Não desista ღ Capítulo 43
Luto, no dicionário, é explicado como um sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém. Na realidade, também é isso, somado a uma incapacidade diária física e emocional com a qual o ser humano é obrigado a conviver. Mas cada pessoa reage à sua maneira, e tudo isso se agrava quando a perda é repentina; não se tem tempo para processar, e o corpo entra em choque e paralisia dominava, pelo menos era assim que Sol se sentia.
A morte precoce e repentina de Cecília deixou muitos corações enfraquecidos e em luto, muito mais do que ela um dia imaginou. A menina, sempre querida por muitas pessoas, continuava a ser lembrada como uma pessoa sorridente, positiva, aventureira e como a mãe que lutou até o fim por sua filha, ninguém esqueceria a jovem que esbanjava sorrisos e iluminava todos.
No dia seguinte à sua morte, o jornal local noticiou o falecimento da herdeira da rede de hotéis Hill. A escola decretou três dias de luto, e as redes sociais se encheram de fotos com lindos textos que expressavam o carinho das pessoas por ela. As pessoas mostravam carinho por Liz na conta que Cecília havia aberto dias antes de falecer, e seu túmulo estava repleto de flores e cartões.
Nos dias que sucederam sua partida, os pais de Cecília ficaram reclusos em casa com a neta, Catarina e Fabio estavam devastados, mergulhados em uma dor que parecia não ter fim. A morte da filha foi um golpe brutal, uma perda que nenhum pai e mãe deveria sentir. O luto tomou conta de suas vidas de uma maneira avassaladora, e, por mais que tentassem, nada parecia aliviar o peso esmagador em seus corações. A casa que antes era cheia de vida, agora parecia vazia e fria, como se a própria essência de Cecília tivesse sido arrancada dali, deixando apenas sombras e lembranças. A presença da neta junto a eles, trazia um consolo amargo. Ela era uma parte de Cecília que ainda restava, um lembrete constante do amor que sua filha tinha por ela. Cuidar de Liz era ao mesmo tempo uma bênção e um desafio.
Júnior, desde o momento em que soube da morte de Cecília, sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. A notícia o atingiu como uma onda de choque, paralisando-o. Ele não conseguia processar que a mulher que amava, a mãe de sua filha, havia partido de forma tão abrupta. O vazio que ela deixou era avassalador, e a dor, uma constante que apertava seu peito a cada respiração, ele sentia raiva do destino, da injustiça de perder a pessoa que mais amava, e, ao mesmo tempo, sentia-se culpado por não ter conseguido protegê-la. A revolta o dominou de tal modo que cuidar da filha foi impossível, algo compreendido pelos pais de Cecília.
Sol sentia como se o mundo ao seu redor tivesse desmoronado. Cecília morreu segurando sua mão e foi um golpe que a deixou atordoada, como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões, a dor era tão intensa que parecia impossível de suportar. Cecília não era apenas sua melhor amiga, ela era sua irmã de coração, a pessoa com quem compartilhava segredos, risos, e momentos que ninguém mais entendia. Agora, tudo isso parecia distante, como se pertencesse a uma outra vida, uma vida que Sol não sabia mais como alcançar.
Os dias que se seguiram foram uma névoa de tristeza e desespero. Sol mal conseguia comer ou dormir, cada pensamento voltava para Cecília, para o que ela significava em sua vida. Lembrava-se das conversas até tarde da noite, das aventuras que as duas tinham vivido juntas, das promessas de sempre estarem lá uma para a outra. E agora, o futuro que elas haviam imaginado, cheio de risadas e apoio mútuo, havia sido brutalmente interrompido.
Sol chorou por dias seguidos sem sair do seu quarto, muito menos para pisar na escola. Nos dias em que Vicente esteve ao seu lado, ele não a deixou por nenhum minuto. Ele comprava suas comidas preferidas, ficava na porta do banheiro à espera dela tomar banho e muitas vezes tomaram banho juntos para que a moça não esmurrasse a parede e ele a convencia a sair de casa para visitarem a bebê; assim, Sol conseguia sorrir ao vê-la. A família Moreira e Charles, mesmo internado, respiravam aliviados por Vicente conseguir distraí-la a ponto de ela dormir no seu colo enquanto assistiam a algo.
Quando infelizmente Vicente precisou voltar ao nordeste, conversou com aquela família e até mesmo com Charles, ele voltou para casa com o coração na mão e chorando por precisar deixa-la naquela situação, e ela sentia o mundo ainda mais escuro sem ele ao seu lado.
