Epílogo

Deixei todas as pessoas que me cumprimentavam e me parabenizavam para trás e corri ao seu encontro. Pedi desculpas a eles e disse que voltaria depois e continuei correndo em direção ao homem que eu amava.

Ao colocar os pés para fora, a primeira coisa que senti foram os pingos molhados da chuva tocarem todo o meu corpo. Aquilo não me desencorajou, e eu parei no meio da calçada de Manhattan, ouvindo as buzinas incessantes dos motoristas que trafegavam pelo trânsito intenso, buscando no meio das luzes e das pessoas, Arthur.

— ARTHUR! — gritei, olhando para os dois lados, com a chuva e a escuridão atrapalhando a minha visão.

Eu me sentia quase sem esperanças. Eu tinha saído do teatro quando vi que ele estava indo embora, mas eu não consegui chegar a tempo de alcança-lo. Abaixei os ombros e senti a chuva inundar o meu corpo, sentindo-me idiota por ter ido atrás dele.

O que eu falaria, afinal?

Dois anos tinham se passado, e Arthur provavelmente deve ter me esquecido. Foi melhor assim, afinal de contas.

— Você estava linda lá em cima. — disse Arthur, atrás de mim. Me virei bruscamente com o corpo tremendo de frio e o coração agitado. Ele também estava encharcado como eu, e abriu um sorriso lindo.

Engoli em seco e me aproximei dele o suficiente para poder reparar que sua barba tinha crescido um pouco, e que seus olhos ainda tinham pontinhos pretos.

— Como você me achou?

— O cartaz da sua peça está por todos os lugares de Nova York. Nossa turnê está passando por aqui então pensei em te ver. — Ele ruborizou, corrigindo-se logo em seguida — Quero dizer, ver a sua peça.

Tentei não ligar para a sua correção, me animando com o fato de que o meu mentor tinha me visto nos palcos da Broadway protagonizando uma peça de sucesso.

— E o que achou?

— Foi incrível, como todas as peças da Broadway. O sucesso combina com você. Soube que essa é a quarta protagonista que você faz. — Ele sorria para mim, e meu coração se aqueceu com aquele sorriso. Eu me sentia iluminada só por estar recebendo aquele sorriso. O silêncio começou a se tornar incômodo, e eu ainda não queria que a noite acabasse.

— Por que não tomamos um café? — sugeri, repleta de animação, mesmo que um diluvio caísse em cima de nossas cabeças.

O sorriso amistoso de Arthur cedeu um pouco e meu coração se apertou com a possibilidade de que ele recusasse o convite.

— Claro. — Arthur colocou as mãos nos bolsos e começamos a dar uma corridinha até a cafeteria mais próxima. A chuva foi diminuindo um pouco, mesmo que agora não adiantasse muito, uma vez que nossas roupas já estavam encharcadas

— Como estão as coisas? Com a banda e tudo mais? — perguntei assim que nos sentamos. Nosso café logo ficou pronto, e pedimos pães de queijo para acompanhar.

— A banda tem feito muito sucesso, eu e os caras estamos muito felizes. Nunca pensamos que a nossa banda faria tanto sucesso fora do Brasil.

— Estou muito feliz por vocês. — confessei, vendo os olhos de Arthur brilharem ao falar da banda.

— A melhor coisa que eu fiz foi ter cortado relações com o meu pai. Minha mãe foi me procurar, e nós estamos nos entendendo.

Arregalei os olhos com aquela revelação. A mãe de Arthur tinha sumido quando o mesmo ainda era pequeno, por causa do Arnaldo, e nunca mais dera notícias.

— E como foi reencontra-la?

— Foi estranho, a princípio. Ainda estou me adaptando, na verdade. Ela parece ser legal. Nos falamos regularmente e sempre que estou no Brasil, marcamos de nos encontrar.

— Que bom... — Fiz que sim com a cabeça, tentando pensar no que mais poderíamos conversar.

Nós conversamos sobre amenidades a maior parte do tempo, e eu tomei meu café devagar para que eu pudesse aproveitar cada segundo que eu tinha com Arthur. Porém, quando ele olhou em seu relógio de pulso e me disse que já estava tarde, eu murchei.

— Melhor irmos, a sua namorada deve estar se perguntando onde você está. — comentei, tentando não me sentir incomodada com as notícias que eu lia vez ou outra na internet envolvendo Arthur com alguma mulher muito bonita.

— Eu não estou namorando. — revelou, abrindo um sorriso irônico.

— Ah...

— Não acredite nas coisas que você lê na internet. — alertou, dando uma piscadela para mim. Por algum motivo, aquele comentário me irritou.

— Eu não procuro seu nome na internet, Arthur.

Arthur deu uma risada.

— Então tá...

Nós nos levantamos e eu já me sentia mau humorada pelo rumo que a conversa tinha tomado. As palavras que eu queria realmente dizer estavam entaladas na minha garganta. Eu queria gritar que eu nunca tinha lhe esquecido, e que dar as costas para ele foi uma das decisões mais difíceis que já tomei, porque eu o excluí da minha vida ao ponto de ignorar todas as suas tentativas de puxar assunto comigo pela internet. Eu agi como uma idiota, e me culpava por isso, mas as coisas que eu precisava dizer ficaram presas na minha garganta enquanto pulsavam com força dentro da minha cabeça.

— Vou chamar um táxi para você. — Ele esticou o pescoço no meio fio, procurando um táxi no meio da estrada movimentada. A chuva já tinha parado.

— Eu nunca te esqueci. — revelei, fazendo Arthur olhar para mim no mesmo instante. — Te deixar naquele dia no CBA foi a pior coisa que eu pude fazer, mas eu me sentia desconectada de mim mesma e envergonhada por tudo o que fui exposta naquele telão. Sei que te ignorei e que nunca mais te procurei, mas é você que não sai do meu coração. Talvez isso não signifique mais nada, mas eu precisava te falar que eu ainda te amo, e provavelmente sempre vou amar.

Arthur ficou parado ali me encarando em silêncio, enquanto a vergonha ia me consumindo. Não acredito que tive coragem de falar todas aquelas coisas no meio de Manhatan, no meio de todo o tráfego de pessoas que transitavam por ali, sem nem um pouco de romantismo.

— E você acha mesmo que eu esqueci você, Dianna? Sempre foi você e ninguém mais. Eu fiquei magoado, mas entendi e respeitei a sua decisão. Foi difícil, mas você nunca saiu do meu coração. E eu te amo. Sempre te amei. Sonho com esse reencontro quase todas as noites. E... Sempre foi você. Sempre vai ser você, Dianna. — Ele abaixou os ombros, parecendo cansado.

Eu o abracei fortemente. Era tudo o que eu queria fazer desde que eu o vi. Arthur estava ali, perto de mim, e isso foi o suficiente para que meu coração se aquecesse. Nós nos beijamos, e o calor que senti foi capaz de incendiar todo o meu corpo. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti que havia conquistado tudo o que eu queria.

Eu tinha ganho as minhas asas, e o cara que eu amava na mesma noite.


Notas da autora:

Obrigada a todos que chegaram até aqui. Em breve, teremos um capítulo bônus para vocês <3

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