Capítulo 19 - Dança Comigo?
— O que foi que você disse? — Arthur colocou uma das mãos sobre a orelha e me encarou como se eu estivesse contando uma piada. Respirei fundo e soltei a bomba mais uma vez.
— Eu preciso ser mais ousada na pista de dança. — expliquei, tentando não me embolar nas palavras. — A minha coreografia com o Diego tem sido um desastre porque eu estou travada demais e eu sei que você pode me ajudar.
— Ei, calma lá! — Arthur destrancou a porta da sua sala e abriu passagem para que eu entrasse. Fechou a porta atrás de si e colocou as pastas que trazia nos braços em cima da mesa. Me sentei em uma cadeira e ele se sentou do outro lado da mesa, em uma cadeira de couro que parecia ser bem confortável. — Eu vi um pedaço da coreografia de vocês e tenho que admitir que ela é bem difícil. Posso te indicar alguns vídeos, mas...
— Quero que você me leve naquele clube — interrompi. Arthur levantou uma das sobrancelhas para mim, parecendo irritado pela interrupção. O constrangimento tingiu as minhas bochechas de vermelho, e eu passei a encarar todos os objetos existentes dentro da sala. Ele era bem organizado, pois o ambiente era pequeno e extremamente aconchegante e não havia nenhum objeto fora do lugar.
No canto direito tinha uma estante de madeira repleta de livros. Do outro lado, um sofá de couro pequeno. Em cima da mesa, um porta-retrato dele com os outros professores (com exceção de Deborah) na adolescência era o destaque principal. Alguns papéis também estavam posicionados em cima da mesa, assim como um porta-caneta cheio de canetas azuis e pretas.
— Como sabe do clube?
— Eu vi um vídeo seu na internet... Dançando lambada com uma garota muito bonita. — Engoli em seco, me sentindo desconfortável quando me lembrei dos dois dançando. Ainda não sabia se me sentia assim porque a dança era muito sensual ou se tinha algo a mais. — Eu quero dançar desse jeito.
— Dianna, acha mesmo que ir a um clube é a solução dos seus problemas? A chave está aqui. — Ele tocou a lateral da sua cabeça com o dedo indicador, sem me deixar responder. — E eu não posso simplesmente te levar para sair. Vão fomentar os boatos que lutamos para abafar e ainda por cima vão achar que estou te favorecendo dentro do concurso. O que posso fazer, é lhe dar uma mentoria extra na semana que vem depois do seu castigo, mas também não posso ficar por muito tempo e nem posso fazer isso todos os dias.
Seus argumentos eram válidos, mas fiquei me sentindo triste por ele não poder me levar ao clube. De qualquer modo, receber uma mentoria de um professor do porte de Arthur era melhor do que nada.
— Tudo bem, eu aceito a mentoria. Obrigada.
— Nos vemos na aula.
Abri um meio sorriso e saí da sala me sentindo estranhamente frustrada. Encontrei Clara e Marlon do lado de fora conversando.
— Caiu da cama, flor do campo? — Clara perguntou assim que me aproximei. Contei aos meus amigos o que eu fazia na sala de Arthur e o porquê, finalizando com a minha frustração em descobrir que ele não poderia me levar ao clube.
— E quem disse que você precisa ir ao clube com o Arthur? — Marlon indagou, com um sorriso esperto no rosto.
— É, você pode muito bem ir sem ele — concordou Clara. — Aposto que terão muitos casais envolvidos em danças calientes por lá.
E foi como se a minha cabeça tivesse dado um estalo. Eu realmente não precisava da companhia de Arthur para ir ao clube. Eu já tinha a idade, e se não fosse muito caro, o dinheiro. Teria que mexer nas minhas economias, mas era por uma boa causa.
— Vocês são geniais! — Abracei os dois pelo pescoço. Meus amigos riram.
— Nós sabemos disso.
O restante do dia se passou como um borrão. Pesquisei sobre o clube que Arthur fora filmado e vi que ficava perto da escola e que abria quase todos os dias. Por ser sexta, o lugar iria bombar, e mulheres tinham um desconto para entrar.
Participei do castigo daquele dia praticamente sozinha novamente, o que fez a hora passar mais devagar. Não via a hora de me livrar desse castigo. Por sorte, já estava quase acabando e os dias de glória voltariam a chegar (ou não).