Poucos dias após a ida de Vicente, Charles tentava falar com sua família todos os dias e sentia a tristeza da sua filha mais velha junto ao seu silencio tornando Sol irreconhecível, ele não iria conseguir esperar até o final do mês quando talvez receberia alta, então faltando um mês para sua alta, ele assinou um termo de interrupção no tratamento e sozinho viajou de volta para casa, sem avisar a ninguém.
Charles voltou para casa em uma noite aleatória pegando todos de surpresa e abraçou sua filha, pode sentir a dor por Cecilia e o alivio em vê-lo. Ele foi recebido com o choro de alivio do seu filho mais novo, com o alivio do seu genro do outro lado do país e com sorrisos da sua família que não viam a hora daquilo acontecer. Mesmo sem receber alta, aquele homem havia entendido o sentido real de tudo ao passar tanto tempo longe da sua família, ele voltou sabendo tudo que não queria perder e tudo que não poderia mais fazer.
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Um mês havia passado desde a morte de Cecília, e tudo ainda estava quieto. Cada pessoa estava em seu mundo, vivendo o luto à sua maneira. Júnior conseguiu sair de casa e, com uma mala na mão, entrou na casa dos Cavaliere, determinado a não se afastar de sua filha, mesmo que tudo doesse de forma absurda. Ele mesmo organizou o tema dos dois meses da filha, momento em que as famílias Cavaliere e Moreira se juntaram para comemorar mais um mês da bebê, que crescia saudável e cada vez mais parecida com a mãe.
Na casa dos Moreira, tudo estava caminhando aos poucos. Charles passava dias e dias enviando currículos, as crianças estudavam, os adultos trabalhavam, e Luzia tinha a missão de ficar de olho disfarçadamente em sua neta mais velha.
Numa segunda-feira de manhã, Sol se preparava psicologicamente para voltar à escola de forma presencial para finalizar o ano letivo, já que a instituição havia permitido que ela ficasse aquele mês à distância até que tudo se acalmasse. O Colégio Foccus era o lugar onde ela mais passava tempo com sua amiga, e Sol não sabia como reagir a toda aquela atmosfera. Ainda faltavam dois meses para o ano acabar, e ela precisava se formar e competir nas nacionais.
— Filha. — Charles bateu na porta do quarto.
O homem de terno e gravata entrou de fininho quando sua filha não respondeu, ela estava arrumada com seu uniforme e prendia seu cabelo com uma fita preta. Ele observou Sol de longe, ela estava fisicamente abatida, seus olhos estavam fundos e pálida. Aquele pai não pode falar mais nada quando viu onde estava fixado o olhar da filha.
Sol encarou em sua mesinha um cubo com fotos suas e da amiga, ela tocou no rosto da ruiva e respirou fundo, deixando uma lagrima cair.
—Ceci, nesse mês sem você fiz uma descoberta que não gostaria de ter feito nunca. —Sol pegou o cubo e o abraçou. —Algumas dores não passam, não importa quantas xícaras de chá, calmantes que minha mãe me dá escondido ou banhos eu tome.
Sol entrou em um silencio absoluto e Charles continuou parado na porta, deixando junto a filha uma lagrima cair. Ele estava pronto para levar a filha pra escola e procurar empregos novamente, mas seu coração apenas o pedia para deixa-la em casa segura.
—Eu irei pra escola hora sem você, o primeiro dia do resto do ano que não estará comigo na sala. —Sol apoiou o cubo na mesa e sorriu. —Estou tentando lidar com o luto, mas está difícil demais. Espero que Deus me ajude a suportar isso, mesmo que eu ainda não entenda o por que ele te levou.
Charles saiu do quarto, deixando sua filha ainda lá. Ele estava inseguro, não suportava ver Sol daquela forma e não poder fazer nada para ajuda-la.
—Amor. —Isis tocou no ombro do marido. —Vamos comer.
Ela o chamou para a mesa onde luzia e Nicole já o esperavam, o homem ainda em silencio sentou à mesa e sua família o encarou.
—Não se estresse com essa busca de emprego, vai encontrar no momento certo!—Isis tocou sua mão e ele consentiu.
Charles consentiu, preocupado demais com a filha para focar em outra coisa.
—Sim querida, irei. —Ele sorriu. —Hoje o medico me deu meus bons resultados do tempo internado, os exames estão bons e me sinto confiante.
