Uma lagrima ღ Capítulo 45

O ano havia passado rápido, bem mais rápido do que muitas pessoas sentiram e Sol havia finalmente se dado conta de quantas coisas aconteceram em um ano, varias vezes ela foi do céu ao inferno, viveu coisas lindas como quando se apaixonou e outras tão tristes como a morte da sua melhor amiga que levaria muito tempo para superar. Ela havia prestado o vestibular mais concorrido do Brasil para uma vaga para uma universidade pública mesmo sem cabeça para aquilo, talvez ela precisasse mesmo de um milagre para uma nota boa.

Dia após dia, durante todo o ano, a menina das fitas deu o tudo de si e buscou encarar tudo da melhor maneira possível sem perder sua luz, e mesmo no momento que se encontrava, todos sabiam que ela ainda estava dando o melhor de si fosse em seus estudos, seu esporte ou seu namoro, fosse em casa ou dentro da sua própria mente.

O dia tão aguardado por muitas pessoas havia finalmente chegado, a competição nacional de patinação Artística seria em um dos locais mais prestigiados de São Paulo quando se falava em eventos grandes: Allianz Parque.

O estádio estava cheio, afinal eram muitas pessoas competindo por medalhas assim como Sol e com certeza estavam ali as pessoas que mais se destacavam no esporte. A equipe do colégio foccus estava toda lá, a família da Sol junto com a do Vicente, Junior mesmo sem Liz foi torcer por Sol, muitas pessoas que trabalham com Sol, Yuri com sua irmã e muitos colegas da sua escola. Eram muitos cartazes com seu nome, mensagens de apoio e nervosismo, Vicente sentia suas mãos suarem e o tempo passava devagar.

No camarim, Sol terminava de ser maquiada e ter seu cabelo arrumado, ela estava deslumbrante usando uma roupa preta com milhares de brilhos, sua maquiagem também era escura como a roupa e seu batom vermelho sangue. Ela estava nervosa, sabia que mesmo dando seu melhor, sua mente estava um caos tal qual suas emoções, mas era compreensível.

Nadja sentada no sofá encava a menina sendo arrumada e pela primeira vez não se preocupava com o ouro que Sol poderia ou não trazer, e sim com o fato dela não desistir daquilo, afinal todos sabiam que a menina estava passando por um doloroso processo de luto, como sua roupa preta dava a entender.

Tratada como uma celebridade naquele meio, muitas pessoas ao redor da patinadora estavam dispostas a ajuda-la e mima-la com comidas, doces e presentes, além de muitas flores que chegavam hora após hora. Sol se sentia grata por tudo aquilo, e usava toda a felicidade que existia no seu coração.

A maquiagem dela foi finalmente finalizada e Sol elogiou bastante a maquiadora, deixando-a visivelmente feliz.

—Nadja, falta quanto tempo para o início? —Sol perguntou, virando-se para a treinadora.

A loira encarou o relógio, franzindo o cenho.

—Para o inicio cerca de dez minutos, mas para sua apresentação talvez meia hora. —Ela sorriu e Sol se aproximou.

Sol encarou as flores em uma mesa a sua frente e suspirou, ela não escondia seu nervosismo.

—Não fique nervosa, não tem ninguém te cobrando nada dessa vez. —Nadja sussurrou. —Dê apenas o que conseguir, isso já será incrível.

A menina consentiu e pegou na mão da sua treinadora e apertou.

—Darei o meu melhor, por você, pela escola, por minha família e por todos que gostam da minha patinação. Não estou cem por cento, não posso mentir. —Ela sorriu, soltando o ar dos seus pulmões. —Obrigada por não me deixar desistir...

Nadja sorriu, negando e tocou em seus cabelos lotados de brilhos e glitter. Aquela mulher não sabia muito bem como expor suas emoções, mas iria tentar.

—Dez anos atrás eu perdi minha única filha, isso é uma coisa que ninguém sabe. —Ela sussurrou e Sol arregalou os olhos. —Minha Elisabete morreu aos dezesseis anos, ela era meu maior orgulho e uma das patinadoras mais incríveis que já pisou na terra, mesmo eu sendo uma patinadora, nunca a forcei, ela nasceu amando isso.

