queime o drink no inferno

CATORZE DIAS ANTES DE ELIZE PRESCOTT NÃO MORRER

Como prometido após o pacto selado no quarto de Adams, Scott apareceu na mansão Precott às onze e meia do dia seguinte, dirigindo seu carro estranhamente reformulado. Ao que parecia, Elize havia dado um jeito de o conserto sair tão rápido quanto barato, e Scott não teve que pagar ou esperar pelo resultado.

Mas ele continuava sem deixar que Elize o enganasse.

Em sua concepção ela ainda era a garota diabólica com dois chifres invisíveis, apenas esperando o momento certo para poder atacar novamente. Scott permaneceria preparado para qualquer maldade que viesse de Elize Prescott, porque era assim que ela agia: de maneira má. Ele não esperava menos do que isso de uma garota que estava se aproximando de um cara que magoou a sua melhor amiga apenas por diversão.

Scott pensava em como Elize era traiçoeira quando a própria apareceu, passando pelos portões da mansão da forma deslumbrante de sempre. Ela se aproximou do carro com um sorriso e disse:

— Você está bonito! Quem diria que um dia você conseguiria?

O comentário não o afetou. Scott tinha plena ciência de sua beleza, e sabia que ela também tinha, senão não estaria ali, sentada no banco de carona do carro dele.

— Você também está bonita, Luci.

Por um momento a expressão enraivecida de Elize fez Scott pensar que havia realmente passado dos limites ao chamá-la de Lúcifer, mas então, quando Prescott rebateu, ele entendeu que ela pensou algo um pouco diferente.

— Luci?

Como se ele pudesse algum dia confundir o nome dela com o de qualquer outra garota.

Fer — ele completou.

Scott percebeu que Elize ficou aliviada, como se a ideia de ser confundida com alguém fosse pior do que ser comparada ao próprio demônio, mas não contestou nenhum de seus dilemas morais. Tudo o que Adams fez foi girar a chave na ignição do carro, saindo em direção ao primeiro destino da aventura de quinze dias dos dois.

Nem Scott e nem Elize sabiam, mas, naquele momento, algo havia acontecido. Depois do pequeno pacto no quarto de Adams, uma fita havia sido amarrada em algum lugar do inferno, e com a concretização do prometido a fita havia ganhado um novo nó: o nó do inevitável. A teoria do caos. Tudo o que eles fizessem dali por diante teria consequências inimagináveis, que levariam Elize às chamas eternas (ou quase) da morte.

— Onde vamos?

Scott não queria contar, porque seria surpresa. De algum modo sentia que ver Elize descobrir sozinha seria uma experiência muito mais divertida do que simplesmente contar e deixar que ela tivesse algum preparo emocional.

— Confie em mim, Luci. Você vai amar.

Elize pegou os óculos escuros antes pendurados no decote abusado de seu vestido e colocou no rosto, fechando a expressão para deixar claro que odiava surpresas. Aquilo fez Scott rir, curioso com a situação como um todo.

Quando finalmente chegaram, Scott desceu do carro e abriu a porta para que Elize saísse. A cena foi digna de um filme de qualquer gênero: o pé direito moldado pelo salto vermelho aterrissando no chão, os cabelos ruivos voando na brisa noturna enquanto Prescott retirava os óculos escuros e encarava o bar precário à sua frente.

— Mas o que é isso, Scott?

Ele olhou para a construção de madeira com uma luz neon piscante e sorriu, lendo o letreiro:

— O Tártaro.

Elize não gostou do nome mais do que gostou da aparência do lugar, continuando com aquela expressão superior de desgosto que Scott costumava ver quando ela passava por qualquer pessoa não popular ou bonita do colégio.

Em um gesto que fez Elize pular minimamente, em uma espécie de susto, Adams pegou a sua mão e a puxou na direção da entrada do bar que na verdade ele reconhecia como uma espécie de pub. Se não fosse por algumas leis de Califórnia, o Tártaro poderia até mesmo ser considerado uma boate.

Havia um segurança na porta que usava jaqueta de couro e tinha mais barba e cabelo do que pele na cabeça. Ele era alto, corpulento e emanava uma expressão de tédio que sumiu apenas quando Scott se aproximou com Elize:

J. J.!  Quanto tempo!

Os dois se cumprimentaram como se estivessem no colegial, com um toque específico de mãos e risadas. Elize revirou os olhos, já arrependida. Deveria ter procurado seu primo, que era mais rico e mais bonito que Scott. Pelo menos ela não teria que estar passando por aquele tipo de coisa.

