.Capítulo 11.
Ainda era madrugada, o sono não havia me encontrado ou eu não havia lhe achado.
Agora com Kenan, a cama de casal parecia um pouco menor e desconfortável. Me virei para ele, que estava de olhos fechados respirando lentamente em um sono profundo.
Ok, eu não tinha escolhas ruins para homens bonitos, pensei, externando uma risadinha. Mais, não era esse homem que eu estava de olho ultimamente. Ricardo estava me fazendo sentir algumas borboletas no estômago, algo que antes eu não sentia por ninguém. Eu gostava de Kenan, mas não queria magoá-lo. Querendo ou não ele viajou horas pra vim me ver aqui no sul, se isso não era paixão o que era?
Minha cabeça estava confusa, ficava ainda mais quando os dois faziam questão de estarem na mesmo lugar, e ainda por cima, estarem se estranhando.As trocas de olhares, fuzilando um o outro, era nítido. Eu não gostaria de estar por perto quando isso acontecer. Saí do meu quarto, procurando por um lugar mais tranquilo, sem pessoas que eu estivesse atraído amorosamente.
Então encontrei com minha mãe sentada na mesa da cozinha conversando com minha avó, elas estavam rindo de alguma coisa.
- Acordadas a essa hora?_ questionei, abraçando minha mãe, dando um beijinho em sua cabeça.
Ela alisando as mãos em meus braços me perguntou:
- Como está lidando com essa nova situação?
- Se estiver falando de Ricardo e Kenan, eu não estou lidando. Só não quero magoar nenhum dos dois.
- A vida dos jovens na minha época era diferente. Não tinha essa disputa de relacionamentos. Com quem vai ficar... Meu pai escolheu e foi isso._ disse minha vó bebendo um copo de água.
- E a senhora não tinha nenhum amorzinho proibido, Dona Diana?
Ela sorriu.
- Eu contei ao seu avô, mas eu tinha um homem muito bom e honesto, com quem eu iria me casar na época. Mais meus pais descidiram que entre o homem que eu queria, e alguém que pudesse me dar uma boa vida, eu merecia uma casa com teto. Na época não era fácil tomar nossas próprias decisões. Mais me casa com seu avô trouxe bons frutos, aprendi a amá-lo com o tempo.
- Bom saber._ digo.
- Bom, eu vou voltar para cama. Boa noite._ disse minha mãe saindo nos deixando sozinhos.
- O que se passa nessa cabecinha?_ questionou minha vó.
Fiz um biquinho e revirei os olhos, me juntando a ela, me sentando em uma das cadeiras.
- Mau sei explicar, a senhora o que se passa...
- Bom, olha. Kenan por algum motivo está aqui, ele parece mesmo gostar de você. E nitidamente devoto. Mas se isso não lhe faz bem, você tem uma segunda opção. Não que ser segunda opção seja a melhor coisa do mundo. Mas os tempos hoje, são diferentes dos meus. Tenho certeza que ambos iriam entender qual é a sua decisão... Amanhã Ricardo participará do rodeio. Terá algumas etapas, caso ele ganhe irá para fora do Brasil, quando ele estiver longe, você não irá poder escolher mais. Então decida, antes que seu coração se parte em pedaços, que nem super bonde irá fazer grudar de volta._ disse ela segurando minha mão.
Durante o dia a cidade estava viva, pulsando com a energia da tão esperada feira que se aproximava. As ruas se enchiam de cor com barraquinhas alegres, e o aroma tentador de comidas de rua pairava no ar. Enquanto eu passeava pelas ruas movimentadas, o sol derramava seu brilho dourado sobre as atividades fervilhantes. A feira estava prestes a começar, mas minha mente estava fixa em uma única preocupação.
Ricardo, meu peão destemido, se preparava para a competição de rodeio. O som das ferraduras dos cavalos ressoava enquanto os competidores treinavam nas proximidades. Eu observava com uma inquietação crescente, sabendo que, em breve, ele estaria cara a cara com um touro indomável.
Me aproximei dele, concentrado nas rédeas de um cavalo vigoroso. A tensão estava escrita em sua expressão, mas ele tentava esconder atrás de um sorriso confiante.
- Você tem certeza de que está bem com isso? - perguntei, tentando esconder minha preocupação.
Ricardo virou-se, seus olhos refletindo a seriedade da competição iminente. Um sorriso confiante apareceu em seus lábios, mas eu podia perceber a tensão subjacente.
- É o que eu faço, Nicolas. Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.
Eu assenti, mas a inquietação persistia. Queria confiar nas palavras dele, mas a adrenalina já pulsava em minhas veias, enchendo minha mente com pensamentos sombrios.
Durante todo o dia agitado, eu mantinha um olho atento em Ricardo. Observava seus treinos, ajudava nos preparativos da feira e interagia com outros peões. Uma sensação de impotência me envolvia, sabendo que não tinha controle sobre os eventos que se desdobrariam no rodeio.
Ao entardecer, quando as luzes da feira começaram a iluminar o cenário noturno, encontrei Ricardo olhando para o horizonte, perdido em pensamentos.
- Você está bem? - perguntei, aproximando-me.
Ele suspirou, seus ombros relaxando um pouco. Ao se virar para mim, pude ver determinação e vulnerabilidade em seus olhos.
- Eu só... Quero que saiba que, independentemente do que aconteça amanhã, eu aprecio todo o apoio que você está me dando.
Coloquei uma mão em seu ombro, tentando transmitir conforto.
- Estarei aqui para apoiar você, não importa o resultado. Só quero ter certeza de que você está seguro.
Um sorriso grato surgiu em seus lábios, e a noite avançava, mas a preocupação em mim persistia, pairando como uma sombra. O rodeio estava prestes a começar, e o destino reservava um desafio que testaria não apenas as habilidades de Ricardo no lombo de um touro, mas também a força de nossa conexão.