Sol não sabia disso, das poucas coisas que sabia da treinadora era que Nadja era uma pessoa sozinha em São Paulo e de fato  no passado foi uma patinadora talentosa.

—É... —Nadja relutou em falar. — A Elisabete era uma menina saudável, bonita, atlética e feliz, mas em um dia ela simplesmente não acordou. —Sol arregalou os olhos, fazendo a treinadora consenti. —Os médicos não deram explicações além de dizer que foi um mal súbito, o seu coração parou de forma inexplicável enquanto ela dormia, sem nenhuma patologia que a levasse isso, e eu também morri com ela, desisti de competir.

Sol apertou a mão da treinadora e murchou os ombros.

—Eu sinto muito Nadja, sinto muito por sua perda. Eu não fazia ideia...—Sol falou, baixinho.

—Quando eu te falei que sei como se sente, eu realmente sei e quando eu digo que prefiro que seja feliz nessa apresentação do que me traga um ouro, estou sendo sincera. —Nadja deixou uma lagrima cair. —Quando conheci você anos atrás eu vi minha filha, uma menina alto astral, positiva, sorridente e que ama o que faz, treinar você foi como se eu tivesse a chance de treina-la como antes e ver onde você chegou me deixa muito orgulhosa, hoje é a ultima fez que trabalhamos juntas e obrigada por não desistir.

Nadja sorriu, fazendo Sol consentir e foi abraçada pela menina das fitas explicitamente emotiva. Sol não sabia o que falar, sabendo que seria a ultima vez que treinaria com ela, se sentia grata.

—Obrigada por tudo mesmo, por todos os sermões e por me deixar expressar sempre minhas emoções. Não esquecerei da minha primeira treinadora, você é incrível. —Sol a soltou e sorriu. —Quando eu abri minha academia, posso ir te buscar lá na escola? Irá comigo?

Nadja abanou as lagrimas da Sol, e a mandou respirar fundo sem mais lagrimas.

—Sim, pode ir me buscar que eu irei para sua academia... —Nadja sorriu. —Está quase na hora, posso te dá um último conselho? —Nadja perguntou.

—Sim, por favor. —Respondeu Sol.

Naja sorriu com os olhos curiosos da menina.

—Não desista de nada por causa da dor, ela é inevitável e infelizmente não tem data limite para parar de doer, mesmo que desista de tudo e até de você mesmo, isso não a trará de volta. Ao invés de desistir, honre a memória da amiga... —A treinadora sussurrou. —Abra os olhos todas as manhãs mesmo que seu coração pese, suba nesses patins mesmo que suas pernas doam, sorria mesmo que tenha vontade de chorar, e siga em frente mesmo que não sinta vontade de dá um passo. É dessa forma que honrará a pessoa que tanto amou e que nunca te deixou desistir. —Nadja falou, sorrindo.

Sol a ouvia calada e segurava o choro, as palavras bonitas atingiram seu coração como flechas e a menina apenas consentiu.

—Certo farei isso, obrigada mesmo. —Sol a abraçou novamente e consentiu varia vezes seguidas.

Na porta do camarim observando a escuridão no estádio e o silencio das pessoas, em cima dos seus patins ela aguardava seu nome ser chamado. Na plateia bem próxima a pista, as pessoas que torciam por ela estavam tremulas ao aguardar seu nome der chamado, aqueles pais sentiam um misto de felicidade com nervosismo, sua vó orava em silencio, sua sogra se perguntava como era possível dar saltos tão grandes com patins pesados, seu namorado respirava fundo ao segurar uma placa dizendo "Você é a melhor Sol" e por fim, quando seu nome foi chamado, as outras pessoas sem exceção sentiram um frio na barriga.

—Representando o estado de São Paulo, Sol Seifer. —O locutor chamou e a plateia permaneceu quita como fora pedido no início da cerimônia.

Sol fez seu ritual de beijar os dedos e tocar nos patins, e na pista ainda acesa ela entrou, patinou até o centro, fez reverência aos jurados e esperou as luzes apagadas na pose da sua coreografia, em pé com os olhos fechados, uma perna atrás da outra e uma mão na cintura.

