09
Chegamos em segurança na delegacia.
A primeira coisa que Filipe fez foi me isolar dos demais policiais me deixando incomunicável. E a maneira mais prática que ele encontrou de fazer isso foi me deixar aguardando sozinha, praticamente presa, em uma sala que, possivelmente, era a usada para interrogatórios.
Dentro do cômodo eu podia ouvir o barulho ensurdecedor vindo das outras partes do prédio. Os departamentos daquela delegacia estavam em polvorosa por causa daquele atentado que sofremos na avenida. Era nítido que a polícia não estava pronta para lidar com este tipo de evento inesperado.
Se há duas coisas em que as pessoas confiam cegamente é nas três leis da robótica e na segurança dos programas usados pelos androides sem consciência própria. Camadas e mais camadas de segurança com criptografia quântica sempre fizeram com que os maiores peritos em invasões de sistemas pedissem a toalha.
Por ser muito difícil e custoso com o tempo os especialistas foram um a um desistindo da façanha. Nunca se acreditou que alguém poderia burlar isso.
Pois é, mas aconteceu. E a ficha ainda não caiu para todo mundo.
As implicações disso são devastadoras, já que tudo, absolutamente tudo hoje em dia em algum momento passa pelas mãos de alguma inteligência artificial ou de androides.
O futuro que se desenha é sombrio, este tipo de brecha sendo explorada por mãos erradas pode redesenhar a sociedade como ela é hoje. A começar pelo fato de que se, por um acaso, a ideia da segurança em torno das máquinas ser falha se espalhar com certeza haverá pânico generalizado.
A possibilidade dessa falha que permitiu a invasão desses androides operários e, consequentemente, seu controle remoto se tornar pública deixará o mundo de joelhos a toda sorte de terrorista ou criminoso em potencial. Possivelmente este incidente foi o primeiro em que androides aparentemente inofensivos foram usados para prática de crimes e atentados.
Pelo menos essa foi a primeira vez que ouvi que uma das leis da robótica foi transgredida.
As animosidades com a Asimovia estavam a todo vapor e neste momento se deu o óbvio: dava para ouvir pelas paredes muita gente atribuindo às inteligências artificiais sencientes a autoria desse atentado.
Que a Asimovia tem capacidade para tal eu não duvido, mas isso não responde a duas perguntas básicas: Por que motivo racional se atacar uma cidade como essa, sem nenhuma relevância política no cenário mundial, e — aparentemente a pergunta mais importante — porque cargas d'água me ter como alvo?
Por que eu? Que importância tenho eu neste cenário?
O pessoal que gosta de uma teoria da conspiração vai ter que me desculpar, mas isso não é o tipo de coisa que a Asimovia meteria a mão.
Bom, a não ser, é claro, que os androides conscientes tenham descoberto como burla a segurança humana e tenham passado o caminho das pedras para outro humano com más intenções fazer o trabalho sujo.
Mas, de novo, isso não responde minhas duas perguntas anteriores.
Enquanto eu divagava sobre quem poderia ser o autor de tamanha façanha me peguei encarrando o enorme vidro negro na parede da sala. Olhei com mais atenção para aquele espelho fumê na parede lateral do cômodo.
Este corpo está além das limitações humanas, a criatura superando o criador. Meus instintos apurados de audição me permitiam notar que por detrás dele haviam pessoas me observando e falando ao meu respeito. Eu sabia que estavam ali, mas não conseguia distinguir o que falavam.
Este corpo tem suas vantagens, mas muitas desvantagens, como o fato do meu sentido de tato ser tão parco, isso faz eu me sentir desconfortável nesta carcaça.
Ao invés de melhorar com o tempo essa agonia só piorava, eu imaginei que me acostumaria, mas não dá. Você tem memórias e experiências na sua cabeça de uma rotina com um corpo em especifico — que por sinal, na prática, nunca foi seu mesmo — com suas próprias medidas e peculiaridades.
E de repente você não está mais nele, dava até a impressão de que eu era um daqueles alienígenas de filmes tipo B de ficção científica como "invasores de corpos" e similares. Eu me sentia um ET que roubou o corpo de alguém.
Acho que este é o melhor jeito de descrever esse desprazer.
E meu desconforto só tendia a piorar, já que parecia que eu estava enjaulada e tinha virado atração de um zoológico.
Uma policial entrou na sala de súbito, me tirando de meus pensamentos de inquietação
— Jéssica? — Ela quis saber se esse era mesmo meu nome.
