O desabafo ღ Capítulo 4
Era sábado, dia de descanso para muitas pessoas, e seria para Sol se sua cabeça não estivesse lotada por problemas que nada poderia fazer para solucionar. Era uma pena. Na noite anterior, ela não dormiu nada. Seu peito estava lotado e sua mão latejava por conta do corte. Ela pôde ouvir sua mãe chegando pela manhã e ouviu também quando a mesma alterou a voz ao perceber que o marido não estava em casa. As lágrimas logo se conteram por ordem de Luzia. — Encarando o teto repleto de estrelas que brilhavam no escuro, ela seguia pensativa até Sofia chamá-la.
— Hoje irei para a casa da Yuna assistir à premiação daquele grupo de k-pop que amo. Pode fazer uma trança em meu cabelo? — Sofia sussurrou, fazendo eco no quarto silencioso.
Sol levantou a cabeça e sorriu, tentando esconder da irmã seu mau humor. Cristian ainda dormia profundamente, sem cobertas ou travesseiros, o que a fazia rir.
— Posso, só não tenho muito gel... — Sol falou, e Sofia consentiu. — Usarei com cautela, preciso para treinar e me apresentar.
Sofia consentiu sobre o gel. Ela sabia que sua irmã mais velha não suportava que mexessem em suas coisas. Sol e Sofia se davam muito bem, porém cada uma tinha suas particularidades que poderiam ser vistas como chatice.
Não passava das oito, a casa estava silenciosa e pela janela entrava um vento forte de verão.
— Como quer a trança? — Sol perguntou, já com Sofia sentada na cadeira. — Não mexa a cabeça, Sofia, como irei fazer assim?
— Nossa, que houve com você? — Sofia encarou a irmã, séria, e estranhou.
— Não dormi na noite passada. Vamos à trança, sem perder tempo! — Sol respondeu de forma seca, fingindo um sorriso.
Em cima da mesinha havia pentes, cremes, gel, a caixa de fitas e um celular tocando uma das músicas que Sofia amava.
— Quero uma trança embutida e embaixo você coloca uma fita roxa. — Sofia explicou. — Ainda bem que o Yuri me apresentou a esse grupo coreano, com certeza são os melhores do mundo. Acha que na próxima turnê iremos? Sério, eu adoro músicas brasileiras, mas isso aí é muito melhor. — Sofia falava sem parar e Sol sorria com sua explicação.
Yuri teve mais contato com seus irmãos do que com o resto da família, a qual só viu uma vez, mas seu jeito gentil conquistou as crianças e Sofia amou a cultura coreana. Sol também gostava, não negava.
— Se não gastar sua mesada em bobagem, iremos. — Sol consentiu, fazendo Sofia vibrar.
— Vocês falam muito alto. — Cristian resmungou. — Baixem essa música ou irei chamar a vó. — Ele virou-se e voltou a dormir.
— Vai dormir, chato. — Sofia fez uma careta para ele, e Sol a mandou parar.
Sol pediu que Sofia baixasse um pouco, e ela assim fez. Mesmo com sua mão doendo, terminou a trança da irmã. O portão da garagem abriu, e o coração da menina das fitas acelerou, era seu pai.
As irmãs saíram do quarto e seguiram rumo a cozinha para abraçar a vó, Sol fingia bem que nada tinha acontecido, já Nicole com sua cara fechada estava ignorando a todos naquela manhã.
— Vozinha. — Sol abraçou a vó em pé na pia, e Luzia sorriu. — Está cheirosa, soube que o cachorro da Odete foi atropelado?
Sol idolatrava sua vó; elas tinham uma conexão de vidas, e Luzia percebeu isso assim que viu a neta pela primeira vez.
— O Zezé faleceu, coitado. — Luzia lamentou pelo cachorro. — Você me viu ontem, amor. Quer café? Soso, para onde vai tão linda? — A senhora chamou Sofia, que saiu da televisão e correu para a mesa. — Tomem café, eu já comi. Venha comer, Charles... — Luzia, que também não sabia de nada, sorriu ao ver o genro.
Isis se aproximou da mesa e abraçou as filhas, que se animaram ao ver a mãe. A enfermeira tentava esconder que estava estressada com o marido e agia naturalmente naquela manhã de sábado.
— Minhas princesas, para onde vão? — Isis perguntou. — Minha memória está fraca.
— Mãe, lembra que me deixou ir para a casa da Yuna, não é? — Sofia a encarou atenta. — Não esqueça, volto hoje mesmo.
