queime tudo por ela
OITO DIAS ANTES DE ELIZE PRESCOTT NÃO MORRER
Oito dias antes do aniversário de Elize, Los Angeles sentiu que algo estava errado. Foi a primeira vez desde o início do verão que o sol nasceu tímido, estranhamente escondido atrás de nuvens impostaras. O clima era de reclusão, como se a semana não quisesse começar, como se estivesse evitando a todo custo cooperar com a trágica morte de sua moradora mais ilustre.
Porque Elize sempre foi tudo o que Los Angeles mais prezava: bonita, bem humorada, articulada, bronzeada. Seria um desperdício perder uma adição tão valiosa. Prescott era atrativa como o píer de Santa Mônica, não muito longe de Westwood, e claramente tão elegante quanto Bervely Hills. Foi uma luta árdua do destino contra os fatos inevitáveis desde o momento em que o mau presságio começou, e talvez por isso aquele clima estranho durou tão pouco. Quando chegou perto da hora do almoço, naquele mesmo dia, tudo mudou. Com o aniversário de Elize se aproximando, ela e Westwood ficavam cada vez mais animadas. Na mansão Prescott, naquela tarde, coincidentemente ou não na mesma hora em que o tempo passou a melhorar, a futura garota ruiva endiabrada acordava de um longo sono no melhor dos humores. Era dia de provar vestidos de festa! Tudo estava ótimo.
— Vamos às compras?
Sentada ainda embaixo das cobertas, Elize observava a mãe andar até a sacada do quarto dela, abrindo as cortinas.
— Não — Victoria respondeu. — Pedi para que trouxessem os vestidos aqui. A última coisa que queremos é uma imitação.
Elize riu. Arrancaria com uma faca o vestido de quem ousasse aparecer com o mesmo modelo que ela.
— Vou tomar um banho.
Se levantou, deu um beijo apressado na mãe e correu para o banheiro. Quando se olhou no espelho, percebeu que grandes olheiras pairavam e escureciam a pele delicada abaixo dos cílios. Se sentiu instantaneamente mal, porque sua aparência como um todo soava desgastada. A partir dali foi como se o tempo em Westwood fechasse outra vez, acompanhando o humor de Prescott.
Uma notificação no celular de Elize a impediu de começar a inspecionar o próprio rosto com mais atenção. Era uma mensagem de Scott. Ele pedia uma foto de bom dia, como quase sempre fazia, mas ela negou. Não queria que ele soubesse que tinha defeitos tão mundanos quanto olheiras. Se sentia melhor com a ideia de que Scott a achava perfeita.
Certo, ele respondeu, prefiro ver ao vivo.
Elize riu. Deus, como amava. Era irritante. Qualquer palavra dele a fazia se sentir como se houvesse algum propósito em todo aquele drama. Até mesmo sua festa de aniversário. Elize nunca gostou das grandes produções dos pais, mesmo que amasse ser o centro das atenções. Aqueles dias nos quais todo mundo a observava esperando algo além de sua postura inabalável e sua beleza eram os piores. Elize conseguia lidar com seus colegas de escola, com seus amigos, mas nunca com sua família. Para eles, não era só sobre popularidade e dinheiro. Para eles tinha a ver com determinação, qualidades pessoais e múltiplos talentos. Coisas que Elize não tinha.
— Elize? — sua mãe chamou do outro lado da porta. — Os vestidos chegaram.
Elize buscou um corretivo no armário e o deixou sobre a pia, já visando esconder todas aquelas olheiras com maquiagem. Ligou a torneira da banheira para que sua mãe soubesse que ela estava viva e se apressando, sentou na tampa fechada da privada e esperou a água subir enquanto o vapor pairava no ar, penetrando os fios de seu cabelo até que todos estivessem úmidos e mornos.
Quando tudo estava pronto para o seu banho, entrou delicadamente na banheira e apreciou a sensação aconchegante da água quente lentamente grudar no seu corpo. Finalmente enviou uma foto para Scott: espuma, dedos enrugados e nenhuma maquiagem. Ele adorou. Mandou alguns emojis como resposta, disse que queria encontrar com Elize o quanto antes e marcou de às três da tarde os dois se sentarem em uma mesa da lanchonete do píer para tomar milkshake.
Elize se sentiu um pouco melhor.
🔥🔥🔥
Nem mesmo em casa Scott J. Adams conseguia se livrar do falatório sobre a festa de aniversário de Elize. Seu padrasto, Greg, trabalhava em uma empresa de entregas que havia sido contratada para levar até a mansão Prescott todos os itens de decoração que seriam usados no evento da semana. Não era exatamente o tipo de coisa que Greg costumava transportar, mas acabou que o trabalho caiu em suas mãos. De algum jeito haviam confiado lustres e vasos caros ao ser com o QI mais baixo da cidade, e Adams não queria nem imaginar como aquilo poderia acabar em um desastre.
