Capítulo XV

Meus olhos vão se abrindo devagar. Minha cabeça está latejando devido a pancada.

Olho ao redor e não vejo ninguém. É um quarto com apenas uma cama de solteiro com um lençol branco. A única luz que entra no quarto pelo vidro da pequena janela é do poste do lado de fora.

A porta está fechada.

Tento desamarrar minhas mãos, mas é inútil. Meus pés também estão presos por uma corda grossa. Estou amordaçada.

Tento me lembrar do que aconteceu.

👻👻👻

Trinta minutos atrás...

— Vamos logo Eva. Temos que voltar antes de escurecer. — digo para minha amiga — Mateus fica preocupado a toa.

— Vai ser rápido. Tudo que temos que fazer é mapear a área. — ela afirma.

— Sim. — concordo — Eva... — ia perguntar em outro momento, mas acho que não ficaremos a sós tão cedo — Você gostava do Mateus?

Ela para e me encara.

O rosto dela fica levemente corado.

— Você gostava! — digo eufórica — Por que você nunca me contou?

— Ah... Você é irmã dele. Como eu poderia dizer? — ela continua 'andando' — E também eu não era uma jovem com muitas perspectivas. Seu irmão sempre foi bonito, divertido e estudioso.

— Boba! — olho feio para ela — Mateus também gostava de você. — quando digo isso ela para e me encara — Naquela noite me implorou para fazer você ficar até ele chegar da faculdade. Só para te ver.

— Jura? — ela parece não acreditar no que falei — Mas como isso é possível? — sua expressão é interrogativa.

— Sim, estou falando a verdade. Ele era amarradão em você.

Estamos tão entretidas com a conversa que não me dei conta que as pessoas que estão passando por mim na rua estão me encarando assustadas.

Para disfarçar eu pego meu celular e levo à orelha.

— Acho que as pessoas não acham normal falar sozinha. — rio e Eva sorri também.

Seguimos em silencio até chegarmos ao beco em que Eva viu a moça sendo espancada.

— Não é um lugar comum para assassinar alguém. Ainda mais por ser cedo. Mal havia passado das vinte e uma horas. — observo mais um pouco o local e minha teoria faz sentido.

— E se a vítima estivesse tentando fugir dele? — Eva supõe.

— Isso faria sentido. Mas por que ela não gritou? — pergunto.

— Ela poderia estar amordaçada.

— Sim... — olho para o muro que separa o quintal da casa da rua — Bem que o Brasil podia investir mais em câmeras de segurança. — digo após constatar que não há nenhuma na redondeza.

Enquanto estamos analisando os detalhes do local, não percebo um carro preto parando ao nosso lado. Antes que eu pudesse gritar sinto uma pancada na cabeça e tudo escurecendo...

👻👻👻

A porta se abre e uma figura grande e musculosa entra. Não consigo ver o rosto dele, pois está com um capuz preto.

— Por que você está investigando o que não te diz respeito? — ele diz calmamente — Você é uma garota rica. Tem tudo o que deseja. Deveria estar tirando fotos em algum lugar e não xeretando.

Estou assustada. Confesso. Mas não vou deixá-lo descobrir isso.

— Isso é por causa daquela garota da casa verde? — ele abaixa um pouco e olha em meus olhos — Eu não tinha intenção de matar a Eva. Se ela não tivesse visto... — ele balança a cabeça — Tanto faz. Agora já foi.

Que ser desprezível.

Não há nenhum resquício de arrependimento em sua voz.

Ele tira minha mordaça.

— Eu tenho nojo de você! — esbravejo e cuspo no rosto dele.

— É melhor ficar caladinha. — ele coloca o dedo nojento em minha boca — Se gritar vai morrer. — ele gargalha — Além do mais, não há casas aqui perto. Ninguém vai te ouvir.

— Você se acha muito esperto não é mesmo? — rio com sarcasmo — Pois fique sabendo que a Eva não morreu.

— O que isso quer dizer? — o sorriso some do rosto dele.

— Pelo visto você não é tão inteligente assim. — rio.

— Cala a boca. — ele me esbofeteia.

— Não vai demorar muito até você estar no seu lugar ideal. A cadeia. — digo irônica.

— Isso não é verdade! — ele começa a andar de um lado para o outro — Eu a matei.

Quando ele se afasta para o feixe de luz eu consigo ver uma tatuagem de uma fênix na panturrilha direita dele.

— Você está blefando! — ele começa a rir — Eu com certeza a matei. Caso contrário, por que ela não me denunciou ainda?

— Pense o que você quiser.

— Cala a boca vadia. — ele diz e em seguida me amordaça novamente — Fica tranquila que você vai ver sua amiga em breve!

Ele sai do quarto.

Qual a chance de alguém me salvar?

Eva desapareceu. Ela deve ter ido avisar os meninos.

Começo a rezar. Peço a Deus que me proteja.

Eu sempre me imaginei fazendo sucesso. Mas algo que tenho guardado em meu íntimo – pois somente contei para Eva – é o desejo de formar uma família. Quero muito ter meu próprio bebê. Sentir a dor do parto, ficar com olheiras por não dormir direito, ficar com dores nas costas de tanto niná-lo, acompanhar os primeiros passinhos, as primeiras palavras. Mas pelo visto não vou ter a chance de realizar esse sonho.

Mesmo com as aulas de Muay Thai que fiz, não tenho força o suficiente para arrebentar a corda que está amarrando meus punhos.

Começo a rezar novamente.

Se vou morrer, ao menos tenho que me arrepender dos meus pecados. Sou muito boa para ir para o inferno.

Ao menos é isso que quero acreditar.

Vasculho em minha mente as orações que aprendi na catequese dominical.

Pelo Sinal da Santa Cruz...

Pai nosso que estais no céu...

Creio em Deus pai todo poderoso...

Salve, Rainha, mãe de misericórdia...

Santo Anjo do Senhor...

Oh Senhor, perdoai-nos...

Ave Maria, cheia de graça...

Meu Deus, eu me arrependo de todo coração...

Uau! Nem eu imaginava que sabia tanta oração.

Espero que meu recado tenha chegado a Deus.

Tento mais uma vez me desamarrar. Mas não funciona.

Acho que Deus está realmente me querendo perto dele lá no céu. Deve ter chegado minha hora.

A porta é aberta novamente pela encarnação do demônio.

Avá!

Se existe fantasma também podem existir demônios. Não é?

Deus, não entenda isso como uma blasfêmia, por favor.

O cara escroto começa a se aproximar, com um punhal em mãos.

Ele retira a mordaça e diz:

— Quais serão suas últimas palavras?

— Você vai queimar no inferno! — esbravejo e ele levanta a arma para me apunhalar.

De repente o punhal é arrancado das mãos dele e cai ao chão.

Eva! Ela veio me salvar!

— Que diabos foi isso? — o cara grita.

A porta do outro cômodo deve ter sido arrombada, pelo barulho que fez.

Em desespero, o cara pega o punhal e sai correndo na direção da janela, por onde ele pula.

Alguns segundos depois, Jonathan entra no quarto e Mateus vem logo atrás.

Eu começo a chorar em agradecimento.

Minhas preces realmente foram atendidas!

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