06

Eu tenho uma identidade válida, Filipe me deu um número de autômato registrado pelo governo local. Não é um nome e sim apenas um registro, mas tudo bem, vai servir.

Eu estava sem eira nem beira, totalmente dependente de Filipe e eu precisava de algum meio de me manter no caso de uma emergência ou se eu me ver obrigada a tomar uma atitude drástica.

Eu sei que Jessica tinha dinheiro guardado assim como me lembro perfeitamente das senhas. Acessei o site do banco ainda me utilizando do navegador e após entrar na conta dela transferi tudo para uma nova conta que criei em segundos. Estes valores deveriam estar bloqueados após a morte da mesma, mas parece que isso passou despercebido para todo mundo, também pudera, o valor não era nenhuma fortuna.

Agora preciso arrumar um jeito de acessar os dados pessoais da Jéssica que não estão salvos aqui comigo em meu banco de dados. A vida inteira dela está lá, salva na nuvem.

O que eu tenho aqui comigo é de certa forma superficial, só a parte visível do iceberg. Acho que houve um filtro feito por Filipe para determinar o que eu podia ou não podia acessar de memórias.

É um volume exorbitante de dados, tendo-se em mente que a população toda armazena suas vidas nesses serviços de backup, há de se convir que existe uma quantidade proporcional e também exagerada de lixo guardado.

Esse desperdício de recurso e energia só acontece porque todo cidadão é obrigado a disponibilizar toda e qualquer informação de sua vida para constante monitoramento do governo, há uma grande preocupação em vigiar os dissidentes, os que questionam e pensam demais. Existe uma entidade que existe unicamente para cuida disso.

Justamente a chamada Sociedade de Supressão ao Vício criada pelo honrado sr. Reed. Foram eles que confiscaram minhas memórias na nuvem e cederam uma determinada quantidade a polícia.

Apenas as memórias suficientes para que eles conseguissem "emular" a psique da Jéssica ao me criarem.

Somente humanos conseguem consultar e copiar estes dados da Sociedade de Supressão ao Vício. O sistema é muito eficiente em impedir que algum software autônomo tente vasculhar a vida dos humanos. Tive que ludibriar o sistema e sobreviver a uma bateria de testes muito mais complexos que um teste de Turing. Para minha sorte graças a todo o repertório da vida de Jéssica que possuo me passar por ela foi relativamente fácil, mas um outro programa senciente qualquer sem essa mesma bagagem é sumariamente apagado ao tentar avançar.

Uma vez dentro do sistema preciso descobrir o que puder e dar o fora.

Vou descobrir o quão bisbilhoteiro é o estado ao vigiar seus cidadãos.

Me deparo com alguns absurdos, há todo tipo de dado armazenado como Localização via GPS dos trajetos que ela realizou além de toda e qualquer informação visual que os implantes de realidade ampliada dela capturaram como, por exemplo, toda sorte de conversa e áudios, músicas ouvidas, vídeos assistidos, troca de mensagens, independente do aplicativo, e por fim histórico de navegação na internet.

Em alguns casos até mesmo o que ela comeu ficou registrado.

É um absurdo. Isso não é vida, e pior, isso se estende a todos os cidadãos, sem exceção para qualquer um que estiver abaixo da classe A+.

Parece que o Grande Irmão está trabalhando bastante.

Preciso copiar o máximo de informações que eu conseguir, o tempo urge, pois posso ser identificada como uma AI a qualquer momento e ser sumariamente apagada. Corro para a lista de contatos de Jéssica. Dou um boa conferida e encontro quem eu estava procurando.

— Aqui está — pensei alto — Sam Marlowe...

Porque eu tenho o contato do tal Marlowe na minha lista?

Ele está foragido e com o paradeiro desconhecido. Não sei se essas informações de contato me vão ser uteis, mas em todo caso eu salvo assim mesmo.

Já fora da base de dados de Jéssica continuo vasculhando a internet atrás de mais informações. Alguns minutos depois eu acho alguma coisa em minhas pesquisas, justamente no site de membros dessa tal Sociedade de Supressão ao Vício.

Aqui diz que Sam tem a cabeça à prêmio. Uma gorda recompensa.

Existem 245 caçadores de recompensa registrados e com licença para matar interessados em capturá-lo. Há uma corrida entre eles para ver quem pega a presa primeiro.

