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Terça-feira

Amber K. White

- Ela ainda está dormindo ? - ouço a voz de Stacy invadir meu quarto

- Por que não entra e vê por si só! - Rosnou Penny, obviamente irritada. Como sempre.

- Seu bom humor é uma alegria para mim - Stacy debocha. Abri os olhos calmamente, estava morrendo de sono - Não sei como Amber te aguenta.

- E eu não sei como aguentei vocês duas por dois semestres inteiros! - Gritou Penny. Olhei para a mesma que andava por nosso quarto irritada, pegando as coisas dela.

- Que bom que acordou - Stacy disse me olhando - Levanta de uma vez!

Levantei me espreguiçando e mordendo o lábio para não rir de Penny. Então Anelise apareceu na porta atrás de Stacy

- Ela inda está dormindo ? - Anelise perguntou a Stacy observando Penny irritada pelo quarto. Ela arrumava o material dela ao mesmo tempo que pegava as roupas dela para usar durante o dia.

Penny levantou o olhar para ver quem era a dona da voz. Então olhou para Anelise de cima a baixo, observando seu vestido amarelo claro e seus saltos pretos no pé. Anelise entrou no quarto e sorriu simpática para Penny

- Oi, eu sou a...

- Não me interessa quem você é - interrompeu pegando as roupas dela e toalha

Anelise não se abalou mas ergueu uma de sobrancelhas

- Nossa como ela é estressada - Falou para eu e Stacy. Penny revirou os olhos e me olhou furiosa

- Eu não vou avisar para ela -apontou para Stacy que imitava ela silenciosamente. Mordi novamente o lábio evitando uma risada - Vou avisar para você, Amber. Quando eu estiver dormindo peça para sua amiga - olhou para Stacy que sorriu forçada como se não tivesse imitando ela segundos atrás - E sua nova amiga, quem quer que for para parar de bater na porcaria da porta atrás de você! Liguem inferno, mandem mensagens. Não existe só ela nessa merda!

E depois do surto dela, ela saiu do quarto batendo o pé.

- Onde ela foi com a toalha ? - Anelise perguntou olhando para a porta

- Tomar banho. - Respondi levantando - E eu vou fazer o mesmo, só que com menos raiva.

- Como aguenta ela ? - Perguntou Stacy frustada

- Como ainda consegue imitar ela sem que ela veja ? - perguntei fascinada. Stacy sorriu e Anelise riu

- Foi engraçado - Anelise comentou

- Sei que é imaturo, mas é impossível não agir de forma imatura quando Penny está aqui - Stacy disse - Agora anda Amber, vamos perder a primeira aula!

- Tô indo mamãe!

Stacy e eu desde que nos conhecemos somos muito próximas, talvez eu até tenha citado que ela veio para a UFH por minha causa. A realidade é que Stacy e os pais dela foram testemunhas dos meus piores momentos em Los Angeles, pois éramos vizinhas e porquê quando as coisas acontecia eu ia correndo na casa dela em busca de um ombro amigo.

No entanto, quando viemos para UFH decidimos não dividir o mesmo quarto. Não foi uma decisão que levou horas para ser pensada, decidimos no instante em que pisamos aqui.

Eu divido meu quarto com uma irritante e arrogante aluna de direito, o que me faz cada dia que passa me arrepender de minha decisão de não dividir o mesmo quarto com minha melhor amiga. Penny é uma garota muito estressada, se eu acender a luz a noite ela me xinga horrores até dormir. Na minha primeira noite com ela eu fiquei até horrorizada achando que aquilo não ia dar certo, mas aprendi a lidar com ela e principalmente, ignorar ela.
É irritante quando chego no quarto e ela está estudando e começa a falar um monte de merda falando que atrapalhei os estudos dela. É irritante quando meu celular desperta antes do dela e ela grita horrores até eu levantar e desligar meu celular. Mas a melhor parte é quando vejo ela em qualquer quanto da universidade e fingimos que não dividimos o mesmo quarto, ou melhor, fingimos que não nos conhecemos e nem queremos.

Como falei anteriormente, eu aprendi a ignorar ela e seus surtos irritantes.

Anelise, a caloura, ficou surpresa assim como eu e Stacy no segundo que vimos que elas iriam dividir o mesmo quarto até Stacy se formar. Daqui a quatro semestres, o que equivale a dois anos.