— Essa é Elize — Scott a puxou pela cintura, apresentando-a ao segurança. — Hoje ela vai conhecer o Tártaro!

— Boa sorte, garota.

Elize não gostou que o segurança não soubesse o seu nome. Todos sabiam.

— Tenho toda a sorte do mundo — foi o que ela respondeu, de nariz empinado.

O gesto fez Scott e o segurança darem risada, o que Elize não entendeu.

— Vocês, Prescott, são todos iguais — o segurança comentou.

Então ele deu passagem para que os dois entrassem no bar, e Scott puxou Elize em direção à música antes que ela tirasse satisfações sobre o tom de voz que foi usado quando o segurança se referiu à sua família. Ela pouco gostava quando as pessoas tratavam os Prescott com desdém, porque geralmente eram eles que faziam aquilo. Havia uma cadeia social alimentar lógica a ser seguida.

Elize teve que admitir: a sensação de quentura provocada em sua pele quando as duas paredes estreitas do corredor a rodearam foi boa, como se alguém a estivesse abraçando. A música também não era nada ruim, apesar de não ser nenhuma das cantoras pop que ela estava acostumava a ouvir. Era rock. Puro rock.

— Música ao vivo? — perguntou a Scott.

Ele estava atrás dela, com as duas mãos em sua cintura, guiando-a pelo caminho certo mesmo que só houvesse um.

— Sim. E da boa.

Elize revirou os olhos.

— Isso sou eu que vou dizer.

Em um minuto Elize estava com as costas na parede gelada, amaldiçoando a abertura do vestido pela pele exposta. Ela olhou para o rosto de Scott, confusa pelos motivos de ele estar com o corpo tão perto, encarando-a com a respiração batendo em suas bochechas.

— Elize, minha paciência tem limite — disse, mas ela não se sentiu ameaçada. — Fique quietinha, ou ela vai acabar.

É, talvez ela estivesse reclamando muito. Mas o que poderia fazer? Era de sua natureza.

Por outro lado, ele não parecia tão sem paciência assim, principalmente quando Elize o puxou para mais perto usando as golas de sua jaqueta.

— Você já me trouxe para o inferno, Scott — ela sussurrou, brincando com o nome do bar. — O que mais de ruim poderia fazer comigo?

O sorriso malicioso que Adams exibiu fez toda a atmosfera repressiva antes presente entre os dois sumir, deixando para trás apenas a mistura de tensão sexual e ódio que eles já conheciam.

Então Elize empurrou Scott até que ele batesse na parede oposta e levantou uma sobrancelha, o desafiando a continuar a excursão que os dois fariam até o Tártaro, e ele voltou a puxar a mão dela.

O corredor os levou a um salão escuro onde havia tanta gente que seria impossível para Elize andar com aqueles saltos tão grandes e vermelhos. Sorte foi a dela que todo mundo parou para olhá-la, abrindo caminho para que os dois passassem como se duas celebridades tivessem acabado de chegar.

— Eles nunca viram um Prescott por aqui — explicou Scott.

Com um olhar específico ao lugar, Elize disse:

— É, dá para saber o porquê.

Scott não conseguiu evitar rir. Por mais rabugenta que Elize estivesse parecendo, ele conseguia ver em todos os seus movimentos corporais que Prescott estava em estado de adrenalina. Era algo novo em sua lista de experiências, querendo ou não. Estar em um lugar como aquele era uma coisa que ela nunca havia feito antes.

— Sente-se, Luci.

As pessoas haviam esquecido de prestar atenção em Elize assim que ela e Scott chegaram a uma mesa do outro lado do salão, perto do palco onde a banda tocava. Havia duas pessoas sentadas nas cadeiras espalhadas ao redor do caixote que eles usavam para servir de bancada.

— Vocês estão no meu lugar — disse Elize. — Saiam.

Mais uma vez, risos.

Scott colocou uma das mãos em suas costas e indicou uma cadeira vazia. Então, apontou a mulher e o homem que já estavam ali e disse:

— São meus amigos: Emmet e Diana. Essa é Elize.

Os dois sorriram para Prescott, que apenas concordou com a cabeça.

— Essa é a nova? — perguntou Diana quando Adams sentou. — Você já esteve melhor.

— Por quê? — Elize debochou — Melhor seria você?

— Elize está aqui para conhecer o Tártaro — Scott interrompeu a discussão iminente.

Diana encarou Prescott dos pés à cabeça, mas foi Emmet que disse:

— Coitada. Não vai durar duas horas. 

Ele estava errado, Elize descobriria mais tarde.

A verdade é que ela chegaria a durar específicos catorze dias.

...

CONTINUA

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