Ultima chance ღ Capítulo 11

Na beira da enorme piscina, Sol colocou suas pernas dentro da água gelada e tentou tirar a mente da sua casa. Era de fato muita coisa para pensar de uma vez, a possibilidade de Cecilia estar grávida, seus pais, entregar uma boa patinação na escola e, por fim, conseguir uma vaga para uma faculdade.

— Eu posso não pensar em nada por um breve instante? — Ela falou sozinha e encarou o celular. — Por que tenho que me preocupar com tudo?

A mesma encarava aquele aplicativo aberto à sua frente, sentia um misto de receio e curiosidade, ao recordar de todas as vezes que sua mãe dizia: "Nunca fale com estranhos, muito menos pela internet, nunca sabe quando as pessoas querem te fazer mal."

Por entre pensamentos, ela assustou-se com uma notificação alertando que a pessoa que aceitou a solicitação havia aberto o chat. Foi então que ela viu uma foto intrigante. Ela percebia claramente que era uma pessoa em um observatório, mas a foto estava propositalmente borrada. Sol tocou na tela do celular para falar algo e se assustou quando chegou uma mensagem repentinamente.

Oi, boa noite. :)

— Uau, que pessoa rápida. — Sol falou sozinha ao ler a mensagem. — Quer mesmo conversar não é?

Olá, boa noite.

Sol respondeu de forma seca e a pessoa demorou um pouco para visualizar, mas visualizou. O que ela não percebia era que aquilo estava carregando seus pensamentos para longe dos problemas, pelo menos por hora.

Me chamo Vicente, e você? Que foto legal, você patina?

Era um estranho que parecia bem educado, isso a deixou menos tensa.

Me chamo Sol, prazer em te conhecer. Sou nova nesse aplicativo e sim, sou patinadora.

Sol? Como Solange ou como o sol do sistema solar?

Sol ficou boquiaberta com aquela mensagem, mas achou graça, as pessoas sempre pensavam que Sol era seu apelido. Ela não se importava em explicar, gostava do seu nome... Ainda sentada na beira da piscina, aquela menina focada em seu celular não via a hora passar.

Sol como o Sol, do sistema solar.

Ela riu da própria mensagem, deveria ser um pouco mais solta?

Que massa, seus pais são criativos. De onde você fala e quantos anos têm? Por que baixou esse aplicativo?

— Uma pessoa bem falante, comunicativa. — Disse ela.

As mensagens chegavam rápido, Sol contou quantas perguntas aquele menino fez de uma vez só e ficou feliz por ele ter achado seus pais criativos, as pessoas sempre perguntavam se a mesma não achava estranho.

Sou de São Paulo capital, em alguns dias farei dezoito anos e minha amiga me apresentou esse aplicativo, mas não baixei, pois nunca baixei nenhum aplicativo assim. Mas faz alguns dias que minha vida está uma bagunça então acho que fiz algo por impulso e você? :D

Por um momento Sol roeu sua unha temendo ter sido sincera demais, a mensagem foi entregue, mas demorou a ser lida. Ela fechou o aplicativo, e retirou os pés da piscina. As luzes da piscina apagavam automaticamente as dez horas, então isso acabou fazendo a menina retornar para a casa, entediada.

Quando Sol entrou no quarto, Cecilia estava sentada na cama com a cabeça baixa. Ela não esboçou nenhuma emoção e sentou ao lado da sua amiga, que estava segurando testes de gravidez com os olhos fechados.

— Acordou e não me chamou? — Sol sussurrou, abraçando os ombros da ruiva ao seu lado.

— Você já tem problema demais, isso aqui é um problema meu. — Cecilia falou, e entregou três testes distintos à sua amiga.

Sol nunca tinha feito um daqueles, mas entendia como funcionava. Segurando os três testes, dois marcavam duas listras vermelhas e um mais moderno afirmava a gravidez, com mais de três semanas. Os ombros dela murcharam. Mesmo sabendo que tinha uma margem de erro, os três estavam errados? O que deveria falar agora?

— Amiga, vamos fazer um de sangue. — Sol pegou a mão da ruiva e apertou. — Mesmo eu tendo muitos problemas, estou ao seu lado. Quando pretende contar ao Júnior e aos seus pais?

