O Desabafo de um Coração
Alguns dias se passaram e o Magistrado, a pedido da doutora, conseguiu algumas peças de roupa para o Coronel.
S/n às dobrou e seguiu para o quarto.
"E foi por isso que ela virou doutora." _Sarah concluiu o que falava assim que S/n entrou.
-Você passou a amanhã toda aqui mocinha. Já fez sua lição de casa? _Lowove perguntou
-Uhum. Fiz tudo que precisava fazer, ontem mesmo.
-Muito bem. Eu preciso que vá até a casa de Mai, ela irá nos dar uma Broa de fubá. Pode traze-la por favor?
-Sim. Vou num pé e volto no outro. _Sarah se levantou animada_-Depois voltamos ao assunto, Sr. Eu não demoro.
Sarah saiu correndo e S/n olhou para o homem vendo o pequeno sorriso ladino dele.
-Consegui essas roupas pra você. Não é nada requintado, mas estão em boas condições de uso e são do seu tamanho.
-Obrigado. _Ele agradeceu enquanto ela colocava as roupas no lado vago da cama. _-Devo ser um fardo para você.
-O quê?_S/n olhou para ele sem entender
-A menina me disse que você tem passado muito tempo cuidando de mim ao invés das outras pessoas e ainda por cima ocupei sua cama.
-Você está em processo de recuperação, então não é um fardo para mim, Coronel. E quanto a cama, não se preocupe, pois estou dormindo no quarto de Sarah.
Joll balançou a cabeça em negação
-Nunca será suficiente a minha gratidão por tudo que está fazendo por mim, doutora.
-Você está se esforçando para mudar e isso já é o suficiente para mim. _Ele olhou nos olhos dela sem saber o que dizer, então Lowove mudou de assunto_-Preciso cuidar de suas feridas, mas aconselho você a tomar um banho primeiro.
-Uh. Ok. _Joll franziu o cenho e se endireitou para levantar da cama. Ele conseguiu, mas desequilibrou um pouco, porém S/n o amparou em seus braços. _-Para onde devo ir?
Perguntou se referindo ao banheiro e S/n em silêncio o conduziu até lá. Ele tomaria banho dentro de uma espécie de banheira de madeira.
A doutora o ajudou a tirar as roupas, fazendo tudo com muita seriedade, já que também fazia parte da profissão: auxiliar seus pacientes no banho quando necessário.
Em seguida, Joll entrou na banheira apenas com a parte íntima da roupa e S/n preencheu a banheira com água para que o homem pudesse se lavar.
-Estarei esperando lá fora. O sabão está ali _apontou para a saboneteira. _-Quando terminar, me chame.
-Certo. Obrigado.
Aquele momento era um tanto constrangedor para ambos, embora necessário, pois aquele era o primeiro banho de Joll desde o ataque que sofrera.
Enfim...
Assim que Joll terminou de se lavar, ele saiu da banheira com ajuda da doutora. S/n enrolou a toalha na cintura dele e o deixou tirar a única peça de roupa que havia restado. Com uma única mão,ele conseguiu vestir as peças mais importantes como a samba-canção e a calça de algodão, logo Joll voltou para a cama para que S/n pudesse cuidar de suas feridas em processo de cicatrização.
Sendo ágil mais cuidadosa, Lowove tratou das feridas e alguns minutos depois ela terminou e o ajudou a vestir a camisa antes de colocar a tipoia improvisada novamente no braço, pois o ombro ainda precisava de sustentação.
Quando terminou de dar o nó na tipoia, Joll voltou a deitar e parecia mais relaxado.
-Obrigado pela ajuda. Estou me sentindo ainda mais revigorado após o banho.
-Isso é bom. Você ficará com essa tipoia por mais dois ou três dias, mas logo poderá tomar banho sem meu auxílio.
-Me desculpa se te constrangi, doutora. Não foi minha intenção.
-Está tudo bem. _disse ela recolhendo a roupa suja._-Você não é o primeiro homem que vejo sem roupa.
-O quê?_Joll ficou surpreso e S/n se segurou para não dar risada da cara que ele fez.
-Algumas vezes me submeto a situações como esta. Não é tão incomum quanto parece.
-Acho que agora eu é que estou constrangido. _disse ele fazendo uma careta que ocasionou uma risada espontânea dela, algo que Joll apreciou ao ouvir.
-Você deveria sorrir mais vezes.
Ele pensou em voz alta e S/n se recompôs
-E-eu sinto muito. Não era pra ter dito isso em voz alta.
-Não tem problema. Vou levar essas roupas pra lavar. Com licença.
-Hum...toda.
Joll percebera que havia a deixado sem graça e se sentiu mal por isso, ainda mais por ela não ter voltado ao quarto depois. Apenas a noite quando S/n levou para ele o jantar.
...
S/n mais uma vez o ajudou a comer. E enquanto ela limpava a boca dele com um pano, Joll olhou diretamente para os olhos C/o. (Cor dos seus olhos)
-Você está séria._disse ele_- Foi algo que eu disse mais cedo?
-Ham? Não. Eu estou normal.
A doutora recolheu a bandeja, mas parou o que fazia quando o ouviu pronunciar seu nome.
-S/n!
Ela o olhou. Joll engoliu seco e continuou a falar.
-Você foi a primeira pessoa que teve coragem suficiente para me enfrentar quando nos conhecemos e eu admirei seu empoderamento. Você ainda não sabe, mas naquele dia, sua atitude me fez refletir sobre como tenho levado minha vida, me corrompendo a ganância e a soberba. Fui tão injusto com você quanto fui com aquelas pessoas, e pensar sobre isso está sendo torturante para mim. _ele respirou fundo_-Em um momento percebi que tudo aquilo que eu fazia não me agregava em nada_ele dizia gesticulando com a mão livre_-Enquanto eu torturava cada homem e cada mulher, ao invés de me sentir bem ao cumprir uma ordem, eu simplesmente me afundava ainda mais ao desespero e a infelicidade. Muitos viam o homem frio que eu era por fora, mas por dentro eu estava devastado e só tive noção disso quando te conheci. _ele olhou para a doutora que o olhava com atenção _-Por isso, muito obrigado, e, espero que um dia você possa me perdoar.
-Não está longe disso vir a acontecer, Coronel.
Ele sorriu com a resposta dela
-Boa noite.
-Boa noite S/n.
Ela acenou com a cabeça e saiu do quarto deixando o homem pensativo para trás.
...
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