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ELIZABETH MOORE

Mulheres negras são muito bonitas, sem dúvida alguma! Por que digo isso? Pelo simples de eu estar vendo pela janela do meu quarto uma mulher de pele negra, cabelos crespos e jeito lindo de se vestir caminhando com seu cachorro pela calçada do outro lado da rua.

Não era necessário eu estar cara a cara com ela para notar que tinha lábios volumosos e corpo bastante corpulento. Por um instante tive uma crise de personalidade e auto-estima . E como qualquer outra pessoa tendo aquele tipo de crise fui correndo me olhar no espelho do banheiro.

Cabelos castanhos lisos até demais caindo pelas minhas costas, sardas no rosto e olhos castanhos da mesma forma. Dei de ombros para eu mesma. Eu não tinha nada especial, meus lábios eram carnudos mas nem tanto. Minhas expressões me indicavam que eu teria problemas com rugas. E meu sorriso? Nada muito interessante.

Me vi necessitando e desejando uma profunda mudança. Eu me olhava no espelho e só conseguia pensar que eu não tinha nada muito diferente das meninas da mesma idade que eu. Eu continuava parecendo uma adolescente comum.

E eu não queria isso.

17 anos nas costas com cara de 15.

Eu queria e desejava mudar alguma coisa em mim.

Um piercing talvez? Não, muito adolescente. Eu quero parecer madura!

Ondular os cabelos? Não mesmo, ai eu teria que acordar todos os dias mais cedo para ondular e estragar meus cabelos com o calor do treco.

Já sei!

A verdade? Não sou muito vaidosa e nunca serei, não quero e nunca gostei por exemplo, me maquiar e cuidar dos cabelos.

Olhei ao redor. Já sei o que iria fazer e talvez até me arrependesse depois. Fui até minha escrivaninha e peguei uma tesoura qualquer.

Dos longos segundos da minha escrivaninha até o espelho do banheiro eu fiquei pensando o que diabos estava acontecendo comigo para aquele momento estar acontecendo. Analisei melhor pensando se era aquilo que eu realmente queria.

É, é o que eu quero.

Meus cabelos vão até abaixo do seios. Ajustei a tesoura e segurei uma mecha pensando qual comprimento eu queria. Sem mais nem menos, eu cortei no ombro.

Assim que cortei a primeira mecha meu coração deu um grande salto. Tô fazendo merda - pensei. Mas quando terminei, eu realmente gostei do resultado.

- No-ssa - ouvi um murmurar. Olhei para trás vendo mamãe na porta do banheiro com sua roupa de enfermeira - Quanto cabelo no chão. Deveria doar.

- Boa idéia. Mas o que você achou?

- Ficou bonito, parece mais madura. - ela sorriu olhando - Por que a súbita mudança?

- Não sei - dei de ombros - só quis mudar um pouco.

- Boa mudança - ela sorriu e olhou no relógio do pulso - só vim avisar que estou indo trabalhar, Margareth foi para a casa da amiga dela.

- Amiga? - desconfiei

- Sim, amiga - mamãe sorriu - liguei para a mãe da menina vinte minutos depois que ela saiu, a mãe confirmou que realmente estava lá. Sei que se preocupa com esse recente namoro dela, principalmente pelo fato de você não querer que ela cometa os mesmos erros que você cometeu.

Suspirei

- Mas vamos dar um voto de confiança a ela. Eu confio em vocês e sei que são sábias.

- Quando eu fiz aquela loucura... eu fiz porque não estava em juízo perfeito.

Peguei os cabelos no chão e amarrei em um elástico, guardando e fazendo rápida nota mental de doar.

- Vamos confiar nela, Margareth precisa ter essa confiança da gente para enfim crescer! Sei que seja lá o que for fazer ela tomará as decisões certa. Mas fique de olho, se antes das dez ela não chegar vá buscar ela pelas orelhas. O endereço está em cima da mesa da sala.

- Ok, tenha um bom trabalho.

- Tem comida no forno. - ela me deu um beijo e saiu.

Em casa,

Sozinha,

O que qualquer um da minha idade faria nesse momento era começar mandar inúmeras mensagens convocando para um repentina festa.

Mas não sou esse tipo de adolescente então fui fazer o que faço de melhor, estudar.


Uma das melhores invenções foi o ser humano aprender a escrever. Digo isso porque estranhamente eu só conseguia me abrir por exemplo, em palavras escritas por mim. Nunca verbalmente como a maioria das pessoas faz.