— Sábado de treino e depois Cecilia. — Sol respondeu, e Nicole sorriu para a sobrinha. — Esse ano é o último que representarei a escola; estou treinando todos os dias.
Isis consentiu e continuou ajudando a mãe na arrumação da mesa. Charles passou direto para o banho e pensava consigo mesmo o que diria para sua família; afinal, o arrependimento já o consumia. Nicole havia perdido o sono antes do amanhecer quando sua irmã chegou de mais um plantão. Ela não era do tipo que sabia esconder suas emoções e nem queria, justo por isso estava sem seu bom humor matinal.
Todos se sentaram à mesa farta, e o cheiro de café espalhou por todo o ambiente. Era o ritual da família, mesmo que cada um estivesse pensando em algo. Luzia estava intrigada com seus cigarros desaparecidos, Sol sentia sua mão latejar, Sofia torcia para que o grupo que amava ganhasse um prêmio, Isis se sentia revoltada com o marido, Nicole estava preocupada com a sobrinha, e Charles com a consciência pesada. Era uma família normal, no final das contas, cada um em seu universo particular, torcendo para tudo dar certo no final.
— Como foi seu plantão, mãe? — Sol sorriu, tirando Isis de seus pensamentos distantes.
Isis sorriu, apoiando os cotovelos na mesa, e todos a encararam.
— Ontem nasceram trigêmeos, idênticos. — Ela falou animada, e todos ficaram boquiabertos. — Três meninos lindos, parto cesariana. Se eu não estivesse operada, queria mais um bebê. — Sol arregalou os olhos e Nicole gargalhou.
— Não quer não, o Cris já vale por trigêmeos. — Sol falou, e Isis concordou. — Podemos adotar um cachorrinho fofo.
Luzia negou, rapidamente.
— Sem cachorro até alguém ter tempo para cuidar e limpar o quintal. — Luzia falou e fez as netas bufarem. — Não limparei, de jeito nenhum.
Algo que deixava todos felizes era Isis contar das coisas que aconteciam no hospital, o que ela podia contar, claro. Sol, apesar de não seguir os passos da mãe, adorava tudo nessa área.
— Três bebês chorando de uma vez, uau. — Sofia entrou em negação e Isis sorriu. — Viram minha trança? — Ela chacoalhou a cabeça e todos observaram.
Sofia estava feliz, ela estava ansiosa para ver seus cantores favoritos ganharem algum premio.
— Sabe que não podem passar das oito na rua, não é? — Isis encarou suas filhas e Sol concordou.
Sofia bufou com o horário, mas por fim se contentou; afinal, ainda estava cedo.
— Eu chego cedo, prometo. — Sol levantou as mãos em defesa e as baixou de supetão após sua mãe encarar seu curativo.
Sol entrou em outro assunto e pensou que sua mãe tinha esquecido o que viu, mas era sua mãe; ela tinha olhos de águia. E mesmo trabalhando muito, conhecia os filhos muito bem para perceber que algo tinha acontecido.
— Bom dia, família. — Charles sentou-se à mesa ao lado de Isis, que não respondeu ao seu cumprimento.
— Bom dia, pai. — As meninas responderam em uníssono.
Nicole permaneceu comendo seu ovo, e Luzia elogiou a barba ainda feita do genro. Em sua mente, o genro estava sóbrio há uma longa semana. A família entrou em um silêncio profundo até que Isis tossiu, já sem aguentar.
— Onde estava? — Isis apoiou sua xícara na mesa, e ele a olhou. — Cheguei às cinco e você não estava em casa.
Charles se desconcertou, a culpa o invadiu quando seus olhos se cruzaram com os da sogra simpática, ele a amava como uma mãe e sabia que a decepcionaria.
— Sai cedo para conversar com o Rodrigo na praça, não precisa me vigiar. Ontem levei sua marmita e voltei após jogar carteado com os caras. — Ele sorriu e parecia ter convencido a todos na mesa, menos Sol e Nicole, claro.
— Tem certeza, Charles? Não tolerarei mais nada, já conversamos e dei a chance que pediu. — Isis respirou fundo, fazendo todos concordarem.
Ele consentiu feliz, e um grito invadiu a cozinha; era a vizinha Odete gritando por Luzia. Elas eram amigas há muitos anos e amavam fofocar juntas. Luzia levantou-se feliz e andou rumo à porta; a mesma deixou claro que não poderia deixar para depois.
A família continuou na mesa após a idosa sair, eles comiam calmamente e Isis perguntava pela família do amigo de Charles, que era seu amigo em comum. Nicole e Sol se olhavam, e a tia pedia calma a sobrinha que já não suportava tanta mentira. Sol não era perfeita, mas ela tinha uma política séria sobre mentiras.