Luzia sorria à toa ao ser o genro na mesa, ele estava mais corado, confiante e sua filha recuperou seu brilho outra vez. Nicole percebia a preocupação nos olhos naquele pai ao se atentar a qualquer barulho vindo do quarto da filha.
—Irei levar seu currículo na empresa da Rafa. —Nicole sorriu e ele uniu as mãos, ainda distante. —Hoje é o primeiro dia dela na escola após tudo, irei ficar de olho cunhado.
Isis consentiu, agradecendo a irmã.
—Ela não está pronta, era a pessoa dela. Isso me preocupa, se pelo menos o Vicente pudesse estar aqui... —Charles falou, fazendo todos o encarar. —A dor dela está saindo pelos poros, ela deve ter emagrecido uns dez quilos nesse mês e veem seus olhos fundos? —Charles tocou no próprio olho. —Isso parece uma faca no meu peito!
Todos consentiram e Isis negou, respirando fundo.
—Sim amor, todos nós vemos isso, mas nossa filha pediu para que a deixássemos em seu canto e estamos fazendo as comidas que ela gosta, a mãe coloca vitaminas em seus sucos... E o Vicente virá o mais rápido que consegui, todos sabemos. —Isis encarou as escadas. —Todos aqui sentimos a dor dela e a ajudamos como podemos, Laís pediu que ela falasse com uma psicóloga e até o Vicente está fazendo tudo que pode de longe mesmo, mas a dor é grande demais.
Isis explicou, fazendo seu marido consentir e Luzia consentiu ao lembrar de como as filhas ficaram após a morte do pai.
—Dizem que a dor precisa ser sentida e doída, para que no futuro ela possa ser transformada em apenas saudade. —A idosa sussurrou. —Nenhum de nós sente como ela esta sentindo, e ela ainda está dando todo amor que pode aquela bebê. A Nicole reprovou de ano quando o pai morreu e você chorou por um ano inteiro todas as noites.... —Ela encarou Isis.
Nicole consentiu pensativa.
—Cada um vive o luto de uma maneira e precisamos ser compreensivos com a maneira na qual aconteça com ela, se forçarmos será pior. —Nicole refletiu, encarando a irmã e o cunhado.
—Sim, precisamos ser pacientes e... —Isis pausou sua fala quando Sol apareceu.
A menina desceu as escadas segurando uma mochila, com uma fita preta nos cabelos e em silencio. Sol foi até a mesa onde estava sua família e fingiu um sorriso, ela estava aliviada em vê-los juntos novamente.
—Bom dia família. —Sol falou. —Hoje irei ficar na escola até a tarde, tenho treino e preciso voltar pra ele.
Nicole sorriu, e mostrou alguma animação.
—Sente para comer amor, o pão está quentinho! —Nicole sorriu a chamando.
—Eu já comi tia, bem cedo. —Sol tocou na barriga e Luzia a encarou.
Sol explicou como seria seu dia, abraçou uma por uma daquelas pessoas como sempre fazia ao sair pra escola e deixou claro que iria sozinha. Ela não estava maquiada, nenhuma fita prendia seu cabelo e Charles tinha razão, ela estava bem mais magra.
—Filha, vamos, o pai te leva. —Charles se apresou e Sol negou.
—Tudo bem, irei sozinha pai. —Sol sorriu. —Preciso pensar e caminhar é bom pra isso. —Ela sorriu mais uma vez. —Boa sorte com os currículos pai, vai conseguir!
—Certeza? —Isis perguntou e ela consentiu. —Nós te buscamos? Então, vamos comer todos juntos... —Isis sorriu.
Sol forçou um sorriso em direção a mãe e consentiu.
—Sim, eu espero vocês umas cinco... —Sol deu tchau, e caminhou para a porta.
Ela saiu tão rápido quanto chegou, sua família observou sua saída e após isso Luzia apoiou a mão na testa.
—Ela comeu mãe? —Isis perguntou.
—Não, nada. —Luzia suspirou.
Charles bufou, passou a mão no rosto e todos voltaram a comer, a preocupação daquele pai era maior que tudo, afinal ele nunca tinha sentido a dor de perder alguém como sua esposa e sua filha, então ele procurava em sua mente uma solução.
Seu celular tocou, e por ter colocado seu currículo em tantos locais, ele logo atendeu.
—Põe no viva-voz amor! —Isis mandou e ele fez.
Luzia e Nicole estavam curiosas e fizeram silencio de imediato.
—Alô, bom dia. —Ele falou.
—Bom dia, falo com Charles Seifer?