Aos poucos criamos uma certa intimidade com ela. Eu ainda não me sentia preparada em dividir segredos com uma garota que eu conheci ontem, mas seu jeito era interessante. Faladeira, histérica quando queria e vaidosa sempre.

Todo momento que passávamos em frente a algum espelho, ou lugar que refletia nossa imagem ela se olhava de cima a baixo arrumando os cabelos loiros.

- Você está me deixando tonta. - Stacy disse observando Anelise mexer nos cabelos pela milésima vez. Anelise apenas sorriu nada ofendida

- Por favor, para - Falei também estressada com sua arrumação de cabelos a cada cinco minutos.

Ela riu jogando os cabelos para trás.

- Hoje o dia está mais tranquilo - Ela disse olhando ao redor - Vai que eu arrumo um gatinho! - piscou um olho para nós

- Nenhum garoto aqui vale a pena - Stacy disse olhando ao redor. O Campus não estava lotado igual ontem, mas ainda sim muitos calouros estavam andando com pressa.

- Já teve um romance com algum? - perguntou Anelise curiosa

- O coração de Stacy é de ferro - Falei enquanto andavamos, estavamos levando Anelise para o prédio da aula dela. A mesma cursava, acredite ou não, direito. Segundo ela seu sonho de vida é ser uma advogada criminalista. - Nunca vi ela apaixonada.

Stacy sorriu convencida

- E nunca vai ver. É melhor sozinha do que mal acompanhada, não é assim que dizem?

- Olha eles - Anelise disse olhando para Brad James, o irmão mais novo e alguns caras do time vindo.

Eles estavam indo para um lado e nós para outro.

Meus olhos capturaram os de Brad que ria de algo que seus amigos e irmão conversava. Seus olhos vieram na direção dos meus e então, eu desviei ao ouvir uma pergunta inusitada

- E você já se apaixonou Amber? - perguntou Anelise curiosa, enquanto segurava seus livros ao mesmo tempo que se olhava mais uma vez no reflexo do celular

Abri a boca para negar mas Stacy me cortou

- Ela está apaixonada.

Revirei os olhos

- Por quem? - perguntou Anelise desviando o olhar de seu reflexo na tela do celular

- David Taylor - Stacy riu ao ver minhas bochechas coradas - Apaixonado por ele desde o segundo que pisou aqui. Ele é do time de vôlei aqui da universidade, um dos melhores atletas para dizer a verdade, músico e sem contar que tem um sorriso lindo. E também cursa psicologia, com ela.

- Falando assim até parece que a apaixonada por ele é você - Falei e logo em seguida corrigi ela - e eu não sou apaixonada, tenho uma queda por ele.

- Eu só estou falando tudo o que eu ouvi de você inúmeras vezes que admirava ele.

Anelise riu

- Quero saber quem é ele, me mostra.

- Depois - paramos em frente ao prédio de direito - Está entregue.

Anelise bufou

- Nos vemos mais tarde meninas.

Então ela entrou e nós seguimos caminhos diferentes, eu indo para o prédio de psicologia e ela para o prédio de medicina veterinária.

  Dizem que estudar psicologia é uma forma de procurar entender a si mesmo.

Talvez fosse, ou talvez não. Eu estudo pelo fato de que eu adoro a idéia de procurar entender outras mentes, de procurar entender comportamentos e ajudar as pessoas a ter uma vida melhor assim que enxerga qual de fato é o problema que a impede.

Eu estava na biblioteca procurando um livro bom para ler que fosse longe do universo dos meus estudos. Segundo dia e eu já tinha trabalho para fazer, apresentação para bolar e eu simplesmente queria ler um livro qualquer que fugisse da realidade. Mas eu também estava olhando para ele.

Os cabelos loiros escuros e pele bronzeada. Ele ria com seu colega enquanto os dois estavam sentados em uma mesa ouvindo a cada cinco minutos a bibliotecária falando para pararem com o barulho.

David Taylor.

Mesmo curso que eu, psicologia. Mas muita disposição, ele tocava violão, ele jogava vôlei da faculdade e vinha para a biblioteca rir, estudar e ouvir broncas da bibliotecária.

Sim, eu tenho uma queda... Enorme por ele. Desde o segundo que o vi. Mas não tão exagerado quanto Stacy fazia parecer.

A biblioteca estava silenciosa, a não ser pelas risadas de David e seu amigo de vez em quando.

Peguei outro livro tentando tirar meus pensamentos de David e de meus trabalhos que nem começou e eu já estava me irritando com o trabalho que de fato seria.

