5

Acordo com uma dor de cabeça infernal. A luz do sol invade o quarto, tornando quase impossível abrir os olhos.

Esse é o primeiro sinal de que algo está errado. Eu nunca deixo o blackout aberto quando vou dormir, ou corro o risco de acordar assim que o sol nascer — coisa que, mesmo sendo uma pessoa matutina, não desejo ao meu pior inimigo.

Esfrego o rosto com as duas mãos, esticando as costas para me espreguiçar.

Meu Deus, quanto será que eu bebi? Eu jurava que não tinha sido tanto assim... E eu geralmente intercalo bebida com água, ao contrário da minha irmã. Não era para eu estar sofrendo tanto para acordar.

Pisco algumas vezes para me acostumar à luminosidade e então, com certa dificuldade, olho ao redor.

Logo de cara, percebo que não estou no meu quarto, o que me causa um aperto no coração de tanto susto. E então reconheço a parede rosa-bebê com flores lilás que ajudei a pintar, a corda de luzinhas penduradas...

É o quarto de Viviane.

Como é que eu vim parar aqui?

Fecho os olhos enquanto crio uma teoria convincente: devo ter vindo para cá depois do barzinho, meio bêbada, para fazer as pazes com a minha irmã. O que faz sentido, já que odiamos dormir brigadas.

Quer dizer, eu me lembro mais ou menos de Arthur me colocando na cama, porque eu estava naquela fase bêbada rebelde em que não quero ir dormir mas claramente preciso.

Então devo ter acordado de madrugada e vindo para cá para pedir desculpa (e receber um pedido de desculpa), e acabei dormindo aqui.

Suspiro e estendo o braço para encostar em minha irmã e acordá-la.

— Vivi... — eu chamo.

Mas meu braço bate na cama vazia.

Abro os olhos, assustada. Viviane nunca acorda antes de mim. Nunca. Ela tem uma dificuldade gigante de se levantar. Será que ela nem chegou a dormir?

Suspiro outra vez e rolo na cama para alcançar o celular dela na mesa de cabeceira.

São simplesmente 11h23.

Como foi que eu dormi tanto assim?

Espreguiço de novo e me levanto, e é aí que percebo que estou usando um pijama dela. Meu Deus, quão louca eu estava ontem?

Sacudo a cabeça. Preciso voltar para o meu quarto e possivelmente dormir mais um pouco, já que minha cabeça não para de latejar e um cansaço terrível toma conta do meu corpo apesar de eu ter dormido até quase meio-dia.

Abro a porta do quarto de Viviane e viro para a direita, pegando o corredor que leva ao meu.

Então, Viviane aparece, correndo, e se coloca na frente da minha porta, os braços abertos, as mãos segurando o batente, para me impedir de passar.

Franzo a testa, me sentindo exausta.

— O que você tá fazendo?

— Você não pode entrar! — ela diz, meio exasperada. — O pamonha tá aí dentro, Rafa.

— Vivi, para com isso. Eu tô morrendo de dor de cabeça. Não é hora de ficar implicando com meu namorado.

Estendo a mão para alcançar a maçaneta, mas ela segura meu pulso esquerdo.

— Não me diz que você não notou.

— Não notei o quê?

Ela vira meu pulso para cima e o empurra para perto dos meus olhos.

E o que vejo ali faz todo o sono escapar do meu corpo: o número 2, bem pequenininho. Arregalo os olhos e olho para ela.

— O que é isso?

Ela está com a testa franzida em uma expressão triste e apavorada.

— Não faço ideia. Estou de pé desde às 7h30 tentando entender o que aconteceu. Nada faz sentido.

Reparo melhor na minha irmã. Há apenas uma covinha em sua bochecha esquerda, quando normalmente ela tem uma em cada bochecha, e seu rosto está um pouquinho mais cheio. Como o meu. Ela está usando minha camiseta oversized como pijama. A voz está diferente. E em seu pulso há o número 1.

Puta. Que. Pariu.

— Por que você não me acordou?!

— Eu tentei! Pra caramba! Você não abria os olhos por nada!

Respiro fundo e caminho até o sofá do hall. Ela vem logo atrás.

— O que tá acontecendo? — pergunto, me sentando. Seguro a cabeça nas mãos, desejando que ela pare de doer para que eu consiga pensar com mais clareza. — Parece uma pegadinha. Ou será que eu tô sonhando ainda?

Sentando-se ao meu lado, ela ri com a voz cansada, mas seu desespero é evidente.

— É o que eu estou tentando entender há horas. Sozinha!

Eu sentiria pena dela, mas ainda não entrou na minha cabeça como isso poderia ser real.

— Tá, e quais são suas teorias?

Viviane revira os olhos, parecendo meio sem paciência.

— Alguém veio no meio da noite, apagou as tatuagens com laser e tatuou de novo por cima, só que trocado. — Ela ergue as mãos para que eu para o protesto antes mesmo que eu abra a boca. — Eu sei. É idiota. Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça. Mas não são só as tatuagens, né?

Ela está falando tão rápido que é difícil acompanhar.

— É mais provável ser só alucinação — falo, esfregando o rosto. — A gente deve ter tomado alguma droga pesada ontem.

Ela quase ri.

