Outono
Marry
A música tocava alta nos ouvidos de Marry enquanto ela corria e sentia seus pulmões tentarem trabalhar, correr era como terapia, seu corpo parecia preste a entrar em combustão, apesar da chuva torrencial que caía a garota seguia firme, seu celular protegido por uma capinha a prova de água e conectado nos fones fazia o belo trabalho de coloca uma trilha sonora para seu exercício matinal, a cidade praticamente deserta por causa da chuva e do horário faziam Marry se sentir viva e única.
— Uma água, por favor!— ela falou para o cara da barraquinha que se protegia enquanto tentava vender, mas como não haviam resquícios de atividade humana na cidade, ele olhava desanimado para o céu, procurando por um fio se quer de sol naquele Outono.
— Sabe, essa é a primeira água que eu vendo!— ele em um tom penoso, arrancando um sorriso de Marry.
— Ainda tá cedo.— Ela disse olhando o relógio de pulso que também aferia seus batimentos cardíacos.— sabe, é Outono, jaja a chuva passa e isso aqui vai encher de turista tirando fotos das árvores.
— Que os deuses te ouçam, você é daqui mesmo?— o homem perguntou e foi quando Marry notou que ele estava tentando puxar assunto, foi quando ela notou também que ele era relativamente novo, talvez uns trinta anos, no máximo.
Ela analisou cada traço do homem, desde a barba, os olhos castanhos, o braço tatuado, o provável tanquinho em baixo daquela camisa, a altura que deveria ser pelo menos uns dez centímetros a mais que ela.
E olha que eu tenho um metro de setenta e cinco.
Pensou.
— Não sou, Paris e você?— ela disse e o homem sorriu.
Homens...
Pensou.
— Bom, eu sou daqui, mas notei pelo seu sotaque, apesar de Paris ser uma cidade vizinha, o sotaque de vocês é completamente diferente do nosso, até porque nosso idioma oficial também é outro.
— Sempre comentam do meu sotaque.— Marry disse sentindo seu corpo começar a esfriar.
— Você poderia me dar seu número?— ele perguntou sem graça, a beleza de Marry o deixava desconcertado, ele passou a mão pelos cabelos loiros antes de retomar a fala.— é meio repentino mas eu gostaria de sair com você.
— Claro!
Marry estava acostumada com esse tipo de interação, não que ela fosse realmente responder as mensagens do cara, mas talvez se estivesse entediada, sem nada pra fazer, valia a pena deixar ele levá-la pra jantar, sexo nunca foi problema e ele era o que Marry chamava de "um puta de um gostoso"
— Eu te ligo!— ele disse animado enquanto Marry já virava para fazer o caminho de volta!
— Puta merda, Marry, você tá ensopada.— a garota falou assim que viu a menina entrar no apartamento.
— Você estar bagunçada Anne, por acaso Nix se encontra em seu quarto?— Marry perguntou fazendo Anne corar.
— Cala a boca! Ver se não molha o apartamento inteiro.— Anne falou enquanto pegava duas taças e voltava para o quarto com um litro de vinho em baixo do braço.
— Mulheres...
Marry falou para si mesma.
O celular cortou o silêncio e Marry olhou para o visor, nele aparecia o nome "Manoel" brilhando em letras brancas, a foto de um homem relativamente jovem no fundo da tela.
~ Alou, amore?— Marry falou quando ouviu a respiração do homem.
~ Você tinha que aparecer ontem!— ele falou sem nem pestanejar.
~ Eu estava ocupada...— Marry falou entediada, indo até seu quarto e fechando a porta, ela se olhou no espelho e viu o estado que tava.
Anne não exagerou.
~ Você sempre tá ocupada, e eu sei que estava com outro, Marry, eu sei que estar me traindo.— ele falou, sua voz aumentou de tom, deixando claro a raiva transparecer, Marry sorriu.