Hoje era o grande dia. Minha avó estava animada para a feira, era o primeiro dia e iríamos vender cuscuz e algumas outras comidas. Ricardo por outro lado estava com o coração quase saindo pela boca. Parecia animado, mais ao mesmo tempo com medo.
- Acho sádico tudo isso que está fazendo. Você pode morrer._ digo olhando para ele arrumando algumas caixas.
Ele sorrio.
- Agradeço a preocupação, mas nada vai acontecer. Confia em mim?
- Com todas minhas forças!_ afirmo.
- Pronto, peguei a ultima caixa na caminhonete, acho que cortei minha mão aliás._ disse rindo. - Querem ajuda para mais alguma coisa? Talvez com os cachotes._ questionou Kenan, nos olhando.
Ricardo olhou para ele furioso. Parecia intimidador. Trincou os dentes e falou.
- Tá se achando demais né garoto? Quer mais alguma ajuda? Quer que eu faça isso? Quer que eu te ajude em alguma coisa, Kenan? Quer um pano pra cobrir o sangue? _ questionou Ricardo com os peitos estufados, enfrentando Kenan, repetindo algumas de suas falas.
- Qual é a sua cara? Qual o seu problema? Eu só estou aqui para ajudar...
- Quer que eu te mostre como são as coisas por aqui?_ falou alterando a voz. Vi Ricardo fechar os punhos, se eu não interviesse ele com certeza atacaria Kenan sem pensar duas vezes.
- Ei, ei, ei._ digo me pondo no meio dos dois esticando os braços separando eles. - Qual é? Parem com isso. Eu sou o estrangeiro, agora. Parem... Kenan vai ver se minha avó precisa de ajuda com a barraquinha, por favor.
Ele nega com a cabeça e sai andando. Estava furioso. Cruzei os braços e olhei irritado pra Ricardo, que aparentemente estava pior do que antes.
- Qual foi essa sua? Queria bater nele sem motivos?
- Não suporto esses viados riquinhos, froxos demais. Qual é a dele? Tudo estava ótimo até ele vim parar aqui._ disse chutando alguns cachotes vazios.
- É sério?_ pergunto novamente.
- Eu não estava falando de você... Quero dizer, não foi minha intenção.
- Vai se ferrar, Ricardo._ digo saíndo.
Sai andando até a caminhonete. O que havia sido aquilo? Um ataque de ciúmes, ou uma ataque de pânico, misturado com ciúmes? Talvez estivesse com medo de perder o rodeio. Mal sabe ele que sinto muito mais do que ele mesmo de subir em cima do touro.
~*~
Ainda não tinha falando com Ricardo após o seu desentendimento mais cedo. Preferi deixar se acalmar sozinho, do que ficar por perto podendo me irritar mais do que antes.
- Alfredo me contou o que houve hoje de tarde. Devo me preocupar?_ questionou minha vó.
- Acho melhor não. Ricardo só está estressado e eufórico para o rodeio. É só estresse.
- Ele me disse que você teve que entrar no meio dos dois para acalmá-los.
- Não era foi nada demais... Tenta imaginar dois lobos alfas, um em território inimigo e outro no habitat dele. Isso dá guerra.
- Está comparando eles com animais? _ perguntou rindo.
- Bom, era o que estava parecendo. Tudo o que eu queria era não ser a presa. Mas não tem outro papel pra mim nessa história.__ retruquei. - Acho melhor deixar para conversar com Ricardo após o rodeio. Quanto mais calmo, melhor.
Ela deu de ombros e continuou atendendo os clientes.
Está será a primeira noite de rodeios da feira. Teremos três noites de muita garra e de chifradas dos touros. Será uma noite épica para nossa cidade. Vocês não irão querer perder nossos competidores lutando para ficarem mais tempo em cima do monstruoso e terrível touro. Três noites, oito participantes, e somente um irá para a etapa internacional de rodeios. Não podem perder esse evento.
Os candidatos são: Américo Silva, Carlos Stein, Miguel de Oliveira, Ricardo Venturi, Tiago Ramos, Urias Magalhães, Uanderson Benedito e por último Victor Ferraz.
Cada um dos participantes entravam de acordo com os seus nomes. Fui correndo quando ouvi as chamadas dos candidatos. Ricardo estava lindo, uma blusa xadrez azul escuro, um jeans apertado no corpo, com um cinto de fivela enorme e com um chapéu marrom escuro na cabeça. Eu estava bem perto da área do rodeio. Consegui ver os seus olhos se encontrarem com o meu, e um sorriso de canto surgir em seus lábios.
Agora cada participante irá fazer uma apresentação. Um desfile, que também irá fazer parte da campanha do nosso vencedor.
Cada peão fazia uma apresentação individual. Os gritos das pessoas que estava ali para assistir eram tão altos quando cada um se apresentava, que conseguia me deixar surdo.
Ricardo Venturi._ disse o locutor e apresentador do rodeio.
Ricardo havia uma pequena vantagem. Ele sabia desfilar, fora que era bonito demais. Já conseguia ver uma foto sua em um poster com pouca roupa segurando o chapéu em frente suas partes íntimas.
"Ah, ele já havia feito isso." penso.
Ele caminhou em minha direção, tentando se amostrar ele subiu nas barras de ferro, ao redor da area do rodeio, fazendo gestos de palmas e pedindo gritos mais altos. Tirou o chapéu de sua cabeça e colocou na minha.
- Você vai precisar dele._ digo gritando em meio toda gritaria.
- Fica melhor em você._ disse pulando das barras e voltando para o centro daquela grande roda, junto com os outros participantes.
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