Hangul
capítulo 15
— É tudo culpa sua! — bufou Seokjin, limpando o suor com a manga de sua blusa já encardida. — Tive que trabalhar a noite toda nessa coisa. — apontou para a engenheca complexa feita de ferro contorcido, em forma de globo.
Jin esperou Taehyung retrucar algo, mas diferente dos outros dias, o rapaz encolheu os ombros se desculpando automaticamente, porque seus pensamentos ainda rondavam nas últimas palavras do rei.
— Droga... — murmurou ao ver que sujou os dedos com a pólvora que Jin estocava para fazer seus esperimentos e invenções.
— Aish, você é tão irritante. — grunhiu o músico, logo pegando um pano embebido com uma solução de cheiro singular. — Use para limpar as mãos.
— O que é isso?
— É um produto que inventei. Assim me livro mais rápido da sujeira.
— Você é tão incrível, hyung, tem em vários dons. Já eu... parece que só sirvo para fazer peso na terra.
— Do que estais reclamando, garoto? De eunuco, virou concubino do rei e ninguém pode arrancar esse título de você. Terá um teto sem goteiras, roupas bonitas, comida farta e tudo o que quiser. — cruzou os braços, quase indignado com a melancolia do outro. — Desembucha logo, qual é o problema?
O bico do moreno só aumentou.
— Ser concubino é o mesmo que amante, então nunca me imaginei em tal situação. Além disso, tenho medo de influênciar de forma negativa a história. — suspirou, preocupado. — E se ele não criar o hangul por minha causa?
— Por acaso sabe como voltar no tempo, antes de ter surgido naquele dia em que atrapalhou o ritual da chuva?
— Não.
— Então para de murmurar pelos cantos, não vai adiantar de nada. — revirou os olhos, voltando a dar atenção ao seu trabalho. — Não esqueça que foi a própria rainha que deu o concentimento para ficarem juntos.
— É verdade. — concordou, se sentindo mais aliviado. — Mas ainda assim, aqui não é o meu lugar, hyung. Preciso voltar para casa.
— Taehyung! — uma voz feminina foi ouvida e logo os passos apressados da rainha chegaram mais perto. A comitiva não estava por perto, o que era bem curioso. — Taehyung, te procurei em todos os lugares. Deveria ter presumido que estaria aqui!
— Pela animação deve ser algo bom. — arriscou o estudante.
— Sim, mas não é "algo", é "alguém". A rainha viúva quer falar com você. — enfatizou simpática, antes de direcionar um olhar discreto para Seokjin.
[...]
Taehyung começou a tremer dos pés a cabeça quando se deu conta de que quem iria conhecer. Jin Eun contou que a jovem senhora estava ansiosa para conhecê-lo depois que Min Yoongi pontuou todas as suas qualidades. Então, pelo dia estar ensolarado, o jardim foi escolhido como ponto de encontro e tudo parecia favorecer para que a beleza da mulher cheia de vida se camuflasse facilmente com as flores silvestres. Suas costas e gestos eram delicados e precisos ao caminhar, mas quando a mesma virou o rosto com um sorriso cordial, o rapaz arfou.
Suas pernas simplismente não sustentaram seu corpo ao perceber que em sua frente estava nada menos que sua mãe, ou a cópia perfeita dela!
— Omma, omma... — chorou copiosamente, escondendo o rosto com as mãos, para espanto de todos todos ali, inclusive da rainha viúva.
— Há algo errado? — Taehyung chorava cada vez mais alto, inclusive quando a mulher, desajeitadamente, se ajoelhou para dar uns tapinhas em suas costas, tentando lhe confortar. — Deve estar sob pressão, hum? Tudo vai ficar bem, criança.
Foi automático ela se compadecer do jovem, que parecia tão frágil e perdido naquele momento, por isso o estudante deixou se envolver naquela aura protetora. Ele se sentia como um pássaro que tentou voar e caiu do ninho, desejava as asas calorosas de sua progenitora outra vez e o fato da mãe de Yoongi ser semelhante a sua, era um sinal claro do universo de que precisava voltar.
[...]
— Combina muito com ele... — disse o rei com um sorriso bobo ao pegar a tangerina rabiscada que guardara e um enfeite de cabelo delicado com uma pedra preciosa no centro. Então voltou a ensaiar a frase que almejava falar quando fosse entregar o mimo, que tinha um significado à parte. — "Ao meu lado em Joseon..." Não, não. Hum... "Você deseja ficar ao meu lado para sempre em Joseon?". Ou... "Quer ficar eternamente aqui comigo?" Aish...
[...]
— Sua majestade... — borbulhou o eunuco-chefe, se curvando para o rei e depois para Taehyung, deduzindo que deveria deixar os dois a sos. Por isso, sem dizer mais nada, o homem saiu com a lanterna de fogo com passos arrastados, deixando um silêncio confortável abraçar a noite estrelada.
— O que acha? — comentou o loiro, admirando o última invenção feita por Seokjin. Também estava orgulhoso de si por ter ajudado no desenvolvimento do protótipo. Agora a estrutura de metal estava no meio do pátio, podendo ser apreciada por todos. — Com isto poderemos desenvolver o nosso próprio calendário. Mais uma vez me ajudou, Taehyung. Obrigado. — agradeceu Min Yoongi, finalmente se virando para encarar o rapaz de traços melancólicos. Em um analise rápida, estranhou o moreno estar com a mesma aparência de antes, com seu costumeiro cabelo preso em um coque frouxo e a farda escolar. — O que foi, meu amor? Não está confortável com essa roupa? Querido, se for isso, posso mandar trazerem outros tecidos.
— Eu não...