— Pois não? — Nem me dei ao trabalho de corrigi-la dizendo que aquele não era meu nome. Já estava começando a deixar de me importar.
Ela me estudou demoradamente e notou alguma coisa estranha em mim. Possivelmente foi quando seus olhos encontraram os meus a fazendo se assustar ao notar que eu era mesmo um androide para valer.
— Jéssica? — Ela perguntou novamente, custando a acreditar.
— Sim. — Dei de ombros. — Pois não?
Se vista como uma aberração já não me incomoda tanto quanto me incomodava no começo.
Logo, logo eu nem vou ligar mais para isso.
Isso é, se eu ficar viva o suficiente para me acostumar.
— Você é, digo, você... — Ela se atrapalhou alguns segundos escolhendo as palavras.
— Sim, sou senciente. — Respondi exatamente o que ela queria saber. Acho.
Ela arregalou os olhos para mim.
— O que foi? — Questionei irritada. A situação já estava bastante estressante e eu não precisava de mais uma expectadora plantada na minha frente.
— E? — A apressei.
— Desculpe, é a primeira vez que falo com um... — Ela começou a se atrapalhar com as palavras.
Desta vez eu que arregalei os olhos e a encarrei esperando o resto da frase.
— Digo, com uma... — ela coçou a garganta — com uma que pensa sozinha.
— Uma o quê? — Levei minhas mãos à cintura e a encarrei.
— Máquina? — Ela deu de ombros mais me perguntando do que respondendo.
Fingi não me importar. Afinal, ela não estava errada ao me chamar de máquina.
— Eu me chamo Isabel Garcia e trouxe outra muda de roupas para você. — Ela me entregou um pacote.
Peguei o pacote em dúvida do que fazer com aquilo.
— Pode se trocar. — Ela ordenou.
— Aqui? — E dizendo isso olhei para o vidro negro na parede para ver se ela se tocava de que tínhamos companhia.
— Ah, — ela exclamou — claro. Você quer privacidade, não é?
— Seria bom. — Dei um sorriso amarelo.
— Venha comigo. — Ela fez sinal com a mão para que eu a seguisse.
— Você pode me tirar daqui? — Perguntei preocupada enquanto ela abria a porta da sala.
— Você está sendo protegida e não presa. — Ela fechou a cara. — É claro que posso.
Me senti um pouco melhor só pelo fato de não estar mais enclausurada naquela sala, todos aqueles possíveis olhares curiosos estavam me deixando bastante apreensiva.
No fim das contas fiquei em dúvida se essa policial realmente tinha todo esse poder de me tirar daquela sala.
Alguma coisa nela era bem suspeito. Ela parecia muito nervosa.
Impressão minha, penso eu, talvez seja esses recentes acontecimentos que tenham a feito perder a calma.
Fomos para o corredor e ela me deixou na frente do banheiro feminino. Outros policiais corriam de lá para cá passando por nós freneticamente, todos estavam com os nervos à flor da pele.
— Entre, — ela apontou para dentro do cômodo — troque suas roupas aí.
— Obrigada.
Entrei e tranquei a porta. Comecei a me vestir. O banheiro era bem estreito com uma largura que não comportaria alguém com os dois braços abertos. Como não havia onde dependurar as roupas rasgadas que eu usava as joguei fora no cesto, não havia mais utilidade para elas. A muda nova de roupa as deixei por sobre a porta de um dos cubículos de sanitários enquanto vestia peça a peça.
Essas roupas tinham acabado de ser compradas pois ainda estavam com as etiquetas de preços. Para essas peças terem chegado tão rápido assim para mim aqui na delegacia elas só podem ter sido encomendadas e entregues por drones.
Uma camisa social branca e uma calça preta. Sapatos para acompanhar. O visual não estava ruim, mas ficou tudo um pouco justo demais.
Ah, dane-se. Vai ter que servir.
Estava experimentando uma sensação de falsa privacidade, falsa porque ainda que eu estivesse sozinha naquele banheiro a polícia, ou o próprio Filipe, podia a qualquer instante fiscalizar o que os meus olhos conseguiam ver ou as memórias que eu produzia ininterruptamente.
Dito isso não era de se admirar o susto que tomei ao ser surpreendida com uma nova mensagem do meu "ajudante" secreto.
