Capítulo 40 - Sangrando no chão (PARTE 1)

— Na verdade, nós não sabemos se é a página do diário, mas é uma página rasgada. — Diego corrigiu a ruiva.

— Como vocês acharam isso?

— A maluca deixou cair a bolsa aberta no chão. Digamos que fui mais rápido que ela e peguei o papel. — Diego realmente parecia orgulhoso de seu feito.

— Uau, estou impressionada. — debochei dele de implicância. Meu amigo estirou a língua para mim, rindo.

— E o que tem escrito? — Marlon estava mais curioso do que eu.

— Olhem só. — Clara abriu o papel e o entregou em minha mão. Marlon esticou o pescoço para poder olhar o que estava escrito.

A página rasgada continha um nome, uma anotação estranha e um número de telefone.

Edvaldo

21998878515

Contatar neste número.

Ela me paga.

— Quem vocês acham que pode ser esse Edvaldo? — perguntei, encarando o papel como se mais pistas escondidas fossem pipocar no meu rosto a qualquer instante.

— Nós ainda não tentamos ligar, viemos te encontrar para que você decida o que vai fazer. — explicou Diego, me encarando firmemente nos olhos.

— E aí, o que você vai fazer? Não querendo me meter, mas já me metendo, acho que você deveria ligar para esse número. — Clara sugeriu, encarando o papel em minha mão.

Estrilei com as possibilidades que começaram a rondar a minha cabeça.

— E o que eu vou dizer? Eu não faço a mínima ideia de quem é esse cara. E se ele for perigoso?

— Esse é um risco que precisamos correr. — Respirei fundo, tentando controlar toda a tensão que se apossou do meu corpo. O meu coração parecia uma batedeira elétrica de tão acelerado — Se você quiser, eu posso ligar dizendo que sou uma secretaria da Deborah que esqueceu com ele alguma coisa, sei lá. — disse Clara, dando de ombros de forma despreocupada.

— Tomara que isso dê certo. — desejei, colocando na mão de Clara o papel.

A ruiva retirou do bolso seu telefone e discou os números que constavam no papel.

— Coloca no viva-voz! — pedi, ao que a ruiva abanou o ar com a mão.

Ela fez o que eu pedi enquanto eu, Marlon e Diego nos aproximávamos ainda mais da ruiva, que estava tão aflita quanto eu. Nós fomos para um canto mais isolado e sem muitos ruídos, para que nada pudesse interferir na ligação. Meu coração acelerou quando uma voz masculina atendeu o telefone.

Ed falando.

— Que jeito mais cafona de atender o telefone. — sussurrou Diego, recebendo de Clara um tapa no ombro.

— Boa tarde, eu sou a Sra. Smith, a nova secretária da Deborah. Ela me pediu para te contatar porque acha que esqueceu um documento importante com você.

— Smith? Ficou maluca? — sussurrei também, nervosa pela ruiva ter dado o meu sobrenome para o cara.

Clara colocou o dedo sobre a boca, pedindo para que eu me calasse. A linha ficou muda por uns instantes, e eu temi que o homem tivesse desligado na nossa cara.

Eu não trabalho mais para a Deborah. — alegou, aparentando estar tão nervoso quanto nós, algo que causou certa estranheza em mim e nos meus amigos.

— A questão não é essa. A Deborah tem certeza de que deixou um documento com você e quer que eu vá pegar. — Clara respondeu, usando uma voz tão áspera que eu mal a reconheci.

E que documento seria esse?

A ruiva nos encarou com os olhos arregalados. Seríamos pegos na mentira nesse instante e tudo iria por água abaixo se Clara não pensasse rápido. Diego, Marlon e eu começamos a andar de um lado para o outro, nervosos por não conseguirmos ajuda-la de nenhuma forma.

— Cópias de alguns documentos antigos e dos trabalhos que você fez para ela. A minha chefe quer que você devolva tudo.

Sempre temperamental! — debochou. — Tudo bem, me encontre no Café Dorset, na rua Almeida Braga as sete da noite em ponto de amanhã.

— É quase na hora do toque de recolher! — estrilei, sussurrando para ela com os olhos arregalados.

— Tudo bem. Eu vou estar com um casaco vermelho.

Clara desligou a ligação com um sorriso ferino no rosto.

— Eu não tenho casaco vermelho! — exclamei, sabendo que seria eu a ir nesse tal encontro com o homem misterioso. — E não tem jeito de ir e voltar antes do toque de recolher da escola.