— Não importa o valor. Terá todos os hanboks que quiser. — interrompeu o rei, voltando a sorrir. — De qualquer forma, você está muito lindo. Ah, e eu tenho mais uma surpresa! Vamos, vamos! — disse vibrando em felicidade, puxando o mais novo para longe dali.
[...]
— Estamos chegando, só mais dois passos... Tem um degrau aqui, isso.
— Vamos, Yoon, está me deixando nervoso com todo esse suspense!
— Tudo bem, já chegamos, querido. Está pronto?
— Depende... Eu vou gostar? — susurrou Taehyung, intrigado.
— Creio que sim. Certo, pode olhar agora!
O estudante abriu as pálpebras lentamente, levando alguns segundos para perceber que se encontrava no corredor que antecipava a biblioteca. O local estava iluminado por uma trilha de velas aromáticas e as paredes com papéis rabiscados em letras que Taehyung já conhecia: era o hangul.
— Fiz no total de vinte e oito letras, entre consoantes e vogais! — enfatizou o loiro, eufórico, fazendo o moreno caminhar por ali boquiaberto até ser encorajado a empurrar a porta pesada de madeira. Lá dentro, dezenas de pergaminhos foram pendurados nas vigas do teto, fazendo as letras de caligrafia bonita dançarem como cortinas em um espetáculo caprichoso que o rei preparou.
— Nem acredito que você conseguiu...
— Agora todas em Joseon poderão ler e escrever! Será concedida uma chance a qualquer um que queira aprender.
— Sim. Isso é maravilhoso... Você é maravilhoso, Yoon.
— Sente-se aqui. — indicou um assento acochoado para que o mais novo se acomodasse. Só então o rapaz notou que era uma réplica perfeita do trono real, sendo essa menor, porém não menos luxuosa. — "Enquanto o Sol nascer e se pôr, fique comigo. Esta é uma ordem real". — o loiro estava nervoso quando leu o pergaminho, por esse motivo riu soprado, em seguida mordeu os lábios. — Estas são as primeiras palavras que escrevi em jungeum¹. Então... — o moreno sentiu a garganta secar quando o loiro colocou um enfeite em seu cabelo com extremo cuidado, em seguida, se ajoelhou aos seus pés. — Taehyung, conceda-me a honra de ser meu rei, o rei de Joseon.
— Yoon, eu... eu não... Não posso.
— Mas você já governa meus pensamentos, preenche meus dias com alegria, me faz sentir como se fosse explodir cada vez que te beijo. — disse angustiado, vendo Taehyung negar.
— Yoon...
— Entende o quanto te amo? Entende isso?
— S-sinto muito. — começou o estudante com a voz falha. — Preciso voltar quando a chuva vier e... acho que isso chegará em breve. — concluiu com o gosto amargo ao presenciar o brilho de decepcão nos olhos do outro, por isso preferiu olhar as próprias mãos, que se acontorciam em seu colo. — Ainda não terei respostas, mesmo se eu conseguir voltar, mas tenho muitas coisas que preciso fazer no meu mundo. Há pessoas que confiam e esperam por mim lá... Yoongi, eu tenho saudade da minha omma.
— Entendi, mas olha para mim. — encorajou o loiro. — Pode voltar depois que encontrá-la? Podemos viver todos juntos no palácio.
— Isso não seria possível. Ela enlouqueceria e eu também.
— Então... O que sou para ti? — questionou magoado.
Os lábios de Taehyung tremularam e o coração contraiu dolororido por antecipação, sabendo que era a pura verdade.
— Um sonho.
— "Um sonho"? — repetiu desacreditado, rindo do seu destino. Porque outrora se convencia de ter alcançado a felicidade absoluta, mas agora era obrigado a se afogar nas próprias expectativas. — Um sonho pode não voltar, não é?
— Sinto muito... Desculpa, eu... — choramingou, cobrindo o rosto. Não aguentava mais ver a tristeza no rosto de Min Yoongi.
— De qualquer forma... — murmurou, apoiando em seus joelhos para levantar. O tom frio das suas palavras escondia a dor de alguém rejeitado e Yoongi odiou se sentir assim. — O futuro é muito melhor do que ficar em Joseon com doenças e seca... Certo, compreendo. — enfatizou antes de dar as costas. — Faça o que seu coração deseja, Taehyung.
Taehyung não impediu Yoongi de ir embora. Ele apenas se encolheu no trono, deixando todas as lágrimas sairem por um longo tempo. Em um dado momento, vagou pela sala e guardou o pergaminho em sua mochila. Depois ficou a admirar a presilha, pensando em voz alta:
— Você é alguém tão bom quanto a pessoa que sonhei. Eu sempre vou te amar, Yoon... Ah! — um som oco ecoou pelo ar, lhe empedindo de terminar a frase.
Infelizmente Taehyung não pôde ver, nem reagir ao golpe que deram em sua cabeça. Muito menos desviar da lâmina que lhe atingou pelas costas, quando já estava imóvel no chão. Entretanto, ainda estava parcialmente conciente quando viu alguns vultos com tochas, espalhando sacos e mais sacos de pólvora nas estantes abarrotadas de livros. Dessa forma, em questão de segundos o lugar estava tomado pela chamas, que devoravam com facilidade todo o trabalho arduo do rei sobre o alfabeto coreano, assim como outros registros que fez para a melhoria do reino.
Tudo estava perdido e Taehyung se culpava por trazer tanta desordem a Joseon e a vida de Min Yoongi.
Seu último pensamento antes de desmaiar foi que já não fazia mais tanto sentindo em existir.
Continua ☔
Jungeum¹: antigo hangul
Tenso, hein? 🤧
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