Florescer ღ Capítulo 26

O mês de maio trouxe consigo o quinto mês de gestação de Cecília, e a mudança em seu corpo se tornava cada vez mais evidente. A barriga, que agora crescia mais visivelmente, a obrigava a deixar de lado muitas roupas antigas, embora fosse uma adaptação difícil, aos poucos ela estava se acostumando com a ideia. Mentiria se dissesse que havia aceitado completamente a situação, mas a cada ultrassom, um vínculo sutil começava a se formar. Ela se pegava, quase sem perceber, falando com a própria barriga, chamando o bebê, cujo sexo ainda era um mistério. Embora tentasse disfarçar, a curiosidade para descobrir o sexo era quase palpável.

Seus pais, cumprindo a promessa de estar sempre ao seu lado, ofereciam o apoio constante que ela tanto precisava. Estavam aliviados ao verem alguns progressos, pequenos mas significativos. Cecília, por exemplo, havia escolhido o quarto de hóspedes ao lado do seu para ser o futuro quarto do bebê, justificando com um simples "é melhor para ouvir os choros, pois é perto do meu". Ela também não se recusava mais a tomar os remédios e mostrava interesse em ouvir os batimentos cardíacos do bebê durante as consultas, era engraçado como batia rápido. Em momentos de distração, acariciava a barriga, mesmo que ainda não sentisse nenhum movimento forte lá dentro. Era um gesto quase automático, mas carregado de um carinho crescente, que aos poucos transformava sua relação com a gestação.

Cecília estava rodeada de apoio por todos os lados. Seus pais, sua melhor amiga, e sua psicóloga, por quem ela já nutria um enorme apreço, estavam sempre por perto. O bebê, ainda sem nome e sem sexo revelado, já havia ganhado uma quantidade significativa de presentes, todos cuidadosamente guardados no quarto vazio, à espera de serem organizados e decorados. O ambiente ao redor de Cecília estava mudando, o medo e a insegurança que antes a dominavam estavam dando lugar a uma serenidade que ela nunca imaginou possível.

No dia anterior, Cecília havia completado dezoito anos. Não quis grandes festas ou comemorações, um simples jantar com as pessoas que mais amava foi tudo o que desejou. Ainda assim, recebeu alguns presentes como sua melhor amiga que a deu um mosaico em formato de coração com pequenas fotos delas em diversos momentos, ela recebeu presentes também de familiares distantes, que apesar da distância, mantinham-se conectados de alguma forma.

Naquela tarde, sentada na cama em meio a uma pilha de livros da escola, Cecília recebeu uma caixa grande trazida por uma funcionária.

— O que a vovó me mandou? — murmurou para si mesma, enquanto abria a caixa com uma curiosidade crescente. A lembrança da avó, sempre viajando pelo mundo, trouxe um leve sorriso aos seus lábios. — Onde a senhora está agora? Ainda rodando o mundo?

Com cuidado, ela puxou um cartão que estava no topo da caixa, sentindo uma mistura de saudade e carinho enquanto lia as palavras escritas à mão.

Para minha neta querida parabéns por seus dezoito anos, e meu bisneto preferido e único seja bem-vindo. Com amor vovó, da Holanda.

— Está animada com seu bisneto, vovó? — Cecília sussurrou para si mesma, sorrindo enquanto passava os dedos pelo cartão. — Direto da Holanda... saudade daquela atmosfera.

Com um gesto cuidadoso, Cecília puxou duas caixas de dentro do pacote maior. Uma delas era uma elegante caixa de marca, que logo revelou uma bolsa sofisticada.

— Uau, que linda! — Ela exclamou, encantada com o presente visivelmente caro. O couro macio e o design refinado faziam a bolsa parecer uma obra de arte. Cecília sabia que sua avó tinha um gosto impecável, e esse presente era prova disso.

Cecília puxou a outra caixa mediana e, ao remover o papel de presente, encontrou um móbile super tecnológico em forma de arco-íris. Os pequenos detalhes coloridos e suaves balançavam levemente dentro da caixa, e ela não pôde deixar de sorrir. Era fofo, como tudo que envolvia bebês, e, pela primeira vez, Cecília sentiu um calor no coração ao ver algo do tipo.

— Tenho certeza que o bebê vai amar, vovó — murmurou, acariciando o topo da caixa com carinho.

Ela levantou rapidamente, com o móbile ainda nas mãos, e seguiu para o quarto ao lado do seu, onde pretendia montar o futuro quarto do bebê. Ao entrar, seus olhos passearam pelo espaço arejado e iluminado. A única mobília presente era uma poltrona de amamentação que sua sogra havia comprado impulsivamente ao achá-la bonita. Um grande espelho estava fixado na parede, refletindo a imagem de Cecília enquanto ela explorava o ambiente.

