capítulo 9

Tae sentia a morte lhe abraçar a cada segundo. Seus pés e mãos foram amarradas, os membros puxados com uma força desumana até o rapaz ver o próprio corpo suspenso no ar. Mas ele já não reagia, sequer tinha mais energia para gritar, então apenas apertava os olhos fervorosamente, sentindo o aperto das cordas queimarem a pele dos pulsos e tornozelos ao serem repuxadas ao comando do carrasco.

[...]

ㅡ Majestade, trago notícias urgentes! ㅡ disse Jin arfando. Ajoelhado em frente ao trono, seu corpo tremia pela adrenalina. Ainda estava cansado devido a corrida até o salão principal, mas precisa avisar a situação de Taehyung antes que fosse tarde demais. ㅡ Nossa vila foi invadida durante a madrugada, o eunuco foi levado a força por ordens do conselho. Neste exato momento ele deve estar sendo humilhado e torturado na frente do povo para servir como exemplo! Perdão por não avisar antes, só agora me deixaram ultrapassar os portões...

ㅡ O quê?! ㅡ urrou Yoongi entre dentes, fechando os punhos ao encarar a corja de homens ricos que mantinham os olhos no chão, mesmo que por dentro gritassem superioridade.

ㅡ Ele está sendo acusado  por traição à coroa! ㅡ enfatizou o primeiro ministro com um prazer em ver o loiro acuado. ㅡ O jovem foi contra a integridade da rainha, sendo promíscuo ao tentar seduzir vossa majestade.

ㅡ M-mas...

E ali estavam seus segredos mais íntimos sendo revelados e julgados por pessoas que não deveriam justificar o porquê do seu amor ser diferente, ou o quanto Taehyung coloria seus dias cinzas desde que chegara. Se negava a explicar seu sentimento puro à pessoas tão mesquinhas e sem empatia.

ㅡ Se me permite a palavra... ㅡ começou um dos ministros. ㅡ Poderia explicar o porquê de manter o tal eunuco perto de vossa majestade?

Como fazê-los entender que por um simples sorriso quadrado era tão importante para si? Como fazê-los entender que trocaria todas as suas tapeçarias e joias por um suspirar do homem ao qual estava apaixonado?

ㅡ Eu tenho esta resposta! ㅡ exclamou o conselheiro, após trocar um olhar cúmplice com Jin. ㅡ Esta é uma placa para medir a quantidade de chuva. ㅡ explicou ao apresentar o utensílio em forma de cone para o conselho. ㅡ Era para beber, mas foi modificado sob ordens do eunuco.

ㅡ Como podem ver, aquele rapaz tem um grande conhecimento. ㅡ afirmou Yoongi, tentando não transparecer seu pavor por perder o estudante. ㅡ Por isso resolvi mantê-lo como um eunuco e não como um erudito, para termos mais tempo de trabalhar um plano para a chuva, já que o mesmo sabe medí-la.

ㅡ Majestade, o que quer dizer com "medir a chuva durante a seca". ㅡ cortou se sogro de forma debochada. ㅡ O que precisamos agora é parar a seca fazendo uma cerimônia para pedir chuva aos céus. Aliás, cerimônia essa que o tal eunuco desastroso interrompeu da última vez! ㅡ acusou o homem, fazendo o burburinho entre os anciãos crescerem. ㅡ Como poderia deixar alguém que zombou da rainha, permanecer vivo? Por favor, majestade, reconsidere seu comando!

Como esperado, a maioria repetiu sua fala, curvando em um ângulo perfeito de noventa graus.

Yoongi estava inconformado.

ㅡ Então podemos só culpar a natureza e permanecer de braços cruzados, sem fazer absolutamente nada? ㅡ questionou o loiro com um olhar duro. ㅡ As pessoas não têm sequer água para beber, entretanto estamos comendo carne com arroz e sopa. Então o que devemos fazer de fato é nos preparar para a chuva durante a seca e usar a água da inundação para nos prepararmos na época de estiagem, comendo o alimento que o nosso povo produz. E isso tudo descobri com a ajuda de Taehyung, ele tem um dom, não veem isso?!

Ao terminar o discurso, Yoongi sentia o peito subir e descer, já não sabendo mais quais argumentos citar para convencer os anciãos, que permaciam calados.

ㅡ Se ele é tão importante para o reino, se possui tais habilidades, então não deveríamos testá-lo até o final, lhe assim outra chance? ㅡ se manifestou o ministro que há poucas horas jurou apoiar o pai da rainha. ㅡ Como disse sobre nos preparar para seca, fiquei cá pensando o quão bom também seria se as pessoas pudessem saber a hora em um dia nublado, sem o Sol. Seria quase divino, um grande feito, com certeza.

A votação foi feita, sendo que os indecisos agora concordavam em testar as habilidades do eunuco.

Yoongi acentiu, escrevendo rapidamente no pergaminho seu decreto.