—Sim, pois não? —Charles respirou fundo.
Isis sorriu para a mãe e irmã, recendo sorrisos de volta.
—Tudo bem senhor Charles? Aqui quem fala é Suzana Albuquerque, proprietária da Couros Nordeste, estou ligando pessoalmente a respeito de um currículo que recebi para o cargo de administrador em nossa nova loja física aqui na capital, realmente seu currículo é ótimo. Podemos conversar? —A senhora falou e ele arregalou os olhos.
Isis tampou a boca e Nicole comemorou com a mãe, Charles ficou sem entender.
—Claro, podemos, estou bem sim e a senhora? —Ele perguntou e a senhora afirmou que estava bem. —Muito obrigado por ter considerado meu currículo, estou bem feliz com isso! —Charles sorriu, passando a mão na testa. —Sobre esse currículo não lembro de ter colocado, de onde surgiu?
A senhora do outro lado da linha sorriu, fazendo aquelas pessoas arregalarem os olhos.
—Meses atrás uma pessoa da minha confiança me entregou seu currículo para quando surgisse uma vaga para administração, ele disse que o senhor era uma pessoa pelo qual ele tem um grande respeito, confiança e é um ótimo profissional para trabalhar conosco nesse cargo de extrema importância. —Suzana falou, e Charles consentiu, tapando a boca. —Então, o senhor tem disponibilidade para a vaga, com início imediato?
Charles passou a mãos nos cabelos eufórico, tentando manter a calma na voz.
—Nossa, estou muito entusiasmado! Não preciso de nenhuma entrevista ou algo do tipo... —Charles perguntou, pedindo silencio a família. —O que precisam que eu leve?
As mulheres na mesa sorriam e vibravam!
—Você vem até nossa fabrica com a lista de documentos que irei te mandar por e-mail, e uma entrevista é feita a nível de rh, nada com que se preocupar. Caso tenha disponibilidade pode vim até nossa fabrica as duas horas?
Isis o mandou consentir e Nicole sorriu levantando os polegares.
—Sim claro, tenho total disponibilidade e irei até a fabrica com todos os documentos. —Charles sorriu, vibrando. —Pode me passar o endereço?
Ele levantou da cadeira e começou a andar em busca de papel enquanto repetia o endereço que era passado, Isis sorria com a família por aquela benção de recomeço para o marido e pensava em todos os agradecimentos que diria ao genro, claro que tinha sido o Vicente.
Charles voltou para perto da mesa vibrando com o celular na mão, seu sorriso de orelha a orelha fazia todos sorrirem também, ele estava suando e vermelho.
—Couros Nordeste... Essa não é a fábrica dos avós do Vicente? —Charles apontou para o celular.
—É amor, provavelmente ele ficou com algum arquivo do seu currículo quando te ajudou a fazer. —Isis o abraçou. —Isso foi um ótimo impulso para seu recomeço, isso foi incrível.
—Você vai se sair muito bem cunhado! —Nicole bateu palmas e Luzia sorriu animada.
—Aquele pestinha, preciso agradecer agora mesmo. —Charles sorriu abraçado a esposa e lembrou das palavras do garoto em uma noite aleatória quando o menino o ajudou a fazer currículos.
"Sogro, eu sou bom em fazer currículos, as pessoas sempre encontram empregos por causa da minha eficiência, e leve esse mês para coloca-los em empresas e voltar a sua rotina, nesse primeiro mês a Sol vai precisa de todo suporte, tenho certeza que no início do próximo mês as empresas vão te procurar."
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Sol voltou para escola após cerca de um mês sem pisar ali e obviamente tudo estava igual antes. A menina recebeu cumprimentos de alunos e professores que passavam por ela, todos sabiam de tudo e do quão Sol estava mal.
Ela parou no seu armário e ao lado o de Cecilia estava totalmente enfeitado com cartões, mensagens escritas no próprio armário, brilhos, fotos dela sozinha, dela com outras pessoas, com Sol, e um adesivo que dizia sentiremos sua falta. Mesmo possuindo a chave do armário dela, Sol não o abriu, ao olhar para o lado ela via sua amiga sorrindo, abrindo o próprio armário.
Em poucos minutos parada ali ela recebeu muitos olhares de pena e ouviu cochichos, mas não estava com energia para se chatear, apesar de serem coisas duras de se ouvir.
"Ela era a melhor amiga da Cavaliere..."
"Ela está um trapo, tadinha."
"Cecilia morreu tão rápido, mas a bebê está bem."