— O Rodrigo sempre fala dos aniversários das crianças, de como sente falta. Mas agora todos preferem presentes... — Charles sorriu, e Isis sorriu também.
Sol bufou, apoiou seu copo com força na mesa. Ver sua mãe feliz por imaginar coisas que sequer tinham acontecido era insuportável. Isis sempre foi o exemplo de uma boa mãe, ela era gentil, doce, cuidadosa e, às vezes, ingênua demais para sua idade.
— Não teve Rodrigo, nem praça, não teve volta... para com isso, pai! Voltou agora de manhã provavelmente após esperar o álcool sair do seu corpo!— Sol encarou o pai e arregalou os olhos. — Não pode mentir para as pessoas que mais te ajudam, isso é covardia. — Ela enxugou a testa com seu moletom e sorriu para continuar.
Charles baixou a cabeça, e Isis apoiou os cotovelos na mesa.
— Faz anos que você nos alimenta com promessas falsas. Você saiu do grupo de apoio dizendo ser inútil, abandonou a terapia por não ajudar, se recusa a qualquer apoio psicológico e físico. Todos nós estamos preocupados com sua saúde física e mental, e quando achamos que você está limpo, vai para o beco listrado beber. — Sol ficou vermelha de tanto falar e soltou a respiração após desabafar.
Isis perdeu a fome, Sofia encarava a mãe, Nicole baixou a cabeça, e Charles encarou a filha. Todos ali sabiam que Sol estava sendo sincera, todos podiam sentir sua voz trêmula e pesada, e sua mãe sabia que a filha tinha aguentado até onde conseguiu para então desabafar. E ela continuou.
— O que houve com aquele papo de "nunca mais beberei"? — Sol gesticulou.
— Filha, estou limpo. — Charles sorriu, fazendo Sol negar. — Estou me esforçando. Do que está falando?
— Não está, e não suporto ver minha mãe acreditar nisso. Eu sei que é uma doença, sei que é difícil se controlar... — Ela sussurrou. — Todos aqui sabem, estudam, reconhecem que o alcoolismo precisa ser tratado como qualquer outra doença. Todos aqui tentam te ajudar com conselhos, com reuniões, ninguém da casa bebendo, terapia, outros acompanhamentos psicológicos, amor, apoio, positividade, união... — Sol prendia as lágrimas com força. — Mas você recusa tudo. Ontem fui atrás de você no Beco Listrado, te vi lá sorrindo e vi quando recusou minha chamada.
Isis encarou o marido, Nicole balbuciou calma para a sobrinha, e Sofia apenas coçou a cabeça, pensando em como não viu sua irmã sair tarde da noite.
— Quem mandou ir até lá? Um local daquele, Sol... — Ele falou mais alto que todos e foi encarado pela filha. — Aquele lugar não é para você.
— E nem para você, pai. — Sol cerrou os dentes e arregalou os olhos.
Isis bufou, não tinha mais forças para falar a mesma coisa todos os dias.
— Charles, quando amamos alguém, lutamos por ela, mesmo que todas as probabilidades de dar certo pareçam inúteis. E quando essa luta começa a nos ferir, precisamos desistir em sinal de amor próprio. — Isis sussurrou. — Foi isso que ensinamos aos nossos filhos quando prometemos ser pais exemplares, e a Sol não me contou nenhuma novidade. O GPS do seu aparelho está conectado no meu desde quando o perdeu e achamos na garagem. — Todos arregalaram os olhos.
Sol levantou da mesa, ainda enxugando as lagrimas e foi chamada por seu pai.
— Sol, desculpe seu pai. — Ele sussurrou, e ela voltou alguns passos.
Com suas fitas nos cabelos desgrenhados, ela o encarou. Seus olhos estavam vermelhos e seu nariz prestes a escorrer.
— Quero que esteja em minha formatura do colégio, quero que me veja ganhando medalhas, quero que me veja crescendo e quero que entre na igreja comigo quando eu casar um dia. Se continuar assim, não terei meu pai ao meu lado... — Ela mexeu os ombros. — Vê-lo se destruindo me machuca, não saber quando acontecerá uma tragédia me machuca, ver minha mãe chorar me machuca. Ter que sorrir para não deixar meus irmãos preocupados me machuca. Eu quero ter meus pais e minha família comigo para sempre. Se tudo isso não fala mais alto que o álcool, o que falará? — Ela balançou a cabeça em negação e andou rumo ao seu quarto.