Tento saber de qual crime ele é acusado, mas não falam qual é. Sabe-se apenas que ele está na lista dos mais procurados e classificado como periculosidade nível 5.

Beco sem-saída. Sem pistas.

E se eu mandar uma mensagem para ele?

Nada. Não responde, está off-line. O que é bem exótico, já que ninguém pode ou consegue ficar off-line.

Sinal de que Sam não é um mero detetive, vejo habilidades aquém de um reles bisbilhoteiro. Ele é um hacker. E dos bons.

Deve estar usando uma VPN extremamente segura e bem escondida. Não, definitivamente isso não é coisa de amador.

Não a ponto de conseguir enganar os programas de vigilância da rede pública.

Isso explica porque ele está com a cabeça a prêmio. É mais fácil dar cabo do que não se consegue controlar.

Mas ele tem bons motivos para ficar escondido, óbvio, se ele aparecer em algum lugar os indivíduos prejudicados pelas suas investigações logo o matarão.

Insisto em mandar e-mails, mas apenas voltam mensagem automáticas de aviso de férias.

Bom, dependendo do lugar para onde ele fugiu talvez possa estar mesmo de férias.

Recebo uma mensagem de ausência automática, daquelas mensagens que configuramos para responder qualquer um que nos mandar e-mails durante nossas férias.

Essa tem um versinho no fim. Acho tão brega poesias em assinaturas de e-mail.

No momento me encontro de férias e ficarei off-line alguns dias. Me deixe uma mensagem que assim que possível retorno o contato.
"Nada é o que parece ser"

Nada é o que parece ser... a mesma mensagem que me foi enviada por um remetente anônimo na forma de um bilhete digital.

Nada é o que parece ser...

Tomei um susto.

Apareceu uma mesa no meio da minha sala.

Eu não mandei a realidade ampliada mudar ou criar mobília virtual.

Vou até a mesa. Tem um papel e uma caneta. Ambos também objetos virtuais manipuláveis, não são meramente decoração.

Tem uma pergunta escrita com caligrafia manuscrita no papel:

"Existe de fato uma mesa real"?

Que porcaria de jogo é esse?

Não, essa mesa é de mentira. Só existe para mim, ela faz parte do mundo das ideias.

O que não necessariamente quer dizer que ela não seja de fato real para mim.

Escrevo "sim" no papel.

Uma nova pergunta surge no papel no lugar da anterior.

"Você pode sentir a mesa"?

Evidente que sim, o programa engana meu cérebro positrônico a fim de me dar as mesmas sensações pelos cinco sentidos que confirmam a existência da mesa. Se meu cérebro fosse orgânico a experiência seria a mesma. Se me fosse oculto o fato da mesa ser um objeto virtual eu acreditaria piamente que ela é de "verdade", Que é um objeto material.

Vou jogar esse jogo. Vou ganhar esse jogo.

Respondo sim.

"O mundo consiste apenas de mentes e suas ideias, nada é o que aparenta ser".

Um enigma? Acho que não, imagino que seja um teste. Faço uma pesquisa rápida.

Nada me vem a cabeça de imediato.

Pego o papel na minha mão. Eu sei que o papel não existe, mas posso sentir, posso tocá-lo. Sou enganada a acreditar que ele existe.

Faço uma nova pesquisa, tenho um norte agora. Achei algo interessante ao digitar a frase que "ele" acabou de me mostrar.

Escrevo então, como base nessa pista a palavra "Berkeley".

Descubro em meio as minhas pesquisas que Berkeley era um bispo, além de filosofo. E sua máxima era que a matéria não existia, tudo não passava de ideias.

Ser é ser percebido (esse est percipi), como diria ele.

Para tomar ciência da existência de alguma coisa preciso dos dados indicativos de que essa coisa realmente existe captados pelos meus cinco sentidos. Contudo o objeto pode existir independente de eu senti-lo ou não, e também as informações passadas pelos mesmos cinco sentidos podem não necessariamente corresponder a verdadeira natureza do objeto.

A cor do objeto pode variar dependendo da luz incidida nele, a forma pode depender do ângulo que eu olho, entre outras inúmeras variáveis. Tenho apenas a mera aparência de algo que suponho existir em uma realidade, mas se a realidade não é o que aparece, dá para saber o que de fato é real?

