Parte III
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Os sons angustiantes preenchiam a audição da garota que se espremia entre os becos, apertando a capa que escondia o alimento furtado. Ansiava chegar à floresta onde manteve Ruffos preso a um tronco rodeado por suas maçãs até que pudesse retornar, não arriscaria ser vista com o cavalo durante o dia e ousar perdê-lo por um erro seu.
Principalmente quando estava nítido a pobreza por cada trajeto que percorria e refletido nos olhos daqueles por quem ela passava o almejo de comida, não poupariam a vida do animal.
Aggie tinha escutado a respeito de uma enfermidade que aproximava-se sorrateiramente dizimando famílias, além da guerra que mantinha-se firme entre os cavaleiros reais perante as invasões dos vilarejos e a aniquilação de todo indivíduo que cruzasse o caminho deles. A peste, foi assim que ficou conhecida entre os sussurros pesarosos daqueles que nada poderiam fazer a não ser esperar a doença acometê-los, levando-os de encontro com a morte que abraçariam seus corpos findando o sofrimento que percorriam seus corações completamente acorrentados.
Boatos diziam ter sido a maldição das bruxas, após o degolamento de centenas de mulheres, entre elas crianças e adolescentes. A garota levou o pé para frente em busca de correr para o meio da mata, porém freou seu movimento ao ver as pessoas acorrentadas serem puxadas pelos homens de armadura. No rosto daqueles desconhecidos, ela nada pode ver além dos olhos que tornavam-se miúdos diante da máscara metálica em formato de burro, porém em suas pupilas ficou evidente que seguiam a trilha para o fim de suas vidas.
Havia descoberto que em Osborne eles realizavam julgamentos para aqueles que fossem acusados de bruxaria, participando do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, onde seria colocado em palavras as acusações alegadas entretanto aquilo não significava que os denunciados iriam receber uma sentença justa. Afinal o que pode ser considerado íntegro em meio aquele banho de sangue.
A jovem Carrier, escutou cochichos a respeito de um livro, o manual de tortura para os condenados por bruxaria e só ao imaginar tais atrocidades sentia o ar faltar em seus pulmões.
Virou-se para continuar seu trajeto, mas parou subitamente ao colidir o corpo contra outra pessoa, ecoando o som do metal que revestia a armadura. O pânico evidenciou-se no tremor de suas mãos que foram colocadas dentro do tecido sebento.
Firmou as pernas preparando-se para fugir, porém seu olhar encontrou com os dele, Erasmo sorriu ao vê-la. Ele tinha encontrado a pessoa desconhecida e orgulhava-se de sua procura ter o levado até ela ao reconhecer a linda mulher que o encarava atentamente, porém seu sorriso dissipou ao ver o pavor refletido nas íris claras dela.
— Não irei machucá-la. — Proferiu pausadamente, esperando que ela acreditasse em suas palavras. Aggie arregalou os olhos ao notar que seu encantamento não funcionava diante do príncipe.
Ele a via em sua aparência real e não a ilusória que criou para despistar os comerciantes irritados. Seus lábios ficaram secos e o nó se firmou em sua garganta ao constatar aquilo.
— O que você quer? — perguntou receosa ao ver a forma como ele a fitava profundamente e reconhecia a curiosidade em seus globos avelãs. Aquilo não terminaria bem, seria levada à fogueira caso o rapaz soubesse sobre a sua linhagem.
Erasmo virou o rosto analisando o beco onde estavam e puxou a mão da garota, contornando os cubículos daqueles corredores que serpenteavam entre as casas e só pararam quando o jovem teve certeza de que aquele lugar não possuía delatores. Ele abriu a porta de madeira que rangeu ao ter os dedos do príncipe sobre a maçaneta, empurrando-a para entrarem. Aggie permanecia calada esperando o momento que seria apedrejada.
O barulho da trinca se firmou e as respirações pesadas se tornaram o único som audível no decorrer dos segundos, até Erasmo pigarrear recebendo a atenção dela.