~ Hum, sério? Emocionante.— Marry comentou enquanto colocava no viva voz e tirava sua blusa, apoiando na janela do seu quarto com o intuito de deixar secar.
~ Será se você não tem um pingo de consideração? NÓS SOMOS NAMORADOS CARALHO!
~ Tá achando ruim? É só terminar!— Marry disse enquanto tirava a calça e também colocava na janela.
~ Porque você tá fazendo isso? Caralho eu te dei tudo!
~ Com tudo você quer dizer meia dúzia de jantares e uma porção de sexo meia boca? Eu prefiro o nada então, é menos entediante, alguém já disse que você é absurdamente insuportável? Sério, ninguém liga pra quantos carros você tem, nem pras peças da sua moto, eu quase cometi suicídio de taaaanto tédio!— ela disse andando até o banheiro e levando o celular junto.
~ Marry a gente precisa conversar...
~ Não tem nada pra conversar, Manoel, a gente tá terminando, eu não gosto de você, não te amo, voce não é suficiente e eu quero que você se foda!
~ Porque você tá fazendo isso CARALHO? SUA PUTA NARCISISTA INTERESSEIRA!
~ Ain, para de drama, um homem com um pau tão pequeno não deveria ser tão zangado, pelo menos agora você sabe o que suas ex's sentiram quando foram traídas, seu babaca de meia tigela, nunca fui fiel a você desde o primeiro dia, só te usei pra conseguir aquele emprego e foi ótimo. Assim, aliás, eu transei com o seu pai, ele é muito melhor que você, agora eu sei porque você tem tanta raiva dele!— ela disse desligando o celular e entrando no chuveiro.
É claro que Marry não havia transado com o pai de Manoel, nem ela seria tão baixa a esse ponto, mas as traições foram puro divertimento pessoal.
Assim como o previsto a chuva matutina havia passado e o sol dava boas vindas para mais um dia, Marry subiu na moto e seguiu direto para o grande edifício de cor preta, ela estacionou e andou em direção as portas.
— Bom dia Marry!— O homem a cumprimentou assim que a viu.
— Amore, estava com saudades!— ela disse acabando com o espaço entre os dois e o beijando sem nenhum pudor.
— Eu também, comprei um presente para você!— Ele disse mostrando a sacola com símbolo de uma grife cara.
— Luca, não precisava!— Marry falou enquanto admirava a bolsa.
O celular de Marry tocou e ela analisou o visor, o nome "Marco" brilhava e ela sorriu.
— Amore, tenho que ir, se não já sabe né, minha chefe me esfola viva.— Marry falou dando um selinho em Luca.
— Claro, entendo, o trabalho sempre vem primeiro.— Luca disse sorrindo sem graça, odiava ter que se despedir de Marry.
Trouxa.
Ela pensou enquanto acenava com as portas do elevador fechando, Marry tinha um péssimo hábito de colecionar relacionamentos por pura conveniência, a garota de dezoito anos ganhava o suficiente para se sustentar e pagar a sua faculdade de medicina e era capaz de tudo para conseguir o que queria.
Se eles me usam de troféu de exibição, por que eu não posso usar eles para conseguir o que quero? Hipocrisia pura.
Ela pensava toda vez que era questionada porque sempre tratava todos da mesma forma, Marry era um furacão, chamava atenção por onde passava, os olhos cor mel, os cabelos castanhos que mudava de corte a cada três meses, as roupas com ar de patricinha sexy, a aura de garota misteriosa, faziam os caras quererem ela assim que a viam, bastava cinco minutos e ela os faziam se apaixonarem, eles começavam o relacionamento achando que estavam a enganando e no final terminavam enganados.
Marry também sabia como escolher e o que escolher, ela sabia o que queria de cada homem que cruzava seu caminho e sabia como conseguir.
O celular tocou novamente e ela leu o nome de Marco, dessa vez apertou para atender.
~ Alou, amore?
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