"Acha que ela vai competir nas nacionais? Ficou péssima apenas por que a menina morreu e perderá oportunidades em vão, até perdeu muito peso..."
—Deus, me ajuda. —Sol engoliu o choro e cochichou.
Yuri parou ao seu lado ao ver que pessoas a olhavam de longe cochichando e rapidamente ele retirou seu fone de ouvido enorme e colocou nos ouvidos dela, e estava tocando alguma coisa no último volume, fazendo-a assustar.
Sol encarou Yuri falando com algumas pessoas e não retirou o fone para ouvir.
—Calem a porra da boca mano, a empatia ficou na casa do caralho? —Yuri falou alto com um grupo de alunos. —Ela perdeu uma irmã e vocês fazem piada?
O coreano gritou no corredor, ele estava bravo.
—Calma Yuri, pô... —Um menino falou e Yuri negou.
—Vão embora e não falem perto dela nunca mais, não sabia que os ricos eram fofoqueiros assim. —Yuri coçou a cabeça e encarou o grupo ir embora.
Ela suspirou profundamente quando as pessoas se afastaram, logo retirando o fone e Yuri se aproximou, ele conteve seu espanto ao perceber quão abatida ela estava, Sol o entregou o fone e ele negou.
—Não ligue pra isso, são otários e fofoqueiros. —Ele falou. —Use esse fone até o dia que as aulas acabarem, mesmo desligado, se eles pensarem que não está ouvindo... Não falam.
Yuri consentiu, sem jeito.
—Sei que namora, isso não é nada além de ajudar uma pessoa que não merece passar por isso, então aceite. Sinto muito pela Cecilia e se precisar de alguma coisa, ligue ou grite e eu virei. Sei que seu namorado não ficará chateado se eu te ajudar, eu explico a situação.
Sol deixou uma lagrima cair, a enxugou e suspirou.
—Obrigada, eu ligarei ou gritarei... —Sol falou baixo e ele sorriu, indo embora.
Sem animo ela percorreu o colégio usando o fone desligado e parou na porta da sala de aula que já havia algumas pessoas junto ao professor, que obviamente a encararam. O professor levantou ido até a porta e Sol suspirou ao vê-lo sorridente em sua direção.
—Senhorita Seifer, seja bem vinda de volta. —O senhor sorriu e Sol sorriu friamente, retirando o fone. —Sente-se onde preferir, onde quiser a pessoa trocará com você.
O professor apontou para que ao contrario dos alunos que tinham os lugares marcados, ela pudesse escolher um diferente do anterior já que a pessoa que sentava ao seu lado não estava mais ali.
—Senhor Mathias, estou te volta e trouxe os trabalhos que passou no mês e não será necessário a mudança de local. —Sol sorriu.
—Certo, me procure no final da aula e caso precise de algo me chame, sinto muito pela senhorita Cavaliere. —Ele falou cabisbaixo.
Sol consentiu, e seguiu para sua mesa, o colégio foccus seguia o modelo americano para muitas coisas e duas mesas juntas era uma das coisas que Sol mais gostava, porém não tinha mais Cecilia para sentar ao seu lado. Ela conseguia enxergar a mesas juntas sem cor ao meio de varias coloridas, e todos perceberam que a menina estava relutante em sentar.
Leila e Juan que sentavam na mesa atrás, percebiam o quão aérea Sol estava a ponto de não perceber que recebeu bom dia dos amigos.
Juan tocou em Sol e a menina finalmente os encarou...
—Bom dia amiga, como você está? —Juan perguntou levantando.
Leila e o rapaz abraçaram Sol juntos e as pessoas ao redor observavam a cena ainda aos cochichos.
—Estou... —Sol respirou fundo. —Perdida.
—Estamos com você, certo? —Leila falou, consentindo. —Não se preocupe com mais nada, estaremos ao seu lado.
—Sim. —Juan afirmou as falas de Leila.
—Obrigada gente, de verdade. —Sol sorriu, colocando a bolsa em sua mesa e sentando ao lado da mesa vazia, antes de Cecilia. —Só irei precisar de um tempo para minhas emoções de estabelecerem a atmosfera e...
—Sim, leve o tempo que precisar e estamos bem atrás de você. —Juan tocou o ombro dela e Leila o encarou para que a deixasse quieta.
Sol encarou a mesa ao seu lado e um adesivo deixava claro que aquela mesa era de Cecilia, ao lado do nome da amiga havia um coração igual o dela e a imagem da menina sentada ao seu lado era nítida. Como magica ela enxergava em câmera lenta, Cecilia ao seu lado sorrindo e deitando a cabeça em seu ombro, eram lembranças boas.
