Capítulo 7
A Morte se encontrava totalmente perdida, sentindo um vazio dentro de si a cada vez que pensava em levá-lo.
Ele merecia tanto viver. O mundo precisava de pessoas como ele, pessoas que se esforçavam para tornar o mundo um lugar melhor. Andaram até o mercado falando o menos possível. Ambos estavam apreensivos.
Victor comprou poucas coisas, algo para o almoço e alguns doces para as crianças comerem depois.
- Está melhor? - ele a perguntou em um tom calmo. Ela acenou com a cabeça mais uma vez, o que o fez sorrir. - Você mente muito mal.
Era verdade, e ela sabia disso, mas não queria que ele tivesse que abraçar a dor dela, sendo que ela seria quem traria dor a ele e a sua família.
Ele amava a Vida, e a Morte o separaria dela.
Me desculpe, ela pensava constantemente, sem coragem para o dizer uma vez mais.
- Quando encontrei você... Senti como se fosse meu anjo da guarda. - ele sussurrou, envergonhado. - Como se um anjo tivesse descido dos céus.
A Morte o observava com atenção, gravando as palavras dele na sua mente e em seu coração. Cada palavra que ele pronunciava era preciosa, cada pequeno movimento, cada pequeno suspiro. Porque ele ainda estava vivo. Ele ainda estava com a Vida.
- Mas você não é um anjo, não é? - ele a perguntou, a observando de volta. Os olhos serenos, olhos esses que fizeram a Morte se apaixonar perdidamente.
- Não. - ela respondeu, e ele soube que dessa vez estava sendo sincera. - Alguns dizem que sou o contrário disso.
Victor sorriu, fazendo a Morte sentir como se o próprio tempo houvesse parado. Para ela, nada era mais belo que o sorriso dele.
- Você não é um demônio. É boa demais para ser um. - disse por fim. - Thanatos. A personificação da morte.
Ele suspirou mais uma vez, olhando os céus.
- Eu já não deveria estar aqui, não é? - perguntou a ela, que se manteve calada. - Eu sei. Posso sentir. A cada novo dia em que acordo, sinto que não deveria estar aqui.
Ambos ficaram em silêncio. A Morte sentia seus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez, e as enxugou antes que caíssem por seu rosto.
- Posso me despedir deles? - Victor perguntou, e a Morte permitiu.
Eles subiram até lá, onde comeram e brincaram com as crianças, que abriram enormes sorrisos ao ganhar os doces que Victor havia comprado para eles.
A Morte estava triste, mas se permitiu sentir aquele momento. Ela se permitiu sorrir até que as bochechas ficassem dormentes, o que foi uma nova sensação muito estranha para ela.
Ela não queria se esquecer de nenhum deles, por mais que os milênios se passassem.
O tempo aparentava não estar a favor deles, que sequer viram que a noite já tinha tomado seu lugar.
- Eu amo vocês. Se comportem. - Victor disse, abraçando seus irmãos.
- Juízo hein. - sua mãe o disse, o abraçando também. - Depois de levar ela na delegacia vá direto para a casa!
Levá-la a delegacia, foi isso o que Victor disse que faria. Lígia podia sentir que algo estava errado, mas não sabia o que era. Ela foi quem abraçou Victor mais forte, e quem mais demorou para o soltar.
Victor e a Morte saíram dali. E assim que se afastaram da família dele, a Morte não conseguiu mais segurar suas lágrimas. Mas o rosto dele estava pleno, trazendo calmaria até mesmo para o sombrio coração da Morte.
Ele tinha muitas perguntas para ela, e não sabia qual delas deveria fazer.
Desceram o morro e caminharam pela noite, sendo observados pelas estrelas, que estavam ansiosas para saber o desfecho de toda essa história.
Eles pararam no mesmo local onde Victor havia encontrado a Morte. Ela estava nervosa. Quando ela o levasse, não poderia desfazer isso.
- Por que está hesitante? - ele a questionou, mas ele também hesitava. Sabia que a hora havia chegado, mas não queria ir.
- Porque você quer viver. - o respondeu, com certeza na voz.
Ela conseguiu fazer com que ele sorrisse uma última vez. Ela jamais se esqueceria do brilho daquele sorriso.
Victor abraçou a Morte, sem medo. Ele a envolveu em seus braços, por gratidão.
- Obrigado. - falou, com a mesma convicção que ela. - Obrigado por me dar mais tempo. Mas você tem um trabalho, está na hora de cumprir seu dever.
Ele secou as lágrimas dela, que insistiam em cair.
- Estou pronto. - disse ele.
A Morte ainda não se sentia pronta, mas isso deveria acontecer. Ela pôde ouvi o som do motor do caminhão vindo em direção a eles, e isso fez com que ela se decidisse a levá-lo logo. Ela não queria que ele sentisse dor.
Antes que o veículo se chocasse contra seus corpos, ela abandonou seu corpo, e puxou a alma dele consigo.
Victor viu o rosto delicado daquela garota se transformar na mais pura forma de escuridão, e não se sentiu amedrontado.
Você vai me levar pessoalmente até lá? Ele a questionou, mas ela negou, e seu lobo se aproximou dos dois.
A minha existência se mantém apenas no limbo, não poderei atravessar com você, mas caso nasça de novo, irei encontrá-lo mais uma vez! Ela dizia, sentindo o calor que a alma dele emanava, pois ela ainda o segurava. Era tão pura.
E você conseguiria me reconhecer? Victor perguntou a ela. A Morte sorriu.
Você não se lembrará de mim, mas eu nunca esquecerei você, ela disse, pedindo para que seu lobo se aproximasse mais, e entregou Victor para ele. Ela se manteve parada, vendo o brilho daquela alma desaparecer ao longe.
A Morte voltou ao seu trabalho, dia após dia, ano após ano, década após década. Levando almas por onde passava.
E em um dos vários hospitais que ela visitava, ela pôde ouvir o choro de um bebê que acabara de nascer. Sua mãe estava deitada sobre a cama, com os batimentos de seu coração diminuindo em uma velocidade absurda. A Morte se aproximou para levá-la, vendo aquele recém-nascido, que continha a mais pura das almas. Ela sorriu.
Parece que lhe causarei dor mais uma vez, ela disse a ele, mesmo que ele não pudesse escutá-la, e entregou sua mãe a um dos lobos.
Mais uma vez as estrelas a observavam, quietas e curiosas.
A Morte hesitou, mas se virou para ir embora e se manter longe, até o dia em que deveria o encontrar novamente.
Fim
E aí pessoas, o que acharam do conto?
Se gostaram, marquem alguém no primeiro capítulo para ler o livro também! :)
Deem uma olhadinha nas minhas outras obras!
Perguntinha: Estou pensando em revisar o livro e tentar publicar ele em físico, vocês gostariam de ter Querida Morte nas suas prateleiras?
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