Cecilia levantou-se da cama, enxugou o rosto e pegou os testes da cama com fúria. Aquela gravidez não era planejada, muito menos sinônimo de felicidade. Cecilia não sabia por onde começar a pensar, muito menos o que aconteceria com ela e com aquela criança futuramente; era um completo erro.

— Irei contar amanhã a todo mundo de uma vez. O que tiver de ser, será. Está feito, o erro está feito. — Cecilia jogou os testes em uma gaveta e prendeu os cabelos. — Não irei tirar, muito menos dar a ninguém. Não sou covarde a esse ponto para matar ou dar como filhote de gato. — Ela falou e encarou a amiga sem jeito. — Desculpa, eu...

Sol tentou não levar aquilo para o coração, ela sabia que Cecilia tinha a mente fechada para muitas coisas. Era chato ouvir coisas assim sobre aborto ou adoção, afinal ninguém tira ou põe um filho para adoção por mero querer, pelo menos ela pensava assim. Pessoas tinham seus motivos e dores, foi isso que Isis a ensinou quando a mesma entendeu o que era adoção, e foi por isso que em seu coração não havia magoas de sua mãe biológica.

— Precisa abrir a mente para algumas coisas... Uma mãe não tira seu filho à toa, uma mãe não põe um filho para adoção por que não achou a criança bonita ou desistiu no meio do processo. E não precisa se desculpar, apesar de não falar sobre isso, a adoção não é um tabu para mim. — Sol sussurrou e Cecilia a abraçou com toda força que tinha.

Sol não esperava aquele abraço seguido de muito choro, mas abraçou a amiga e ouviu todos os seus lamentos e motivos pelo qual não era a hora certa para aquela criança.

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As oito em ponto Sol acordou junto a Cecilia, os pais da ruiva chegaram de uma viagem e sempre com muita alegria por matar a saudade da filha. Entre muita conversa no café da manhã ela perguntou se Cecilia preferia conversar com seus pais a sós e a ruiva consentiu, ia ser uma conversa complicada, apenas família seria necessário.

Sol chamou um carro em seu aplicativo e após conversar com Sofia passaria para pegar a irmã onde a mesma tinha dormido, sendo assim chegariam juntas. Durante o percurso, sentada no branco de trás, ela abriu o aplicativo e estava sendo ignorada desde a noite passada, aquilo a irritava, mas não podia julgar, afinal foi extremamente seca com a pessoa.

Suas redes sociais notificavam curtidas, marcações e comentários em sua foto recente, Sol não era de expor muito sua vida, mas adorava tirar fotos das pessoas, suas e de locais, então tinha bastante foto. O carro parou na porta do prédio e Sol avisou a sua irmã por mensagem, que estava na porta.

Em poucos minutos Sofia entrou no carro, ainda muito empolgada.

— Bom dia. — Sofia falou, fazendo o motorista responder, e Sol sorriu em sua direção.

— Como foi a noite de pijama? Precisei passar aqui agora, pois precisei vir cedo... — Sol explicou e Sofia consentiu.

Sofia estava visivelmente feliz, o que deixava Sol feliz. Ela amava um grupo coreano muito famoso e se gabava por isso, falando por minutos a fio. Sol também gostava, então apenas ouvia.

— Eles fizeram um show online surreal e ganharam prêmios, mas como lá é de dia e aqui de noite, passamos a noite quase em claro. Mas foi tão legal que você nem imagina, eles me fazem bem. Pensei que ia vir mais tarde, mas tudo bem. — Sofia falou sem pausas e Sol consentiu. — Sua mão está melhor?

— Então, as coisas na casa da Cecilia não estão legais. Eu nem ia dormir, mas fiquei para fazer companhia. — Ela falou e encarou sua mão. — Acredita que esqueci do corte? — Sol sorriu e Sofia negou.

— O que houve lá? — A menina curiosa perguntou, encarando o trânsito de São Paulo.

Sol relutou em falar, mas de qualquer forma, estudavam em escolas diferentes.

— A Cecilia está grávida... — Sol falou diretamente, e sua irmã abriu a boca, fazendo o senhor ao volante sorrir por sua expressão. — Fecha a boca, garota. — Sol fechou a boca da irmã, e ela voltou a abrir.

Após a notícia, Sofia tornou-se muda. Ela sabia que havia várias formas de se proteger, afinal, sua mãe sempre conversava sobre essas coisas. Então, em sua cabeça, martelava o motivo de Cecilia não ter se protegido.