Ela pegou seu celular que vibrou na bolsa e sorriu ao ler uma mensagem da sua mãe avisando que seu pai iria para a primeira entrevista de emprego e em uma mensagem só Isis contou da atitude de Vicente.
—Graças a Deus pai, irá conseguir novamente. —Ela falou sozinha, deixando uma lagrima de felicidade cair. Vicente, o que eu faria sem você...
Ela encarou a tela do celular onde mostrava uma foto dela, Cecilia, Liz e Vicente juntos no ensaio do primeiro mês da afilhada e bloqueou a tela quando o professor pediu que guardasse dos aparelhos.
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—Oi amor. —Sol atendeu o celular, dentro de uma cabine do banheiro. —Estava na aula, por isso não atendi.
Quando as aulas acabaram, ela seguiu direto para a quadra, ela não comeu ou conversou com ninguém além de breves palavras com Leila e Juan.
—Como está? Como foi o primeiro dia? Sinto sua falta. —Vicente falou.
—Estou bem, o primeiro dia foi pesado e eu estou morrendo de saudade. —Ela sussurrou. —Esse mês faremos cinco meses, passou rápido, não é?
Sol sentou no vaso e fechou os olhos.
—Sim, nossos cinco meses de muitos, não se preocupe, estamos em novembro e em dezembro irei te ver. —Vicente falou e Sol enxugou uma lagrima. —Irei grudar em você e faremos coisas legais para comemorar nossos cinco meses e passearemos com a Liz...
Sol consentiu e o chamou.
— Amor, preciso pedir desculpas e dizer obrigada. — Sol falou, encarando as unhas roídas.
Vicente sorriu.
— Desculpa por quê? — Ele perguntou.
— Perdemos a chuva de meteoros. Eu estava tão mal que nem pude lembrar de te avisar a data. — Ela sussurrou, com a voz embargada.
Vicente percebeu seu choro e balançou a cabeça em negação.
— Somos dois esquecidos, sabia? Eu também esqueci, e sério, iremos na próxima vez. — A voz calma dele a tranquilizava. — Não se estresse com isso. Em janeiro, sua mãe disse que você pode viajar comigo para lá, e iremos a um planetário incrível.
Vicente falava bastante para distraí-la, e ela sorria.
— Sim, quero conhecer sua cidade, o Bob e a Dani. — Sol, mais calma, sorriu. — E podemos ver a chuva de meteoros daqui a cinco ou seis anos.
— Claro que vamos ver, juntos! E o obrigada é por quê? — Ele perguntou.
Sol sorriu brevemente, e fechou os olhos, ela amava o sotaque dele.
— Sim, obrigada por ajudar com o emprego do meu pai. Isso é tão importante para ele e para minha família, muito mais do que um simples emprego... Minha mãe disse que ele literalmente pulou de alegria pela sala! — Sol falou com mais ânimo.
Vicente demonstrou felicidade e a fez sorrir.
— Ele me ligou e falou muitas coisas bonitas, e eu fiz isso pois realmente acho que seu pai muito competente, merece a chance de recomeçar, e sejamos conscientes, ele precisa ocupar a cabeça o mais rápido possível. — Vicente explicou.
— Sim, você tem razão. — Sol respirou fundo. — Você é uma pessoa tão bondosa e incrível, sou tão sortuda. Não sei como posso te recompensar por isso, mas te farei muito feliz!
Vicente sorriu ao ouvir aquilo e teve uma ideia imediata; ele sabia que Sol não estava se alimentando bem.
—Não agradeça e você já me faz imensamente feliz, eu realmente gosto muito do seu pai e ver ele bem, é um alivio muito grande. —Vicente falou, seriamente. —Mas tem algo que pode fazer para recompensar...
Sol encarou o celular sem esperar que o namorado fosse pedir alguma coisa e ele logo falou.
—Não, não é um nudes, quem pensa que sou? —Ele falou de forma engraçada, a fazendo arregalar os olhos, ele sabia como faze-la sorrir.
Sol gargalhou alto, pela primeira vez em dias e acalmou o coração do seu namorado.
—Sei que não é isso, abestalhado. —Sol usou uma gíria do nordeste, como fazia há um tempo por ouvi-lo falar. —O que quer amor?
Vicente suspirou, e Sol ouvia com atenção.
