.Capítulo 7.

Eu estava tendo uma noite horrivelmente mau dormida. Rodava para cá e para lá, tentando procurar o sono que eu havia perdido. Me levantei para beber água, a noite fria era acompanhada com os sons dos grilos e cigarras que pairavam alí por perto.

Caminhei até a cozinha, a luz suave revelando um ambiente silencioso, exceto pelo zumbido baixo da geladeira. A claridade iluminava a mesa, onde um café e um bolo esperavam pacientemente. Minha avó, talvez esquecida da luz acesa, ou poderia ser meu pai que sofria de insônia.

 Ao adentrar a cozinha, uma presença familiar surpreendeu-me: Ricardo. Ele estava ali, no limiar entre a penumbra e a luz, sem camisa, com jeans e uma expressão que misturava surpresa e tensão. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, fomos prisioneiros de um silêncio carregado de significados não ditos.

– Desculpe, não quis ter te acordado, eu só estava com um pouco de fome e... – ele começou, mas as palavras pareciam titubear em sua boca.

Nego com a cabeça, percebendo que há mais naquela cena do que uma simples busca por comida. Enquanto preparava café e servia um pedaço de bolo, a cozinha tornou-se uma espécie de palco para uma conversa que há muito tempo esperava para acontecer.

Ricardo, sentado à mesa, começou a comer, mas seus movimentos eram um reflexo de alguém que carregava o peso de palavras não pronunciadas. Sentei-me em frente a ele, observando cada mordida que ele dava, como se a comida fosse um refúgio temporário para algo mais profundo.

– Você voltou. – murmuro, mais para mim mesmo do que para ele.

Ele ergue o olhar, um brilho fugaz de tristeza em seus olhos.

– Você também. Não está nada mal. Parece até mais bonito. – sua tentativa de leveza contrastava com a complexidade subjacente.

Sorrio de canto.

– Está tudo bem?_ perguntei.

Afirmando novamente com a cabeça ele responde que sim, mas eu sabia que havia algo de errado. Apesar de tudo que havia acontecido no último mês, eu ainda me importava com ele, mesmo sabendo que ele não me procurou para se esclarecer, nem sei se eu o poderia dar o benefício de duvidar daquela noite.

– Sabe que pode contar comigo, não é? – digo, oferecendo uma ponte para o que quer que ele esteja enfrentando.

Conversamos durante horas, tentando dissipar as sombras que pairavam sobre nós. No entanto, evitamos tocar na ferida aberta daquela noite, uma ferida que permaneceu intocada, como se o tempo tivesse congelado naquele momento.

Ao raiar do dia, ele me conduziu de volta ao meu quarto, e ficou ali, no limiar da porta. Uma parte de mim desejava que ele entrasse, mas a outra resistia à ideia, temendo as consequências de abrir uma caixa de Pandora de desejos reprimidos.

A manhã nasceu, trazendo consigo uma mistura de certezas e dúvidas. Eu o via ali, parte do meu passado que se entrelaçava com o presente, e eu me questionava sobre a verdade por trás dos sentimentos que ainda persistiam. Talvez seja essa a natureza complexa do amor, uma teia de emoções onde a linha entre o certo e o errado se desfaz, e somos deixados com o desafio de decifrar nossos próprios corações.

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