Com o foco de luz em si e o instrumental da música Saturn regada ao violino, Sol iniciou sua apresentação dando voltas lentas pela quadra e sua interpretação mostrava que se sentia perdida, entre passos e giros, aquela apresentação ia deixando as pessoas cada vez mais emotivas.

Seus patins deslizavam com leveza e a forma com que ela deixava seus braços soltos, ou traziam ele para sua frente e jogava seu corpo para trás, deixava claro que ela estava tentando alcançar alguém longe, foi nessa parte que Junior e outras pessoas tiveram seus corações atingidos.

A mente dela ecoava a letra da música, ecoava preses para sua amiga e o quão aquilo doía na sua alma, e a dor passada ali, deixava todos tocados. Sol girou sob uma perna só, completamente inclinada para trás, deixando os jurados atentos e com êxito jogou seu corpo para frente, girando sentada sob apenas um tornozelo, Vicente sorriu de longe completamente orgulhoso e encarou Dani, enxugando as lagrimas ao seu lado.

Sol estava finalizando sua apresentação com saltos arriscados, e de longe Nadja aplaudia com um sorriso no rosto, a menina estava dando um show de atuação fora a patinação, expressando toda sua dor e emoção em passos, mas ela via que mesmo em algumas vezes derrapando, a menina disfarçava e seguia firme.

No ultimo refrão da música, Sol patinou até o final da pista e parou, ela tocou seu peito com as mãos e as levou para o rosto interpretando choro, em seguida correu como se seguisse alguma coisa e saltou com força, dando três giros no ar e caindo sob apenas um tornozelo deixando a plateia abismada, mas ela não parou e girou novamente duas vezes no ar de forma arriscada.

Para seu desespero, em segundos se sentiu tonta e sua vista embaçou por conta lágrima, ela sabia que não cairia com sucesso, então só a restou sair de sua coreografia para evitar uma queda feia e perder pontos, Sol interpretou um desequilíbrio com dor no peito e se jogou no chão, caindo de joelhos com as mãos unidas para o alto.

Os jurados, a plateia e Nadja arregalaram os olhos totalmente convencidos que ela tinha passado mal e caído, Vicente colocou as mãos na cabeça, Isis tampou a boca e Bruno boquiaberto entrou em negação, ele nunca tinha assistido uma apresentação tão linda na vida.

Antes que Nadja invadisse a pista para socorre-la, Sol uniu continuou sua interpretação e uniu as mãos no peito interpretando uma oração, o que fez a planeia ovaciona-la com uma chuva de palmas e gritos, foi quando sua família percebeu que tudo foi parte da sua apresentação.

As luzes apagaram com ela ainda de joelhos, Sol sorriu cansada e sem folego. Nadja gritou seu nome alto, e pulou como uma criança abraçando o diretor da sua escola que assista tudo ao lado.

As luzes ascenderam e ela finalmente ficou em pé e agradeceu a plateia com muitas reverências para todos os lados, aquelas pessoas ainda gritava seu nome, e ela sentiu um pouco de sangue escorrer do seu joelho, mas sem sentir a dor. Vicente batia palmas e seus pais se abraçaram lotados por orgulho da filha, sua tia e seu tio vibraram juntos e seus amigos gritavam seu nome mesmo que o locutor pedisse para todos se acalmarem.

—Que susto, você ta bem? —Nadja abraçou Sol quando ela entrou no camarim, e a menina pedia calma. —Aquela queda foi proposital?

Sol se soltou da treinadora e sorriu, a menina enxugou as lagrimas.

—Não foi proposital, eu ia cair de qualquer forma porque fiquei tonta... —Sol falou, sentando no sofá e Nadja abriu a boca em choque. —Mas eu interpretei a queda como se a dor tivesse me derrubado e no final orei.

Nadja andava pela sala e começou a aplaudir soltando risadas.

—Isso foi incrível e você foi surreal, mesmo um truque de mestre. Acho que todos viram como uma atuação... —Nadja se aproximou novamente e encarou seu joelho.

—Sim a arte da improvisação, da interpretação... —Sol sorriu. —E da dor.

Nadja tocou seu rosto, enxugando seu suor e sorriu observando em seu joelho ferido. O figurino da menina estava com parte das pedrarias do joelho arrancadas e com um rasgo, Sol sentia a dor, mas não se importava.