— Não se preocupe, você vai usar o meu casaco. E sobre o toque de recolher, você sabe que pode pedir ajuda a um certo alguém. — Minha amiga me lançou um olhar sugestivo e eu entendi a quem ela se referia. Só não sabia se teria coragem de falar com Arthur sobre o plano, não depois de tudo o que havia acontecido entre nós.

Diego e Marlon não entenderam nada.

— Esse bairro que ele quer encontrar a Dianna é perigoso. Não podemos deixa-la ir sozinha até lá. — Marlon estava preocupado.

Minha amiga se virou para ele.

— E quem disse que ela vai sozinha? — Clara indagou, arqueando uma sobrancelha e dando um sorriso esperto.

[...]

O toque de recolher do CBA estava prestes a tocar, mas eu não conseguia dormir. Amanhã seria um dia de extremo estresse, pois anunciaram que a avaliação surpresa ocorreria no dia seguinte, no mesmo dia que meu pai chegaria. Também me encontraria com um homem misterioso que talvez saiba sobre o que realmente aconteceu com a minha mãe no dia em que ela morreu, o que só atenuava a ansiedade presente dentro de mim.

Eu andava pelos corredores de forma aflita, quando ouvi o som da voz de Tony e a de Arthur em um dos estúdios de canto. Me escorei na janela onde eles estavam tocando e fiquei ouvindo suas vozes melódicas enquanto ensaiavam uma música que eu não conhecia.

Me senti feliz por Arthur finalmente fazer o que gosta, mesmo que seja escondido.

Ainda não havia decidido se falaria com ele a respeito do que eu iria fazer amanhã. Não tinha coragem de falar com Arthur pessoalmente, e também não conseguia mandar mensagem para ele comunicando meu plano insano. Eu não sabia como agir desde aquele beijo, e não conseguia evitar o distanciamento. Acho que eu tinha medo de que Arthur repetisse o discurso de que deveríamos fingir que nada havia acontecido, porque me doía demais ouvi-lo, mesmo sabendo que ele estava certo.

Foi por isso que eu me afastei da janela cuidadosamente e deixei que a banda ensaiasse. Eu simplesmente não tinha coragem de mandar mensagem para ele naquele momento.

— Eu não sei o que vestir! — estrilou Marlon, deitado na minha cama e espalhando todas as suas roupas nela. — Se nós pelo menos fôssemos avisados da modalidade de cada teste surpresa, eu não estaria preso nesse dilema!

— Se eles nos avisassem, não seria um teste surpresa. — constatei o óbvio, recebendo em resposta um olhar enviesado do meu amigo.

— Como escolher um figurino se nós nem sabemos o que vamos apresentar? — Marlon continuou preso em seu dilema, olhando para o teto com um olhar perdido.

— Pelo sim ou pelo não, eu vou usar esse vestido que usei em um recital de dança no ano passado. Ele é leve, e se eu tiver que dançar, cantar ou encenar, ele não vai atrapalhar o meu número. — pontuei, olhando com admiração para aquele vestido. Mamãe havia comprado para mim há muito tempo, mas eu só tive coragem de usá-lo em um recital no ano passado.

Era um vestido bem claro e brilhoso. Não chegava a ser chamativo, mas era singelo e bonito.

— Que lindo, Di! — exclamou Barbara, olhando admirada para o vestido.

Clara, que fazia cachos no cabelo loiro de Barbara, virou a cabeça da loira para a frente para que Clara continuasse o que estava fazendo sem correr o risco de queimar o couro cabeludo de Barbara. A relação das duas estava melhorando, e eu me sentia bem em vê-las nesse clima de paz.

— E você e a Gabriela? Como estão? — Clara perguntou para Marlon, abrindo um sorriso malicioso. Ele não deveria estar no nosso alojamento, mas o nervosismo tirou o lugar do seu bom senso.

— Eu estou pensando em beija-la hoje, depois que essa tortura de teste surpresa terminar.

— Que ousado! — exclamei, prendendo parte do meu cabelo com grampos.

— Eu acho que ela quer que eu a beije. Sempre rola um clima entre a gente, e se um de nós sair hoje, quero sair daqui com a consciência tranquila.

Todos nós suspiramos ao mesmo tempo. A verdade é que o nosso tempo no CBA começava a entrar praticamente na reta final, e o medo de sermos desclassificados conseguiu envolver todos nós ao mesmo tempo.


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