Capítulo 32 - Preocupações (PARTE 1)

"Desde o início eu sabia que essa garota era a preferida do concurso."

"Como você conseguiu convencer Arthur a dançar com você, Dianna? Com uma rapidinha? Você é menos ingênua do que eu pensava."

"Já sabemos quem é que vai ganhar esse concurso."

"O que deixou a coreografia bonita foi o Arthur dançando. Pelo amor, né gente? Essa Dianna é muito sem sal."

Paralisada. Era assim que eu me sentia no momento. Não havia nada nesse mundo que iria conseguir me descongelar. Eu simplesmente não conseguia desviar o olhar de todos os comentários maldosos que apareciam naquele vídeo. Minha mão era a única que se mexia, e ela direcionava o mouse para baixo, para que eu conseguisse ler mais comentários.

Eu conseguia ouvir um zumbido bem longe em meus ouvidos, mas se alguém me perguntasse o que acontecia a minha volta, eu tenho certeza absoluta de que não conseguiria responder nada.

— Dianna! — Clara exclamou, puxando a cadeira de rodinhas em que eu estava sentada para trás e se posicionando na frente da tela do computador. — Chega de olhar para essas coisas. São comentários de haters idiotas que não tem mais o que fazer além de odiar a própria vida e a vida dos outros. São pessoas que se odeiam tanto que querem arruinar a vida de todas as pessoas que puderem só para que elas se odeiem também.

Uma vez eu disse para a minha mãe que não sabia se seria capaz de lidar com a fama que a minha carreira provavelmente me traria, e ela respondeu que eu sou mais forte do que penso. No entanto, eu não consigo enxergar toda essa força que ela via em mim. Eu só consigo enxergar o desespero que eu sinto ao ler tantos comentários horríveis.

— Eu não sei como o vídeo foi parar aí, só sei que um anônimo me mandou esse link do Youtube pelo Facebook. — explicou Barbara, parecendo se justificar.

— Tem certeza de que não foi você que pôs esse vídeo aí? — indagou Clara, apontando para a loira com os olhos acusatórios.

— Achei que já tivéssemos passado dessa fase! — Ela exclamou, olhando para nós com certo desespero.

— Eu preciso ficar sozinha. — anunciei, me levantando e saindo de perto das duas.

Os corredores do CBA pareceram ficar maiores à medida que a minha vontade de sair dali ia aumentando. Alguns alunos olharam para mim com superioridade, como se realmente gostassem de me ver daquele jeito.

O canal do Youtube que tinha postado o vídeo era novo, e só tinha esse vídeo upado, o que me fez crer que alguém tinha feito uma conta fake de propósito somente para me prejudicar.

Comecei a correr quando percebi que não iria suportar tantos olhares de desprezo, e quase trombei com a Deborah quando eu estava saindo. Ela tentou me parar segurando meu braço, mas eu me desvencilhei antes que ela conseguisse. O Dragão me olhou de um jeito vitorioso, e isso me irritou tanto que eu tive vontade de voltar e estapear o rosto dela.

Eu nunca tinha sentido tanta raiva em toda a minha vida.

Diminuí o passo quando vi que haviam poucas pessoas no campus do colégio e me senti mais relaxada com o vento frio que envolvia meu corpo. Deixei algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto e senti meu corpo todo tremer quando parei atrás de uma árvore.

— Eu não vou conseguir, eu não sou forte o bastante, mãe. — sussurrei com tristeza, me camuflando atrás da árvore.

Se eu pudesse, eu já estaria longe do CBA há muito tempo, mas já estava anoitecendo e eu não queria sair por aí sem rumo.

— Dianna. — Arthur segurou em meu braço com delicadeza. — O Arnaldo quer falar conosco. A sós.

Assenti fracamente com a cabeça, mas algo em meu olhar denunciou o quão fragilizada eu estava. Arthur afagou meu ombro com carinho e, como se simplesmente estivesse cansado demais de toda a situação, me puxou para um abraço apertado. Ali, eu chorei tudo o que eu havia guardando dentro de mim. As frustrações, preocupações, mágoas e tudo que me incomodava. Nos braços de Arthur, eu me senti aliviada em poder colocar tudo o que eu sentia para fora sem restrições. Era como se o calor dos seus braços fosse o meu refúgio.

Nós dois sabíamos que não podíamos estar assim, principalmente depois do que tinha acontecido, mas eu não tinha mais forças para me afastar e eu não queria. Arthur sabia que eu precisava de um abraço, e não hesitou em me dar um, mesmo sabendo que isso podia lhe prejudicar.

Acho que o que me deixou ainda pior era saber que vários daqueles comentários tinham um fundo de verdade. Eu queria o Arthur. Me sentia invadida, pois era quase como se todas aquelas pessoas soubessem que eu gostava dele. Me senti exposta e vulnerável, mesmo sabendo que era ridículo me sentir assim, afinal, eu nunca disse para nenhuma delas sobre meus sentimentos, e nunca tentaria seduzir um professor somente para conseguir chegar até a final.