Ora bolas, se existem pessoas que conseguem invadir sistemas protegidos de androides operários e burlar as leis da robótica não haveria de existir também quem pudesse burlar a fiscalização constante ao qual eu estava submetida?
A resposta que eu tinha com aquilo tudo era que sim. Havia sim.
Esse meu contato anônimo com o mundo exterior me mandou apenas um arquivo. Não havia nenhuma explicação junto ou texto na mensagem.
Havia apenas um arquivo de áudio. Estava criptografado, apenas eu poderia ouvi-lo.
O fato de estar ou não criptografado para mim já não me era mais sinônimo de proteção nenhuma, visto que hoje aprendemos que tudo o que entendíamos como seguro e guardado a sete chaves se mostrou uma grande balela.
Na grande rede mundial de computadores segurança e privacidade são duas piadas sem graça.
Aquele arquivo de áudio podia ser um vírus ou um cavalo de Tróia.
Temi ser desmascarada, a situação não era nada propícia, mas visto que meu futuro não era nada promissor eu não tinha lá muito o que perder.
Tinha também a possibilidade de isso ser uma armadilha criada por aqueles que queriam me raptar. Se não havia dado certo raptar meu corpo porque não invadir a minha mente?
Eu estava assumindo um grande risco a minha própria integridade se abrisse aquele arquivo.
Ah, dane-se! Executei o arquivo assim mesmo.
Fiquei apreensiva, esperando pelo pior.
Nada tinha acontecido e eu não fui apagada, infectada ou coisa que o valha.
— Alô? — Começou a trilha de áudio contida no arquivo. Era um trecho de conversa.
— Senhora Reed? — Era a minha voz.
— Não fale meu nome idiota, essa linha não é segura. — A outra voz me repreendeu.
Era uma conversa interceptada da Jéssica ainda viva com a senhora Reed.
— Do que está falando? — Ouço minha voz dizer aflita.
— Você viu o que aconteceu?
— Não era isso que a senhora queria, — falei de forma bastante atrevida e confiante — que eu jogasse o nome do "Gepeto" na internet? Pois ai está! — Completei com deboche.
O áudio está com muito chiado, outros barulhos se mesclam a conversa. Tem hora que parece quase inaudível.
Há eco, o que demonstra que isso foi gravado de uma certa distância de quem recebeu a ligação.
Essa conversa parece ter sido gravada por alguém de tocaia atrás de uma porta devido a sua qualidade. Contudo, devo ressaltar, que essa captura foi um trabalho bem feito, visto que não só conseguiu o áudio da pessoa que recebeu a ligação bem como a de quem ligou também.
Sim, já que afinal só quem recebeu a ligação poderia ouvir a outra parte.
A voz da senhora Reed era clara, então foi ela quem ligou para Jéssica e teve seu canal interceptado. Já minha xará, por sua vez, tinha o som da sua voz misturada ao som ambiente e por isso era ela quem estava falando de corpo presente e possivelmente atrás de uma porta ou parede.
Completamente alheia ao fato de uma terceira pessoa que ouvia e gravava tudo isso.
— É, mas a polícia e o serviço de inteligência fizeram uma visita surpresa na casa dele. Cópias não autorizadas de pessoas são ilegais, esqueceu? — Disse a voz da senhora Reed.
— E o que aconteceu? — Minha voz parecia bem assustada.
— Não parece óbvio para você? — A outra voz na conversa mostrou irritação. — Acharam toda a lista de contatos e clientes dele. Ele era um cidadão que não era monitorado, era classe Super S, então ele se dava ao direito de ser cheio de segredos.
— Misericórdia... Super? Esse Gepeto era mesmo do alto escalão? Neste caso a própria polícia ia abafar tudo, não?
— Está maluca? — A outra voz se exaltou. — Alguém na polícia deixou isso vazar para a imprensa investigativa.
— Não... — Pânico na minha voz.
— Eles conseguiram rastrear todos as conversas e encomendas... O cara prestava serviço criando cópias ilegais até para presidentes. Boa parte disso tudo está na rede agora.
— E seu marido?
— Ele está na lama, mas o pior que não foi sozinho, ele levou muitos com ele... — havia um tom de desespero no falar dela — não imaginei que a rede fosse tão vasta.
— Bobagem, ele apenas cometeu um mero deslize, não é? — Tentei deixar a situação menos tensa do que já era. — Afinal, quantas pessoas por aí não são algamatofilos e nada acontece com elas, não é mesmo?