Ninguém ali continuaria a comer. Sofia correu para ver a irmã, e Nicole se absteve de dar sua opinião, que acabava sendo a mesma da sobrinha. Ela tocou o ombro da irmã, se retirou da mesa e, em passos longos, subiu as escadas. Naquela manhã, a mesa ficou vazia, restando apenas o casal em silêncio.
— Irei levar nossas filhas em seus compromissos. Elas precisam aproveitar a vida, isso tudo é demais para quem não tem nada a ver. Eu sou casada com você, não vamos gritar e envolver ninguém mais uma vez. Espere-me voltar para resolvermos nossa situação. E se for sair para beber e fugir do assunto... — Ela enxugou uma lágrima e sentiu seu coração arder. — Leve tudo que for seu, de uma vez por todas.
Ela levantou, deixando a mesa, e teve seu braço segurado por seu marido, que se levantou junto.
— Irei esperar, me perdoe. Eu te amo, amo nossos filhos, não quero ir embora. — Ele sussurrou. — Eu errei, aceitarei o que você quiser para sair disso.
— O amor não é suficiente quando insistimos em magoar aqueles que nos amam, Charles. — Ela encarou o marido e seguiu rumo ao quarto das filhas.
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Isis tentou se recompor e seguiu para deixar suas filhas em seus compromissos após prometer a Cristian leva-lo para tomar sorvete, aquela mãe estava segurando o choro e precisava fazer isso até voltar para casa. Era difícil, pesado e irritante ver seu marido se destruindo aos poucos, ela estava esgotada e nem pode dizer a sua família que estava de férias. Na madrugada, quando Isis viu seu marido no bar pelo gps, chorou por horas na sala de descanso, sem poder sair do seu plantão ela tomou uma decisão antes nunca tomada. A enfermeira caminhou até a sala da diretoria do hospital e pediu suas férias de dois meses adiantados, como uma boa e antiga profissional, foi sincera sobre seus problemas com o Doutor Mauricio, foi compreendida e apoiada com base em suas decisões.
— Se cuide, tudo bem? Hoje iniciei minhas férias e ficaremos grudadas. Venho te buscar. — Isis beijou a bochecha de Sofia. — Tomara que seu grupo ganhe.
— Suas férias são a melhor época, mãe. Tenha paciência com o papai. — Sofia sussurrou, e a mãe consentiu. — Eles vão ganhar, eu sei que vão.
Com o carro parado na porta de um prédio enorme, Isis observou a filha animada entrar em segurança. Sol permaneceu o caminho todo calada; parte dela estava tentando não pensar em toda a bagunça que sua família estava agora. Ela suspirou e sentiu a mão da mãe acariciar sua cabeça.
Isis deixou uma lágrima cair e a enxugou rapidamente, dando partida no carro. Ela seguiu rumo à casa da sua melhor amiga, Laís. A enfermeira ainda não sabia o que tinha acontecido de fato, mas sabia que a filha estava machucada e com um curativo manchado de sangue na mão. Seu coração ardia em chamas; por vezes, se perdia em pensamentos e os carros buzinavam pelo sinal verde. Sol seguia calada, o que não era do seu feitio.
O carro parou na porta do condomínio onde Laís morava. A médica obstetra era amiga de Isis há muitos anos e trabalhavam juntas há um pouco mais de vinte anos. Eram cúmplices, unidas e família; Laís e seu marido eram padrinhos de Sol e sempre a deram muito amor. Sol amava ouvir a madrinha contar sobre seu nascimento e de como Isis a acalentou desde o primeiro choro. Isis tinha escolhido a pessoa certa para ser a madrinha da sua filha.
— Me desculpe. — Isis pegou a mão da filha e respirou fundo. — Essa situação já foi longe demais por culpa minha.
Sol deixou suas lágrimas caírem e abraçou a mãe. A tristeza era inevitável, e ambas sentiam a mesma dor.
— Nada é culpa sua, estamos todos no mesmo barco. Eu amo você e meu pai. Preciso que ele seja curado, mãe. — Sol encostou-se ao ombro da mãe e retirou seus óculos já embaçados.
Isis acalentou a filha, que contou tudo o que aconteceu naquela noite infernal. A menina, nem tão sorridente assim, expôs à mãe seus medos e dores. Elas dividiam todas as dores e assim se completavam cada vez mais.
— Pode me prometer uma coisa? — Isis segurou a mão da filha e Sol consentiu. — Nunca mais saia tarde da noite, não passe por perigos ou se machuque. — A mãe enxugou as lágrimas da filha e sorriu.