E assim o músico saiu do salão às pressas, montando em seu cavalo para salvar o estudante de um fim prematuro.

ㅡ Pensei que estava do meu lado, ministro! ㅡ grunhiu o pai da rainha, baixo o sufiente para que só o outro escutasse.

ㅡ Estou do lado do povo. ㅡ respondeu o homem não se deixando abalar pelo forma intimidadora que o seu superior falava.

[...]

ㅡ Dizer as horas sem o Sol? ㅡ pensou em voz alta mordendo os lábios finos. Seus passos ecuavam no salão agora fazio, tendo como companhia apenas o ansião que, além de conselheiro, se mostrava como uma figura paterna, já que o mesmo partira quando Yoongi ainda era muito jovem. ㅡ Em Joseon o Sol é a hora... Espera, o Sol não simboliza a mim, o rei? ㅡ perguntou confuso.

A mente do loiro fervilhava.

ㅡ Esta é uma armadilha fingindo ser um teste para aquela criança! Estão desafiando sua majestade e o nosso grupo de estudos! ㅡ Yoongi parou de andar, coçando a testa franzida. Não estava gostando do rumo que as coisas estavam indo. ㅡ Quinze dias não serão suficientes para o rapaz ter sucesso. Deixar a legitimidade do trono nas mãos do eunuco foi loucura!

Yoongi negou, crispando os lábios.

ㅡ Não... Quinze dias serão o sufuciente. Eu confio em Taehyung!

[...]

Choroso, Taetae alisava o pulso avermelhado, ainda sentindo o aperto fantasma das cordas grossas ao redor da pele frágil. Tudo o que tinha passado até Jin aparecer como um verdadeiro príncipe em seu cavalo gritando para lhe soltar, foi um borrão que não conseguia assimilar com clareza.

Seu corpo encolhido em um canto do casebre se impulsionava para frente e para trás. A mente confusa queria lhe pregar peças tentando mostrar que aquilo não passava de um pesadelo e que a qualquer instante acordaria em sua cama com o alarme em cima da mesinha de cabeceira, montrando que estava atrasado demais para pegar o ônibus. Mas vez ou outra ao fungar sentia o gosto das lágrimas salgadas, o que deixava tudo ainda mais real.

ㅡ Então e-estou proibido de ser julgado por um tempo? ㅡ repitiu letárgico, observando as costas largas de Seokjin.

ㅡ Sim.

ㅡ M-mas sou apenas um estudante, não uma ameaça para o reino... Acha m-mesmo que tentarão me matar novamemte ?

ㅡ Sim. ㅡ repetiu pela milésima vez, porém se virando para fitar o rapaz que aprendeu a gostar como um irmão. ㅡ É normal ser jogado fora depois de se tornar inútil. Agora... ㅡ voltou o que estava fazendo ainda mantendo o tom indiferente quando na verdade se importava com o destino do mais novo. ㅡ Se tem tempo para falar comigo, apenas resolva o maldito problema.

Taehyung engoliu em seco limpando as lágrimas, finalmente se decidindo.

ㅡ Tudo bem... Talvez, se me ajudar mais uma vez, eu consiga. ㅡ sibilou, engatinhando até Jin, sentindo os músculos do mesmo se tencionarem na vestes gastas. ㅡ Farei os cálculos se me ajudar com resto.

ㅡ Já passei tempo demais dentro daquele palácio. Foi um erro voltar ali. ㅡ negou. ㅡ Sobreviremos individualmente... Sinto muito, Taehyung-ah. ㅡ disse pesaroso limpando as mãos sujas da pólvora que estava criando. Um trabalho extra, diga-se de passagem, para cobrir seus gastos com a casa dos pais que começou a reconstruir.

ㅡ Jin-hyung... ㅡ implorou o estudante.

O mais velho tentou se afastar, mas Tae segurou suas pernas, abraçando com desespero sua única esperança.

[...]

Jin praguejava ao comparar os desenhos que Taehyung fizera com as tigelas e bambus que precisaria para monter uma maquete sobre o sistema de armazenamento da água coletada da chuva. Já estava sobrecarregado o suficiente com o pedido do rei para uma engenhoca, agora teria mais um contratempo por ceder aos apelos de Taehyung.

ㅡ Aish, desde quando meu coração se tornou tão molenga? ㅡ bufou olhando as anotações mais uma vez.

Enquanto isso no palácio, Yoongi se entristecia ao ver o banquete a sua frente. Suspirando, largou os talheres de ouro, imaginando seu povo comendo migalhas enquanto ele tinha mais carne do que seu estômago poderia aguentar.

ㅡ Será que ele se alimentou hoje? ㅡ perguntou retoricamente, pois o quarto estava vazio.

Na verdade o que estava presente era a saudade esmagadora de Taehyung, lembrando que o tempo poderia ser cruel e se manter inerte quando assim desejava. Fazia pouco mais de uma semana que não via o rapaz de sorriso retangular, contudo pareciam-lhe décadas.