— Por que ela não se protegeu? — Sofia sussurrou, e sua irmã a encarou. — Qual é, eu sei sobre isso.

Sol sorriu e percebeu que sua irmã estava crescendo rápido demais, mas o pensamento de Sofia não estava errado; esse é o pensamento mais comum, de fato.

— Você ainda vai estudar sobre isso e a nossa mãe vai te contar muitas coisas, mas o que precisa saber antes de pensar assim é... — Sol respirou fundo, virando-se para sua irmã. — Todos os métodos de proteção têm uma porcentagem de falha, nenhum é totalmente seguro.

Sofia murchou os ombros, percebendo que fez um julgamento precipitado, e já havia feito isso muitas outras vezes.

— Entendi... O que vai acontecer agora? — Sofia perguntou.

Uma coisa sobre ser irmã mais velha que Sol sabia bem, irmãos mais novos sempre tinham muitas perguntas a fazer em questão de minutos.

— Não sei, por isso vim mais cedo. Mesmo eu sendo amiga, precisei dá espaço a ela e aos pais que provavelmente ficarão loucos. — Ela explicou e Sofia consentiu.

O caminho até a casa dos Moreira não era tão longo, mas o trânsito de São Paulo fazia qualquer caminho curto se tornar uma longa viagem. Seu celular fez um barulho notificando uma mensagem e ela desbloqueou com tedio.

Talvez seja inútil me desculpar pela demora, mas desculpa. Sou de Fortaleza no Nordeste, fiz dezenove anos esse ano e meu melhor amigo é o criador desse aplicativo então baixei para ajudá-lo na divulgação e tal... Também nunca baixei nenhum aplicativo assim, e minha vida também está um completo e genuíno caos, por isso a demora.

Sol bufou ao ler as desculpas, mas logo entendeu ao perceber que a vida daquela pessoa também estava um caos em algum lugar. Conversar com uma pessoa que morava do outro lado do país era uma coisa diferente para ela, e ele ser uma pessoa aparentemente legal a deixava curiosa. Ela teclou rapidamente deixando Sofia curiosa.

Tudo bem, eu entendo de verdade sobre o caos. Nossa, o Nordeste parece ser tão lindo por fotos e reportagens, pena que é caro para visitar. Vicente, avise a seu amigo que ao contrário do que pensei, estou gostando desse aplicativo. :D

De imediato Vicente visualizou e começou a digitar, fazendo ela se admirar com a rapidez. Seus olhos estavam grudados na tela a ponto de deixar Sofia cada vez mais curiosa.

— O que está fazendo? — Sofia perguntando se inclinando para ver e Sol negou.

— Nada demais. — Ela respondeu.

Sol não deixaria Sofia por dentro de um aplicativo assim mesmo que a princípio fosse bom, sendo uma irmã protetora sabia dos riscos que conversar com estranhou trazia e também não queria que Sofia espalhasse isso pela família.

Ele agradeceu e provavelmente irá recitar seu elogio por aí, então Sol... Ficará brava se eu falar que São Paulo não me agrada muito? É tão agitado e difícil chegar aos locais por causa do trânsito, fora o avião para chegar até aí...

Ela soltou uma risada discreta pela sinceridade dele, e encarou o trânsito a sua frente. Ele não estava errado e às vezes a cidade nem agradava ela. Morar em são Paulo tinha suas partes chatas...

Não fico brava com sinceridade Vicente, e isso também me desagrada aqui. Já veio por aqui? Em medo de altura?

Oxe Sol, não sabia que quase todo nordestino tem parente em São Paulo? Acho que é quase como uma regra e também é o meu caso. Minha família materna está noventa por cento aí, então quase todo natal passo na casa da minha vó e não é medo de altura, é medo do avião cair.

— Nossa, mas isso não é medo de altura? Que bobo... — Sol balbuciou perdendo a risada.

Sol leu e achou interessante o oxe, o sotaque do nordeste era um dos que ela mais gostava, então ele tinha medo de morrer? Dessa vez seria ela deixando Vicente no vácuo quando o carro parou na porta da sua casa, então ela guardou o celular na bolsa sem o responder.

As meninas entraram em casa conversando sobre coisas aleatórias e elas foram recebidas por Cristian avisando que a televisão era ele aquela manhã, pois tinha desenhos para assistir. Elas gostavam de retornar para casa, era confortável e sentiam-se cansadas por dormir fora.