Nós ficamos em silêncio por tempo suficiente para que eu me acalmasse. Arthur me conduziu até o prédio do CBA, pois Arnaldo nos esperava em sua sala. Ele olhou feio para todos os alunos que ousaram me olhar com desprezo, fazendo com que todos se encolhessem e desviassem o olhar de forma constrangida. Dei um mínimo sorriso ao perceber o que meu professor fazia, e isso só me fez gostar ainda mais dele.

Eu não sei o que vai acontecer comigo depois de hoje. O Arnaldo quer nos ver, o que provavelmente quer dizer que ele acredita nos boatos. Talvez eu seja desclassificada do concurso.

Talvez eu mesma desista dele.

Entramos na sala e encontramos Arnaldo em pé, com a expressão fechada de sempre. Ele pediu para que Arthur encostasse a porta e eu esperei o esporro que eu provavelmente levaria.

— O site do CBA foi hackeado essa manhã, mas nós já conseguimos recuperar a conta e estamos fazendo de tudo para encontrar o engraçadinho que fez isso. O vídeo não está mais disponível em nosso site. Também conseguimos retirar o vídeo do Youtube e o canal fake do ar. — informou Arnaldo, sério e direto. — Ou alguém te odeia muito para se dar ao trabalho de fazer isso, ou você é mesmo muito talentosa para quererem tanto te sabotar. O que o meu filho fez te defendendo no dia daquela avaliação foi imprudente e errado, mas eu não acredito nos boatos que estão rolando por aí. O que acontece é que o Arthur é impulsivo e prestativo, e talvez isso seja mais um defeito do que uma qualidade. — continuou ele, olhando fixamente para mim. — De qualquer forma, não se preocupe. Você não será afetada de nenhuma maneira em relação ao concurso. Você é uma participante como todos os outros. O que eu não tolero é que tentem queimar a imagem do CBA dessa maneira. Eu convoquei uma reunião com todos os alunos e professores agora para falar sobre o ocorrido. Se você não quiser participar, não precisa. Tire o dia de folga amanhã para esfriar a cabeça. Amanhã as aulas estarão suspensas, mas depois tudo vai voltar ao normal.

— Obrigada. — Fiquei aliviada com a atitude de Arnaldo. Mesmo sabendo que o vídeo ainda circularia por aí, me tranquilizou saber que pelo menos no Youtube ele havia sido derrubado.

Arthur me acompanhou para fora da sala do pai em silêncio.

— Isso foi mais um monólogo do que uma conversa. — Arthur deu uma risada desprovida de humor. — A assessoria do CBA publicou uma nota de repudio na internet em relação aos últimos acontecimentos. Esperam que isso abafe um pouco o burburinho.

— Eu duvido muito, mas aprecio o otimismo. — murmurei, amarga. Eu nem queria entrar nas minhas redes sociais. Morria de medo de ler alguma coisa horrível sobre mim.

— As coisas vão se acalmar. Só dê tempo ao tempo. — Arthur viu em meu rosto que eu não estava tão segura daquilo. — Quer ouvir uma coisa boa? — O rosto dele se iluminou de repente. Arthur ficou ainda mais lindo daquele jeito, mas não consegui admira-lo da forma que deveria.

— Que coisa?

— Vocês três passaram na avaliação. — Arregalei os olhos. — Não conte para elas e nem para ninguém. Só falei isso para ver se te animava um pouco.

— Essa é uma notícia e tanto! — exclamei, abrindo um sorriso animado. Lágrimas enfeitaram meus olhos, e meu coração se inundou de um sentimento bom. O rosto de Arthur ainda estava iluminado pela satisfação de ter me feito sorrir e eu gostei ainda mais dele por isso. Não sabia porque meu professor se importava tanto comigo, mas também não queria descobrir. Eu não ligava para os seus motivos.

— Lembre-se de que é segredo.

— Tá bom, pode deixar.

Parei em frente ao meu alojamento, olhei para o rosto do Arthur e desejei que as coisas fossem diferentes. Desejei que tivéssemos nos conhecido em outro lugar e de outra forma, e principalmente, desejei não ser a sua aluna.

— Obrigada por tudo.

— Você vai ficar bem, Dianna. Todos nós vamos. — A sua certeza fez o medo em meu coração diminuir um pouco.

Entrei no meu alojamento e me senti melhor ao ver que o quarto estava vazio. Me joguei na cama de qualquer jeito e comecei a chorar, sentindo a preocupação que eu sentia com a saúde do meu pai e com tudo o que tinha acontecido hoje desencadeando em mim uma avalanche de desespero.

Eu queria muito poder dizer que aquilo tudo não me afetou, mas de uma forma muito ruim eu me senti suja e culpada ao lembrar de todos aqueles comentários.


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