— Estou pensando se te considero corajosa demais ou muito ingênua ao ponto de vir justamente para o reino de Osborne. — Ela o fitou confusa, sem compreender as palavras proferidas — eu consigo sentir a magia que é transmitida por cada partícula de seu corpo. — Em um momento de temor, Aggie afundou o rosto nas mãos e chorou, sentia-se fraca depois de todos aqueles dias mantendo-se firme e treinando feitiços para se esconder, notou o fracasso de seu plano e agora chorava perante o príncipe atroz, filho daquele que ordenou o massacre de diversas famílias, incluindo a sua. As mãos quentes afagaram seus cabelos e o ato acalmou o seu coração. — Eu não irei denunciá-la, quem você é ou o que você faz não me diz respeito. — Erasmo sussurrou baixo, tentando consolá-la ao ver o pânico que ocasionou com uma simples frase e que naquele tempo de guerra poderia gerar a morte de mais uma pessoa inocente.
Aggie levantou cuidadosamente a cabeça encontrando o semblante sério dele e os olhos amendoados fixos aos dela. Uma sensação estranha preencheu o seu interior com a calmaria que ele transmita para ela.
— Peço perdão se te assustei quando a trouxe para cá, porém o julgamento seria realizado em praça pública e não poderia deixá-la ver uma cena horrenda como aquela. — Erasmo desviou o olhar envergonhado — ninguém deveria ser imposto a tamanha crueldade e exibido como um espetáculo em razão das crenças impostas.
Ela piscou em contemplação ao escutar a confissão, despertando a surpresa em seu semblante ao notar certa preocupação vinda dele. Eles eram completos desconhecidos e ainda assim o rapaz parecia querer ajudá-la.
— Não se preocupe, não há nada de novo que eu já não tenha tido o desprazer de assistir. — Declarou, recebendo o olhar atento do príncipe com a afirmação.
Erasmo se aproximou incerto e sentou-se ao lado dela.
— Sou Erasmo Magno, mas acredito que você já saiba a respeito de minha identidade. — Ela sorriu minimamente em concordância.
— Aggie Carrier. — Proferiu incerta se deveria revelar o seu nome.
— Carrier? — o jovem arregalou os olhos com a menção, recordando-se que havia sido justamente sobre aquela família que seu pai conversou com o seu conselheiro real, clamando por seus melhores cavaleiros para encontrarem algum familiar vivo.
Levou a mão até a armadura arrancando o folheto que decretava a recompensa para aquele que levasse uma bruxa forte e com dons curandeiros semelhantes ao da família Carrier para seu castelo, recebendo uma majestosa recompensa da coroa e um desejo concebido pelo próprio imperador.
Estendeu o papel para Aggie que o segurou e leu o conteúdo, sua visão escureceu ao se dar conta de que estava rodeada de caçadores de bruxa e que poderia se tornar a presa de um deles.
— Por que está me mostrando isso? — perguntou, analisando-o.
— Você não deve ficar em Osborne, contudo arrisco dizer que não conseguirá sair. O reino foi cercado pelos guardas reais em busca de bruxas. — Declarou com desgosto.
— Está me ajudando em troca de que? — Erasmo a olhou surpreso e atônito.
— Não quero nada! — Apressou em dizer, mexendo as mãos em negação suavizando a fisionomia ao ver Aggie relaxar os ombros ao seu lado — você me lembra alguém — comentou olhando para os dedos evitando encará-la — ela tinha a mesma aura boa que emana de você, mas poucas pessoas notaram isso e as que sabiam nada fizeram para impedir a morte de levá-la. — Confidenciou, sentindo as lágrimas se formarem no canto de seus olhos, ele passou o dorso da mão evitando deixá-las cair.
Aggie em um ato de compaixão o envolveu em um abraço desajeitado ao constatar que ele também havia perdido alguém em meio a tanto sofrimento. Ninguém sairia ileso da guerra.
— O que eu devo fazer? Não quero morrer ou ser levada a tortura. — Sussurrou com medo.
— Eu não deixarei, podemos pensar em algo, se eu tenho a chance de ajudá-la então farei sem medir as consequências de minhas ações. — Sentenciou Erasmo tirando um sorriso tímido dos lábios de Aggie que pela primeira vez após ir embora de Elsma sentia a esperança de um futuro ser restaurado dentro de seu coração.
Oie bruxinhas(os), deixa um comentário do que achou desse terceiro capítulo que me ajuda a melhorar a história! Vou amar saber a sua opinião.
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