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ELIZABETH MOORE
Daniel e eu moramos no mesmo bairro. Ruas de distância mas não tão a distante assim.
Os pais deles se separaram quando a gente tinha dez anos, no entanto, na vida do filho ele é ausente. No quesito pai tivemos os piores. Meu pai abandonou a gente, por outra família, quando eu tinha treze anos.
Eu conheço Daniel mas do que gostaria, mas não me materializo por isso, é quase impossível não saber tudo sobre ele pois nossas mães eram amigas, e são amigas, tudo o que a mãe dele tinha a fofocar dele fofocava para mamãe que via a necessidade de me contar essas besteiras. Da mesma maneira que, como ele é o "popularzinho" da escola, número um da equipe de basquete, todos os dias sempre tinha alguém falando dele.
Deus, como isso é irritante.
O fato é que parece que hoje em dia nada mais importa além da vida alheia ou da última moda do momento. Parece que se perdeu no caminho da infância para a adolescência. Onde o que importava antes era o joelho ralado, e agora é o que tal pessoa usa, o que tal pessoa faz, o que tal pessoa fala.
É por isso que eu acho que não me encaixo, eu não me encaixo nessa cidade, nem perto dessas pessoas. Percebi isso a um bom tempo.
- O que tanto pensa? - Ouvi a voz de Daniel ao meu lado, me perguntando. Havíamos acabado de chegar em frente a casa dele, ele abriu a porta e entramos.
- Nada. - dei de ombros
A casa dele é grande e confortável, bem do jeito que me lembro. Ele jogou a mochila dele no chão e eu toda civilizada coloquei a minha no sofá.
- Vai querer beber algo? - Perguntou indo na direção da cozinha, através da bancada que dividia a cozinha e sala eu vi ele abrindo a geladeira.
- Não.
- Não se comporte como se nunca tivesse vindo aqui, Moore. Se bem me lembro era você a garota que jogou uma bola na minha cabeça enquanto eu estava jogando videogame.
- Não estou me comportando assim, só estou olhando ao redor. Parece que ficou mais pequena sua sala. Engraçado, desde daquela época eu já não gostava de você.
- Não temos mais oito anos. - ele disse, pegando uma garrafa de água gelada e enchendo dois copos, ignorando totalmente meu papo de quem não gosta dele. Ele ignora esse fato.
A bancada da cozinha nos separava, eu achei totalmente desnecessário a maneira que ele me entregou a água. Eu sei o que ele está fazendo, está tentando ser sedutor, cavaleiro e gentil.
- Eu disse que não queria. - Falei
- Por isso estou te oferecendo.- ele abriu um sorriso de criança travessa. Por fim, aceitei a água.
- Você lembra quando sua mãe vinha aqui e trazia você e Margareth?
- Como não esquecer?
- Você corria pela casa, e inclusive quebrou o vaso da minha mãe - estreitou os olhos para mim - E ainda falou que fui eu.
Dei de ombros
- Até hoje não entendo porque você não desmentiu. - falei, ele ficou quieto, então me copiou, ele deu de ombros.
- Você era muito atentada. - ele disse
- Ainda sou - pisquei para ele - Você não vai querer ver.
Ele abriu um pequeno sorriso, malicioso. E então, focou os olhos estreitos nos meus lábios.
- Acho que vou querer sim.
- Qual o plano, Daniel? - olhei bem pra ele - Fazer eu ficar caidinha por você?
- Não sei, me diz você - ele se debruçou na bancada, próximo de mim. - Estou conseguindo?
- Pelo contrário. Está me fazendo lembrar o garoto nojento que você era.
Ele riu. E sem que eu notasse ficamos longos segundos, bem próximos, se olhando. Idiota, acha que vou cair no seu papinho superficial. Daniel tem muito a aprender comigo, ele pensa que está no controle do nosso acordo, mal sabe ele que quem está, sou eu.
Ele debruçou mais, e por um instante tive a impressão que iria me beijar. E não era impressão, ele estava vindo me beijar mesmo, meus olhos quiseram se arregalar em surpresa, meu corpo quis recuar mas minha mente queria continuar ali, ver no que iria dar. Então me afastei ao ouvir a porta se abrindo. Sebastião, tio dele.
Obrigada, Tio!
- Oi - Disse quando notou nossa presença
- Oi - eu disse, coçando a garganta estranhamente rouca.
- A quanto tempo Elizabeth. - se aproximou, me comprimentando com um beijo na bochecha. O tio de Daniel deve estar no auge dos seus vinte e tantos homens. Cara lindo! Fitness, fitness, fitness.
E quando digo fitness não estou me resumindo apenas ao perfil de corpo dele e sim, por ser professor de academia. Sorri amarelo quando percebi que encarava ele, eu tenho um grande problema de olhar pra alguém e começar com meus pensamentos, que quando vejo estou com os olhos fixos no ser humano.
- Daniel já te ofereceu alguma coisa pra comer? - Perguntou. Olhei para Daniel que olhava Sebastião de olhos estreitos. Fiquei confusa. - Ou vocês estavam em um momento? - o sorriso divertido brincando nos lábios olhando de Daniel para mim, de mim para Daniel.