Por sua vez, Taehyung olhou para o céu azul com um bico nos labios. Estava inquieto, precisava arranjar uma solução para a seca em Joseon além do relógio solar. Suspirando, tirou suas apostilas de dentro mochila, separando tudo que precisaria para estudar.

ㅡ Buscarei respostas concretas e não sairei daqui até que as encontrem! ㅡ disse decidido, se debrussando na troco no meio no terreiro que servia como mesa para as refeições ao ar livre.

[...]

Horas depois o silêncio engolia a noite fria na pequena vila de casas, sendo estas iluminadas por duas toxas que clareavam o suficiente para não ficarem em total penumbra.

Taehyung passou o dia inteiro estudando. Se empenhou tanto que quando o Sol se pôs, caiu em exaustão sobre as anotações, ali mesmo em cima do caderno cheio de rabiscos. Da boca entreaberta escorria uma fileira de saliva, saindo vez ou outra um ronco baixinho, mas ainda sim parecia a coisa mais linda do mundo aos olhos de um homem apaixonado.

Yoongi se esgueirou para bem perto do rapaz, soltando um suspirar cheio de saudade. Acariciou os cabelos castanhos, tirando alguns fios do rosto alheio. Desejava ouvi-lo, escutar sua voz, mas não queria roubar-lhe a paz ou tirar sua concentração.

Após uma rajada de vento trazer o perfume amadeirado, tão característico do loiro, Taehyung despertou atordoado olhando ao redor, tendo a certeza que a presença do rei não foi um sonho por encontrar seu aparelho celular e um singelo rasbico do lado.

ㅡ Então você achou... ㅡ sussurrou emocionado, tocando o desenho no meio das anotações. Era a mesma carinha engraçada que tinha feito na tangerina. ㅡ  Pensei que tinha perdido.

ㅡ Falando sozinho agora? Pessoas que tem essa características são taxadas como insanas, sabia? ㅡ o mais novo tentou responder, mas Jin não deu ouvidos, emendando outro assunto. ㅡ Aigoo, deve ser por causa da fome. Trarei uma sopa quentinha! ㅡ avisou preocupado.

ㅡ Não precisa, Jin-hyung...

ㅡ Não aceito "não" como resposta. ㅡ retrucou já se afastando.

Jin sorriu orgulhoso por ver o rapaz se esforçando tanto. Cantarolando ainda de bom humor, pegou alguns gravetos que serviriam de combustível para o fogão feito de tijolos. Precisava esquentar a sopa que o estudante recusou mais cedo.

ㅡ Devo pegar também as roupas no varal? ㅡ perguntou para si mesmo, dando de ombros. ㅡ Por que não? Amanhã ele estará tão cansado que não conseguirá mover as pernas.

Sem muita pressa, pegou o cesto artesanal para colocar as peças limpas, até algo escrito na blusa de Taehyung lhe chamar atenção.

ㅡ Não é possível...

O músico precisou de alguns segundos para assimilar aquilo, o choque foi tanto que tropeçou nos próprios pés ao andar para trás, derrubando a panela e toda a sopa no chão. Sem avisar a ninguém, saiu em disparada.

Precisava mostrar a "aquilo" a alguém e depois da rainha viúva, só restava uma pessoa que Min Yoongi confiaria até sua própria alma. Jin  precisava confiar também.

[...]

Os raios do astro rei banhavam o céu, fazendo o horizonte pintar de laranja toda extensão, antes obscura. O tempo passou rápido e Taehyung não prestou atenção no espetáculo da natureza a sua frente, nas nuvens carregadas se juntando, nem mesmo no seu corpo dolorido após as horas na mesma posição.

ㅡ É isso... E-eu consegui, consegui! ㅡ exclamou de repente, largando a caneta, para pular com o papel em sua mão. ㅡ Finalmente encontrei o cálculo exato, a fórmula perfeita para salvar minha pele e mostrar que é possível sim a matemática ser implantada na Era Joseon! Mas o quê... ? ㅡ interrompeu seu pequeno surto vendo um pingo atingir o papel, depois outro e mais outro. ㅡ Chuva? Está chuvendo...

Os céus pareciam chorar lindamente, lavando os pastos e relvas secas. Os animais se mostravam agitados, pessoas saiam das cabanas para rirem, louvando a água abundante que caía sem sessar. Era a vida emanando, a esperança renascendo nos corações de quem já não tinha fé!

Contudo Taehyung se manteve inerte no mesmo lugar, descrente em seus olhos marejados, pois a poucos metros perto da cerca, se formava uma poça, demasiadamente, grande. Era hora de voltar para casa.

Continua ☔

Oi, oi?
Esse capítulo foi bem intenso, heim? O que acham que irá acontecer ? Até mais, beijos de luz!