Existe uma realidade?

O tal Berkeley dizia que tudo que existia não era formado de matéria, mas sim que era uma ideia concebida na mente. Uma ideia concebida na mente de Deus.

Literalmente nada é o que aparenta ser. Igual a mim, eu não sou o que aparento. Este ambiente virtual em que estou imersa não é o que parece, mas para mim de forma exclusiva é uma realidade. Posso sentir tudo aqui, isso faz estes objetos reais para mim, mas por existirem somente na minha mente isso faz deles menos reais, são apenas mentiras?

Nada é o que aparenta ser. Nem eu, nem esta casa, nem minha missão. Tampouco Filipe Casamata.

Não sei onde estou pisando.

Acho que respondi corretamente. Imediatamente recebi uma mensagem criptografada unicamente para mim. Precisa de uma senha para desbloquear.

A pessoa que está fazendo este joguinho comigo está tentando descobrir se eu tenho articulação ou criatividade para conseguir chegar na solução do problema.

Ou seja, antes de confiar em mim ele quer ter certeza se sou uma inteligência artificial "fraca" ou forte.

Uma inteligência fraca não consegue ser criativa justamente por não possuir um repertório de vida. É uma tábula rasa!

Já eu não, por ter a bagagem de vida de Jéssica possuo a desenvoltura necessária para encontrar alternativas onde não há nenhuma.

Uma IA fraca travaria agora, porque não teria mais informações e nem ferramentas para continuar, ela precisaria receber mais instruções.

Já eu tenho que me virar para descobrir a senha, como não há alternativas sou forçada a fazer deduções. Coisa que um programa limitado não faria.

Existem programas não sencientes que conseguem ser criativos criando novas alternativas para resolver problemas quando as soluções originais acabam, eles fazendo variações destas soluções até acerta uma que lhe atenda.

Eu sou diferente porque possuo algo a mais que até então só os humanos podiam ter.

Imaginação.

Imaginar é ser criativo buscando soluções no mundo das ideias, é trabalhar sem informações novas com base apenas no seu repertório de vida.

É achar a saída com algo que na prática não faria em primeiro momento nenhum sentido, mas isso só é possível também porque tenho intuição.

É o estalo, a sacada, o perceber. Eureca!

Se uma máquina não sabe onde procurar ela não vai buscar.

Eu posso tomar decisões, decidir sem parâmetro, sem ponderações, arriscando e me dando a oportunidade de errar.

Uma máquina não erra, mas se ela não sabe acertar ela não tenta a sorte. Ela simplesmente trava.

Uma IA fraca pode tentar achar a senha por força bruta, tentando todas as palavras e variações de palavras que poder processar, mas isso não é dedução, não é criatividade, não tem um pingo de imaginação. É só acerto e erro com base em probabilidades.

Fora que este método pode demorar séculos até que tenha algum sucesso.

Já eu sou mais forte que isso porque tenho o "eu acho", o "suponho" e o "talvez".

A humanidade teve várias conquistas em sua história graças a pequenos acidentes de intuição de alguns indivíduos.

Foram deduções e "achismos" que do nada mudaram o mundo.

A resposta para este enigma é simples, mas se eu não conseguir chegar nessa solução sozinha não provo para quem quer que seja que está do outro lado que estou mesma viva.

Vou provar para o autor desse joguete que estou em outro nível.

Digito "imaterialismo". Que é como ficou conhecido essa linha de pensamento de Berkeley.

É um chute, é arriscar, é tentar a sorte.

Bingo.

Imediatamente um arquivo é transferido para mim. É um trecho de memória.

Uma conversa filmada.

Começa a imersão e me sinto na pele de quem testemunhou tudo isso.

É um homem, dá para perceber por suas mãos e roupas.

O dono desta memória está olhando para a senhora Reed, não tem como não reconhecer essa mulher, o rosto dela está o tempo todo na mídia por conta de sua vida de socialite, mas pelas vistas de quem este encontro foi gravado?

Este registro e suas informações foram confiscadas pela Sociedade de Supressão ao Vício e recuperadas por este meu "ajudante".

O dono da memória quando a vivenciou estava em um lugar ermo, escuro, frio. Que coincidência, parece que conheço esse lugar.

Eu conheço esse beco escuro.