- Não. - Daniel coçou a garganta - Vamos Elizabeth?
- Pra onde?
- Meu quarto.
- Já estão assim garoto? - perguntou o tio. Abafei uma risada.
- Acho que seu sobrinho não é tão potente assim. - passei a língua pelos lábios, provocando. Sebastião riu, os olhos cinzas brilhantes igual aos do sobrinho.
- Vem logo Elizabeth. - Daniel rosnou. Ergui as mãos em sinal de rendição e o segui até o andar de cima. Depois eu que sou nervosinha.
- Foi um prazer te rever, Elizabeth! - gritou o tio da cozinha.
- Digo o mesmo! - respondi. Foquei no caminho pelo longo corredor até o quarto dele, que abriu a porta e ficou esperando eu entrar. Então quando eu ia entrar, ele aproximou o rosto do meu ouvido e sussurrou: - Entre nesse quarto e eu te mostro minha potência.
Aquilo não devia, mas me arrepiou. E ele percebeu, pois abriu um sorriso malicioso bem convencido.
- Pra quem não se seduz... - Ele começou
Ele nem percebeu, quando eu ergui meu joelho tão rápido e acertei bem aquilo que ele tem de precioso no meio das pernas.
Eu senti o pau dele!
Nossa... Ele é bem... Cala boca Elizabeth! Oxe!!
Ele então, se debruçou com o rosto vermelho, sentindo dor. Abri um sorriso malicioso igualzinho ao dele segundos atrás.
- Vamos estudar baby, ou ainda quer me mostrar seu potencial? - Sussurrei em seu ouvido, antes de entrar rebolando no quarto dele. Ele entrou de cara feia pra mim e fechou a porta com o pé. Ui, ele tá bravo.
- Quê? - Exclamei boquiaberta - Quem não sabe o que foi a revolução francesa?
- Eu. - disse ele, como se fosse óbvio
- Por isso você está péssimo em história, esse é o assunto mais falado! Que merda você fica fazendo na aula?
- Fico mexendo no celular. - Deu de ombros. Soltei uma risada sem nenhum humor, ele me olhou sem entender. Joguei o livro nele que desviou e caiu no chão e deitei na cama dele.
- Folgada. - Disse
sentei na cama dele fuzilando ele com o olhar, eu estava quase tirando paciência da bunda.
- Revolução Francesa foi um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto grande na história do país e em toda Europa.
- Legal, pesquisou no Google? - abriu um sorriso debochado
- Eu não preciso pesquisar porque eu presto atenção nas aulas, não fico perdendo tempo com mensagens de garotas me prometendo sexo. - Pisquei para ele. Ele passou a língua pelos lábios, me olhando de forma divertida.
- Pelo menos sabe o ano que começou?
- Se eu não sei nem o que é quem dirá o ano. - debochou
- O lugar onde ocorreu?
- Essa é fácil - Ele disse e então abriu um sorriso presunçoso - Itália.
Bati a mão na minha testa, meu queixo caiu na hora.
- Revolução francesa, FRANCESA, Na Itália? - Questionei boquiaberta
- Foi na França. - ele disse segundos depois. Bufei massageando minhas temporas.
- É o seguinte, vamos começar do começo. Pega o livro no chão - apontei pro livro que estava perto do enorme cesto de roupas sujas dele.
- Pega você - deu de ombros - você que jogou.
- É, e devia ter acertado sua cabeça e não o chão. - sorri forçado. Ele revirou os olhos, levantou da cama e pegou o livro, me oferecendo.
Falei com ele tudo o que eu sabia sobre a revolução, expliquei para ele detalhes e pedi para ele ler pelo menos duas páginas do livro toda noite. A prova dele era em duas semanas, ele tem duas semanas para saber o suficiente de história. Mas não depende só de mim, certo? Ele tem que dar duro e prestar atenção, a começar por, na minha proxima aula com ele eu vou tirar o celular dele.
Aquele maldito é pior que vibrador, a cada segundo vibrando com mensagens novas.
- Tchau. - me despedi, já era final de tarde e estava começando a anoitecer. Peguei minha mochila no sofá. - Não vai me levar até a porta mal educado?
- Pra que? Você sabe o caminho. - ele disse se jogando no sofá
- É, sei o caminho também do meu joelho até esse treco no meio das suas pernas.- ele fez uma careta ao lembrar da joelhada que dei mais cedo nele.
- Esse treco aqui tem nome, se chama p..
- Nem termine.
- Tchau Elizabeth! - Ouvi o tio dele gritar de algum ponto indeterminado por mim da casa. Daniel me seguiu até a porta.
- Tchau. - gritei de volta. Fui saindo, mas o idiota segurou meu braço.
- Não vai dizer tchau pra mim também? - sussurrou no meu ouvido. Merda, o maldito arrepio de novo! Virei totalmente para ele. Sorrindo, então de repente ele aproximou a boca da minha, quase me beijando.
- Tchau, otário. - sussurro, então empurro ele que soltou uma gargalhada rouca e fui embora.
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