—Raissa, por favor me traz a caixa de primeiros socorros, compressa e o kit de costura. —Nadja pediu a sua assistente.

—Tudo bem, estou bem, as pedrinhas foram o que me machucaram com o impacto. —Sol mexeu o joelho e negou. —Não precisa costurar...

Nadja tocou no joelho dela e consentiu, não estava inchado, mas mesmo assim passaria por cuidados. A treinadora cuidou do ferimento, Sol comeu um pouco e ambas já ouviam que a competição havia acabado, restava apenas esperar pelo resultado.

Batidas na porta fizeram Sol levantar da cadeira e ao abrir a porta foi abraçada por seu namorado, Vicente tocou seu rosto e sorria junto a ela. Ele a beijou rapidamente e Sol limpou seu rosto que ficou sujo de batom.

—Sei que não podemos vir até aqui agora, mas fui ao banheiro e passei para dizer que isso me fez chorar, que você é a melhor e todos ao nosso redor puderam sentiram sua dor e eu te amo. —Ele falou rápido, e encarou seu joelho. —Se machucou?

Sol negou, mexendo o joelho.

—Obrigada por estar aqui, e deu certo. Não me machuquei, tudo bem só estou cansada. —Ela sorriu, segurando a mão dele. —Eu te amo, agora vai, não pode vir aqui agora! —Ela pediu e ele sorriu, andando de costas.

Sol fechou a porta sorrindo de orelha a orelha e de longe Nadja fingiu que não viu a visita no camarim antes do horário certo, o sorriso daquela menina era de aliviar qualquer alma.

A pista estava arrumada para receber os atletas no pódio de primeiro, segundo e terceiro lugar, na porta de cada camarim os atletas juntos aos treinadores esperaram ouvir seus nomes serem chamados, mas antes disso o locutor precisava de um discurso.

—Obrigado a presença de todos vocês aqui na nossa competição nacional de patinação. —As pessoas aplaudiram. —Estamos diante dos melhores patinadores do brasil, representando muitos estados do país com suas melhores apresentações, vocês foram incríveis.

O apresentador cativou o público com lindas palavras por muito tempo e Sol roía das unhas nervosa, os jurados poderiam ou não ver aquilo como uma queda o que a faria perder ou não pontos.

—Nosso terceiro lugar levando uma medalha de bronze vai para... —O homem fez suspense e sorriu. —Cintia Menezes, representando o estado do Paraná.

Todos aplaudiram a menina sorridente, ela entrou na pista logo subindo ao pódio com seu buquê de flores e sua medalha.

—Cintia, por favor nos de algumas palavras... —O locutor entregou a ela o microfone.

Cintia agradeceu a milhares de pessoas e quando o segundo lugar foi anunciado para Mauricio no estado de Pernambuco, Sol e sua família na plateia ficaram apreensivos. O menino falou muitas coisas lindas, e Sol o conhecia de vista, ele era muito talentoso no esporte e treinava desde os quatro anos de idade.

—O primeiro lugar é de uma pessoa que com toda certeza emocionou a todos, que nos mostra a seriedade da patinação e que com certeza assim como todos esses atletas aqui, podem alcançar o mundo.

Sol fechou os olhos, uniu as mãos e sentiu seu coração acelerados, ela sabia que todos ali mereciam esses elogios e também emocionaram todas aquelas pessoas, ela estava diante de patinadores com nomes.

—Calma. —Nadja segurou sua mão tremula e a apertou.

O apresentador da competição com seu terno dourado fazia o público vibrar.

—Por favor venha pegar sua medalha de ouro e nos contar seus sentimentos para deixar todos os jurados em lagrimas, Sol. —Ele sorriu e a plateia foi a loucura.

Sol foi abraçada por Nadja que gritava, a menina emotiva estava em choque, ela pulou de felicidade e todas as pessoas da plateia junto os outros atleta aplaudiram com fervor, a família da menina que conquistou o primeiro lugar se abraçavam e Marli nunca havia visto seu filho mais velho pular e sorrir tanto de uma vez só, era de aquecer o coração.

