Capítulo 7 - O Duelo
As luzes de neon piscavam em várias direções, fazendo com que eu ficasse meio zonza. Tive que me apoiar no braço de Clara para não perder o equilíbrio e me manter atenta, pois eu tinha medo de cair ou de alguém pisar no meu pé.
Clara parecia uma criancinha e olhava para o salão de festas do CBA com os olhos brilhando e com um sorriso enorme no rosto. Eu até teria ficado impressionada como ela, se não estivesse me sentindo tão deslocada.
O salão era enorme e as luzes estavam fortes o bastante para me incomodarem. Já a música, que tocava num volume ensurdecedor, me fazia sentir a maior vontade de dançar.
A maioria dos alunos se encontravam na pista de dança, se esbaldando. As roupas que alguns usavam era repleta de brilhos e lantejoulas e eu já estava esperando encontrar alguém vestido com uma roupa semelhante à da Lady Gaga.
Os fotógrafos e os cinegrafistas já marcavam presença por ali, chamando a atenção de alguns alunos, que se enfiavam na frente das câmeras para dançarem de forma chamativa, na esperança de que se destaquem e saiam nas próximas gravações do programa.
Era meio estranho tudo aquilo.
— Olá, meninas! AMEI o look de vocês! Estão lindas, lindas, lindas! — Marlon apareceu em nossa frente com um modelito tão chamativo quanto o das outras pessoas. Ele usava um blazer dourado cheio de purpurina e uma calça jeans rasgada nos joelhos com detalhes em dourado bem semelhantes ao de seu blazer.
Clara definitivamente era uma das garotas mais bonitas da festa. Ela usava um vestido vermelho que ia até a metade de suas coxas. Ele era bem justo na cintura, mas não chegava a ser indecente. Seus cabelos ondulados estavam soltos e brilhosos.
Eu usava um vestido branco rodado que ia até a metade das coxas. Ele era um pouco mais cumprido do que o de Clara, mas tinha um decote razoavelmente constrangedor para uma pessoa que não tinha o costume de usar roupas mais ousadas.
Acho que a pequena conversa que eu tive com o Arthur me fez colocar aquele vestido. Ele era a peça mais ousada que eu tinha em meu guarda roupa, e no momento em que o peguei, senti que precisava usá-lo. Sei que tenho que me arriscar mais, mas acho que colocar um vestido que eu habitualmente não usaria era um bom começo.
Clara havia feito uma hidratação em meus cabelos, fazendo com meus cachos ficassem mais macios e brilhosos.
— Obrigada! Você também não está nada mal, Marlon — observou Clara, olhando para o blazer de Marlon com um sorriso no rosto.
— Mas disso eu já sabia, queridinha. — Ele respondeu, fazendo uma daquelas jogadas estratégicas de cabelo.
Apertei os olhos para olhar para o restante das pessoas que estavam no salão de festas e encontrei Deborah parada ao lado de Leandro. Ambos pareciam estar detestando a companhia um do outro, ao julgar pelas carrancas que seus rostos demonstravam.
Virei o rosto bruscamente antes que Deborah ou Leandro percebessem que eu os observava e acabei encontrando Arthur. Ele parecia meio chateado, escorado numa pilastra e segurando um copo de uma bebida escura e estranha.
Seus olhos pareciam estar tão longe dali quanto a sua cabeça estava e por um momento me peguei pensando com curiosidade no que fazia Arthur ser tão triste. Ele era um professor formidável, dava para perceber o quanto ele gostava de nos ensinar, e era meio triste ver o quanto Arthur podia se destacar no meio da multidão em uma festa só por estar com um semblante desolado.
Antes que eu pudesse formular alguma tese interessante, Arthur levantou os olhos e me viu. Eu desviei o olhar na hora, constrangida por ter sido pega no flagra.
— Clara, vou pegar um refrigerante para mim. — Alternei olhares entre Clara e Marlon. — Vocês vão querer alguma coisa?