Clara, Diego e Marlon não poderiam ir comigo ao clube. Clara tinha reservado um dos estúdios para treinar assim como Marlon e Diego tinha uma chamada de vídeo marcada com a família naquele mesmo dia, pois era aniversário do seu pai e eles queriam muito que Diego participasse da comemoração, mesmo que online.
Eu estava por minha conta naquela noite.
Decidi então que usaria o vestido coral que Cassandra me dera de presente. Ele já estava mofando na caixa, quase implorando para ser usado. Deixei meus cabelos soltos e rebeldes e passei um leve perfume no pescoço, assim como uma maquiagem simples e marcante no rosto.
Às sextas, nosso toque de recolher era um pouco mais tarde, e alguns alunos podiam voltar para as suas casas nos fins de semana. Os que moravam mais perto, faziam questão de voltar para seus lares, mas eu não tinha a mesma sorte.
Saí do CBA me sentindo bonita, poderosa e com medo. Pensei em desistir quando pisei na calçada e vi que muita gente me encarava. Uma parte dentro de mim, a mais receosa, me dizia que sair sozinha para um clube que eu não conhecia não era uma boa ideia, mas a parte que gritava para ser mais ousada só me falava para continuar andando.
Quinze minutos mais tarde, parei em frente a uma casa noturna bem animada. Luzes fluorescentes piscavam em todas as direções da fachada do lugar o nome do estabelecimento: FireStarter. Eu mal tinha saído do Uber e já conseguia ouvir a música que tocava lá dentro. Era salsa. Os refletores na fachada emitiam uma luz esverdeada bem bonita e eu me senti aliviada ao confirmar que aquele era o mesmo clube do vídeo de Arthur. Respirei fundo antes de avançar até a fila, que não estava tão longa quanto eu pensava que estaria.
Não tive problemas para entrar no estabelecimento, mas para me situar foi outra história. Achei que fosse cair com a quantidade de luzes coloridas que piscavam em várias direções diferentes, mas meus olhos logo se acostumaram com a visão precária do lugar, e eu pude ver vários casais dançando de forma caliente na pista de dança. Abri um sorriso enquanto os observava.
— Você está me seguindo? — Pulei de susto e me virei para trás quando encontrei Arthur. Ele segurava um copo com uma bebida alcoólica colorida e parecia irritado.
— Mas é claro que não. Eu nem sabia que você vinha! Só me ocorreu que você não podia me trazer, mas nada me impedia de vir sozinha. — Dei de ombros, voltando a olhar os casais na pista de dança. Senti que Arthur ainda me observava, mas ignorei.
As mulheres balançavam seus corpos de um lado para o outro e os homens as conduziam de forma sensual, passando as mãos pelas laterais de seus quadris enquanto as mulheres jogavam suas cabeças de um lado para o outro.
A pista de dança era o local mais movimentado de todo o estabelecimento, que era enorme. Num canto mais discreto havia um grande balcão, onde eram servidas as bebidas e nas laterais da boate, haviam mesas e cadeiras para que as pessoas pudessem parar para descansar, comer e beber.
Um homem alto e loiro apareceu em nossa frente e Arthur o cumprimentou com um abraço e dois tapinhas amistosos nas costas.
— Arthur! Quanto tempo não te vejo por aqui! — disse o homem, empolgado.
— Tenho estado muito ocupado com o concurso. — Arthur respondeu, terminando de beber o conteúdo do seu copo.
— Entendo, só espero que não se esqueça de que aqui sempre será o seu lugar favorito e de que mesmo você tendo aqueles seus amiguinhos da época que o The Browns ainda tinha planos de fazer sucesso, de que eu também sou um dos seus melhores amigos. — Arthur lançou um olhar censurado ao homem, que logo se tocou de que "The Browns" era um assunto proibido para mim. — Mas quem é essa belezinha? — Ele perguntou, mudando de assunto e me encarando com um brilho no olhar.
— Essa é a Dianna, uma aluna minha. —Arthur apontou em minha direção. Eu sorri timidamente. — Eu a trouxe aqui para que ela tenha um pouco mais de inspiração e atitude.
Olhei para ele sem entender, pois até onde eu sabia, eu tinha vindo por conta própria. No momento em que desviei meus olhos dele e olhei para a pista de dança, descobri porque Arthur ia tanto ali. Aquela não era uma boate comum, era um clube de dança para bailarinos amadores ou profissionais se divertirem.