Santo Deus...

É o mesmo beco que eu morri.

"Ele" está em um carro, um taxi, esperando que ela que se aproxime. A senhora Reed usa um imponente salto 15 que fez ecoar um sutil ruído ao pisar com força e apressadamente em uma poça d'água no asfalto trincado da rua.

Ela virou a esquina e deu de frente com este táxi vintage — daqueles que ainda precisa de um piloto humano — ao longe "ele" piscou o farol do carro duas vezes como um sinal para que a mesma se aproximasse. A luz do farol do veículo revelava que a mulher tentava se ocultar em um comprido sobretudo junto de um chapéu longo e bem feminino para ajudar ainda mais a preservar sua identidade.

Ela se aproximou do táxi e a porta do passageiro no banco de trás se abriu sozinha. Alice adentrou no veículo.

O condutor do carro viu sua passageira se acomodar no banco traseiro pelo espelho do retrovisor. Assim que a senhora terminou de se ajeitar o rosto dela torna-se nítido também no espelhinho. Ela deixou o chapéu de lado.

Houve uma rápida troca de olhares pelo pequeno espelho do retrovisor. O cartão de visita virtual da rede social do motorista informou para a passageira que ele se chamava Sam Marlowe e a mesma rede social também fez a apresentação dela da mesma forma.

Ambos já estavam devidamente apresentados.

Sam Marlowe foi o detetive que fez a investigação inicial que deu origem ao dossiê que Jéssica jogou na rede.

Interessante o fato dele conhecer Alice Reed.

— Boa noite senhora Reed.

— Apenas rode senhor Marlowe. Tire-me desse lugar imundo... isso aqui cheira a decadência!

— Pois não madame, mas estamos nos Expurgos, é disso para pior.

— Só de você não ficar parado já me tranquiliza um pouco. Espero sinceramente que o senhor tenha valido a pena e que este transtorno todo não tenha sido em vão. Lembre-se: O senhor me foi muito bem recomendado.

— Agradeço a confiança senhora Reed...

— Apenas Alice, pode me chamar de Alice Senhor Marlowe.

— Sam, apenas Sam está bom... e como eu ia dizendo: Quando isso tudo terminar a senhora também vai recomendar meus serviços, eu lhe asseguro. Não há outro detetive aqui na colônia tão bom quanto eu.

— Isso quem vai julgar sou eu Sam. — Ela responde arrogante — Está limpo?

— Tenho salvo conduto, não sou monitorado.

— O que tem para mim?

O detetive compartilha com sua passageira alguns arquivos de áudio e vídeo em realidade ampliada. Os ícones flutuam pelo ar até chegar a ela e assim que a mesma os toca aparecem janelas diante de seus olhos e as mídias nelas são executadas.

Ela assiste estarrecida as imagens. O vídeo mostra o marido dela beijando uma outra mulher.

Na verdade Alice aumenta o zoom do vídeo e percebe que a mulher em questão não passa de uma cópia dela mesma. Ela estava vendo um clone seu... beijando seu marido em seu lugar.

Ela se enerva e dá um soco no estofado do carro.

Segundos depois ela tenta manter a compostura ajeitando o sobretudo.

— Imagino que não preciso lembrá-lo de que você deve ter total discrição aqui, correto? Você sabe quem eu sou, não sabe?

— Claro que sei. Aliás, não há ninguém aqui no Expurgo que não conheça a ilustre senhora Reed, esposa do Senador Walter Reed.

— Eu e o senhor Reed já estamos separados se quer saber, só não deixamos isso vazar para preservá-lo para as próximas eleições.

— Sei...

— Ele... ele me trocou por uma "cópia" minha? Como ele pôde?

— Infelizmente é isso mesmo madame.

— Não me chame assim... eu detesto.

— Ah... desculpe senhora. Bom, voltando... O digníssimo senador te trocou por... — Ele parou um tempo para escolher as palavras — parece estranho, mas ele te trocou por você mesma! Ela mandou fazer no mercado negro uma "cópia", um androide ilegal, réplica fidedigna de uma pessoa real... no caso uma cópia sua.

— Ele me pediu o divórcio apenas para se amasiar com um androide? Espere... não apenas um androide qualquer, mas por uma cópia idêntica minha? Quem em sã consciência troca a original por... uma cópia?