Ela atravessou a pista e recebeu um buque de rosas assim que subiu no pódio, ela ainda derramava lagrimas e acenava para a plateia, a menina recebeu a medalha de ouro e agradeceu se curvando pra o apresentador e recebeu um troféu mediano junto a um microfone.

—Silencio plateia, vamos ouvir a atleta. —O rapaz riu e todos se calaram. —Sol, seu nome já é muito bem falado no meio da patinação artística, hoje você nos passou uma apresentação comovente como sempre, qual sua inspiração para essa apresentação?

Sol respirou fundo, piscou lentamente e sorriu.

—Primeiramente quero agradecer a minha família, amigos, meu namorado, minha treinadora e minha escola por todas as oportunidades esses três anos. —Ela sorriu. — Eu amo patinar assim como todos os meus colegas de esporte e pretendo fazer isso para o resto da minha vida, mas sabemos que além do físico, isso requer muito da nossa mente. Sinceramente hoje minha maior inspiração foi a dor, a mais pura dor. —Sol tocou no peito. —Há poucos meses eu perdi minha melhor amiga e uma das minhas maiores apoiadoras repentinamente, por um tempo achei que não conseguiria, mas tudo hoje foi por ela. —Ela deixou uma lagrima cair e pegou na medalha.

Uma chuva de palmas ecoou no estádio e Sol encarou uma câmera em sua direção, ela sabia que todo aquele momento era televisionado e ficaria guardado para sempre. O apresentador consentiu pra que a mesma continuasse a falar e ela direcionou o microfone aos lábios novamente.

—Cecilia, eu queria que estivesse na plateia, porém isso não foi possível. Mas eu consegui, como prometi. —Uma lagrima dela caiu. — Amiga, as coisas mudaram depois que você partiu, não de uma forma filosófica onde tudo ganha um sentido novo de vida, agora eu vivo para tentar honrar sua memória. Você não está aqui, mas seguirei honrando sua história e não se preocupe, você tem uma parte em tudo que eu faço e sempre será assim. —Sol sorriu.

Toda a sua família se emocionou com aquelas palavras, os jurados aplaudiram de pé e em casa, Catarina e Fabio sorriam e choravam ao mesmo tempo ao ver o amor de Sol por sua filha. Nadja deixava lagrimas caírem sem controle ela primeira vez e o diretor ao seu lado se perguntava se a jovem senhora estava bem.

Sol encarou a plateia e imaginou Cecilia ali, sorrindo. Tudo aquilo iria além de uma amizade, era uma conexão de almas e não seria desfeita mesmo que os planos em que elas vivessem fossem diferentes.

—Minha menina de ouro, o pai ta morrendo de orgulho —Charles e Isis abraçam a filha junto. —Você foi a melhor do mundo.

—Vou morrer do coração. —Isis sorriu, fazendo drama.

Sol sorria ao abraçar o pai, o camarim estava cheio e todos abraçavam a menina. Sua família estava radiante, seus irmãos orgulhosos, seus pais sem acreditar e sua avô ainda chorava como um bebê.

Marli abraçou a nora, demonstrando felicidade, Bruno falou alto o quão tudo aquilo foi surreal, Dani contou tudo que sentiu quando a viu dando um salto e Sol sorria como nunca.

—Ela está feliz de onde estiver. —Junior a abraçou e consentiu. —Você foi incrível.

—Ela está vibrando e gritando. —Sol consentiu para o amigo.

Em meio a todas as pessoas conversando e muitas fotos sento tiradas, Vicente chegou após alguns minutos com um buque gigante de girassóis, deixando a menina perplexa, era gigante mesmo.

—Meu Deus, é enorme! —Sol arregalou os olhos quando encarou o namorado.

Ela o abraçou junto com o buquê e todos fizeram um longo e alto hummmm, ele a beijou tocou sua cabeça com carinho.

—Eu sempre soube, nunca duvidei que seria seu ouro. —Ele a entregou um buque e ela o pegou com as duas mãos, abraçando as flores.

—Isso é incrível, obrigada por estar aqui. —Ela sorriu o abraçando novamente.