O quarto era espaçoso, com um banheiro mediano adjacente, perfeito para o que ela imaginava para seu bebê. Embora ainda não tivesse decidido as cores ou o tema, Cecília sabia que queria fazer parte de cada escolha, de cada detalhe. Essa era uma das poucas certezas que tinha no meio de tantas incertezas.

Cecilia abriu as janelas do ambiente, e o vento balançou seus cabelos ruivos. Ela sabia que aquele vento do final de tarde seria bom para acalmar os nervos de um bebê chorão.

— Aqui está mais um presente, já tem três caixas cheias — falou. — Nossa, minhas costas doem e meu seio esquerdo está tão dolorido, uau.

Cecilia parou em frente ao espelho e se encarou. Seu corpo havia passado por tantas mudanças, e com certeza, ela estava com alguns quilos a mais... seus braços estavam mais roliços e seus seios bem maiores. Ela levantou a blusa e encarou a barriga, tocando-a. Virou-se de lado e tirou uma foto, algo que vinha fazendo desde que descobriu a gravidez, como parte do seu processo de aceitação ao ver como seu corpo estava mudando.

— Está bem maior essa semana, está crescendo rápido! — disse, tocando a barriga e bufando.

Sentando-se na poltrona pela primeira vez, ela se aconchegou, achando-a confortável. Cecilia começou a abrir a caixa do móbile, não era difícil de montar e, mesmo sendo unissex, parecia algo mais adequado para uma menina.

— É uma sensação estranha eu achar que você é uma menina, mas claro que não é como se eu pudesse saber o que tem na sua genitália... — Ela falou, obviamente com o bebê. — Se for mesmo uma menina, tem sorte pois ainda lembro como eu arrumava os cabelos das minhas bonecas.

Falando com a barriga, ela montava o mobile com paciência.

De longe, sua mãe observava a cena com a mão no peito e um sorriso no rosto. Com toda certeza, o amor estava nascendo no coração de sua filha, mesmo que ela negasse que existisse algum vínculo.

Catarina fechou a porta sem que Cecilia percebesse e saiu, sem fazer pressão ou forçar algo.

— Pronto, montei — disse Cecilia, com o móbile apoiado na barriga. — Agora é só apertar em "start"...

Uma música lenta ecoou no ambiente, o instrumental de uma canção que ela não conseguia recordar, mas que era calma e fofa. Cecilia se encostou na cadeira, fechou os olhos, e a música continuou a tocar. Ela lembrava das palavras de sua psicóloga sobre a importância de criar vínculos, ela pousou a mão na barriga e a acariciou.

— O que foi isso, tão forte? — Cecilia se assustou, e o móbile caiu no chão. — Uau, tudo bem ai dentro?

Com a mão na barriga e olhos arregalados, Cecilia sentiu seu coração descompassado quando sentiu uma pressão em sua barriga. Aquele bebê havia mexido pela primeira vez com força e possivelmente era um chute, a fazendo encher os olhos de lagrimas.

— Nossa, que sensação estranha e... — Ela tocou a barriga quando sentiu um chute mais forte. — Você já tem força, mas não dói como eu pensei. Está bem? Demorou para dar um sinal de vida com tanta força...

Cecilia sentia seu corpo tremer e sorriu verdadeiramente pela primeira vez em meses. Seus olhos cheios de lágrimas era a prova da conexão que todos afirmaram que ela sentiria. Naquele momento, poderia parecer mentira, mas ela conseguiu esquecer qualquer sentimento de rejeição anterior, ou pelo menos era o começo do fim dele.

Ela pegou o celular e discou para Júnior, que estava em um evento da faculdade e não atendeu.

— Seu pai não atende, droga. — Ela tentou ligar mais vezes, mas ele continuou não atendendo. — Ele está ocupado, mas logo o contarei que você é um bebê forte!

O bebê ainda se mexia muito e com base no que sentia, Cecilia apertava a barriga suavemente. Ela pegou o mobile e ligou a música novamente, certa de que a melodia havia agradado o bebê. Não queria se levantar naquele momento.

— Mãe... — Ela chamou em voz alta. — Corre aqui no quarto do bebê, rápido.

Ela estava sorrindo com a mão na barriga, quanto mais sentia aqueles movimentos, mais sorria.

— O que foi, Ceci? — Catarina entrou no quarto às pressas e encarou a filha sorrindo com olhos marejados.

