Um longo feriado
Briana
Briana sempre amou o inverno, o frio, o chocolate quente, a neve caindo em floquinhos, as luzes de natal, a sensação de que tudo seria novo depois que a neve derretesse fazia o coração da garota ficar quentinho.
— Bri, você vai hoje para a festa de Natal da família?
Joene Mase era a irmã mais velha de Bri, ao contrário da garota a mulher odiava o frio, ele atrasava seus compromissos, ela odiava as canções chatas de natal e a maneira como as pessoas ficavam melosas e estupidamente festivas nessa época do ano.
— Vou.— Briana respondeu distraída com o quadro que pintava, as cores vivas preenchiam toda a extensão formando um belo jardim cheio de flores.
— Ótimo, então você leva o presente da mamãe, eu não vou poder ir, tenho um vôo para pegar hoje a noite, amanhã tenho uma reunião em Chicago...aff...eu odeio esse frio.— ela disse colocando luvas.
— Como?— Briana disse deixando o pincel de lado.— Mas é Natal!
— Não é Natal, o natal é dia vinte cinco e hoje ainda é vinte três, prometo que apareço até o dia real do natal.— ela disse dando um beijo na testa de Briana que fez uma careta engraçada.
— Mamãe vai te odiar.— disse
— Posso conviver com isso, mas não posso viver sem meu emprego.— Joene pegou sua mala e saiu como um furacão, deixando Briana sozinha.
Ela estava acostumada, tinha quinze anos (quase dezesseis) e desde os doze morava com a irmã, que estava sempre ocupada, as duas dividiam um apartamento suficientemente espaçoso, Briana estudava ali perto e cursava Artes em uma outra instituição logo após a escola, todos os dias ela acordava cedo e fazia o que tinha que fazer, mas não hoje, não durante seu feriado favorito.
Briana botou o pincel de lado, dentro da caixa onde ficavam todas as suas tintas, ela desamarrou o longo cabelo loiro do rabo de cavalo e seguiu em direção ao banheiro.
— Joene sua doida...— ela murmurou pensando na bronca que levaria da mãe por deixar sua irmã viajar em uma data tão especial.
A cafeteria mais próxima ficava logo ali na esquina, era o lugar preferido de Briana no mundo inteiro, tudo cheirava a chocolate e café fresquinho nessa época ano, além de ser entupida de enfeites natalinos, com quadros pintados a mão nas paredes e uma pequena biblioteca para os fregueses, ela abriu a porta fazendo o sino soar como música para os ouvidos da proprietária.
— Briana!— A mulher do outro lado do balcão exclamou ao ver os olhos azuis da garota.
— Bom dia Kate!— Briana respondeu sorrindo, sentiu na mesma hora o cheiro delicioso de chocolate quente invadir suas narinas, ela se permitiu fechar os olhos e apreciar mais um pouco aquele aroma.
— Bom dia Bri, vai um cafezinho ou um chocolate quente hoje? Tá bem frio lá fora!
— Um chocolate quente por favor.— ela disse observando um pequeno enfeite de mesa de papai Noel que ficava dançando sem parar.— há e um pedaço daquele seu bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
— É pra já!— a mulher falou entrando para o que seria a cozinha do estabelecimento.
Briana se sentou na mesa que dava de frente para a grande janela do estabelecimento, dali ela tinha uma vista espetacular da rua, onde a neve caía e as pessoas passavam com grossos casacos e luvas.
— Aqui está, bon appétit.— Kate disse colocando a sua frente o seu pedido.
— Você deveria falar em sua língua natal mais vezes Kate, mesmo que eu não entenda nada, é simplesmente maravilhoso.— Briana disse e Kate sorriu.
Após tomar seu chocolate quente e observar mais um pouco as pessoas, Briana seguiu de volta ao seu apartamento somente para chamar um táxi e pegar sua mala onde ficaria o resto do feriado na casa de sua mãe.
— Bom, vamos lá!— Briana disse vendo o carro amarelo dobrar a esquina e parar ao seu lado no acostamento.
— Bom dia senhorita, qual o destino?