Sofia seguiu para seu quarto e Sol andou rumo ao quarto para falar com sua vó que cantarolava alguma música antiga. Luzia foi abraçada com força pela neta mais velha e a recebeu com carinho.

— Pensei que chegariam à noite. Como foi lá? — Luzia beijou a testa da neta, que sorriu tocando seus cabelos brancos. — Sua outra avó e seu avô passaram aqui para ver vocês, trouxeram lembrancinhas e falaram que querem que vocês passem mais tempo na casa deles.

— Então, vó, essa era a meta, mas aconteceram coisas lá... Nossa, queria mesmo ver eles. Que desencontro! Eu ligarei para agradecer. — Ela amarrou os cabelos com força e suspirou. — Já comeram? Tudo bem por aqui? — Sol seguiu a vó, e Luzia consentiu.

Luzia sempre lamentou que seus netos não fossem muito próximos da família paterna, mesmo eles sempre demonstrando afeto. Mas, em parte, eram bem frios sentimentalmente.

— Minha filha, seus pais discutiram ontem, pois os nervos do seu pai estão ruins sem a bebida, mas hoje nada aconteceu. Sua mãe finalmente tirou férias, sua tia está afogada em aulas e seu pai foi ao mercado. Nada mudou. — Luzia tomou alguns remédios e parecia despreocupada.

Sol consentiu e mais uma vez sentiu ter se preocupado muito à toa, visto que eles sempre faziam as pazes. Em seus estudos sobre o alcoolismo, lembrava bem sobre a abstinência e sentia que esse era o problema.

Era domingo, o céu não tinha nuvens e o tempo passava devagar. Ela seguiu para seu quarto, percebendo que o mesmo estava arrumado, e apenas sentou na cama do seu irmão mais novo, pegando seu presente. Sol gostava dos seus avós e dos tios paternos, mas não era tão próxima deles como de Luzia e Nicole. Ela abriu a embalagem e sorriu ao ver um lindo porta-retratos com uma foto sua na pista. Era de sua última apresentação nas estaduais, onde ela ficou em primeiro lugar. Ela estava realmente linda em uma roupa feita por Luzia, seu corpo brilhava e seu sorriso estava radiante.

— O tio Renan é ótimo com a câmera, está linda mesmo. — Cristian falou, fazendo-a sorrir. — Eles brigaram, mas depois pararam. O que vai pedir de presente de aniversário? — Ele deitou ao lado da irmã e foi encarado. — A tia falou que seu aniversário dessa vez é bem importante por causa da idade.

Sol fingiu pensar e apenas negou sem nada dizer.

— Não sei o que quero. O que você vai me dar? — Ela sorriu e tocou os cachos do irmão.

— Eu ia te dar o que você fosse pedir. — Ele sorriu, e Sol fingiu estar indignada, puxando um dos seus cachos. — Mas o que acha de um porta-medalhas novo? Com enfeites? — Ele a interrogou com seriedade.

A inocência do irmão a fazia sorrir. Cristian era naturalmente levado e não tinha papas na língua, assim como Sofia; ele era extremamente sincero e inocente ainda.

— Sabe que eu amo a patinação, claro que ficarei feliz com isso. Meu porta-medalhas está bem caído... — Ela explicou, e ele consentiu como se tivesse recebido a resposta que queria, saindo do quarto após isso.

Sol colecionava medalhas desde que havia entrado no Foccus. Ela participava de todas as competições em São Paulo e região, até já havia ido para o Rio de Janeiro.

Cristian havia cumprido sua missão de pegar alguma resposta com sua irmã e saiu feliz da vida para contar à sua vó. Sol permaneceu ali e pegou seu celular para responder à mensagem do seu amigo virtual após falar com Cecilia e afirmar que estava com ela sempre. Sol seguia aflita pela amiga e buscava distrair a cabeça. — Ela leu a mensagem do Vicente e digitou rapidamente:

Que legal, ainda está na escola? Tem medo de morrer? Saquei...

Ele visualizou de imediato e digitou a deixando na espera.

Graças a mim mesmo sai da escola ano passado, esse ano fui pegar meu diploma como se fosse o Nobel da paz. Ano passado também fiz o vestibular para a faculdade federal, estou esperando ver se entro em física. (certo, é como se fosse medo de morrer mesmo) E você?