Scott não estava realmente surpreso. Sentado na mesa do café da manhã enquanto sua mãe e o padrasto andavam pela cozinha, ele observava o jeito burro como Greg procurava suas chaves e pensava que também lhe daria um trabalho se não o conhecesse tão bem. Ele era tão patético que causava pena. Qualquer homem de negócios em crise existencial gostaria de fazer uma boa ação ao dar uma chance ao gorducho do setor de carga e descarga.
— Filho, lembra do que a gente conversou. Nada de perder aulas hoje.
Rosa falou baixo para que só Scott escutasse, mas as orelhas de abano de Greg pegaram o sinal. Ele olhou para o enteado com a cara a fechada em desgosto, como se quisesse gritar para o mundo que ele era um garoto inútil, mas não disse nada. Deu um risinho irônico, pegou as chaves que finalmente havia encontrado e saiu da cozinha. Precisava fingir que trabalhava.
Scott olhou para a mãe. Vinha faltando às aulas mais do que deveria, sim, mas era culpa de Elize. Ele não conseguia mais resistir à tentação de ficar espiando o ensaio das líderes de torcida, não depois da amostra grátis na festa de Zoe. Desde aquele dia, vê-la em um uniforme apertado era o seu único motivo para continuar vivendo. Além do mais, o idiota, Derek, que a secou naquela noite, era muito próximo de Zoe, e sempre aparecia nos ensaios também. Scott queria garantir que ele não chegaria perto de Elize.
Ele sorriu para a mãe:
— Vou. Claro.
Estava mentindo. Àquele ponto, era provável que chegasse a faltar às aulas para tirar Elize do meio de um ensaio. Vinha planejando aquilo, na verdade. Não pensaria duas vezes se tivesse a oportunidade de puxá-lá para uma fuga em um passeio de carro. Contava até mesmo que, com o clima da costa e o uniforme de líder de torcida, acabasse recebendo um show particular quando ficassem a sós.
Seu telefone tocou. Era uma notificação de Elize. Felizmente, sua mãe já estava longe, arrumando coisas no armário da cozinha, quando ele a abriu, porque a foto de Prescott em uma banheira cheia de espuma causou um impacto inadequado de se sentir tão cedo pela manhã. Foi desconsertante.
Estava decidido. Ele a roubaria daquele maldito ensaio, a levaria para longe e rasgaria o uniforme das líderes de torcida em cima do capô do seu carro, se fosse preciso. Mas não ficaria na escola, nem longe dela. Não por muito mais tempo.
🔥🔥🔥
Quando sua mãe e o padrasto saíram para trabalhar, Scott iniciou o plano trazer Elize ao seu péssimo hábito de faltar às aulas. Começou com a ideia de um presente para tentá-la, sabendo que mimar a garota mais mimada da cidade era um caminho sem volta. Se queria convencê-la a fugir do ensaio das líderes, precisaria de uma ajuda extra. Elize dificilmente se deixava ser atrapalhada quando o assunto era a sua posição social na hierarquia escolar — ou a luta pela forma física perfeita. Eram assuntos intocáveis.
Scott: Use sapatos confortáveis.
Mandou a mensagem propositalmente sem sentido assim que entrou no carro e ligou o motor. A radio preferida de Elize tocava, mostrando que ela pouco a pouco tomava espaço em cada pequeno aspecto da vida de Scott. Às vezes aquilo o irritava, mas naquele dia o agradou. Poderia usar a música como incentivo na hora da fuga também.
Elize 🔥: Por que?
Scott colocou o celular equilibrado sobre o joelho para conseguir digitar e dirigir ao mesmo tempo.
Scott: Surpresa.
Ela respondeu apenas com um emoji. Ele sorriu. Havia conseguido deixá-la curiosa.
Scott andou com o carro até estar longe de casa, por entre as lojas da Rodeo Drive. Pensava em algo para comprar para Elize, mas não fazia ideia de qual futilidade escolher. Do que ela gostava, além de roupas caras e maquiagem? Ele não sabia. Mas tentou arriscar, parando em um bazar com cara de chique. Poderia surpreendê-la com algo diferente do que costumava fazer.
O carro ficou estacionado na frente da loja, onde Scott poderia vê-lo através da janela de vidro. Era um conversível raro, apesar de não muito caro, e a única coisa que amava no mundo. Perdê-lo não era uma opção. Scott pensava naquilo quando encostou no balcão do caixa, tão distraído que não viu que alguém havia saído dos fundos da loja para atendê-lo.