— Você? Se drogando?

— Eu sei lá. Talvez alguém tenha colocado na minha bebida.

— Talvez. Bem a cara do seu namorado idiota fazer algo assim.

Ergo a cabeça, espantada.

— Meu Deus. O Arthur. — Não que eu ache que ele tenha me drogado, mas eu meio que tinha me esquecido dele. Ele ainda está lá, no quarto, dormindo. Me viro para Viviane. — Você precisa ir lá acordar ele.

— O quê? — Ela arregala os olhos. — Por que eu? Já não basta eu ter acordado do lado desse infeliz?!

— Porque você é eu. E eu sou você. Eu não posso ir lá, Viviane.

— Eu também não! Vai que ele tenta me beijar?

— É só você não deixar.

Ela sacode a cabeça.

Eu suspiro, me levantando.

— Ou eu posso explicar para ele o que tá acontecendo.

Viviane se levanta também, alarmada.

— Claro que não! A gente nem sabe o que tá acontecendo! Não quero envolver ninguém nisso, muito menos ele. E, além do mais, não quero ele tocando o meu corpo com aquelas mãos asquerosas.

— Viviane. Então só vai lá e acorda ele. Diz que ele precisa ir embora. Quando essa alucinação passar eu explico tudo pra ele.

Ela revira os olhos e bufa, mas vai na direção do quarto, ainda que sem vontade. Preocupada, sem confiar totalmente nela, eu a sigo. Ela bate à porta do quarto antes de entrar. Observo logo atrás. Arthur acordou com o barulho e agora está nos encarando, confuso.

— Que bom, você já acordou — minha irmã declara sem se aproximar. — Agora vai embora.

Delicada como um elefante. Coloco a mão sobre a testa e respiro fundo.

— Hã? — Ele esfrega os olhos, se sentando. — O que houve?

— É hora de você cair fora.

— Por quê?

— Porque sim!

Ele se levanta devagar. Está de camiseta, mas na parte de baixo só de cueca. Viviane desvia os olhos, e eu percebo que também preciso fazer isso. Porque eu sou Viviane. Quando voltamos a olhar, ele já colocou a calça e está calçando os tênis.

Depois, ele caminha até nós e estreita os olhos.

— Isso é coisa sua, não é? — pergunta para mim.

Sacudo a cabeça, sentindo as bochechas ficarem vermelhas. Ele nunca falou comigo assim antes, e é estranho demais não poder protestar.

— Não, não é coisa dela — Viviane diz, séria.

Arthur olha para ela parecendo magoado e preocupado.

— O que eu fiz?

— Nada! — digo rápido.

Ele volta a me encarar, agora confuso.

— Vocês estão muito estranhas. Mas tudo bem, vou indo então. Te mando mensagem mais tarde.

Ele se inclina para beijar Viviane, mas ela coloca a mão na cara dele e o empurra para longe.

— Tchau — diz ela, dando um sorriso claramente forçado.

Arthur franze a testa, estranhando, mas se vira na direção das escadas.

— Tudo bem. Tchau. Te amo.

Nós descemos atrás dele. Eu abro a porta, ele passa e se vira para olhar para minha irmã.

— Te amo, Rafa.

Viviane a bate a porta na cara dele. Me viro, irritada, para ela.

— Dava pra ter um pouquinho mais de tato?

Ela dá de ombros.

— Não.

Claro. Seria esperar demais dela. A raiva que eu estava sentindo ontem, quando brigamos no carro, volta, e eu saio de perto para não discutirmos outra vez.

Viviane me segue.

— E agora?

Sacudo a cabeça, sem parar de caminhar.

— Agora a gente dorme pra esperar a brisa passar.

— Eu não vou conseguir dormir! — ela protesta, se colocando na minha frente e me obrigando a parar. — Minha cabeça tá com quatrocentos milhões de pensamentos por segundo.

Eu rio, percebendo que a minha cabeça, apesar de dolorida, está estranhamente silenciosa.

— Isso se chama ansiedade — explico para minha irmã.

— E o que eu faço?

— Não tem muito o que fazer.

Desvio dela e subo as escadas. Ela vem logo atrás.

— E se a gente ainda estiver trocada quando acordar? E se for assim pra sempre?

— Não vai ser assim pra sempre — digo, exausta. — É só alucinação, Vi. Vamos dormir pra acordar logo desse pesadelo. — Entro no meu quarto e seguro a porta, me virando para minha irmã. — Tenta respirar fundo algumas vezes. Talvez ajude com a ansiedade.

Ela pisca, parecendo sem palavras, mas antes que possa protestar, fecho a porta.

Me jogo na cama e fecho os olhos.

Que diabos de alucinação é essa?

O que é isso? Um filme?

Mas não tenho tempo de refletir muito, porque, apesar dessa loucura e talvez pela primeira vez em toda a minha existência, adormeço em instantes.



Oláááá!

Aconteceu!! A sensação que eu tava era que tava demorando séculos pra chegar nessa parte kkkkkk Mas finalmente estamos aqui!

Espero que vocês tenham tido uma semana ótima!!! 

Eu tô bem exausta, então hoje não vou falar muito aqui. Espero que vocês tenham gostado do capítulo! 

Até semana que vem <3 

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