— Física? Ele é louco? — Ela falou alto e abriu a boca.

Sol leu a mensagem e ficou boquiaberta por ele querer ser físico, ele deveria ser uma pessoa bem inteligente. Aquela matéria era tão difícil para ela, com toda certeza Vicente era muito inteligente assim como um personagem de uma serie que a mesma amava.

Física? Como o Sheldon de bbt? Eu nem te conheço e já te admiro, essa matéria é tão difícil e às vezes me dá raiva. Bom, patino em Roller desde pequena sem nada profissional, apenas ganhei os patins e comecei. Por me tornar boa nos patins e patinar a cerca de dez anos, sou muito boa e recebi uma bolsa em um colégio chique que tem como esporte a patinação em Roller, então patino em nome da escola hoje. Ah e eu estou no último ano do colégio e sobre faculdade não sei o que fazer mas terá que ser na publica...

Sol se sentia confortável naquela conversa... Não era difícil perceber que de fato o destino tinha feito algo ali, mas eles ainda não poderiam ver, é claro, um de cada lado do país sorriam ao trocarem mensagem se sentindo confortáveis em conversar com alguém que não conheciam.

Nossa que legal a patinação, admiro quem gosta de esportes e sobre faculdade tome seu tempo para pensar. Então, seria meu sonho ser inteligente como o Sheldon, e sim teremos a mesma profissão, calma, física não é tão difícil assim. Eu me apaixonei no primeiro ano do colégio e venho estudando muitas coisas de lá para cá, quero fazer física e uma pós em astronomia. Se tiver dúvidas na matéria pode perguntar. :D

— Posso começar a te mandar as dúvidas agora? — Ela sussurrou e sorriu baixinho.

Sol estava realmente empolgada ao conversar com aquela pessoa que conhecia a pouco tempo, imaginar uma vida completamente diferente da de todos ao seu redor, uma pessoa que morava tão longe e com uma personalidade diferente a deixava curiosa para saber mais sobre ele e sua vida, aos poucos ia fugindo da sua mente o fato de estar conversando com uma pessoa que havia visto, e um sorriso brotou em seu rosto quando o mesmo se ofereceu ajuda.

— Está sorrindo por que Sol? — Ela falou sozinha e tentou não digitar com empolgação faria sua mão doer.

Não gosta de esportes? Meu primeiro amigo virtual é físico, pedirei ajuda sim. Rs

Opa fui promovido a amigo. Mas em breve conhece outras pessoas bem legais aqui no aplicativo, eu sou completamente sedentário, eu observo as estrelas sentado em uma cadeira de praia. Hahaha

Sol sorriu novamente, ele parecia ter um ótimo senso de humor junto a uma imensa dose de sinceridade.

— Amigo? Exagerei? — Ela falou sozinha.

Não sou uma pessoa chata que julga o sedentarismo alheio, fique tranquilo. Na verdade, não julgo nada, já volto por aqui, preciso tomar banho e refazer um curativo péssimo. :/

Ok, espero sentado, como sempre.

Sol gargalhou com a ironia dele sobre ser sedentário e ela não o julgar.

— Está feliz, uau... Sorrindo para o celular. — Nicole falou encostada a porta.

A quanto tempo está aí tia...

A menina negou, colocando o celular na sua mesinha e levantou para ir em direção a sua tia preferida. Nicole pegou sua mão e a avaliando e Sol reclamou quando a mesma tocou, ainda estava extremamente dolorido. Ela encarou a tia com a cara fechada e nada perguntou, ela raramente estava assim, mas quando estava era complicado ajudar.

— Vem, vamos refazer isso... — Nicole pediu para a sobrinha segui-la, e Sol a parou.

— Tia, me deixa tomar banho primeiro. — Sol sorriu, apontando para o banheiro, e Nicole consentiu. — Eu bato no seu quarto em breve.

Nicole estava com cara de poucos amigos e apenas consentiu novamente, Sol foi para o banheiro e no caminho percebeu sua casa totalmente limpa e organizada, sentia que sua mãe havia descontado o estresse em limpeza como sempre.

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Nicole passou o bastão de refazer o curativo para Isis, e a enfermeira avaliou a mão da filha.