— Posso ajudar?
Scott levou um breve susto. Primeiro, pensou que havia esbarrado com Hanna, o que não seria legal. Mas depois reparou na maquiagem forte, no cabelo desgrenhado e na expressão estranha no rosto da atendente. Era a irmã gêmea dela.
Por um momento, não soube se deveria continuar. Comprar um presente para a namorada com a irmã de uma ex? Mesmo que Hanna e Scott não tivessem chegado a ter alguma coisa séria, ela pareceu bem chateada no encontro que tiveram na praia.
Decidiu que estava com pressa.
— Procuro um presente para uma amiga.
A menina o encarou por alguns segundos, como se esperasse mais alguma coisa. Então concordou com a cabeça e foi para os fundos da loja. Scott não entendeu muito bem se ela havia compreendido o que ele dissera, mas não a chamou. Em dois minutos, a menina estava de volta com um cabine enorme nas mãos.
— Acho que ela pode gostar — disse ela, ajustando o cabine sobre o balcão.
Scott ficou surpreso quando um casaco de pele saiu de dentro da proteção de plástico. Ele esperava qualquer coisa, menos aquilo. Era perfeito. A cara da Elize.
— Como acertou tão rápido? — ele perguntou.
Finalmente leu o nome no uniforme dela: Skyla. As letras oscilavam sobre o uniforme apertado em curvas muito mais fartas que a de sua irmã.
— Tenho uma ótima intuição quando o assunto é dar o que as pessoas merecem.
Scott achou particularmente estranho, olhando-a com um pouco mais de cuidado. Hanna sempre falava de como a irmã era uma aberração, mas ele pensou que era inveja, já que Skyla era muito mais bonita, mesmo com toda aquela maquiagem e as roupas pretas. Agora, vendo-a de perto, percebeu que Hanna tinha razão.
Após realizar o pagamento, Scott deixou a loja. Ficou pensando em Skyla, ainda curioso com o que ela havia lhe dito. Teria alguma coisa a ver com Hanna? Não seria surpreendente. Talvez as irmãs tivessem conversado a respeito dele em algum momento, e agora Adams era o odiado em comum.
Ele riu. Pelo menos havia aproximado um pouco mais as duas irmãs.
— Adams!
Demorou um pouco para Scott sair da bolha de pensamentos a respeito das irmãs gêmeas e voltar à realidade. Ele olhou ao redor, à procura de quem o chamava, e encontrou Derek, o idiota da festa de aniversário de Zoe. Automaticamente fechou os punhos, parando na calçada em frente ao bazar enquanto o outro se aproximava. Ele vestia a jaqueta do time de futebol da escola e sorria como o verdadeiro esnobe babaca que era.
— Eu queria falar com você sobre aquela noite. Juro que eu não sabia que você e a Elize estavam juntos. Mas você entende, né? Uma mulher daquelas... Difícil não olhar.
Ele ainda sorria. Scott sentiu as veias pulsando embaixo da pele, o casaco na sacola balançando com a brisa da tarde. Suas mãos fechadas apertaram-se mais, e ele ficou encarando o rosto do idiota do Derek sem acreditar no que estava ouvindo. Primeiro, ele secava a sua namorada, e agora o seguia nas ruas para jogar aquilo na cara dele? Só podia ser brincadeira.
— Estamos bem? — Derek perguntou.
Scott pensou nas suas opções: podia dar um soco nele e começar uma briga, ou tentar aceitar as suas desculpas. Por mais que tenha sido irritante vê-lo na gesta, Dered havia reconhecido que Elize tinha dono. Não era mais uma ameaça, pelo menos temporariamente. Scott só precisava manter os olhos abertos.
Derek esticou uma mão para que Scott apertasse. Relutantemente, ele o fez. Ainda queria socar o rosto do idiota, mas se convenceu de que era uma péssima escolha.
— O que é isso? — Derek perguntou.
Scott seguiu o olhar dele até a sacola presa em seu braço. Quase não respondeu, mas um sentimento o fez dar continuidade à conversa. Foi como se já estivesse prevendo aonde as próximas palavras o levariam.
— O presente de aniversário da Elize.
— Que coincidência!
Derek ergueu o braço para que Scott visse a sacola da Prada. O sorriso ainda estava ali, no rosto dele. Não sumia, não vacilava, permanecia no mesmo lugar, caçoando de Adams.
