queime os jogos mortais

NA NOITE EM QUE ELIZE PRESCOTT NÃO MORREU

Elize estava sentada do outro lado da roda, de frente para Scott e ao lado de Diana. Jay ainda não havia se juntado ao grupo, em pé perto da sacada enquanto esvaziava a garrafa que seria usada no jogo. Os três outros adolescentes intrusos que não eram conhecidos de Prescott observavam a anfitriã com expectativa, esperando algo acontecer. Por causa da reputação de Elize era provável que estivessem pensando que seriam expulsos, mas ela não se incomodava com a presença deles. Sabia que verdade ou desafio funcionava melhor quando o número de jogadores era maior.

— Agora sim!

Jay sentou ao lado de Scott e colocou a garrafa no meio da roda. Ele apoiou no joelho um caderno que Elize reconheceu ser seu e começou a escrever alguma coisa. Todos o olharam com expectativa. Quando Jay terminou passou o caderno para o lado e disse:

— Como tem gente aqui que não se conhece, podemos sugerir perguntas. Assim, se você cair com um estranho e não souber o que falar caso a escolha seja verdade, temos opções válidas à sua disposição. Escrevam o que querem saber, dobrem o papel e anotem o nome de quem deve receber a pergunta na parte exterior.

O caderno passou por todos os integrantes, e quando voltou para Jay havia pelo menos quinze papéis dobrados em um pote que ele havia roubado do quarto de Elize. Aquilo pareceu deixar as pessoas com expectativas, porque era a oportunidade perfeita de fazer provocações em anônimo. Foi como deixar o jogo ainda mais suscetível a uma catástrofe.

Com todos prontos Jay girou a garrafa pela primeira vez. Ela caiu entre dois dos adolescentes intrusos. Eles se chamava Kate e Sean, e eram do segundo ano da escola de Westwood, mas Elize nunca havia notado qualquer um deles. A escolha foi desafio, e Kate precisou ir até o salão principal roubar os brincos do convidado mais velho de lá. Ela cumpriu a missão com maestria e voltou com um par feito de pérolas que era muito feio, mas valioso.

— Acho que vou ficar com eles — disse Kate, guardando-os no sutiã.

A garrafa girou mais uma vez, parando entre Scott e Diana. Ele escolheu desafio e teve que devolver os brincos roubados por Kate ao dono. Não foi uma tarefa fácil porque os seguranças dos Prescott estavam de olho em intrusos mais do que antes. Adams teve que driblar todos eles para conseguir chegar à senhora de vestido verde esmeralda desesperada atrás da relíquia de família perdida.

Quando voltou ao quarto de Elize a garrafa já estava no meio de novo. Scott sentou no mesmo lugar de antes, esfregou as mãos e torceu com todas as suas forças para que fosse o desafiante da vez. Tinha planos para Prescott e tinha planos para Diana. Infelizmente, a garrafa caiu entre seus dois alvos, e nada dele. Scott ficou observando enquanto Elize escolhia desafio ao invés de verdade, e ficou  até mesmo surpreso com a escolha de Diana para ela:

— Te desafio a fazer um striptease na sacada, para só alguns convidados e a gente ver.

Elize levantou uma sobrancelha enquanto Diana sorria de uma forma quase diabólica. A roda olhava com expectativa para a garota ruiva, esperando uma negação que nunca aconteceu. Em um minuto eles gritaram incentivos e Elize estava de pé, pedindo uma música. Então ela foi até a sacada, acenou para as pessoas no gramado da mansão e retirou o colar brilhante que ocupava o seu pescoço. Scott sentiu o maxilar tenso, os dentes trincando. Os garotos da roda, Jay e Sean, mordiam o lábio inferior ao assistir a cena. Elize mandou um beijo para eles. Ela puxou a alça direita do vestido, deixando parte do ombro à mostra. Mais gritos. A música tilintava nos ouvidos de Scott como se fosse um martelo.

Quando a segunda alça do vestido de Elize caiu e o sutiã de renda vermelho apareceu foi o ápice dos gritos, e também foi a gota d'água para Scott. Ele não conseguiu suportar o jeito como Sean e Jay a olhavam, nem o sorriso no rosto diabólico dela. Seu sangue ferveu, os dedos formigaram. Sem que ninguém pudesse raciocinar ou impedir Scott foi até a sacada e puxou o vestido de Elize para cima assim que ele escorregou pelas pernas dela. Então a fez acompanhá-lo para dentro do quarto, todos confusos e Prescott rindo, para que a brincadeira continuasse sem aquele show.

— Na melhor parte, Scott — repreendeu Diana. Havia um brilho no olhar dela que denunciava as más intenções daquele desafio.

— Próxima rodada — ele a ignorou.