— Aí mãe, calma, magoei sem querer, está tudo bem. — Sol reclamou quando sua mãe observou o curativo. — Eu adoro carne de porco e nem pude comer no almoço... — A menina falou, e Isis consentiu.

— Nada de "aí", irei tratar disso pessoalmente. Ver você assim, com competições à frente, me deixa preocupada. — Após conferir, a loira bufou. — Falei para não ir treinar, que menina teimosa.

— A senhora está bem? — Sol perguntou, percebendo a mãe sem paciência.

Isis afirmou que estava bem após brigas com seu pai, mas que pensava ter convencido seu marido a mudar. Arrumando a cozinha após o almoço de domingo, Sol pensava em contar algumas coisas à mãe, mas sobre Vicente não deveria ser a hora ainda, visto que nem ela sabia direito sobre ele.

— Precisa me falar a cor das roupas das competições desse ano. Farei as mais bonitas novamente. Preciso ir ao centro comprar as coisas... — Luzia passou por ela, e Sol sorriu. — Nicole, faz favor. — A senhora chamou a filha mais nova no corredor e não houve resposta.

Após o almoço, Nicole entrou em seu quarto e, entre discussões com Rafaela, não retornou à cozinha. Todos ali sabiam que não poderiam fazer nada para ajudar.

— Mãe, deixa a Nicole, ela não está bem. Nós terminamos de ajudar até a Sofia terminar a aula de inglês, o Charles deve voltar do mercado em pouco tempo, e ele é quem sabe demorar. — Isis suspirou, lavando os pratos, e Sol, com um pano na mão, a observou.

O que teria acontecido? Eles haviam conversado e se acertado ou apenas a mãe havia acreditado em mais promessas? Sol pensava em muitas coisas entre um prato e outro sendo enxuto, mas nada falava; não era como se devesse se intrometer.

— O que aconteceu ontem quando saíram? Brigaram? — Luzia encarou a filha e continuou limpando o fogão. — Se ele está tentando, precisa ter paciência, Isis, não é uma luta fácil. — A senhora falou sério, e a filha consentiu.

Estava claro que Luzia não sabia sobre a recaída do genro adorado. Apesar dos pesares, a sogra e o genro se davam muito bem, desde o início do namoro do casal.

— Está tudo bem, mãe. Irá viajar com a Cecilia após seu aniversário, Sol? Aproveitar as festas... — Isis perguntou à filha, e ela negou.

Os mais velhos dos Moreira nunca foram de pular carnaval com frequência e após a doença do Charles, eles tentavam sempre ficar o mais longe possível das bebidas, já os filhos amavam essa época como a maioria dos Brasileiros e Luzia sempre fazia as melhores fantasias.

Com a cozinha toda arrumada pela vó, a mãe e a neta, ambas sentaram na mesa com seus sorvetes e fizeram o que faziam quase todo domingo, jogavam conversa fora.

— Então, acho que a Ceci não terá clima para o carnaval e não terá viagem. — Sol remexeu o sorvete, e as mulheres a encararam.

— Nossa, nunca vi uma pessoa que ama mais o Carnaval do que a Cecilia. O que houve? — Isis prendeu seus cachos e deixou explícita sua surpresa.

Sol não sabia se poderia falar aquilo que nem era uma certeza ainda, mas sabia que aquilo não sairia dali.

— Então... — A menina arqueou as sobrancelhas grossas e sorriu sem graça.

— Lá vem... — Luzia sussurrou.

— Ontem, quando cheguei lá, ela estava em prantos, então me disse que achava que estava grávida. — Sol falou, e as mulheres arregalaram os olhos. — Eu liguei para a farmácia e pedimos testes. Os três de farmácia deram positivo, e ela ficou em pânico. Por isso, fiquei para dormir e tal... — Sol abocanhou a colher e finalizou sua explicação.

Naquele momento, Isis pensou em como ficaria se fosse uma de suas filhas e como aquela adolescente estaria nesse momento, conhecendo Cecília de longa data, que sempre falava que não queria filhos.

— Filha, ela é bem nova... — Luzia encarou a neta, e a mesma consentiu. — Não temos o que fazer a não ser prestar apoio nesse momento complicado...

A menina consentiu e engoliu seco ao lembrar que o dia todo não havia recebido resposta à mensagem que mandou para Cecilia.