- É meio assustador sabia - ouvi atrás de mim no corredor cheio de livros na estantes.

Eu conhecia aquela voz.

Já tinha ouvido algumas vezes quando passava perto da mesa dele no refeitório. Ou quando passava ao lado dele que vivia dando em cima de uma garota que era de alguma de minhas aulas.

Ou nas raras festas que eu ia e ele e seus amigos gritavam, bebiam e riam.

Ou, conhecia aquela voz quando respondia a chamada, raramente quando ia, para uma aula extra que tínhamos juntos.

E eu me senti estranha e me perguntei se aquelas palavras estavam sendo direcionadas a mim. Mas havia apenas eu no meio de tantos livros.

Bom, eu e agora, Brad Cott James.

Virei para olhar para ele. Não fiquei surpresa ao ver que ele era realmente bem bonito de perto. Eu ouvia aquilo incansáveis vezes todos os dias.

Seus olhos azuis focaram nos meus olhos. Sua boca estava em um intrigante sorrisinho de lado.

E seu braço estava estendido na estante, quase me fechando se eu não tivesse o outro lado para dar a volta e sair.

- O que é assustador? - consegui perguntar

- Estava me perguntando se você falava - ele disse e então seus olhos desceram para meus lábios - Qual seu nome boneca?

Revirei os olhos

- Meu nome não é boneca, é Amber. Não que você vá lembrar daqui cinco minutos.

- Amber - disse meu nome com calma, e então, sorriu para mim. Eu tive que me xingar mentalmente por concordar por um segundo o quanto seu sorriso era realmente belo de perto - Não vou esquecer tão fácil.

- Claro que não vai - levantei uma de minhas sobrancelhas. Curiosa pelo fato de ele estar em uma biblioteca e principalmente por estar falando comigo.

- É assustador o modo como estava olhando para ele - Brad disse e então me encarou - Como se gostasse dele.

- Você não sabe o que está falando.

- Sei, e por um segundo - se aproximou de mim, me fazendo recuar um pouco - eu quis que esse olhar assustador fosse para mim.

- Como eu disse - engoli em seco, nervosa com sua aproximação repentina - Você não sabe do que está falando.

Ele riu e estendeu a mão

- Acredite em mim, eu sei do que estou falando, boneca.

- Meu nome não é boneca, meu nome é Amber. E pare de falar comigo como se me conhecesse.

- Talvez eu conheça.

- Não, você não conhece.

- Bom, Meu nome é...

- Brad Cott James, filho do meio, tem 20 anos, considerado o maior cafajeste dessa universidade, capitão do time de futebol americano que não mora na fraternidade do time e sim em um apartamento com seus dois irmãos. É lindo de morrer e arruma qualquer motivo para dar uma festa e não precisa de nenhum para estar em uma ou para se enfiar no meio das pernas de uma garota.

Ele me escutou atentamente, e então riu

- Parece que alguém fez o dever de casa. Quer dizer que você me acha lindo de morrer?

Minhas bochechas queimaram mas eu pude abrir a boca dizer:

- Eu não fiz. Isso é sua biografia que escuto todos os dias em todos os lugares dessa universidade. É cansativo, mas já acostumei. Infelizmente, entrou no cérebro suas informações asquerosas.

Ele riu de novo. Aquilo estava me irritando.

- Se fosse qualquer outra pessoa falando de mim assim eu não me importaria.

- O que quer dizer?

- Que vou te provar o contrário. De tudo isso.

Neguei com a cabeça

- Não pense que sou igual a essas meninas que abrem as pernas para você no primeiro sorriso, James.

- Eu não penso - ele sorriu - por isso que estou aqui.

Neguei com a cabeça

- Me deixe passar.

Ele continuou com o braço na minha frente

- Que tal você me passar seu número e eu penso nessa possibilidade?

- Apenas tire o braço.

- Apenas me dê seu número.

- Eu não vou dar. Agora saí!

Naquele instante eu nem lembrava que eu podia dar a volta por trás e sair de perto dele.

Então ele pegou um papel de seu bolso e colocou no bolso traseiro do meus jeans. Eu podia sentir sua respiração perto de meu rosto.

Quando ele se afastou ele disse

- Eu já sabia que você ia negar, então, me liga, Boneca.

- Amber.

- Boneca. - sorriu, piscou e saiu.

Revirei os olhos, pegando o papel do meu bolso e rasgando no mesmo instante. Idiota.

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