— Espera — Diana segurou a garrafa quando ela começou a girar. — Você não deixou Elize cumprir o meu desfio, então tenho o direito de ir de novo.

Contrariado, Scott deu de ombros. Elize se prontificou, concentrada em Diana, as alças do vestido ainda caídas deixando pele exposta.

— Escolho verdade.

Diana passou a língua pelos lábios:

— Elize, é verdade que você e Scott estão namorando?

Adams fingiu que não, mas estava interessado. Os olhos presos na garrafa não enganariam ninguém, porque a sua postura mudou. Os ouvidos estavam atentos.

— Não.

Foi como um balde de água fria em Scott. Claro, a água escorreu e levou esperanças a Sean e Jay. Os dois praticamente salivaram com aquela notícia, o que fez Diana sorrir mais ainda. Scott não disse nada. Ficou encarando Elize enquanto era ignorado por ela, esperando uma satisfação. Sentia... ódio. Naquele momento, tudo oque Scott queria era um confronto para esclarecer as coisas entre eles.

A garrafa girou mais uma vez, e aos poucos as coisas se acalmaram. Sean e Kate responderam perguntas, Scott também, mas nada relevante. Eles fizeram desafios bobos de dança, também secaram as garrafas. Diana amaldiçoou Emmet por não ter aparecido com a maconha, mas logo esqueceu.

Quando a garrafa apontou para Scott de novo ele sorriu. Kate tirou uma pergunta do pote de sugestões e a leu em voz alta:

— Scott, se você pudesse matar alguém, quem seria?

Ele não pensou duas vezes:

— Elize. Ela me tira do sério o suficiente para isso.

As pessoas riram.

O próximo foi Sean, desafiado a pular na piscina pelado. O grupo assistiu da sacada, aplaudindo e gritando. Quando ele voltou, tinha o cabelo molhado e cheirava a cloro. Trouxe consigo duas garrafas de champanhe roubadas da festa, dividindo-as com os novos amigos.

Kate respondeu que morreria para transar com Ashton Kutcher; Diana fez um striptease para compensar o interrompido show de Elize; Scott retirou a camisa para que Kate fizesse um desenho à caneta sobre uma de suas diversas tatuagens. Diana e Sean se beijaram, Scott e Diana também. Kate correu só de calcinha e sutiã pelo corredor.

Perguntas e desafios continuaram, e tudo corria bem até o momento em que Sean desafiou Elize a beijar Diana. Ele não havia presenciado a cena no Tártaro, então era uma novidade. Scott revirou os olhos, mas se surpreendeu quando Diana passou a oportunidade. Ela disse que aqueles desafios com beijos já estavam ficando enjoativos.

— Então transe com ela.

Elize e Diana riram. Sean insistiu:

— Vamos, é o meu desafio. Você não está namorando, Elize; nem você, Diana. Só vejo vantagens. Todo mundo sabe que as duas são boas de cama.

— Passo — Elize o cortou. Estava corada pelo champanhe.

Sean riu debochadamente:

— Você por acaso é virgem?

— Não — Elize sorriu. — Dei pro seu pai ontem à noite.

— Ele é um homem de sorte.

— Uma pena não podermos dizer o mesmo sobre você.

Todos riram, menos Sean. Elize ficou satisfeita de poder humilhar alguém. Ela estava sem fazer aquilo já há algumas horas. Era quase uma necessidade.

Animada, ela girou a garrafa. Diana e Scott foram os escolhidos.

— Verdade — Scott escolheu.

— Ok. Elize significa algo para você ou é só uma distração?

Mesmo  que já estivessem todos calados, algo naquela pergunta fez o cômodo ficar ainda mais silencioso. Scott olhou para Diana com raiva, sabendo qual era o jogo dela. Estava com ciúmes, nunca gostara de Elize. Ou talvez só quisesse começar uma confusão de verdade entre os dois, bem longe das provocações do quase casal.

Scott não cairia na dela.

— Sim, ela significa.

Houve um momento, um breve momento, em que o sorriso esperto no rosto de Diana fraquejou. Ao mesmo tempo, o olhar de Elize parou em Scott, uma expressão quase acolhedora tomando os traços que a tornavam tão bonita. Ele nunca havia presenciado algo do tipo, não quando se tratava de Prescott. Mas sentiu que, na roda, as pessoas começavam a estranhá-lo, então completou:

— Ela significa uma boa foda.

Elize revirou os olhos enquanto Jay, Kate e Sean riam. Diana não se moveu, apenas ficou observando os dois. Parecia saber de um segredo, talvez o maior de todos. Era a verdade sobre Scott, sobre como ele realmente amava Elize Prescott e, estranhamente, vivia a reciprocidade.

Naquele momento os dois pouco sabiam do que iria acontecer em algumas horas. Diana foi a única que chegou perto de suspeitar, porque em algum momento ela pensou que um dos dois morreria antes de dar o braço a torcer quando se tratava de sentimentos.