Aquele clima de festa continuou por muito tempo, logo mais pessoas chegaram como o diretor da escola com seu filho, alguns jurados e professores de outras academias que era óbvio que estavam de olho em Sol com seu talento nato. Alguns familiares foram dando espaço para mais visitas, um tempo depois restou apenas Vicente ao seu lado, a observando receber abraços e elogios.

Batidas na porta fizeram duas pessoas que conversavam com Sol e Nadja se despedirem e logo saíram para três pessoas entrarem, um homem e uma mulher entraram na sala e Sol sorriu ao receber flores da moça.

—Olá, Sol. —A moça falou e Sol apertou sua mão.

—Olá, tudo bem? —A menina com simpatia apertou a mão do homem também.

Nadja cumprimentou aquelas pessoas e se perguntou quem eram, quando o homem com um sotaque diferente falou.

—Finalmente podemos conhecer a patinadora que nos trouxe até aqui. —O homem falou, fazendo Sol sorrir sem entender.

Vicente encarou aquela cena sem surpresa e sorriu, piscando para Sol. Ele parecia já conhecer aquelas pessoas!

—De onde vocês são? —Nadja perguntou.

Moça entregou um cartão de visita a Sol e Nadja e elas se entreolharam.

—Há alguns meses atrás recebemos uma carta de recomendação e vídeos de uma atleta que se destacava muito em sua área aqui no Brasil, confessamos que ficamos em curiosos e resolvemos ver de perto isso. —A moça sorriu.

—Uau, que honra. Vocês são de onde? —Sol sorriu.

—Que falha a nossa, não nos apresentamos formalmente. —O homem parecia empolgado. —Me chamo Zach, e essa é minha esposa Lídia, ela é brasileira então foi uma boa professora de português para mim.

Lídia sorriu e consentiu.

—Nós somos da equipe de coordenação o curso de ciências do esporte da Universidade de Loughboroug, no reino unido, Inglaterra. —A mulher sorriu e Sol piscou lentamente.

Sol arregalou os olhos, ela não sabia que tinha um alcance tão grande.

—Nossa, vocês receberam uma carta de recomendação da minha atleta? —Nadja falou falto, e Vicente sorriu.

Sol sentia seu coração acelerado e tentava entender o que estava acontecendo ali, e por que seu namorado apenas sorria em sua direção.

—Universidade de Loughbo... —Sol tentou pronunciar e falhou. —Desculpa, não falo inglês fluentemente.

O homem simpático gesticulou não ter problemas e sorriu, ele tirou de dentro do paletó um envelope e direcionou a Sol, que o pegou.

— A Universidade de Loughboroug tem uma reputação global para o esporte e foi classificada como a melhor do mundo em assuntos relacionados a esportes. — A mulher entregou um panfleto a Nadja. —As instalações esportivas são utilizadas por atletas internacionais e constituem o núcleo esportivo mais completo de todo o país.

Sol ouvia tudo aquilo e segurava o envelope com cautela.

—Ficamos encantados com os vídeos que recebemos e com tudo que vimos hoje, em nossa faculdade alunos internacionais são muito bem vindos. —Zach sorriu, fazendo Sol arregalar os olhos. —Bem, estamos te oferecendo uma bolsa de estudos integral no curso de ciências do esporte com duração de cinco anos na Universidade de Loughboroug, tudo está incluso como visto, dormitório, ajuda financeira e o curso de inglês antes do ano letivo e durante.

Zach sorriu, Nadja uniu as mãos sorrindo de orelha a orelha e Sol piscou lentamente sem sorrisos ou alegria.

—Não se preocupe, tem esse mês de dezembro pra nós da sua resposta, mas ficaremos felizes em recebe-la na Inglaterra. —Lídia sorriu e Sol sorriu fraco.

Aquela menina em choque encarou seu namorado que permanecia sentado no sofá sorrindo em sua direção, Vicente estava sentindo tantas coisas que tudo que pode fazer foi deixar uma lagrima cair. 

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Sol havia sido abençoada com a realização do sonho de muitas pessoas, ela teve seu esforço e talento reconhecidos do outro lado do mundo, todos ao seu redor estavam felizes, menos ela. Ela não sabia como aquilo aconteceu afinal nunca cogitaria fazer algo que a consequência fosse ficar distante de tudo que mais queria ter por perto, ou seja, sua cabeça estava confusa o bastante para qualquer coisa.

