💀2- ALL TASTES - TODOS SABORES (HAZEL)💀

2021

Era sábado à noite, eu estava de folga. Embora eu soubesse que teria bastantes clientes e que me pagariam uma boa gorjeta apenas por servi-los uma bebida, meu chefe me mandou ficar em casa. Segundo Tansley, se eu estivesse na lanchonete, ele não se concentraria no jantar de família, pois ficaria preocupado que os bêbados mal-encarados me importunassem.

Deitada na cama, peguei o controle e desliguei a TV, já que os programas de canais abertos eram uma porcaria. Mas no silêncio do meu quarto, fui obrigada a escutar os ruídos das fodas que aconteciam nos apartamentos ao lado e no andar de cima. Eram as meninas da lanchonete, dando o máximo de si para encontrar um homem rico que se apaixonasse por elas de verdade. No entanto, eu sabia e não me iludia, 99 por cento desses caras eram considerados perfeitos pela família. Isso era revoltante.

Eu estava entediada, então engatinhei sobre o colchão e cheguei perto da janela, que ficava na parede onde a cama estava encostada. Seu peitoril era meio baixo, quase na altura do colchão. Como minhas luzes estavam apagadas, ousei encostar minha testa no vidro e bisbilhotar o local em que eu trabalhava do outro lado da rua.

De dia, a lanchonete All tastes era só uma cafeteria numa rota de passagem para Derby, onde famílias que estavam de viagem se sentavam às mesas e nenhuma delas podia imaginar que quando escurecia, as danças de acasalamentos começavam nelas e prosseguiam para os sexos selvagens no motel vagabundo onde eu morava, 

Os dois estabelecimentos pertenciam a Tansley. Meu chefe era um ex-presidiário visionário com uma puta veia de empreendedor. Mesmo com seus 32 anos, já tinha sido preso mais de cinco vezes por roubos de carros. Ele não teve uma infância infeliz como suspeitam que os marginais passaram sempre por isso. Tansley vinha de família bem sucedida de Londres e aparentemente se arriscava por diversão e também porque seus pais estavam sempre à disposição para pagar suas fianças.

Talvez meu chefe estivesse cansado de repetir o mesmo erro de quando garoto ou a porcentagem que ganhava com os serviços de suas funcionárias compensava muito mais que os roubos. Porém, de mim não cobrava um centavo, porque nenhum outro homem poderia me tocar, me comer, já que eu era sua propriedade. Isso era o que sussurrava em ouvido todos os dias, logo após um "Bom dia, Lily!" Um apelido que me deu por causa de um tipo de Lírio, uma flor bonita e branca que crescia em cachos parecendo pequenos sinos, a flor preferida da Rainha.

Tansley parecia cuidadoso e carinhoso. Às vezes até gostava de tê-lo por perto. Mas a nossa relação não era nada saudável. Ele era dominador, e eu, uma garota com a vida fodida que precisa das trocas de favores para amenizar o sofrimento.

A gente nunca tinha transado. Em dois anos e meio, embora fosse um homem bonito, cabelos levemente grisalhos e um cavanhaque estilo gângster, eu acalmava a sua tensão sexual apenas com métodos paliativos.

Às vezes, eu me perguntava porque tinha cismado comigo. E até quando dançar nua para ele e assisti-lo se masturbar seria o bastante. Eu não estava feliz com essa situação, pois além de me sujeitar a algo que me trazia más lembranças, ver o nome da sua namorada grávida aparecer no seu celular, enquanto ligava para ele na hora em que me procurava, me fazia sentir a pior pessoa do mundo.

Tansley me obrigava a me ajoelhar e limpar o seu gozo que jogava propositadamente no chão. Sentado, ele esfregava os dedos do pé pelas minhas costas e descia para o meio da minha bunda e sorria, pressionando minha entrada.

— Você gosta de me servir, Hazel?

Eu mordia os lábios, numa tentativa de parecer sensual e assentia agradecida. Porém, por dentro, eu falava para mim mesma: — Infelizmente, não tem outra alternativa... Tem que pagar as suas contas... Ele não é dos piores. É só Tansley sendo Tansley. Aguenta, garota. Você é forte.