—Quero que coma, sei que deve estar pulando as refeições, mas precisa cumprir isso caso queira me recompensar. —Ele sussurrou.
Sol bufou, coçou a cabeça e negou.
—É difícil, não tenho fome. —Ela cochichou.
—Tente, por favor. —Ele pediu. —Você precisa está de pé por você mesma, pelos seus sonhos na patinação, pela Liz, pela sua família que se preocupa e por mim que te amo muito e tenho medo de perder você. —Ele suplicou. —Sei que dói demais e se eu pudesse pegava a dor pra mim só para que não doesse em você, mas se a Ceci te ver assim de onde ela tiver, ela não ficará em paz sabe...
Sol consentia as palavras do namorado e chorava, lagrimas desciam e ela as enxugava.
—Eu sei, mas dói tanto... —Sol falou, já entre lagrimas. —É uma dor como se tivesse algo comprimindo seu peito...
—Eu sei, estou aqui para que possa dividir a dor comigo e você não está errada em sentir isso, ninguém está te julgando... —Ele sussurrou, a fazendo consenti. —Se eu mandar umas receitas de comidas do Nordeste para a dona Luzia, consegue provar? Eu peço para meu primo levar na sua casa algumas coisas que não é fácil de achar em São Paulo e tem na casa da minha avó...
Sol sorriu com os gestos do namorado e consentiu mesmo sem ele ver.
—Sim, eu provo. —Ela sorriu. —Tem bolo de rolo?
Ela perguntou e Vicente sorriu.
—Claro que tem bolo de rolo, irei pedir para ele levar hoje mesmo e mandarei a receita para a vó fazer hoje à noite uma comida, se chama xerém... É de milho e bem forte! —Ele falou. —Tenho uma coisa para contar, mãe chamou o Micael para sair do posto de motorista e trabalhar com ela em algo na fabrica a distancia e ele disse que ia pensar.
Sol havia cessado as lagrimas ao entrarem em um assunto da casa do rapaz.
—Nossa, isso é tão bom. —Sol falou. —E o Bruno?
—Acho que ele se acostumou com tudo mais rápido do que imaginávamos, ele e o Micael sempre saem juntos acredita? Eles vivem saindo para pescar, e até foram jogar bola juntos sabe-se Deus onde... —Vicente explicou. —Nos encontramos com painho e eles conversaram para deixar tudo em paz, mas com a relação do meu pai será mais lento, visto que Bruno ainda não quer muita aproximação com a Sandra. —Vicente bufou.
Sol parou de chorar ao ouvir coisas que a faziam imaginar cenários diferentes.
—Tudo leva tempo, é um processo sabe? Em breve tudo estará em ordem e você, está bem mesmo? —Sol perguntou. —Não me esconda nada!
—Estou bem, mas queria estar aí. —Vicente fez voz de choro e ela sorriu. —Estou um pouco entediado, agora eu realmente prefiro São Paulo e sem contar a faculdade difícil, vou te contar...
Vicente passou algum tempo explicando sobre a faculdade e distraiu a mente dela antes do treino, Sol sabia o poder que ele tinha em seu coração e aquilo parecia a proteger de tudo, era bom.
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Uma, duas, três, quatro quedas no mesmo movimento, Sol não estava conseguindo se adequar a nova coreografia e nem a movimentos que ela fazia de olhos fechados, seu cotovelo já estava vermelho de tantas quedas, seu joelho ficaria roxo em algumas horas, e Nadja preocupada com sua aluna roía as unhas de longe.
Sol pausou, respirou, se alongou, treinou com seus colegas mais uma vez e na outra parte da tarde treinaria para as nacionais com Nadja, aquela treinadora sabia de tudo e também já sabia que levaria uns dias para Sol voltar para os treinos ainda vivendo um luto.
—Sol, no ponto alto da música precisa abrir os braços lentamente, mesmo com um giro rápido. —Nadja falou, quando Sol pausou a coreografia. —Quantos quilos perdeu... —Ela sussurrou, sem que Sol ouvisse.
A menina consentiu no meio da quadra e massageou seu cotovelo que já ardia, Sol estava tentando fazer a coreografia sem musica para que não ficasse tão emotiva, visto que estava chorando com facilidade. Ela fez todos os passos com agilidade, girou novamente em apenas um pé abrindo os braços lentamente, fechou os olhos quando saltou para girar no ar e caiu no chão, de uma altura perigosa.
—Sol, pelo amor de Deus!—Nadja gritou e correu. —Tudo bem? Se machucou?