— Eu quero aquele gatinho ali. — Marlon apontou com o queixo para um bailarino alto e fortão.
— Não, Dianna, obrigada. Ficaremos por aqui pensando em alguma estratégia para atrair os cinegrafistas e os fotógrafos.
— Tudo bem. Eu já volto.
Comecei a andar pelo lugar e tentei parar de pensar nos problemas dos outros, mas eu não conseguia retirar de dentro do meu peito a sensação de que Arthur precisava de ajuda. Eu já fui uma fã praticamente alucinada e conheço o trabalho de Arthur como a palma da minha mão e tenho quase certeza de que ele não está bem.
Tudo bem, eu sei que essa é a primeira vez que o vejo pessoalmente e que nunca tive nenhum tipo de vínculo com ele ou com alguém de sua família, mas Arthur tinha os olhos muito tristes e era difícil vê-lo daquele jeito.
Resolvi sair do salão de festas assim que senti que estava exagerando ao pensar naquelas coisas e acabei encontrando Deborah parada no corredor escuro. Ela conversava com um homem alto e robusto, mas não consegui olhar para seu rosto. Não sei em que momento ela saiu do lado de Leandro, pois eu estava ocupada demais prestando atenção em Arthur, mas aqui estava ela.
Decidi me escorar na parede oposta a que eles estavam assim que percebi que eles poderiam me ver voltando para o salão de festas. Sair dali havia se tornado uma opção inviável quando vi Deborah se virando de lado.
A música alta da festa não impediu que eu ouvisse trechos da conversa dos dois.
— Ela não pode permanecer neste concurso — bradou Deborah, furiosa.
— Não posso fazer nada quanto a isso, Deborah — A voz do homem que a acompanhava era tão fria e cortante que eu instantaneamente fiquei com medo.
— Eu quero aquela garota fora do concurso! — exclamou, com os olhos apertados. — A mãe dela acabou com a minha vida!
— Não faça drama, e eu verei o que posso fazer. — O homem respondeu, deixando Deborah falando sozinha. Por sorte, ele se virou na direção contrária e não me viu.
Aproveitei que Deborah tinha resolvido segui-lo e voltei correndo para o salão de festas com o coração acelerado e as mãos tremendo. Naquela altura do campeonato, eu já havia me esquecido de que ia pegar um refrigerante.
Acabei batendo de frente com Arthur. Minha testa colidiu com seu peito e meus cabelos voaram por várias direções diferentes, cobrindo parcialmente o meu rosto.
Levantei minha cabeça para poder olhá-lo nos olhos. Ele ainda não parecia muito contente.
— Vai tirar quem da forca, Pequena Rebelde? — Ele tinha um sorriso no rosto, mas os olhos ainda transmitiam uma tristeza quase palpável.
Pensei em responder: "Você, mas vai ser pra te enforcar mesmo e não para tirar da forca!", mas eu estava tão assustada que só consegui olhar para ele com os olhos arregalados.
Era estranho, mas eu me sentia incluída de alguma forma nas ameaças de Deborah e eu não sabia explicar o motivo.
— O que aconteceu? — Ele franziu as sobrancelhas quando percebeu que eu estava assustada e segurou minhas mãos. — Nossa, você está gelada.
Me afastei instintivamente dele quando senti o contato de suas mãos com as minhas e saí andando de forma desgovernada pelo salão de festas.
— Está tudo bem com você? — Arthur veio atrás de mim e segurou meu pulso para me frear quando viu que eu não o responderia.
— Está tudo ótimo — respondi. Ficamos nos olhando por alguns segundos. Até pensei que Arthur falaria mais alguma coisa, mas senti um flash de uma câmera vindo em direção ao meu rosto e fechei os olhos para me recuperar.
— Lindos, fabulosos! — disse uma fotógrafa, se agachando para tirar mais uma foto minha com Arthur, que ainda segurava o meu pulso.