Após encerrar seu ano letivo e cumprir a missão de ganhar o ouro nas nacionais após tanta coisa, ela precisava descansar mental e fisicamente, mas as pessoas ao seu redor não poderiam imginar como seu coração estava por perto, visto que ela era ótima em sorri mesmo com vontade de chorar.

—Nossa filha ganhou uma bolsa de estudos internacional, isso é incrível. —Charles bate palmas e todos sorriram. —Isso irá mudar sua vida filha, não posso acreditar!

Vicente ao lado da namorada sorria e Sol o devolvia sorrisos mais fracos, o fazendo perceber que algo estava errado.

No dia seguinte a competição, a família Moreira resolveu dá um belo jantar em comemoração à vitória da menina, mesmo sendo apenas o pessoal de casa, Vicente e Laís, era suficiente para a casa ficar cheia.

—Precisa dar a resposta até quando amor? —Laís perguntou. —A madrinha está tão orgulhosa de você. —A mulher falou empolgada.

—Preciso entregar a resposta esse mês. —Sol deglutiu e consentiu sorrindo. —É legal né...

Sua vó vibrava como nunca e encarava a neta já sentindo saudade quando ela não estivesse mais ali. Todos sabiam que Sol iria morar muito longe e precisariam se acostumar com a saudade, iria ser algo pesado mas muito bom para o futuro da patinadora.

—Virá nos visitar? Irá morar fora quantos meses? —Cristian perguntou, e mesmo sem entender sabia que era algo bom para sua irmã.

—Cinco... anos. —Sofia falou, consentindo. —Sentirei saudade.

A menina encarou a irmã mais velha e sorriu, mas Sol não sorriu de volta, apenas baixou a cabeça sem da continuidade ao assunto. Vicente pegou sua mão por baixo da mesa e a sentiu gelada, nesse momento Sol o encarou e apertou sua mão de volta.

—Esse almoço está ótimo vó. —Vicente falou mudando de assunto, e Luzia sorriu o mandando comer mais.

—Filha, eu estava vendo como Londres é lindo. —Isis falou empolgada e Nicole encarou a sobrinha. —Eles falaram quando irá? Podemos até juntar dinheiro e irmos nas férias!

Sol negou, balançando a cabeça e mastigando.

—Precisamos fazer um natal bem farto e especial, poderíamos passar todos juntos, que tal Vicente? —Luzia perguntou, e o menino consentiu. —Afinal não sabemos quando a Sol volta!

Vicente respirou fundo, ele percebia sua namorada cada vez mais impaciente e de fato aquele assunto deveria apertar seu coração assim como o dele.

—Eu não vou. —Sol falou, apoiando o garfo no prato. —Irei recusar, podemos encerrar o assunto?

Todos naquela mesa a encararam com os olhos arregalados, obviamente aquela não era uma oportunidade que as pessoas deixariam passar, mas antes que sua família refutasse sua decisão, Sol levantou da mesa e saiu da cozinha, deixando todos ali pasmos.

Vicente arrumou seus óculos, respirou fundo e pediu licença indo em busca da sua namorada.

—Sol. —Ele bateu no quarto da menina e ela não respondeu, o que o fez entrar e ver que não tinha ninguém ali.

Vicente revistou o banheiro e até o quarto da sua tia, mas Sol não estava.

—Amor. —Ele entrou no quarto de visitas onde era automaticamente seu e Sol estava sentada na cama.

O menino respirou fundo e sentou ao seu lado em silencio, Vicente sabia todos os motivos pelos quais ela estava daquela forma e sentia o mesmo, mas era impossível de alguma forma não ficar feliz por todo seu talento ser reconhecido em uma instituição tão boa.

Vicente pegou a mão fria da menina e beijou seu dorso sem falar nada, ele acariciou seus dedos com delicadeza e Sol observava aquilo com vontade de chorar.

—Por que saiu daquela forma? É inevitável as pessoas ficarem felizes por algo tão incrível assim. —Vicente sussurrou.

—Não quero ir, e toda essa pressão me estressou. —Ela respondeu.

