8
ELIZABETH MOORE
Provavelmente era mais de meia noite quando cheguei em casa. Daniel me deixou na porta de casa com o carro da mãe dele, tive que me controlar para não dar um soco nele durante o caminho de volta, ele não calava a boca, falando que a mãe dele ia ficar puta se visse o banco da frente todo molhado. Felizmente meu pé não estava mais sujo, porém o cheiro irritante continuava. Da mesma forma que como Daniel se molhou de corpo inteiro, as roupas obviamente molharam e acabaram molhando o banco de motorista do carro.
As luzes estavam apagadas, abri a porta com minha chave e estava quase dando um ponto para Daniel, porque minha mãe realmente pareceu não se preocupar por eu ter saído com ele. Mas retirei meu ponto logo em seguida, porque assim que entrei pela cozinha as luzes se acenderam,
E lá estava ela.
De roupão branco, cabelos presos no alto da cabeça e seu óculos de leitura. E não pode faltar os braços cruzados e a cara feia. A perfeita pouse de mãe quando está preste a gritar com o filho.
- Oi mamãe - Falei abrindo um enorme sorriso
- Onde diabos você estava Elizabeth Moore?
- Não teve plantão hoje?
- Elizabeth Moore!
-Margareth não te avisou?
- Margareth estava dormindo com direito a ronco quando cheguei.
Bufei
- Vou perguntar de novo e espero uma resposta, onde diabos você estava? E porque não levou seu celular ? Cheguei em casa e não encontrei você, tentei acordar sua irmã e ela apenas balbuciou que você tinha saído. Tentei te ligar, advinha? Seu celular estava tocando a metros de distâncias de mim! Você agiu de uma forma irresponsável Elizabeth! Custava me ligar? Custava deixar ao menos um bilhete? São quase uma da manhã e amanhã terei que estar cedo no hospital!
- Mamãe, acalme-se! - Caminhei até ela. Ela ficou quieta e respirou fundo. - Estresse causa problemas no coração.
- Responde minha pergunta.
- Hum - Pensei um pouco. Se eu dissesse que estava no meio do mato ela provavelmente ia pensar besteira. Se eu dissesse que estava onde meu pai nos levou uma vez, perto de um lago ela provavelmente ficaria triste ao pensar no meu pai. Então fiz o que eu odeio fazer, eu menti. - Primeiro que essa pouse de mulher brava não combina com você. E eu estava estudando com Daniel.
Ela me olhou desconfiada
- Na casa dele?
- Não - pense rápido, pense rápido. - Na biblioteca perto da escola.
Continuou me olhando desconfiada
- E por que foram estudar lá?
- Bom - pense rápido de novo! - A Biblioteca foi o lugar mais silencioso que encontrei que faria ele se concentrar totalmente aos estudos.
- Está ajudando ele por quê?
- Porque sou um amor de pessoa e sou inteligente, ele pediu minha ajuda e como sou uma pessoa incrível, eu aceitei ajuda-lo.
A desconfiança não saia de seu olhar.
- A Biblioteca fecha 00h. Tudo nessa cidade fecha esse horário. Porque chegou quase uma da manhã?
- Porquê - pensar rápido não é comigo. - depois da Biblioteca fomos até o mercado 24h comprar uns lanches. Olhe para mim mamãe, acha mesmo que eu iria ajuda-lo sem nada em troca? Sou um amorzinho mas nem tanto.
- Está ajudando ele em troca de comida?
- Óbvio né mamãe - olhei para ela como se fosse um absurdo ela não acreditar em mim - Boca foi feita pra que? pra comer!
Ela negou, então suspirou e sentou numa cadeira próxima a ela.
- Ok, Vá dormir. Não vou proibir você de sair, mas da próxima vez me avise!
Assenti já praticamente correndo pra sala de estar para subir as escadas.
- Elizabeth - Ela me chamou
Olhei para ela
- Você tirou o lixo hoje?
- Tirei, por quê?
- Não sei - Ela fez uma careta - Está um cheiro estranho aqui.
Arregalei os olhos
- Não estou sentido nada, deve ser impressão sua.
Então sem esperar ela responder, subi correndo.
- Chegou que horas ontem ? - Margareth perguntou dentro do carro enquanto dava uma longa mordida em uma maçã.
- Xiu... - fiz
- chegou que horas hoje que deveria ser sua pergunta. - Minha mãe murmurou dirigindo
- Hummmm - Margareth fez me olhando com uma carinha maliciosa. Fiquei espantada
- Cale a boca.
- O que foi Mag? - Mamãe questionou sem entender
- onde ele te levou ontem...
- Estávamos estudando - cortei antes que ela falasse demais
- Mas...
- Estávamos estudando. - Falei querendo enforcar ela. Ela ficou em silêncio, de olhos estreitos, mas em silêncio.
- Chegamos - Mamãe bocejou - Boa aula.
Eu sai do carro antes que alguém falasse mais alguma coisa. Olhei para Margareth dentro do carro e falei sem imitir som. "calada!"