Embora escrever é uma coisa que eu goste tanto, nada nem esse prazer me tirava a preocupação que estava tendo com o fato de que o dia da entrega de meu trabalho estava perto até demais e eu não o tinha concluído.

Não tinha como imaginar o que o tio de Daniel estava planejando. E como se ele soubesse que estava pensando nele meu celular começa a vibrar.

- Com quem falo? - número desconhecido

- Elizabeth ? Sou eu, Sebastião.

- Quem diabos é Sebastião? - Perguntei

- Tio de Daniel - posso sentir o revirar de olhos

- Como conseguiu meu número?

- Peguei nos contatos do celular de Daniel.

- E como ele conseguiu meu número?

- Bom - ele riu - Isso você pergunte a ele, Mas o motivo da minha ligação é que preciso de sua ajuda aqui em casa.

- Como? - estava cada vez mais confusa e não escondi isso em meu tom de voz

- Quero que venha aqui em casa.

- Não.

- É do seu interesse.

- Não irei.

- Daniel está aqui, eu tenho ótimo plano para aproximar vocês dois.

Suspirei por vencida, aquilo é importante.

- Estou indo.

Provavelmente era mais de 7h da noite. Estava escuro apenas com as luzes da rua. O tempo estava frio me fazendo ir de blusa de frio para lá.

Toquei a campainha

Passos arrastados foram ouvidos e quando vi Daniel loiro me olhando confuso estava parado diante de mim.

Não olha, Elizabeth.

Ele está de calça moletom cinza sem nada nos pés, e sem nada no peito, sem blusa ou camiseta alguma. Me oferecendo uma visão interessante das estradas que levaria diretamente para o... negócio do meio das pernas.

E como sei disso?

Eu olhei por um longo tempo.

Quando voltei meu olhar a ele, ele ainda estava me olhando confuso mas tinha um sorriso extremamente cafajeste nos lábios.

- O cabelo curto combinou com você - me olhava - até demais.

Seu olhar indecente desceu por meu corpo

- Daniel - cocei a garganta

- O que faz aqui? - Talvez seja impressão minha mas eu podia jurar ter visto um pouco de esperança em seu olhar.

- Eu a convidei - Ouvimos a voz de seu tio atrás dele. Daniel confuso virou para o tio que ignorou o sobrinho e veio em minha direção. O mesmo sorriso cafajeste que ostentava o rosto de Daniel segundos atrás estava ostentando o rosto do tio. Pura provocação.

O tio, em comparação ao sobrinho, estava vestido adequadamente. Como quem fosse sair. Ele veio até mim abrindo os braços me fazendo abraçar ele.

Eu sorri sem graça pelo abraço e pelo olhar nada alegre de Daniel em nossa direção.

- Elizabeth - O tio me puxou pelo ombro, me guiando para dentro da casa

Daniel fechou a porta observando a gente. Não olhei na direção dele para confirmar mas eu sentia o olhar dele queimando em minhas costas.

- O que ela faz aqui? - Daniel perguntou de novo

- Eu a convidei - O tio novamente respondeu

- Por quê? - estava na nossa frente agora de olhos estreitos para a mão do tio em meu ombro

- Elizabeth é uma amiga minha. Certo Elizabeth?

- Certo, Sebastião. - sorri

- A propósito o cabelo curto ficou bem em você - O tio disse. Sorri agradecida. O sorriso que eu não ofereci a Daniel quando ele me disse o mesmo minutos atrás. - Quer tomar algo? Um café? Cerveja? Uísque?

- Que p0rra é essa - ouvi Daniel Sibilar - Uísque? Cerveja? Ela tem dezessete anos!

- Você também tem e provavelmente bebe muito nas festas.

- Com Elizabeth é diferente, ela não gosta de bebidas alcoólicas!

Olhei surpresa para ele. Como ele podia saber disso? ele ignorou totalmente minha surpresa. Deve ser apenas um palpite que as pessoas têm.

- Venha, Elizabeth - o tio me guiou até a cozinha - Tome um café então.

Sentei a mesa e fiquei esperando ele preparar o café. Daniel estranhamente não veio atrás de nós.

- Por que me chamou aqui?

- Eu tenho um plano, eu te disse.

- Qual é plano?

- Surpresa - piscou para mim e seus olhos pararam na pia - Daniel foi lavar louça e entupiu a pia.

- Já liguei para o encanador - Daniel entrou dessa vez totalmente vestido. Ah não.

Quer dizer, ainda bem!

