongi também não segurou o riso, entretanto, com as poucas informações que o estudante passou naquela tarde, os estudiosos tiraram um bom proveito, confirmando assim teorias, esclarecendo dúvidas. Então formularam glossários explicativos, sendo esses mostrados aos ministros. Eram informações inovadoras, muito significante para a época.
[...]
— Ela recebe energia da luz do Sol.
— Energia? — perguntou o rei olhando para a planta.
— Sim, força! Então temos a fotossíntese. E por falar em foto... Vamos tirar uma selca? — perguntou simplista, se sentido cada vez mais a vontade com a presença do loiro. — Por favorzinho?
Yoongi revirou os olhos, mas tirou o aparelho de suas vestes, entregando a Taehyung.
— Venha, fique mais perto. — pediu o estudante, ligando a câmera.
Foi estranho se ver ali em tempo real, ao passo que sua imagem ficava gravada "naquilo", por isso Yoongi quase caiu para trás quando Tae tirou uma foto dos dois. Na segunda selca, o rei saiu com os olhos esbugalhados, já na terceira com eles fechados. Na quarta e quinta foto, sorriu, mostrando pela primeira vez as gengivas rosadas, enquanto Taehyung fazia um "V" com os dedos.
De longe a rainha observava a dupla, encucada com o eunuco novo que arregaçava a mangas longas para apertar a pele do próprio braço.
— Por que ele fez aquilo? — perguntou a uma serva.
— Já vi ele fazer outras vezes, alteza. — confidenciou a mulher. — Ele disse que os sinais em sua pele são os olhos de um elefante, e a pele espremida é a tromba.
— Que estranho... — murmurrou, com a serva concordando, mas o rei gargalhava de tal bobagem.
Eun nunca viu Yoongi tão à vontade assim. Em nenhum dos seus encontros, antes ou depois de se casarem, ele sorriu daquela forma, então não sabia se entristecia ou alimentava a raiva do rapaz de beleza estonteante.
Afinal, era ela quem deveria arrancar risadas sinceras do mesmo e lhe fazer companhia, certo?
Continua ☔
cheot-garak¹: palitos de metal
colher baixa²: É um ditado na Coreia para chamar a classe pobre.
colher-de-ouro³: dito aqueles que nasceram com riqueza e poder.
Hei Joon⁴: médico da corte na dinastia Joseon, que escreveu um texto definindo a medicina tradicional coreana.
Iuzinha, tô achando que você vai perder essa coroa para o Taetae, heim? O que vocês acham?
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