Ela não sabia que onde tínhamos ido e nem o que fizemos mas sabia perfeitamente bem que não era pra estudar.
- Calor significa uma transferência de energia térmica de um sistema para outro, alguém pode me dizer o que exatamente eu quero dizer? - Professor Stuart pergunta, ele é professor de física. Deveria ter em torno de 30 anos, as garotas faziam de tudo para chamar sua atenção. Para mim ele é um homem comum, embora tenha um porte atlético bastante atraente.
Levantei a mão.
- Elizabeth.
- Acho que quer dizer que podemos dizer que um corpo recebe calor, mas não que ele possui calor.
- Isso. - ele virou para o quadro anotando algumas coisas. Não foi necessário eu desviar o olhar para saber que a minha direita e esquerda, as meninas que sentavam ali estavam apoiadas na mão observando sem vergonha nenhum a bunda do professor - Alguém sabe me dizer que matéria é essa que estamos discutindo que no ramo da física estuda as trocas de energia entre corpos ou sistemas quando essas trocas se dão na forma de calor?
- Calorimetria. - Respondi antes mesmo dele virar para a classe e ver se alguém realmente iria responder. Ele virou suspirando e me olhou com uma cara de "Segura sua boca só um instante."
A verdade é, Ele e outros professores esperavam muito de quem nem ligava para a aula deles. Queriam porque queriam que os outros respondesse. Chegavam, ficavam ali na frente e começavam a falar e falar e explicar achando que alguém estava entendendo. Mas ninguém tava nem aí, dois ou três estavam dormindo, quatro ou cinco mexia no celular, no mínimo 4 apenas observava o professor com suas caras de tédio. E quando era esse professor então, a maioria das meninas tentavam chamar sua atenção. Teve o caso de semana passada Ellen Huckber sentou na frente com o decote a mostra só para ele a notar, em seguida o professor fez uma pergunta e ela levantou a mão tão rápido que eu nem tive tempo de levantar a minha. Ele estava falando sobre velocidade, ela respondeu uma coisa nada a ver. O que pimenta tem a ver com velocidade?
- A calorimetria é uma ramificação da termologia que analisa os problemas relacionados à troca de calor em sistemas de temperaturas diversas. - virou para o quadro e continuou a anotar - Alguém pode me dar algum exemplo?
Comecei a falar antes que ele notasse que era eu.
- Considere a situação em que dois corpos possuem temperaturas A e B. Ao serem colocados em contato térmico, no interior de um recipiente termicamente isolado do meio externo, pode-se observar que após um tempo suficientemente longo, os corpos apresentarão a mesma temperatura, A igual a B, atingindo portanto e equilíbrio térmico.
Ele suspirou me olhando com uma cara nada boa
- Pode ficar um minuto, apenas um Elizabeth, quieta. - Ele pediu cuidadosamente. As poucas pessoas que prestavam atenção no que o professor dizia riram
- Ok. - Dei de ombros
- Ninguém aguenta sua inteligência irritante.- Sim, aquele era Paulo. Levantei o dedo do meio e continuei olhando para o professor. O dedo é para ele também mas eu não falaria. Virei para olhar para Paulo no fundo da classe.
- Pelo menos eu sou inteligente.
- Elizabeth - o professor rosnou. Virei para frente e fiz sinal que estava com a boca fechada. Ele olhou pro resto da classe
- Alguém me diz o que é Equilíbrio térmico?
Todos estavam em silêncio. Minha boca estava coçando para falar. Mas eu não falaria, embora minha vontade é maior.
- Termodinâmica?
silêncio novamente
- Axioma ?
Silêncio novamente. Ele respirou fundo e encostou no quadro, obviamente cansado.
- Pode falar Elizabeth, já vai acabar a aula mesmo.
- um axioma ou postulado é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. Já a termodinâmica é o ramo da física que estuda as causas e os efeitos de mudanças na temperatura, pressão volume e de outras grandezas termodinâmicas fundamentais em casos menos gerais em sistemas físicos em escala macroscópica. Desse modo, calor significa "energia" em trânsito, e dinâmica se relaciona com "movimento". - Fiz aspas com os dedos - Enfim, A existência de estados de equilíbrio termodinâmico é um postulado axiomático e fundamental da termodinâmica. Além disso, é descrito por um número pequeno de grandezas físicas e suas propriedades são funções do próprio estado, ou seja, independem de como ele foi atingido.
E quando eu acabei de falar, o sinal tocou. Todos levantaram pegando seus pertences.
- Ok, Obrigado Elizabeth. - O professor agradeceu sentando em sua cadeira
- Nunca ouvi tanta baboseira. - Paulo murmurou passando ao meu lado. Ignorei ele, assenti para o professor e sai da sala.
Eu estava sentada na minha mesa na hora do intervalo. Eu considero como minha mesa porque eu sentava sozinha, todos os dias, era apenas eu ali.
Infelizmente eu sentava praticamente de frente a mesinha dos "populares" em curtas palavras, mesa de Paulo, dos jogadores de Basquete, Francine e suas lideres de torcidas e, de Daniel. Estavam todos lá, menos ele e alguns caras que eu estava acostumada a ver com ele.