- Já tentaram vocês mesmo desentupir? - perguntei olhando o tanto de água ali

- Seu café - O tio me deu uma xícara de café quente - Não, nem eu nem ele sabemos - deu de ombros

- Quem é o homem dessa casa? Sua mãe? - perguntei pasma para Daniel

- Você saiu nesse horário para vir tomar café aqui? - me perguntou no mesmo tom

Tirei minha blusa ficando com os braços livres

- Faça me favor... - murmurei levantando e caminhando até a pia

- O que vai fazer? - Daniel perguntou confuso

- Desentupir sua pia!

- E você sabe?

- Não me subestime só porque sou mulher, sei fazer muitas coisas que as pessoas julgam como coisas de homem. Ferva água com detergente.

Ele não questionou mas foi fazer.

Tirei aquele pouco de água na pia colocando em um balde ali do lado que não sei de onde saiu. Agachei diante da pia abrindo o gabinete e visualizando mais fácil o cano, puxei o mesmo do lugar e olhei dentro dele.

É, é realmente o que eu acho que é.

Coloquei o cano no lugar limpando as mãos.

-O que você está fazendo? - Daniel perguntou ao meu lado

- Fazendo vocês não gastarem dinheiro sem necessidade. Desliga o fogo e me da a água fervente.

Ele o fez.

Joguei a água que nem chegou a ferver direito dentro do cano. Enchi de água fria e joguei também para não causar dano nenhum ao cano. Como esperado a pia rapidamente começou a desentupir e o cano estava livre, abri a torneira para confirmar e assim foi feito.

Daniel me olhava de forma intrigante e deslumbrado. Seus olhos continha um brilho que eu não sabia descrever.

- Era gordura no cano - me afastei da nossa aproximação - Quando terminar de lavar louça sempre jogue água fervente e intercale com água fria para não danificar o cano.

E mesmo eu falando, ele continuava me olhando daquela maneira estranho dele.

- U-A -U - Ouvi o tio sibilar. Nem lembrava da existência dele - Eu posso trocar uma palavra com meu sobrinho, Elizabeth?

- Claro - peguei meu café e caminhei até a sala de estar. Não antes de não ouvir ele bater nas costas de Daniel que estava parado olhando eu me distanciar e dizer - "Essa é para casar".


- Oi, eu sou a mãe da Maria - A mulher ao telefone disse

- Quem é maria? - perguntei confusa e depois lembrei - Oh, amiga da minha irmã.

- Isso.

- Aconteceu alguma coisa?

Eu estava sentada na sala da estar da casa de Daniel ouvindo o nem um pouco disfarçar deles de uma conversar nem um tanto legal. Daniel queria saber que diabos eu estava fazendo ali.

Estava me sentindo um pouco mal ouvindo Daniel nem ao menos disfarçar que não me queria ali. Corno idiota.

- Não. É que ela quer dormir aqui mas me pediu para ligar para você e pedir.

- Por que ela mesmo não pediu?

- Porque ela acha que não irá deixar. Eu prometo que aqui ela está em boas mãos, estou cuidando dela como se fosse minha filha.

- Tudo bem então, ela pode dormir aí - falei

- Obrigada - a mulher agradeceu. Eu desliguei e mandei uma mensagem para minha mãe avisando.

Merda. Desligou. Celular de merda!

- Elizabeth? - O Tio me chamou. Olhei para ele

- Sim?

- Você pode ir no quarto de Daniel o celular dele?

- Ainda não entendi o motivo de eu estar aqui? E por que ele não vai pegar?

- Daniel esta um pouco estressado - ele piscou para mim -fica traquila, faz tudo parte do plano.

- Plano esse que você não me explicou até agora, não é?

- É um plano que vai ser essencial. Vai lá por favor.

Subi as escadas e fui em direção ao quarto dele. Abri a porta e como da última vez que estive ali, estava da mesma maneira. Não estava organizado mas não estava muito bagunçado.

Olhei ao redor procurando. Minha cabeça estava confusa pra caramba, a começar por estar arrependida de ter saído do conforto de minha casa.

- Não tem droga de celular nenhum aq...

- Está fazendo o que aqui Elizabeth? - Daniel entrou confuso

- Seu tio disse para eu pegar seu celular.

Pum, a porta se fechou. E não foi eu ou Daniel que a fechou.

Ouvi o barulho da tranca.

Daniel e eu olhávamos para a porta.

- Que merda está acontecendo? - Daniel perguntou

Caminhei até a porta constatando o que eu já sabia.

Estávamos trancados.

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