— Sua idiota! — Ouvi uma repreenda mais dura. — Só tinha coisa da pesada com essa gente. Só para você ter uma ideia teve um ministro que tinha dúzias de coleções de androides em formas infantis. Ele tinha uma que era uma cópia ilegal da própria filha.
— Barbaridade... — Congelei apreensiva. — E agora?
— Eu não sei você, mas eu vou fugir. Está entendendo? — A outra voz parecia embargada. — Meu marido já descobriu que fui eu que passei esses arquivos. Já pegaram o detetive que eu contratei, você é a próxima.
— Diferente de você eu não posso sumir do mapa senhora Reed. O que eu faço?
— Primeiro, faça uma cópia de tudo que te passei, as provas cabais mesmo, sabe? As imagens e vídeos. Você apenas deu o nome do Gepeto e os dados dele, foi o bastante, mas as provas cabais que podem mesmo incriminar o Reed e seus colegas estão com você. — A outra voz falou como se cochichasse.
— Eu não quis gastar todas as balas de uma vez, ia fazer posts diários, ia alimentar a rede aos poucos. — Minha voz se explicava.
Jéssica tinha um grande furo e ia fazer de tudo para faturar e esticar aquela história o máximo que pudesse. Sua ambição foi sua derrocada, mas lhe valeu algumas horas a mais de vida.
— Fez bem em não jogar todas as cartas. — Ouvi um som de alivio. — Eles matarão por essas imagens e dados.
— Estou fazendo uma cópia. — Barulho de alguém remexendo gavetas a procura de alguma coisa, a Jéssica no caso.
— Na verdade, faça duas. — Reed gritou. — Uma você esconde, muito bem escondida. Essa cópia será seu seguro e se te ameaçarem você diz que jogará tudo na rede. Essa poderá ser sua barganha.
Esses arquivos por si só já davam motivos de sobra para quererem a cabeça da ingênua Jéssica. O fim dela já parecia desenhado aqui.
— E escondo aonde? — Minha voz falou em tom de espanto.
— Aonde quiser sua tola, — tomei uma bronca — mas que seja muito bem escondido.
Esconder esses arquivos é inútil, penso eu, afinal Jéssica era uma cidadã de categoria inferior, suas memórias eram monitoradas o tempo todo pela Sociedade de Supressão ao Vício.
— Bobagem, eu serei monitorada, é claro que vão descobrir onde escondi.
Jéssica podia ser ingênua, mas não era de toda burra, como pensei.
— Você tem duas horas, das 22h até as 0h de hoje.
— Como assim? — Jéssica disse surpresa.
— Gastei uma boa grana para impedir que este trecho da monitoração seja gravado, gente minha dentro do próprio serviço de armazenamento de memórias na nuvem, pessoas que me devem favores. Eu e você teremos duas horas para sumir.
Isso explica a razão de ninguém saber ou ter visto a cara desses arquivos, Jéssica teve tempo de sobra para dar um sumiço neles. Muito perspicaz essa senhora Reed.
— E vou sumir para onde em duas horas? — Minha voz protestou — Só dá tempo de chegar na fronteira.
— Um contato irá até você nesse endereço que estou te passando, memorize, ouviu bem?
A senhora Reed disse em voz alta o endereço do ponto de encontro. E pasma constatei que era o endereço do beco. Exatamente o local que Jéssica foi assassinada.
— E então, o que vai acontecer. — A voz da Jéssica pergunta assustada.
— Ele vai ficar com uma cópia. — A outra voz foi ficando mais baixa como se sussurrasse. — Grave em uma mídia física e não transfira nada pela rede.
Então foi a senhora Reed quem arquitetou o encontro da Jéssica com seu carrasco naquele beco fatídico. Foi isso então que a fez se deslocar como cordeiro indo para o abate naquele ermo no Expurgo?
A lembrança do encontro é clara para mim, revisito a lembrança do frio, do escuro, da lamina... enfim, mas o propósito dessa reunião nunca esteve claro para mim.
Agora muita coisa faz sentido.
— Aonde vou arrumar uma mídia física, isso nem existe mais? — Ouço um bater com frustração de gavetas. — E porque vou encontrar esse sujeito?
— Se vira. Ache um pen-drive, qualquer coisa. — Deu para ouvir Reed bater em alguma coisa de tão nervosa, esmurrado uma mesa talvez. — Faça duas cópias, leve uma para este contato. Ele te dará passagens, passaporte falso e algum dinheiro para você dar o fora do país.