— Nossa, diga a ela que o que precisar estamos aqui... Você está se protegendo, não é? — Isis encarou a filha, que revirou os olhos. — É sério, somos mulheres e livros abertos. Sei que não está mais namorando, porém pode acontecer casualmente...

Isis aconselhou a filha, que consentiu rapidamente, fazendo Luzia sorrir.

— Mãe, foi apenas com o Yuri e não farei nada sem estar namorando. — Sol falou, terminando seu sorvete e respirou fundo. — Vou ali, meu celular tocou. — Ela cortou o assunto e saiu da mesa quase correndo em busca do seu celular.

Isis bufou ao ser sua filha mais velha saindo e Luzia sorriu sem se estressar.

—Eu sei que ela é responsável, mas me preocupo como se ainda fosse um bebê. —Isis falou com sua mãe e a senhora consentiu. —E para não ter um bebê agora...

Luzia sorria ao ver a filha mais velha se preocupando em ser vó...

—Ser mãe é assim, nunca paramos de nos preocupar não importa a idade. Veja eu, preocupada com minhas filhas de mais de trinta anos e seus amores complicados.

Isis consentiu e pensou no seu amor, seu primeiro amor e hoje seu marido. No sábado após levar as crianças, ela saiu com Charles e conversaram na rua, dentro do carro. Foi ali que a mesma abriu seu coração e afirmou não querer prosseguir com o relacionamento de anos, ela expôs sua dor, a dor dos seus filhos e que ver seu marido se machucando estava acabando com ela.

No dia anterior...

-Sinceramente eu te amo desde a primeira vez que nos vimos em uma festa Charles. Estou lutando com você há anos e mais parece que estou lutando sozinha, isso está respingando em nossos filhos e em nossa família que te ama também. -Dentro do carro abafado, Isis enxugou uma lagrima e seu marido a encarou. -Não consigo mais te da chances e te ver jogar fora, acho melhor nos divorciarmos. -Ela falou entre lagrimas e o mesmo negou.

Aquela frase doeu nela e dele na mesma proporção, Charles negou de imediato passando a mão nos cabelos desgrenhados e a mesma consentiu.

-Não, não quero isso Isis... -Ele sussurrou com lagrimas nos olhos.

-Sim, sim. -Ela bateu no votante e ele se assustou. -Nossa filha está com a merda de um corte na mão quando foi atrás de você uma hora da manhã, em uma rua com bares lotadas de homens bêbados... -Ela o mandou uma careta e ele baixou a cabeça.

-Eu jamais iria expor ela a isso, nunca quis isso, pelo amor de Deus. -Ele falou alto assim como ela e foi encarado.

Isis virou para o lado do seu marido no banco do passageiro e negou.

-Ela foi por que se preocupa, por que te ama. A Sofia está dormindo com a cabeça virada para a janela em busca de ouvir você saindo e ontem o Cristian disse que não lembrava de você indo buscar ele na escola. -Ela gesticulou para ele. -Eu estou vendo meu marido, um homem bonito, inteligente, formado, capacitado e novo, desistir de tudo por conta do álcool.

Charles consentiu as palavras da sua esposa e deixou uma lagrima cair, ele sabia que sozinho não iria conseguir e não queria perder sua família. Ambos ficaram em um silencio gritante.

-Eu estou doente, preciso de ajuda... -Ele encarou a esposa e consentiu ao vê-la derrubar uma lagrima. -Você é a pessoa que eu amo, eu amo meus filhos... mas... -Ele fungou e Isis o encarou. -Sozinho não vou conseguir, preciso de ajuda, sozinho não consigo...

Ele pegou a mão da sua esposa de supetão, tocou sua bochecha e encarou seus olhos castanhos.

-Me deixe passar o aniversário da Sol ao lado dela, como dos meninos é apenas no final do ano dá tempo... -Ele soltou a respiração e consentiu. -Não chore, irei me tratar onde quiser e voltarei para vocês, só não me deixe.

Isis derrubou mais uma lagrima e abraçou seu marido, ele correspondeu a abraçando forte e a soltou.

-Será sua última chance, iremos pesquisar juntos e manteremos em segredo até o aniversário dela passar. -Isis falou e ele consentiu.

Sentada na cozinha, Isis relembrava o dia anterior e sentia medo com uma pitada de esperança. A mesma suspirou quando o portão abriu, ele havia voltado.

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Muitas emoções juntas não é? E essas duas pessoas se conhecendo...

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