Vicente já sabia daquelas faces mais complicadas da sua namorada, ela poderia ser bem cabeça dura e inflexível, também sua paciência poderia ser curta.

—Sabe que é uma das faculdades mais prestigiadas para esportistas na Inglaterra, não é? —Ele perguntou e Sol soltou sua mão.

A menina levantou da cama e passou a mão nos cabelos inquieta.

—Vicente como pode estar tão calmo? Não percebe do que estávamos falando? —Ela gesticulou e ele consentiu. —Eu não posso deixar minha vida toda aqui e a Liz? Minha amiga acabou de morrer e como posso deixar a filha dela para trás? Como posso não ajudar em sua criação e deixa-la sem meu suporte?

—Sol. —Vicente ficou em pé a sua frente e fechou a porta do quarto.

—E minha família? E meus irmãos que são apegados a mim? —A menina deu de ombros e negou.

Sol negou sem o deixar falar quando Vicente abriu a boca.

—E nós? Não dói em você? —Ela apontou para si e para ele. —Nós estamos há meses lutando contra uma distância entre estados e é tão caro, é tão difícil viver sem você e é difícil para você pegar aviões, mas nós esforçamos. —Ela deixou uma lagrima cair. —Todos os dias quando você não está aqui e matamos a saudade por ligações, quando desligo dói e me estressa.

A menina em lagrimas falava alto e sua família havia se juntado no corredor para ouvir tudo, e foi então que começaram a entender o desanimo dela, os motivos reais.

—Acha que não sinto tudo isso? —Vicente perguntou. —Acha que fico feliz em te ter longe? Até parece que não tenho sentimentos, acha que é de boa pra mim viver longe de você? Qual é...

O menino finalmente falou, seriamente.

—E por que está tão calmo? São cinco anos Vicente, anos... —Sol apontou sua mão aberta para ele. —Foi você quem fez isso? Você mandou vídeos meus? 

— Estou calmo porque não sou egoísta, tá legal? — Ele fechou os olhos, estressado. — Eu te amo, te amo muito, muitas vezes mais do que a mim mesmo. Ficar longe de você é ruim, solitário, e vazio. — Ele se abriu, e Sol deixou uma lágrima cair. — Mas é a sua carreira, é algo que mudará toda a sua vida, e como eu não poderia ficar feliz com isso? Irei trabalhar como um louco e irei te visitar sempre, confie em mim!

Sol começou a andar em círculos, sentindo a tensão da primeira discussão séria entre eles, e a sensação era horrível.

— Você fez isso? Eu sei que tem contatos fora, e meses atrás você me perguntou o que eu achava da Inglaterra. — Sol o encarou com os olhos avermelhados e os lábios tremendo. — Eu não te pedi isso, caramba. Como pôde dar um tiro no pé assim? — Ela elevou a voz, e eles começaram a brigar.

Vicente respirou fundo e sentou na cama.

— Por que eu faria algo que te afastaria de mim, mesmo que fosse algo incrível? — Ele elevou a voz, mas logo a baixou. — Ainda não percebe meus sentimentos por você? Estou deixando algo passar? Por que eu escolheria passar anos sem te ver?

Sol caiu em si, percebendo que aquilo não fazia sentido, e sentou-se na cama ao lado dele, respirando fundo.

— Foi a Cecília, foi sua amiga... — Vicente sussurrou, impaciente, e se levantou.

Sol arregalou os olhos, perdendo a voz, e seu corpo começou a tremer. Vicente foi até a mesinha e voltou com um papel em mãos.

— Dias antes de morrer, ela me contou que faria isso mesmo se eu não quisesse. Disse que havia a possibilidade de olheiros verem sua apresentação e perguntou se eu poderia apoiá-la a seguir em frente com isso, como o último gesto dela de amor por você. E eu não pude deixar de apoia-la.— Vicente deixou uma lágrima cair e estendeu um envelope em direção à namorada. — Ela deixou isso comigo porque sabia da sua recusa.

Sol olhou para o namorado, sem entender, e pegou o envelope, começando a lê-lo.

De: Ceci

Para: Solzinha

—É... —Sol gaguejou. —É letra dela...

Sol encarou Vicente, confusa.

—Sim, é amor. —Vicente consentiu, sorrindo fraco.

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