27. Fora de casa - Parte 2
- O que está pensando tanto?
- Não é nada.
- Sei... – Seto desviou o olhar para cima por um instante e o acompanhei, vendo um certo Mokuba na varanda olhando para nós – Mokuba, algo errado?
- Não é nada, irmão. É que é legal ver vocês dois juntos. Além disso, só passei para desejar boa noite, estou morto de sono.
Respondemos e Mokuba voltou para dentro, apagando as luzes. Não segurei um bocejo e meu namorado uma longa espreguiçada enquanto olhava as horas.
- Acho que devemos seguir o exemplo do meu irmãozinho. Amanhã é dia de trabalho.
Ele se despediu de mim com um beijo na têmpora quando estávamos no corredor e cada qual entrou em seu quarto. Era estranho para mim não estar em casa e ter tantas coisas bonitas e luxuosas ao meu redor. Olhei para a caixa do notebook novo na minha cama, me sentindo grata pela primeira vez pela sorte que eu tive em encontrar alguém como os irmãos Kaiba, que são muito mais do que qualquer mídia é capaz de mostrar. Coloquei meu pijama e caí na cama, adormecendo quase que imediatamente.
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Acordei no meio da noite, assustada pelo pesadelo que tive e por ver Seto sentado ao meu lado, com expressão de alívio ao me ver abrindo os olhos.
- Estava tentando te acordar há cinco minutos, mas você não parava de resmungar e me chamar. Esse deve ter sido um senhor pesadelo, suponho.
Estremeci ao me lembrar involuntariamente do meu "sonho": o Alto Sacerdote, que muito se parece com meu companheiro, sendo amarrado e condenado à morte por traição. Os guardas o agrediam com chutes e golpes de lança em público enquanto eu tentava me aproximar para tirá-lo de lá, mas as pessoas ao redor me empurravam para trás, dizendo que ele estava acabado. O sangue cobria seu rosto lentamente e via suas forças desaparecendo, sem ser capaz sequer de estar ao seu lado naquele instante. Tudo o que eu conseguia era gritar o nome dele, na esperança de ser ouvida.
- Luka, está me ouvindo?
Eu ainda tremia e tentava segurar o choro, mas quando senti o calor reconfortante de seu abraço, acabei me deixando levar e as lágrimas caíram no mesmo instante. Ele secava meu rosto com paciência infinita enquanto me fazia voltar a dormir. No entanto, ao ver seu casaco, um doce meio sorriso surgiu.
- Sei de algo melhor do que isso para te ajudar a recuperar o sono.
Seto se deitou ao meu lado em cima do cobertor enquanto eu acabei apoiando a cabeça em seu peito. Com o ar protetor e sua mão deslizando pelo meu cabelo, consegui passar o restante da noite sem mais nenhum pesadelo.
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A manhã chegou depressa e até que acordei me sentindo descansada, embora tenha perdido o sono por causa do pesadelo. Estava sozinha na cama, sinal de que eu deveria me apressar e arrumar minhas coisas para o trabalho e a faculdade. Com um banho rápido e uma troca de roupas ligeira, encontrei os dois já tomando café da manhã.
- Bom dia, Luka. – Mokuba foi o primeiro a saudar – Está melhor depois do pesadelo? Pude ouvir você gritar no milésimo sono.
- Estou bem, não precisa se preocupar. – meu olhar então cruzou com a imensidão azul dos olhos de Seto – Lamento por ter feito você me acudir.
- Chega de lamentar, está bem? Eu não iria te deixar desamparada.
Saímos meia hora depois em direção à empresa. Por causa do trânsito, chegamos com vinte minutos de atraso e acabamos ouvindo as fofocas pelos corredores. Me separei dos irmãos e fui para a minha sessão enquanto escutava o primeiro sermão presidencial do dia:
- Se vocês têm tempo para fazer fofocas no meu corredor significa que estão sobrando por aqui. E eu não tenho peso na consciência quando se trata de despedir pessoas a mais.
- Sentimos muito, senhor Kaiba. Vamos voltar ao trabalho imediatamente.
Minha mesa estava praticamente uma réplica da escrivaninha do Seto, com a diferença que ainda havia um espaço ou outro para colocar mais relatórios. Quando consegui colocar tudo em ordem em menos de duas horas, percebi que realmente estava andando demais com um certo trabalhador compulsivo.
Meu horário já havia terminado e me surpreendi ao ver Mokuba andando de um lado para o outro levando papéis de lá para cá.
- Vocês não vão almoçar?
- Só se for à meia-noite. As coisas hoje vão ser intensas.
E nesse momento, Seto dá um grito de dentro da sala que assustou a nós dois.
- Parece que vocês tem algo bem complicado para resolver.
- Quando meu irmão fica tão estressado assim podemos deduzir que a situação está indo de mal a pior.
A porta da sala da presidência se abre e vejo nosso estimado presidente da corporação completamente irritado ao telefone.
- Legalmente patenteado? Quando eu chegar aí a falência dessa sua empresa de quinta é que vai ser legalmente patenteada, e por mim. – a ligação terminou por ali.
- Sem acordos, irmão? – Mokuba perguntou.
- Eles não querem admitir que copiaram nosso projeto na cara dura. Vou ter que resolver pessoalmente. – só então ele percebeu que eu estava por ali e a ira de seu olhar desapareceu no mesmo instante – Infelizmente não vou poder almoçar hoje. – recebi um beijo demorado na testa – Mas prometo que vou compensar no jantar.
- Não precisa se preocupar comigo, Seto.
- Estou indo. Quando mais rápido acabarmos com isso mais depressa vamos resolver o que é urgente. Mokuba, cuide das coisas por mim.
- Pode deixar, irmão.
- Vocês precisam de ajuda? Sabe, não me incomodo em perder um dia de aula para ajuda-los. – arrisquei perguntar. Não que eu entendesse de administração nem nada, mas pelo que parece toda a ajuda seria bem vinda.
- Você já perdeu três dias seguidos por causa da internação. – Seto respondeu – Mas se quiser voltar depois das suas aulas, tudo bem. Os dias serão longos até o fim dessa semana.
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