Nos afastamos alguns centímetros quando percebemos que a fotógrafa não pretendia parar.
— Chega de fotos, por favor. — Arthur usou um tom de voz firme. A mulher parou de nos fotografar na hora e um sorriso empolgado apareceu em seu rosto quando ela viu um dos competidores gravando um vídeo de dança no Tik Tok.
— Dianna, você está linda! — Diego apareceu em minha frente, sorrindo. Ele estava todo alinhado e cheiroso. Abri um sorriso ao vê-lo e percebi que Arthur já havia saído de perto de mim.
Olhei ao meu redor, procurando pelo meu professor, mas ele parecia ter desaparecido como fumaça.
— Obrigada, Diego. — Sorri timidamente para ele. — Vou pegar uma bebida e encontrar Clara e Marlon.
Diego me acompanhou até o balcão de bebidas, onde pegamos refrigerante. Ele me seguiu pelo meio da festa e encontramos Clara e Marlon parados perto de alguns alunos da sua turma. Assim que nos viram, acenaram e vieram correndo ao nosso encontro.
Porém, Clara tropeçou e esbarrou em Barbara, que ficou irritada na hora.
— Sua idiota! — esbravejou, fuzilando Clara com os olhos. — Você não olha mesmo para onde anda, não é?
— É que você pode ser facilmente confundida com uma mosca morta — respondeu Clara, lhe dando um olhar falsamente angelical.
— Não sei como vocês conseguiram entrar nesse concurso — Barbara apontou para mim, Diego e Marlon com a cabeça, — Aposto que nem sabem dançar direito e que só estão aqui porque pagaram o Arnaldo.
Barbara nos olhou com desdém, mas Clara me puxou pelo pulso para o meio da pista de dança junto com Diego e Marlon. Barbara também juntou seu grupo de Barbies loiras e por um momento eu achei que todos nós iríamos entrar em uma briga.
Eu entendi exatamente o porquê de estarmos todos ali quando a galera gritou e os cinegrafistas se aproximaram de nós.
Havíamos acabado de entrar em um duelo de dança.
Eu até tentei escapar, mas Clara me impediu, segurando o meu pulso mais uma vez. Eu e ela tiramos os sapatos e os jogamos para longe. Larguei meu refrigerante quase intacto em cima de um balcão ali perto. Meu coração acelerou de medo, mas eu me recusei a prestar atenção nisso naquele momento.
Uma música que eu conhecia e gostava começou a tocar e Barbara e suas amigas começaram a mover os quadris de um lado para o outro. Duas de suas amigas começaram a fazer acrobacias, como estrelinhas e pontes invertidas. Logo em seguida, as quatro se juntaram e começaram a fazer uma sequência onde seus quadris se mexiam ao mesmo tempo que seu corpo e sua cabeça.
Elas dançavam muito bem e o alvoroço do público foi grande.
O quarteto deu um passo para trás e eu soube que era a nossa vez.
Comecei levantando a perna lá no alto e dei um giro logo em seguida. Clara, Marlon e Diego me imitaram e quando menos percebi, havíamos invertido a sequência que aprendemos na primeira avaliação do CBA.
Nós nos movíamos com perfeita sincronia. Nossos braços e pernas pareciam ter vida própria e quando percebi, eu e Clara dançávamos pelo salão de festa com graça, enquanto os meninos dançavam com precisão.
Estiquei minha perna novamente, dando várias piruetas. Meu vestido balançava tanto quanto o de Clara, enquanto girávamos no ar.
Corremos na direção de Diego e Marlon e ambos nos levantaram no ar. Impulsionamos nossos corpos para cima e abri os braços, sorrindo. Me senti leve, feliz e liberta naquele momento, enquanto ouvia a galera gritar de forma mais enérgica.