— Como vou burlar a imigração? — Minha voz gritou. — Falsificar identidades é impossível!
— Acalme-se! — Tomei outra repreenda. — É possível sim, apenas faça.
— E a outra cópia é meu seguro certo? — Tento me acalmar — Eu escondo?
— Isso, eu vou fugir também. Saio assim que der 22h.
— E esta conversa?
— Eu mesma apago, ainda tenho a minha permissão de cidadã classe A, fique tranquila. Não vão descobrir esta ligação até estarmos bem longe.
Isso explica porque essa conversa importante não consta nas memórias da Jéssica já que foi destruída. Não foi obra de nenhum exímio hacker, mas sim de um cidadão de classe alta.
Como a senhora Reed.
— Vou esconder os arquivos quando não estiver mais sendo monitorada.
— Lembre-se, você só tem duas horas. Durante este período não vão gravar memória nenhuma, ouviu bem? Esconda uma cópia, leve a outra para o contato.
— Quem é o contato? — Pergunto preocupada.
— E eu que sei? — Tomo outro sabão. — Foi um acordo que costurei para "eles" nos deixarem em paz. Sem provas cabais todo o veneno que você jogou na rede não vai se sustentar. Os peixes grandes poderão escapar... vão deixar os pequenos para os tubarões.
— Ok... — som de suspiro — entendi, mas se eu entregar a cópia vou ficar segura?
Não. Você caiu em uma armadilha Jéssica, foi sozinha e indefesa de encontro a morte. Uma vida ceifada fruto de decisões erradas tomadas em meio ao desespero.
— Nada é garantido, as minhas cópias eu já destruí, mas se te derem as passagens você estará salva — uma pequena pausa, respiração ofegante — pelo menos por enquanto.
Pelo menos a senhora Reed foi sincera quanto a segurança dela, Jéssica foi por sua conta e risco a esse encontro.
— Entendi.
— Acabou nosso tempo. Desligo.
— Espere — grito — eu ainda quero...
Chamada desligada.
Cinco segundos depois esse trecho de áudio sumiu do registro das conversas da Jéssica e com certeza das memórias da senhora Reed também.
Deve ter sido a última vez que Alice conseguiu usar suas permissões de cidadã classe A.
Qual a motivação do meu "ajudante" me deixar ciente desta conversa me mandando esse arquivo?
E como "ele" tomou posse do mesmo.
Também desconfio que a polícia já sabia de antemão dessa conversa que Jéssica teve com a senhora Reed, já que ações de um cidadão classe A podem ser revogadas por um Classe S.
Será que recuperam este trecho após eu e ela termos sido mortas?
Bom, se assim fosse eles também teriam recuperado os trechos de memória que mostrariam Jéssica escondendo os arquivos. Ou talvez não?
Ah, mas tem um detalhe: a senhora Reed fez com que os trechos de memória entre 22h e 0h daquele dia não fossem gravados, logo não podem ser recuperados porque nunca existiram.
Ela sabia que se apagasse aquelas preciosas horas poderia ter suas ações revogadas, mulher esperta.
Ainda há muitas perguntas e até já desconfio quem poderia ser que mandou me matar, mas a pergunta que mais me intriga agora é: Quem está me ajudando?
Se é que isso é uma ajuda.
Enquanto divago fico escorada na parede de azulejo velho e trincado daquele banheiro imundo.
Batem na porta do banheiro. Tomo um susto que quase me faz escorregar. Rapidamente sumo com o arquivo.
— Ei, vai demorar? — É a policial. Eu demorei muito dentro desse banheiro.
— Está me ouvindo? — Ela torna a gritar por detrás da porta e dando três batidinhas com as costas da mão na madeira.
— Só um segundo. — Respondo por detrás da porta.
Saio devidamente arrumada do banheiro.
Quer dizer, o melhor que eu pude fazer.
— Estava se arrumando para um casamento? — Ela me ironizou.
— Não, é que a roupa ficou justa.
Ela me olhou de cima a baixo.
— Também — ela levou as mãos a cintura e depois apontou uma mão para mim — com um corpo desses só roupa feita por encomenda.
— Ter este corpo não é ideia minha. — Me justifico.
— E não é problema meu. — Ela desconversou com um misto de pressa e irritação na voz. — Vem, Filipe quer falar com você novamente.
— Então vamos.
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