Não era totalmente verdade, só queria me convencer. Não me sentia forte, mas tinha medo de regredir de novo na vida. Por que só Deus sabia o que passei e por onde andei nos meus 25 anos. Satisfazer Tansley era a menor das humilhações.

Tansley estava fingindo ser o melhor parceiro de todos no jantar com sua família e a da namorada. Eles anunciariam o novo membro que chegava. Já eu continuava observando a rua por mais um tempo. Algumas das garçonetes deixaram o meu prédio, se despediram dos clientes e voltaram à lanchonete para pescar outros. Me abaixei correndo quando vi o Sr. Peyton, o professor da North Village University, o cara que me desmotivou por completo do curso de Desenvolvimento Infantil. Ele usava um chapéu com a aba inclinada para frente, como se não desse para reconhecê-lo mesmo com os olhos fechados.

— Você é famoso, otário! Alguma hora irão descobrir — murmurei, ajeitando as cobertas, me preparando para dormir.

Depois dessa, a deprê me tomou profundamente. Ver o professor me entristeceu. Fiquei imaginando como teria sido minha vida, se ele não me lembrasse de que nós dois nos conhecíamos de Vegas. O ocorrido tinha sido há 5 anos. Porém, além do medo de que meus colegas descobrissem o meu passado, as insinuações provocantes vindas de outros professores, me deram a certeza de que o meu segredo estava exposto. E quando fui tomar satisfação com Peyton, ele me sugeriu:

— A faculdade não é para garotas como você. Está tirando a vaga de quem realmente merece... Acha que pode ser professora. Vai ensinar o que para as crianças?— Ele soltou uma risada debochada, que fez esquentar meu rosto. — Quem escreveu aquela sua carta de recomendação, algum cafetão? — Meneou a cabeça para o lado e cruzou os braços. Hazel, vá  trabalhar na lanchonete do Tansley. É melhor... Lá ele serve as comidas mais gostosas de Utah. Vai se dar bem, se quiser eu escrevo a sua carta de recomendação para ele... E o título vai ser "Ela é resistente a dor, não importa como fodem ela!"

A minha reação ao ouvir o seu discurso, foi dar um tapa na sua cara.  Não pude me justificar com o reitor. Como contar o real motivo? Então peguei as minhas coisas e nunca mais voltei.

Eu queria outra chance. No entanto, isso era impossível. Precisava aceitar a realidade, acabar com o remorso e seguir em frente.

Respirei fundo uma, duas, três vezes. Pensei em usar a estratégia que há quase quatro anos não usava, pois com Tansley era mais uma brincadeira, não via como prostituição. Ela foi a minha solução, uma fuga para suportar todos os toques repugnantes e não guardar os rostos dos homens que conheceram a minha cama. Porém, seria esquisito continuar me imaginando agarrada a um garoto de 17 anos. Porque foi com essa idade que vi Dickson pela última vez.

Exausta de tanto revirar no colchão, finalmente adormeci. Mas o meu sono leve, que adquiri pela minha triste experiência de vida, me fez acordar uma hora antes do despertador tocar. Eu tinha escutado um ruído e pela altura, julguei ter sido dentro de casa.

Às 4: 13 da madrugada, me levantei da cama rapidamente e peguei o taco de beisebol, preso atrás da porta de entrada. O quarto se dividia em sala e cozinha, o banheiro ficava do lado de fora entre os dois apartamentos do andar. Não tinha muito o que conferir, olhei embaixo da cama, embaixo da mesa, encostada na parte de trás do sofá e embaixo da bancada da cozinha e graças a Deus não vi ninguém. Observei a janela fechada e dei uma risada silenciosa, me sentindo uma boba. Devolvi o taco para os pequenos guinchos de metal na porta e voltei para minha cama. Respirando fundo, sussurrei:

— Ele não tem como te pegar, Hazel. Ele está morto...

E foi então que eu desfrutei de uma leveza e da minha mente se entregando ao sono. No entanto, escutei o ranger da madeira velha da janela e em seguida, o colchão afundar.

O cheiro que invadiu minhas narinas deixou claro quem me acompanhava naquela cama. E antes que me virasse para confrontá-lo, ele me travou com os braços e suas pernas se amarraram as minhas.

Entrei em desespero. Dessa vez, eu sabia que não conseguiria escapar.

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