Diego me colocou no chão e segurou minha cintura, arqueando minha coluna para trás e me puxando de volta logo em seguida. Eu senti meus cabelos grudando no rosto e senti meu nariz quase tocando o dele. Pareceu que tudo ao meu redor ficou em câmera lenta por alguns segundos, mas me separei dele quando vi que Barbara e suas amigas saíam do salão de festas chorando.
A galera gritava ao meu redor, enquanto eu só conseguia pensar em uma coisa:
Nós havíamos ganhado o duelo.
E talvez, após essa noite, uma página no Facebook.
[...]
Me levantei meio zonza naquele dia. Talvez pelo fato do sol ainda não ter nascido, ou pelos meus pés estarem me matando.
Afinal, ontem foi uma festa e tanto!
Barbara e Clara dormiam em suas respectivas camas enquanto eu aproveitava para pegar minhas roupas de ginástica e minhas sapatilhas. Eu iria para um dos inúmeros estúdios de ballet do CBA para treinar afim de me preparar para as avaliações que eu teria.
Arthur havia anunciado que seu pai estava pensando em colocar a data das duas primeiras avaliações para o mesmo dia. Uma seria de canto e a outra, de dança.
Só não sabíamos ainda o que teríamos que preparar.
Corri para o estúdio de ballet e prendi meu cabelo num rabo de cavalo alto. Liguei o rádio baixinho e tive medo de que alguém me descobrisse.
Assim que comecei a me alongar, vi Arthur escorado na porta com os braços cruzados. Ele me olhava de um jeito tão intenso que eu não consegui desviar o olhar.
— Belo show ontem à noite, Dianna. — Suas feições estavam sérias e eu notei que o elogio era mesmo sincero.
— Obrigada — respondi, sentindo as minhas bochechas queimarem.
— Sério mesmo, você me impressionou. — Ele me olhava de uma maneira que me deixava arrepiada. — Mais uma vez. — Engoli em seco, tentando entender porque as minhas mãos começaram a tremer de uma hora para a outra. — Bom, acho que você sabe que é proibido usar o estúdio de ballet para treinar sem autorização. Da próxima vez, arrume uma na secretaria. Vou fingir que autorizei previamente a sua presença nesse estúdio, tudo bem?
— Obrigada. — Abri um meio sorriso agradecido para ele, me sentindo uma idiota por só conseguir agradecer. Eu queria falar mais alguma coisa, mas a verdade é que eu ainda estava nervosa demais para formular algo melhor do que um mero agradecimento.
Arthur fechou a porta do estúdio e eu suspirei de modo aliviado.
Fiquei me perguntando porque o meu coração estava batendo tão rápido dentro do peito e porque eu ficava tão nervosa na presença do Arthur, porém, não obtive as respostas que eu tanto queria.
Assim que eu terminei de treinar, fui correndo para o alojamento tomar um banho. As aulas logo começariam e eu queria estar cheirosa e apresentável. No entanto, assim que entrei em meu alojamento, ouvi gritos.
Clara e Barbara estavam discutindo dentro do banheiro.
Com medo do que podia ter causado aquilo, eu corri, mas parei abruptamente ao ver o notebook de Barbara em cima da cama. Meus olhos congelaram na tela e minha boca ficou seca.
Na foto, Arthur e eu parecíamos muito próximos. Ele segurava o meu pulso e até parecia mesmo que tinha rolado um clima entre a gente. Eu o olhava bem de perto e nos encarávamos de um modo que não consegui descrever.
Porém, o que me deixou mais chocada foi a legenda da foto:
"Dianna Smith mal chegou ao concurso, mas já quer garantir o seu lugar na final tentando seduzir o professor Arthur Nogueira."
Eu tinha certeza de que aquilo era obra de Barbara.
Meus olhos começaram a arder e minhas mãos, a suar.
Antes mesmo que eu pudesse assimilar a repercussão que aquela foto traria, eu desmaiei.
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