A vontade de dar um soco nele voltou. O idiota agora estava comprando presentes para Elize? Desde quando aquilo acontecia? E desde quando Derek era um convidado da festa dela?
Scott o puxou pela gola da jaqueta do time e o empurrou contra a parede do bazar.
— Fica bem longe da Elize. Entendeu?
Derek não respondeu. Mesmo que medo fosse a última coisa que sentisse de Scott, preferiu não entrar no jogo dele, pelo menos não de um jeito que parecesse culpado. Preferia que Adams começasse a briga, assim bateria lhe daria uma surra sem qualquer peso na consciência. Era uma coisa que queria fazer desde a noite da festa.
Scott o soltou. Foi para o seu carro, colocou a sacola com o casaco de pele de Elize no banco de trás e acelerou até o motor gritar por toda a avenida. Sem olhar nos retrovisores, arrancou com o carro.
Tudo o que ele pensava era que só podia ser brincadeira.
🔥🔥🔥
— Mas que droga, Scott! Por que você fez isso?
Elize estava sentada na mesa perto da janela, na lanchonete do píer de Santa Monica. Usava os cabelos em um rabo de cavalo e o uniforme das líderes de torcida do Colégio Westwood. Tinha as unhas pintadas de vermelho segurando delicadamente o canudo do milkshake de morango quando Scott bateu com as mãos na mesa e o copo tombou com o impacto. Foi um momento que ela não esperou.
— Você convidou o Derek para a sua festa?!
Elize o olhou confusa enquanto a mesa ficava rosa pelo milkshake derramado. Quando pingou no chão, perto dos pés de Scott, ela deu de ombros:
— Meus pais devem ter convidado. Por quê?
— Eu sou o seu namorado! Eu deveria ir. Não ele.
— Scott — ela se levantou da mesa, escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. — Você sabe que é complicado.
Olho no olho, o milkshake agora pingando nos pés dos dois. Os pedaços de morangos dentro do copo escorreram pela madeira da mesa, espalhando-se até a borda. Elize pegou um para colocá-lo nos lábios de Scott, desenhando o contorno com a fruta gelada. Ficou manchado de rosa, o que a fez sorrir.
— Vamos, você sabe que se dependesse de mim seria só eu e você na festa inteira.
Ele não pareceu convencido.
— Poderia ser. — Respondeu emburrado.
Ela o beijou, saboreando o morango nos lábios dele.
— Não poderia, Scott. Você sabe disso. Mas está tudo bem, no final das contas venceremos, lembra? Temos o nosso plano maligno de invasão. Meus pais querendo ou não, vamos passar o meu aniversário juntos.
Alguns segundos depois, Scott finalmente cedeu, a beijando de volta. O momento foi estranho, e impulsivamente ele a colocou sobre a mesa da lanchonete, manchando Elize de milkshake enquanto o copo rolava para o lado e se esparramava no chão. Pequenos cacos ficaram espalhados sobre o ladrilho do piso, e nenhum dos dois se moveu.
Elize começou a rir, abraçada a ele, e os dois desceram da mesa quando uma funcionária chegou com um pano para limpar a bagunça. Foram praticamente expulsos, mas não conseguiram conter a risada. Era meio cômico. Principalmente com a funcionária olhando-os como se quisesse cometer dois assassinatos.
— Deixa que eu limpo a parte que ficou na bunda dela — Scott gritou, sendo puxado por Elize na direção da porta.
Do lado de fora, eles finalmente pararam. Não era tão engraçado sem o cheiro de morango subindo no ar.
— Você me deve outro milkshake — disse Elize. — E uma saia nova.
Ele a abraçou pela cintura, observando-a com o rosto banhado pelo sol de Los Angeles. Elize brilhava como se fizesse parte de uma constelação, pequenas partículas de glitter, provavelmente da maquiagem, misturando-se ao tom de pele bronzeado. Com a roupa suja de rosa e um olhar acusador, não parecia, naquele momento, fazer ideia do quanto era incrível. Do quanto era divertida, bonita e inteligente. Do quanto o fazia se sentir bem.
Aquele tipo de coisa alarmava Scott, porque, sem ela, nunca conseguiria viver tão bem consigo mesmo. Doía a ideia de saber que um dia, mais precisamente quando Elize fizesse aniversário e fosse para Londres, iria perdê-la.
— Você tem razão — ele soprou. — Eu te devo muito.
...
CONTINUA
N/A:
Aí gente, ler os pensamentos do Scott eh meio perturbador sjdjdkjdkd ele eh muito doente nossa. Elize 💔💔
Encontro vocês mais tarde, no Instagram, pro nosso bate papo sobre o capítulo!
Beijão
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