— Então estão no lugar certo! Seja bem-vinda, Dianna. Eu sou o Breno, dono desse lugar. — Breno estendeu a mão para mim e eu a apertei, sorrindo.
— Prazer, Breno.
— Vou deixar vocês à vontade. Divirtam-se! — Breno saiu de perto de nós e correu na direção de um dos funcionários gritando à beça. Eu ri e me virei para Arthur quando percebi que ele estava me encarando.
— Vem comigo. — Não tive outra alternativa a não ser segui-lo, pois eu estava estranhamente curiosa. Arthur realmente havia mudado de ideia?
Arthur me levou para a frente da pista de dança e parou ali, de frente para os casais que dançavam. Eram muitas pessoas se movendo e todas elas pareciam saber exatamente o que fazer ali em cima. A dança era sensual, hipnótica, intensa e totalmente envolvente. Eu não via aquilo como algo vulgar. Era a arte se manifestando.
Uma das coisas que eu sempre admirei na arte da dança era poder se expressar com o corpo de uma forma que todas as pessoas pudessem compreender a mensagem. Era uma sensação de poder que podia libertar ou até mesmo aprisionar quem estivesse na pista de dança. Mas até mesmo a maior prisão conseguia te deixar com um gostinho de liberdade. Era totalmente inspirador. E relaxante.
A forma como aqueles casais se moviam fez com que os meus olhos brilhassem de admiração. Eu não conseguia me imaginar dançando daquela forma, porque eu nunca me considerei uma pessoa sexy, muito menos na pista de dança, mas queria que aquilo mudasse naquela noite, de preferência.
— Preste atenção na forma como todas essas pessoas estão se movendo. Como você definiria todos esses movimentos? — Arthur teve que se inclinar em minha direção para que eu conseguisse ouvi-lo perfeitamente.
— São movimentos sensuais. E intensos. — respondi, sem conseguir desviar o olhar da pista de dança.
— Essas pessoas não tem medo de mostrar como estão se sentindo. Ritmos como a salsa, o merengue e até mesmo a lambada estão aí para mostrar que a dança pode agir de várias maneiras diferentes.
"Desde a leveza e elegância do ballet até a explosão de emoções que acontecem quando dois corpos se unem numa dança como a da lambada. E você, Dianna, deve saber quando agir de um jeito e de outro. Deve saber como atingir esses dois extremos em uma única dança, às vezes. E o mais importante de tudo: Não deve ter medo".
Olhei de forma interessada para Arthur. Ele gesticulava um pouco com as mãos e tinha um brilho no olhar que era raro de ver em seu rosto. As únicas vezes em que aquele brilho aparecia era quando ele estava no palco se apresentando, ou nos ensinando algo que o deixasse fascinado.
— Por que está me falando tudo isso? — perguntei sem entender, pois até então ele não estava disposto a me trazer até aqui.
— Porque sempre que eu olho para você, eu enxergo a pureza, a curiosidade, a inocência e o medo. E acredite, esses três primeiros fatores fazem com que qualquer um que te veja dançar, cantar ou atuar, fique maravilhado. O problema é esse medo, que muitas vezes consegue embaçar os seus objetivos. O que estou querendo dizer, é que você não precisa ter medo de ser sensual ou ousada. E que é absolutamente normal sentir medo de ser sexy na pista de dança. Mas isso não quer dizer que você tenha que recuar por causa de todos esses anseios. — Algo no jeito como Arthur me olhou naquele momento fez com que meu coração palpitasse. As luzes coloridas do lugar refletiam no rosto dele e eu conseguia enxergar as expressões de seu rosto com certa clareza. Ele não me olhava com interesse ou falava como se estivesse flertando comigo, mas a seriedade em seu olhar era algo completamente fascinante.
— Entendo. — Assenti positivamente com a cabeça, tentando gravar em minha mente tudo o que Arthur havia acabado de me ensinar.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando a dança que os casais faziam na pista.
— Dianna, dança comigo? — Olhei para o rosto de Arthur com uma expressão de incredulidade. Ele também me olhava, e a expectativa que encontrei em seu olhar foi capaz de me desarmar.
O nervosismo que eu comecei a sentir não foi capaz de me impedir de aceitar aquele convite.
Estendi a minha mão na direção da dele e deixei que ele me levasse até a pista de dança.
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