— Mexeu forte, mãe... Quando eu liguei isso. — Cecilia explicou, e Catarina se agachou, sorrindo como uma boba. — Nunca tinha sentido tão forte assim...

A avó estava feliz e logo tocou a barriga da filha.

— Gostou da música que sua mãe colocou? Esse mobile veio da Holanda...— Catarina falou, tocando a barriga da filha com a ponta dos dedos e o bebê se mexeu. — Demorou tanto para mexer assim, tudo bem aí?

— Mexeu de novo! — Cecilia sorriu, genuinamente, mostrando todos os dentes alinhados, exceto um um pouco torto que era seu charme.

O dia da consulta de pré-natal havia chegado. Cecilia decidiu que não queria um chá de revelação por ainda estar construindo a relação com aquele bebê, talvez ela até fizesse um chá de bebê mais adiante, mas ainda estava reconhecendo todos os sentimentos nunca vividos antes. Após o dia em que sentiu o bebê mexer, ela se sentia mais próxima e até pensou em alguns nomes sem a ajuda de Júnior, que estava um pouco mais atarefado do que antes.

Catarina, Cecilia e Sol percorreram o shopping inteiro até chegarem à parte das clínicas médicas, onde a médica obstetra atendia. A futura mãe estava nervosa, algo que não tinha acontecido nas outras vezes, e Sol, ao seu lado, sorria ao ver a amiga finalmente demonstrar algum sentimento.

A doutora Laís, madrinha de Sol, se dividia entre consultas e partos das gestantes que acompanhava e sempre sentiu uma alegria especial ao cuidar da amiga de Sol.

As três se sentaram, e Cecilia segurava com força a pasta onde estavam os exames feitos semanas antes.

— Já é a segunda consulta que o Júnior não vem. O que houve? — Catarina quebrou o silêncio.

Sol observou as expressões de Cecilia, que apenas negou com a cabeça.

— Não sei, este ano ele está se formando e diz que está tudo tão corrido na faculdade. — Ela sorriu friamente. — É difícil até falar por celular com ele, mas minha sogra me liga todos os dias.

— Vocês brigaram? — Sol perguntou.

Cecilia negou rapidamente.

— Não, nem assim seria um sumiço compreensível. — Cecilia respondeu.

Catarina cruzou os braços e respirou fundo, certa de que Júnior não bancaria o pai ausente, dado todo o cuidado que sempre demonstrou. Ou talvez a mulher vivida estava sendo igualmente ingênua como a filha.

— Cecilia Cavaliere. — A recepcionista chamou e Cecilia se levantou junto a Catarina.

Sol afirmou esperar lá pois não poderia entrar mais de um acompanhante e Cecilia sabia que ela passaria o tempo falando com Vicente, então apenas se tranquilizou.

As ruivas entraram na sala confortavelmente colorida, onde Lais as recebeu com abraços, como sempre. Elas se sentaram para que a médica pudesse examinar os resultados, Lais olhou tudo por vários minutos com um olhar sério, e pediu para Cecilia descrever como estavam sendo os dias e como estava se sentindo.

— Dias atrás, o bebê mexeu pela primeira vez e eu fiquei tão feliz, sabe? Aos poucos, estou me acostumando com a ideia e tentando criar um vínculo maior. Meus seios estão bem doloridos, principalmente o esquerdo.

Catarina confirmava tudo com um aceno de cabeça. Lais anotou várias informações e explicou mais algumas coisas que uma mãe de primeira viagem precisava saber.

— Certo, vou prescrever alguns exames adicionais, inclusive de mama e preciso que você consuma mais alimentos ricos em ferro. Isso é muito importante para o desenvolvimento do bebê e para a sua saúde. — Lais explicou, seriamente.

— Certo. — Cecilia consentiu.

— Mais exames? — Catarina perguntou.

Lais explicou que tudo era minucioso no início da gravidez.

— Irei te levar para o ultrassom, certo? Após isso, você retorna aqui para a sala e me mostra os resultados. Pode demorar um pouco, mas é necessário.

A mãe e a filha saíram da sala para esperar um pouco mais pelo ultrassom. Cecilia estava aliviada por seus exames estarem normais; era um sentimento novo, de alívio e não de apatia. Catarina saiu para atender uma ligação, e Cecilia se sentou ao lado de Sol, que estava trocando mensagens.

— Sol, meus exames estão bons. — A ruiva sorriu, fazendo Sol guardar o celular.

— Nossa, que alívio! Meus amores estão bem!— Sol abraçou a barriga da amiga, ainda de pé. — A tia estava aflita esperando vocês... — Cecilia sorriu.