A treinadora entrou na pista as pressas e foi até a menina deitada no chão e chorava com a cabeça encostada baixa, Sol estava frustrada. Nadja se aproximou e a tocou com delicadeza, a treinadora sentia seu coração doer.
—Me deixa, Nadja. —Sol falou, entre lagrimas e empurrou o braço da treinadora.
Nadja se afastou, passou a mão da cabeça e sentiu uma angustia ao vê-la como nunca antes, era um misto de susto com tristeza. Sol sempre foi uma das suas alunas mais eficientes e alegres, daquele tipo de pessoa que não desistia por nada, mesmo se precisasse treinar o dia inteiro ou até mesmo machucada.
Sol sentia seu cotovelo arder mais uma vez, ela sentou no chão e enxugou as lagrimas. A menina não sentia vontade de treinar ou estar ali, não aguentaria mais cobranças ou questionamentos do quão importante eram aquelas competições, Sol retirou os patins e os deixou no chão.
—Sol. —Nadja se aproximou quando ela ficou em pé.
—Vou embora, hoje não. —Sol enxugou as lagrimas. —Não consigo, chega.
Nadja pegou seus patins do chão e os encarou.
—Eu sei da sua dor, eu sou a pessoa que te conhece bem e não irei te julgar. —Sol a encarou e consentiu. —Realmente sei como se sente, fala comigo...
Nadja olhou em seus olhos e negou, apontando os patins em sua direção.
—Não desista agora, está tão perto da... —Nadja pausou a voz quando Sol negou.
Sol pisou forte no chão quase esbravejando, e negou.
—Para Nadja, não vem com essa pressão do quão preciso ser a melhor. —A menina falou alto fazendo eco. —Não me dê sermão do quanto estou mal, do quão meu corpo está fraco, do quão eu estou um trapo e que posso não trazer aquela merda de ouro.
Sol estava vermelha, ela falava rápido e chorava sem intervalos.
—Não estou fazendo isso Seifer, não estou cobrando ou querendo o ouro. —Nadja falou alto. —Estou preocupada com você, com sua dor e como não quero que afunde. —A mulher se aproximou e enxugou as lagrimas dela, e a abraçou. —Não quero que desista dos seus sonhos, sei que perdeu uma amiga...
Sol consentiu, respirando fundo e a soltou.
—Por que não posso desistir? —Sol falou alto novamente, dando de ombros. —Estou morta por dentro, eu nem tenho vontade de acordar de manhã. Acha que por ela não ter meu sangue doí menos? A Cecilia não era apenas minha amiga, ela era a pessoa que eu tinha certeza que nunca me deixaria, a minha metade, a pessoa que não me deixava experimentar a solidão ou se quer passar por uma tristeza sozinha, perdi uma irmã e tudo em mim é dor. —Ela encarou a treinadora e negou. —Todos podemos desistir, é um direito nosso.
Sol saiu andando, e Nadja passou a mão no rosto, beirando o desespero.
—Não desistimos do que faz nosso coração bater mais forte, não desistimos do que nos faz feliz, mesmo que seja difícil. —Nadja falou, fazendo eco.—Ela estava aqui em todas as apresentações e treinos Sol, ela era sua maior fã.
Sol pausou os passos no meio da quadra e baixou a cabeça, ela ouvia em sua mente Cecilia vibrar gritando seu nome em treinos ou competições.
"Solzinha, você é a melhor, irá longe com isso, não desista. Estarei sempre aqui, pulando e vibrando!"
—Acha que não estou triste por vocês, acha que meu coração também não dói? Eu sou um ser humano, Sol.—Nadja deixou uma lagrima cair. —Não desista de si mesmo, não caia e não precisa se importar com a medalha ou colocações, apenas não desista do seu sonho e onde ela estiver, vibrará por você.
Sol encarou Nadja e correu em sua direção, abraçando a treinadora com toda força que tinha nos braços. Nadja a acalentou e tocou sua cabeça segurando mais lagrimas, o choro alto aquela menina ecoava na quadra e Nicole observava tudo de longe, deixando lagrimas caírem.
—Não irei desistir, não me deixe desistir... —Sol sussurrou e ainda abraçada com Nadja, e seu olhar seguiu até a arquibancada, onde via claramente Cecilia bater palmas e gritar seu nome.
A luta era constante para não deixar a dói consumir todas as células do seu corpo, mas ela sabia que tinha razões pelas quais não poderia desistir, mesmo que sua alma tivesse em pedaços.
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