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
Assim que chegou na casa de sua mãe, Briana, notou a ausência de enfeites natalinos na entrada, definitivamente aquilo era estranho, sua mãe enfiava enfeites em todos os cantos possíveis até mesmo no banheiro, as visitas costumavam usar o vaso com um enorme papai Noel de papel as observando na porta.
Ela bateu na porta mesmo sabendo que estaria destrancada, foi quando ouviu som de vozes, vozes masculinas pra ser mais exata, no mesmo instante sua mandíbula trincou, ela girou a maçaneta e entrou pelo o corredor que levaria até a sala, ali também não existia resquício de enfeites natalinos.
Filho da puta
Ela pensou imaginando quem seria o culpado por aquilo, tirou as botas que estavam cheias de neve e o pesado casaco jogando-os de lado e seguiu firme até a sala, assim que passou pela porta ela quase vomitou com cena, sua mãe segurava uma bandeja cheia de petiscos enquanto os amigos do seu então padrasto se esparramavam pelo sofá e poltronas ali presente, sua mãe transitava oferecendo as carnes cortadas em pedacinhos de um pra outro como uma maldita empregada, seu coração apertou ainda mais, as coisas estavam piores do que pensava.
— Mulher, pega uma cerveja pra mim!— Antônio falou segurando o cigarro que sempre estava fumando enquanto seus olhos estavam grudados na tevê, onde se passava um jogo de futebol.
— Sim amor.— a Mãe de Briana pronunciou
Ninguém ali ainda havia notado a presença de Briana que por um instante cogitou sair dali e entrar na primeira cafeteria que achasse.
— Bri!— sua mãe exclamou vendo a garota ali parada feito uma estátua.— Você veio.— ela disse vindo direção a Briana com os braços abertos, Briana correspondeu o abraço da mãe, sentindo seu cheiro de menta, ao menos isso não tinha mudado.
— Como você está mãe?— Briana perguntou e a mãe a soltou, segurando no seu braço ela tirou a garota dali e levou até a cozinha.
— Onde sua irmã está?— Ela perguntou.
— Joene não vai poder vim hoje, ela disse que chega até o Natal.— Briana disse.
— Ela está ocupada com aquele trabalho dela novamente? Sempre colocando o trabalho em primeiro lugar!— A mãe de Briana falou abrindo a geladeira e tirando dali uma cerveja que ela abriu.
—,Mãe o que você está fazendo?— Briana perguntou pateticamente.— É Natal, cadê os enfeites? Quem são aqueles idiotas, porque o babaca do Antônio continua esparramado naquele sofá como um maldito cachorro?
— Não fale assim de Antônio, ele ainda não foi liberado pelos médicos para trabalhar, você sabe do seu problema Briana, não cause intrigas, você acabou de chegar!— A mãe de Briana falou saindo pela cozinha.
Briana lembra de Marina, sua mãe, cheia de vida, ela enchia a casa de música e arte, todas as tardes Marina sentava para pintar seus quadros que eram vendidos nas feiras como água, o dinheiro não era muito mas era o suficiente para viverem confortavelmente.
Foi quando Antônio chegou, com aquele sotaque mexicano, chamando sua mãe de hermosa, no começo tanto ela como Joene trataram Antônio muito bem, depois de seu pai, Marina não havia se relacionado com ninguém, os dois eram inseparáveis e Joene achava que Antônio seria do mesmo jeito, mas como estavam enganadas. O vagabundo se instalou no sofá e alegando um laudo médico de um problema de coluna, ele fazia sua mãe de empregada, ela parou de trabalhar com pintura porque o dinheiro não cobria os caprichos de Antônio, sua cerveja cara, os cigarros.
Briana o odiava.
Ela pegou sua mala e seguiu sozinha ignorando os gritos vindos dos amigos de Antônio que comemoravam um gol, subiu as escadas indo até o quarto de hóspedes onde se jogou na cama.
Briana havia parado de morar com a mãe quando as despesas apertaram.
"Sua irmã vai poder te matricular naquela escola de artes"
Era estranho para Briana admitir que se sentira muito feliz quando isso aconteceu, porque ela havia saído daquela casa, das brigas que precisava ver todos os dias, do relacionamento tóxico que presenciava.
Vai ser um longo feriado...
Briana pensou ouvindo mais gritos vindo do andar de baixo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top