Eu comia minha comida ao mesmo tempo que mexia no celular jogando um joguinho estúpido. Eu realmente não ligava de sentar sozinha, me acostumei e não via mal algum naquilo. Deveria ter trazido meu Tablet para anotar algumas atividades que fiz e valeram nota. Faço uma rápida nota mental para fazer isso quando chegasse em casa.
Então levantei a cabeça. Não me pergunte, eu não sei porque o fiz. Apenas vi ele.
Daniel estava entrando junto dos outros que faltavam, os quatro ao todo andavam chamando atenção de todos. Daniel parecia distraído em seu celular. Estranho dizer que quem olhasse pra ele e olhasse pra mim nunca imaginariam que eu e ele estávamos ontem de noite, no escuro, um sujo de lama e o outro de merda. Literalmente. Estranho mais seria se soubesse que estávamos rindo um para o outro.
Eles sentaram a mesa. Francine estava de cara feia para Daniel e aquilo não durou nem meio minuto, ela pediu para um dos meninos ao lado dele trocarem de lugar com ela. Ele desligou o celular e começou a conversar com os dos caras. Felizmente ele estava praticamente de frente a mim, então ele rapidamente me notou. Foi impressão minha ou depois que ele me notou ignorou completamente Francine? Não que ele estivesse dando bola a ela mas agora não estava dando nenhuma mesmo.
Abaxei o olhar voltando a jogar no meu celular. Dei uma colherada no meu purê horrível da escola e continuei a jogar. Que jogo estúpido, mas fazer, fazia o tempo passar e era o que eu mais queria pois... ALGUÉM SENTOU DO MEU LADO.
Minha cara provavelmente não fui uma das mais bonitas quando levantei o olhar para ver quem era. E advinha ? Sim, era ele mesmo.
Daniel estava com um dos seus sorrisos cretinos. O cabelo loiro escuro um pouco bagunçado. Deveria admitir que não estava feio.
- Já falei o quanto eu adoro suas sardas? - Ele perguntou. Ergui uma sobrancelha
- Quê?
- Já baixei esse jogo, é uma perda de tempo.
- Quem?
- O jogo...
- Te perguntou - completei. Ele riu. Passou a língua pelos lábios e se aproximou um pouco de mim. Olhei de uma forma um pouco demorada para os lábios dele
- Qual é a sua popularzinho? - Perguntei debochada, me afastei um pouco para olhar para seu rosto - Seus amiguinhos não irão se importar por estar sentado junto comigo?
Olhei para a mesa deles. E como esperado, todos estavam olhando de uma hora ou outra confusos. Só Francine que não desgrudava o olhar.
- E quem disse que eu ligo para o que eles pensam?
Assobio baixinho
- Então parece que me enganei sobre você.
- No que você se enganou?
- Eu jurava que você era dependente.
- De?
- disso - Rodo o dedo - Popularidade, amigos, festas, garotas.
Ele sorriu demoradamente
- De garotas - aproximou o rosto novamente - Talvez.
Foi minha vez de rir.
- Ok, a que devo a honra da sua presença?
- O que aconteceu que não está tão debochada ?
- Estou deixando meu deboche para as horas certas.
- Ok - ele se afastou um pouco olhando para meu rosto. Se levantou e sentou do outro lado da mesa.
- Qual foi a diferença?
- Nenhuma, mas se eu ficar tão perto de você haveria o perigo de eu beijar você.
- Opa, está apaixonado? - Meus olhos chegaram a brilhar. Ele riu
- Vim aqui para pedir desculpas.
- Uhu - mordi o lábio - e por quê?
Seus olhos analisavam minha mordida inconsciente
- Por ontem. Foi estúpido eu ter te tirado de casa para acontecer tudo o que aconteceu.
- Ta se sentindo mal por essa atitude sua?
- Digamos que sim.
- Que bom
- Como assim que bom?
- Você acabou de concluir o terceiro passo para se apaixonar por mim.
Ele se aproximou mais da mesa, com os braços em cima dela e um olhar divertido.
- De qualquer maneira - Continuei - Não teve mal algum ter me levado lá.
- É?
- É, me diverti - dei de ombros - Agora me diga porquê diabos me levou lá?
- Não sei - ficou quieto - foi o que veio na cabeça.
Assenti
- Ok, Agora suma da minha mesa.
- Tem outro motivo para eu ter vindo aqui.
- Diga - o sinal tocou. Levantei ao mesmo tempo que ele. - Rápido.
- Vai continuar me ajudando com os estudos?
- Não sei.
- Por favor, Elizabeth. Preciso de você.
- Diga de novo.
- Preciso de você.
- Disso eu já sei, quero que implore.
Ele me olhou com uma cara nada bonita
- por favor, Elizabeth.
- Ajoelha.
- Agora você quer demais.
Dei risada
- Ok, eu continuo a te ajudar. Mas não me irrite!
- O acordo está de pé então?
- Sim, está.
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