— Só queria ajudar ele, tirá-lo de lá. Mas eu fiquei com muita raiva, não consegui. — Sol sussurrou, e Isis negou.
— Você, a Sofia e o Cristian são as coisas mais preciosas do mundo. Farei de tudo para nunca mais deixá-los tristes com coisas assim e também ajudarei seu pai, mas ele precisa querer, tudo bem? — Isis arrumou os cabelos da filha e ela consentiu.
As duas desceram do carro e seguiram rumo à casa de Laís. Isis sabia que Sol não gostava muito de hospitais quando era para ser atendida e se negaria a ir. Quando a mesma viu o corte da filha, cogitou precisar pontear, então Laís seria a pessoa competente para isso.
Elas foram recebidas com muita alegria, como todas as vezes. Sol, sempre muito mimada por sua madrinha, recebeu muitos beijos e abraços. Laís transmitia paz para a menina triste e assim ela sorriu novamente ao ser abraçada pela madrinha.
— Minha afilhada está cada vez maior. Por que me esquece tanto? — Laís, com seu drama, fez todos sorrirem, e Sol negou. — Isis, já que está de férias, traga meus afilhados. Vamos viajar? — Ela bateu palmas, e Isis revirou os olhos.
As duas se entendiam pelo olhar, Laís sabia de tudo e fazia de tudo para ajudar Charles e Isis. A medica era o extrato de bondade e loucura, a mesma amava roupas coloridas, tinha vários furos na orelha e uma coleção de sapatos com estampas infantis para seus plantões. Laís ficou viúva precocemente, era um pouco mais velha que Isis e tinha apenas um filho de vinte e dois anos chamado Henrique, o mesmo foi estudar fora quando seu pai faleceu, foi à forma que Laís encontrou de não o ver vivenciando sua dor dia após dia, dessa forma eles seguiam superando suas dores.
— Madrinha, nossa vida é corrida. Estou no último ano, e a patinação me deixa atolada. Pode arrumar minha mão? Ainda tenho treino hoje e preciso esfriar a cabeça. — Sol falou com pressa, esticando a mão.
Isis e Laís sorriram uma para a outra, e Sol fechou os olhos quando sua madrinha retirou o curativo. Não era um corte profundo, mas precisava de cuidados.
— O Henrique está bem? — Isis perguntou, e Laís consentiu. — Já faz cinco anos que ele está lá; o tempo voa.
— Ele me deu uma ovada no meu aniversário, que não volte tão cedo. — Sol revirou os olhos, e Laís soltou uma risada. — Madrinha, pode me liberar para treinar?
— Você acha que eu, uma médica competente, uma negra linda e a melhor madrinha do mundo, vou deixar você patinar com essa mão assim? E o Henrique vem apenas no Natal...
Sol ria com sua madrinha e reclamava com a dor do curativo.
— Vocês brigam, mas se amam, todos nós sabemos disso. — Isis sussurrou, e Sol negou sorrindo. — Não tem treino hoje com a mão assim.
Sol e Henrique eram amigos de infância; foram criados juntos e, por mais que brigassem muito, se davam bem no final das contas.
— Mãe, poxa. — Isis murchou os ombros e lamentou internamente.
—Não é nada do outro mundo, Isis. Você vai tomar um anti-inflamatório e sua mãe vai refazer esse curativo após o banho. — Laís ordenou, e Sol, por fim, aceitou.
Laís observou o corte da afilhada e constatou que não precisava de pontos. Ela lavou apropriadamente, e Sol prendeu um xingamento mordendo o lábio diversas vezes, a mesma não gostava de nada que envolvesse acidentes, pois sabia que teria que ir ao hospital. O curativo foi refeito, e a médica fez um lanche para as pessoas que tanto amava. No intervalo de tempo onde Sol foi ao banheiro, as amigas de longa data conversaram sobre tudo que aconteceu, e Laís lamentava profundamente o que estava acontecendo, seu coração doía por Isis.
— Isis, o tempo está passando, as crianças estão crescendo e a vida precisa acontecer. Você precisa parar de trabalhar como uma louca e viver um pouco, viver com quem quer viver com você... — Laís, segurando as mãos da amiga, foi sincera. — Minha amiga, o limite já chegou e, no estágio que as coisas se encontram, só tem uma solução em minha mente para que possa salvar ele e a família de vocês. Sobre o financeiro, não se preocupe. — Laís sorriu, e Isis consentiu.
— Eu sei, e você tem toda razão. — Isis falou, apertando a mão da comadre.
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Decisões difíceis precisam ser tomadas, mas como já dizem, são difíceis.
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