A ruiva sentou.

— Estava nada, estava era falando com o gato do Vicente! — Cecilia exclamou, e Sol consentiu. — Tudo bem por lá? — A ruiva perguntou.

Sol consentiu e falou brevemente sobre o que haviam conversado.

— Ele tem uma rotina que segue fielmente e afirmou que está mesmo parando com o cigarro. Isso me deixa feliz, orgulhosa... — Sol sorriu.

Cecilia fez uma careta para a amiga e consentiu.

— Acredita nele tanto assim? E se ele não estiver parando? — Cecilia provocou Sol.

A patinadora consentiu, sem pensar muito.

— Eu acredito nele. — Sol rebateu. — É tudo que posso dizer.

Cecilia sorriu, sabendo que a amiga realmente gostava de Vicente. Ela até tinha sondado as redes sociais dele e, de fato, ele parecia confiável, mas Sol negava a paixão a todo custo. Cecilia também estava ciente da situação com Yuri e temia que Sol estivesse dividida entre os dois, visto que ela encheu os olhos de lágrimas ao falar de tudo que seu ex-namorado passou e Cecilia até se arrependia das vezes que escorraçou Yuri.

— Irá conversar com o Yuri?

Sol, encarando as mãos, consentiu. Ela sentia uma enorme necessidade de pedir desculpas.

— Vou, só não sei como falar. Se ele não contou, é porque não gosta de falar sobre. — Sol explicou. — E você vai continuar ignorando a ausência do Júnior no momento da sua vida que mais precisa dele?

Sol encarou a amiga, chamando sua atenção diretamente. Estava muito claro que Júnior estava aos poucos fugindo das coisas básicas que Cecilia precisava, e ela passava pano como se não fosse nada demais.

— Cecilia Cavaliere, ultrassom, sala 5. — A recepcionista chamou, antes que Cecilia pudesse falar.

Catarina não chegou a tempo de entrar com a filha, então as meninas levantaram e Sol foi em seu lugar.

— Vamos! — Cecilia puxou a mão de Sol, e elas seguiram para a sala de ultrassom.

A sala gelada era nova para Sol, ela nunca havia feito nenhum exame daqueles fora em seus joelhos e estava curiosa para ver como funcionava. Cecilia parecia já estar familiarizada com a médica e com os exames, então logo se deitou na maca e levantou a blusa, deixando a barriga à mostra, o que fez Sol sorrir.

Assim que a médica começou o exame, os batimentos do bebê apareceram no monitor, fazendo as garotas observarem atentamente. Os batimentos estavam rápidos para um bebê tão pequeno, mas aquilo não era ruim.

— Decidiu se quer fazer o chá revelação, mamãe? — A médica perguntou.

— Não, irei fazer o chá de bebê mais tarde. — Cecilia explicou. — Eu estou vivendo as pequenas coisas lentamente e me acostumando com tudo, o sexo também será um momento de reflexão.

Sol sorriu orgulhosa da amiga, Cecilia estava amadurecendo mais em relação ao bebê e estava vivendo um dia de cada vez assim como sua psicóloga falava. A patinadora encarou o celular e procurou o nome de Yuri nas mensagens arquivadas antes que desistisse da ideia para a conversa.

Yuri, podemos nos encontrar para conversarmos nos próximos dias?

Sim Sol, quando precisamente?

Ele respondeu de imediato e Sol mandou mensagens rapidamente, voltando sua atenção para a medica que explicava sobre o bebê.

— Todas as circunferências estão normais, os órgãos em formação também estão no ritmo certo. — A médica falava, olhando atentamente. — Dez dedinhos, olhos, nariz, boca e orelhas.

Cecilia respirava com um certo alívio. Ela não viu nada além de borrões pretos por um tempo, mas, em algum momento, a médica ajustou o equipamento, e elas viram o bebê perfeitamente. Todas as curvas, os bracinhos e as pernas curtas; Cecilia apontou e mostrou a Sol, que já tirava fotos discretamente e sorria como uma tia boba.

— Nossa, é tão pequeno. — Cecilia falou, e a médica sorriu. — Já pode ver o sexo e qual o mês que nasce? Eu menstruei a última vez no dia vinte de dezembro...

A médica sorriu, sabendo que já havia falado sobre isso, mas Cecilia não estava tão atenta nas consultas anteriores.

— Você está com vinte e uma semanas, ou seja, com cinco meses e uma semana e provavelmente o bebê venha ao mundo em setembro... Seu bebê está medindo vinte e nove centímetros e pesando em média trezentos e cinquenta gramas. — Disse a médica.