— Esse caso não é novidade, a senhora não é a única a sofrer disso.

— Eu quero descobrir o motivo disso! Ele é perdidamente apaixonado por mim, nunca entendi a separação, mas agora ele me vem com essa? Que absurdo!

— Estou acostumado a perseguir cópias de celebridades encomendadas por fãs esquizofrênicos que sofrem de Erotomania. É comum também versões infantis compradas por pessoas perturbadas ou até mesmo cópias não autorizadas de pessoas comuns... meu último caso foi de uma moça que pediu para que eu caçasse uma cópia dela feita por um vizinho que a perseguia de forma obsessiva. Casos como o seu, infelizmente, não são novidade.

— Desculpe Sam, mas quer saber? Me poupe de suas confabulações. Quanto lhe devo?

Ele se resumiu a passar um ícone em realidade ampliada com a forma de boleto bancário para ela.

A mulher passou para o motorista um ícone em forma de cartão de crédito que flutuou até defronte das vistas dele.

— Está pago. Obrigada!

Ele tocou no ícone e o mesmo foi jogado em outro com forma de carteira de dinheiro.

— Perfeito. Estamos próximos de uma estação de metrô. Quer descer aqui?

— Por favor. — Ela estava nervosa.

— Vou parar no acostamento.

— Antes disso... — hesitou — eu quero o nome do "Gepeto" que fez esta cópia minha.

— Desculpe Alice, mas isso não fazia parte do acordo.

— Agora faz Sam. Não me contrarie!

Sam deu de ombros. Passou um ícone de anotação para ela. Alice tocou no arquivo e o jogou no seu repositório virtual.

Então foi assim que Alice conseguiu os arquivos.

E dela os arquivos provavelmente chegaram nas mãos da Jéssica.

Ele ia sair para abrir a porta para ela, mas a mesma fez um sinal brusco com a mão o interrompendo. A própria abriu a porta do carro e saiu.

Começou a cair uma ligeira garoa. Ela apertou a cinta de seu sobretudo e cobriu-se com a ajuda de seu chapéu seguindo para a entrada do metrô.

A senhora Reed caminhou apressadamente em direção entrada do metrô que estava quase deserta. Ela quase tropeçou ao se desviar de uma dupla de ratos que corriam próximos de seus pés.

— Jesus! — Gritou — Que criaturas nojentas!

Ela entrou na estação e saiu de vista. Sam deu a partida no carro e foi embora.

O vídeo se findou. Fecho o aplicativo e volto a me estirar no sofá.

A mesa que havia aparecido do nada sumiu. Como se nunca estivesse estado ali.

Na verdade, nunca esteve mesmo.

Então quer dizer que a indignada senhora Reed foi a desforra e me deu esses arquivos? Justo a mim uma fofoqueira?

Pode ser que ela tenha me usado apenas para difamar o Senador.

O que posso descobrir sobre essa mulher?

Google... vamos lá, digito Senhora Reed.

Logo de cara me aparece como primeiro link uma notícia sobre a sua morte.

Morta?

Acidente?

Como ela me aparece morta justamente na mesma época em que Jéssica também foi assassinada?

É muito estranho ou é muito conivente.

As duas fatalidades estariam relacionadas?

Para mim parece nítido que sim, mas aparentemente o caso foi arquivado como um simples acidente e tratado como uma absurda coincidência. Nada mais que isso.

Eu continuaria a mexer neste vespeiro, mas esta linha de investigação está muito óbvia. É claro que Filipe já teria seguido essa pista e descoberto alguma coisa.

Ou não?

Mais uma coisa para me deixar com a pulga atrás da orelha e que me obriga a não confiar em ninguém, por isso vou fazer mais algumas coisas por conta própria antes de comunicar o Filipe.

E o que este contato misterioso queria me dizer me mandando este trecho de memória? O que ele está tentando me alertar?

Não sei quem está me "ajudando", mas vejo que se trata de uma pessoa, ou grupo de pessoas, com conhecimentos muito vastos. Os últimos minutos, desde o momento em que avistei a mesa surgir na minha sala até o final do vídeo, não foram gravados em meus registros oficiais. Estes minutos não viraram uma memória armazenada na nuvem.

Parece que existe um jeito de se ter alguma privacidade afinal.

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