🔥🔥🔥

Jay, Kate e Diana foram embora assim que o jogo acabou. A festa na casa dos Prescott ainda acontecia, mas convidados com filhos e horários rigorosos haviam ido embora. Restara apenas os velhos amigos, os anfitriões e Scott J. Adams. Este último estava deitado na cama do quarto de Elize, já sem o paletó, a gravata solta no pescoço. Se sentia tão cansado que poderia dormir ali mesmo. Não queria voltar para casa tanto pela preguiça quanto pela ideia de ter que encontrar com Greg. Estava bêbado demais para qualquer confronto.

Elize entrou no quarto com duas garrafas de champanhe e um prato cheio de petiscos. Os dois estavam com fome depois de tanto álcool e nenhum alimento. Sem falar que Scott estava sem comer desde às três da tarde, quando saíra de casa atrás de um presente para a garota ruiva que tanto lhe atormentara nos últimos quinze dias.

Scott comeu metade dos petiscos, mas Elize nem havia tocado direito na comida. Parecia ter mudado de ideia a respeito da fome, porque tinha uma expressão desanimada no rosto. O batom vermelho que ele nunca havia visto a garota usar contrastava a pele branca, mas combinava com os cabelos. Era uma visão linda. Elize era linda. Mas estava triste.

— O que foi? — ele perguntou.

O vestido de seda que Elize usava não era apertado; na verdade, deixava seu corpo à vontade. Cada curva, cada pedaço de pele, cada tom. Tudo parecia perfeito.

— Amanhã vou para Londres.

Scott sentiu aquelas palavras como se elas tivessem um peso real. O quarto ficou mais escuro, o seu estômago embrulhou. Ele sabia que aquilo iria acontecer, sempre soube. A ida de Elize para Londres foi o motivo de os dois terem começado a sair, a se relacionar.

— Eu não quero ir — Elize confessou.

Ela se levantou da cama e foi até a sacada, olhando para o jardim. Então ficou cansada física e psicologicamente, não conseguindo permanecer em pé. Elize sentou na poltrona ao lado da janela e abaixou a cabeça. Scott correu até ela no mesmo segundo, ajoelhando à sua frente.

Seus olhos estavam molhados. Foi a primeira vez que Scott a viu chorar. Ele não soube o que fazer quando aquela única lágrima escorreu pelo seu rosto, mas sentiu que precisava tocá-lá. Segurou o rosto de Elize entre as mãos:

— Então você não precisa ir. Tem que ter um jeito.

— Não tem, Scott. Eles nunca me deixarão ficar aqui.

— Por quê? Eu não entendo.

— Não precisa entender. É uma coisa da minha família.

Scott passou a língua pelos lábios, decorando cada detalhe do rosto dela. Pela manhã Elize estaria longe, indo morar em outro continente. Ele não sabia o porque de se importar tanto, mas se importava. Queria cancelar o voo, impedir a sua viagem; queria que ficassem juntos.

— Podemos fugir — disse ele — Hoje. Antes de amanhecer. Assim você não precisa ir.

Elize riu em meio ao choro.

— Não daria certo, Scott. Você sabe disso.

— Podemos tentar.

Elize cobriu a mão dele com a sua, sentindo o toque leve em seu rosto. Queria muito aceitar a oferta de Scott, mas sabia que daria errado. Largar a escola, a família, os amigos... era arriscado. E os dois brigavam tanto que em duas noites acabariam se matando.

— Podemos.

Nem Elize acreditou quando aquela simples palavra saiu pela sua boca. A questão era que todas aquelas incertezas sumiam toda vez que olhava para os lábios de Scott. Ela não queira ir para Londres, não queria deixar a Califórnia. Aquele era o seu lugar, seu país. Elize pertencia a onde estava, e mudar não era uma opção. Além do mais, gostava de Scott. Talvez estivesse até se apaixonando por ele.

Elize o beijou, selando o acordo. Era o segundo em quinze dias. Parecia que estava ficando perigoso, sério e até mesmo sem controle. Mas ela não ligava. Pensava apenas que precisava fazer aquilo, naquele momento, senão tudo ruiria.

...
CONTINUA


OIEEEE
DEMOROU, mas cheguei com uma att!!! Como vocês estão? Espero que bem! Queria dizer que achei uma foto que é MUITO a Elize a Diana e o Scott sjdjdkdkkd postei nos meus stories ontem então se vocês correrem para olhar no meu Instagram (andresa7ios) não vai ter sumido ainda.

Quero agradecer a todas as leitoras que mandaram perguntas para o jogo dos personagens! Amei escolher e guardei algumas para depois hehe vcs são demais
Beijão e até a próxima!

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