Cecilia anotava tudo em sua mente.

— Isso não é pouco? — Cecilia perguntou.

— Ah, não. Ele começou a crescer agora, e tudo está bem.

— Já dá pra ver o sexo? — Sol perguntou.

A médica mexeu um pouco mais no equipamento e sorriu.

— Olha, me parece que esse bebê não gosta de abrir as perninhas, mas posso tentar um pouco mais.

A médica, simpática, continuou tirando muitas fotos do bebê, e, em pensamento, Cecilia pedia para que o bebê abrisse as pernas.

— Agora sim, muito bem, bebê. — A médica sorriu, e as meninas arregalaram os olhos. — A mãe normalmente sente qual vai ser o sexo. Você sente?

Cecilia não respondeu, como se sentisse vergonha. Ela achava mesmo que aquele sentimento era loucura, como poderia sentir aquilo?

— Fala, Ceci! Deixa de coisa! — Sol exclamou, e a ruiva revirou os olhos.

Sol estava ansiosa, ela recordava da sua aposta com Vicente e sorria.

— Tá. — Cecilia resmungou. — Não sei como isso pode bater, mas dias atrás eu cheguei a sentir que era uma menina de alguma forma.

A médica assentiu, deu zoom na tela e pediu para Cecilia olhar fixamente e tentar descobrir. Sol não via nada, e Cecilia também não.

— Você estava certa, mãe. É uma menina! — A médica sorriu, e Cecilia arregalou os olhos.

Sol gargalhou, tampando os olhos e Cecilia sorriu com os olhos cheios de lágrimas.

— Acertei, é mesmo uma menina? — Cecilia sorriu com os olhos arregalados, perguntando à médica.

— Sim, cem por cento de certeza. Parabéns, você vai ser mãe de uma princesa!

Cecilia estava cheia de sentimentos novos e indecifráveis, um misto de medo e excitação, como se aquele arco-íris do mobile já soubesse. Agora, ela poderia usar um pronome e começar a pensar em uma cor, e claro, nos penteados que faria na bebê.

— Minha netinha, eu sabia. Me desculpe por não ter entrado com você e por ter te deixado sozinha após a ultrassom. Laís chamou apenas você após a ultrassom? — Catarina abraçou a filha emocionada. — Precisamos ir a algumas lojas.

— Entrei sozinha porque a Sol foi falar com a treinadora dela e você sumiu. Foi só por isso, sem neura... — Cecilia explicou, com simpatia.

Sol confirmou, mostrando a Catarina que a explicação de Cecilia era a verdade. Catarina sorriu ao ver a filha um pouco mais sorridente, e as três saíram andando juntas.

Elas percorreram metade do shopping, e quando entraram em uma loja, Cecilia se aproximou pela primeira vez de uma roupinha pequena, tocando-a. Ela lutava para se afastar de tudo aquilo, mas algo a impedia... Aquela mãe estava sendo invadida por um sentimento que duvidou um dia ter.

Ela pegou o celular e discou o número do namorado.

— Oi, amor — ele respondeu, apressado.

Ela sorriu ao ouvir sua voz.

— Oi amor, preciso te contar algo bom. Hoje eu fiz aquela ultr... — Ela ouviu barulhos e se perguntou se ele tinha ouvido. — Júnior?

Cecilia bufou, buscando paciência.

— Amor, pode me ligar daqui a uma hora? — Ele pediu, e ela respirou fundo. — Estou um pouco...

Cecilia desligou a ligação sem se despedir do namorado e jogou-o na bolsa. Ela encarou a mãe de longe, que lhe mostrou um sapatinho e sorriu, como se o desprezo do namorado não a afetasse mais uma vez. Cecilia pegou uma roupinha pequena, e mais uma e em poucos minutos suas mãos estavam cheias.

Ela e Sol, aos poucos, escolhiam junto a Catarina muitas roupinhas pequenas e alguns sapatinhos tão pequenos quanto a palma da mão. Era tudo tão novo, a moça da loja até lhes deu uma lista de tudo o que os bebês precisavam e Catarina percebeu que os tempos haviam mudado e que os bebês pareciam precisar de mais coisas. Elas compraram algumas coisas e Cecilia afirmou que estava pronta para pensar em nomes, o que faria sozinha, deixando Catarina feliz.

A noite havia chegado de forma tranquila na mansão dos Cavaliere, e Júnior havia aparecido para jantar com Cecilia. As semanas anteriores haviam sido repletas de surpresas, ela havia descoberto e aprendido tantas coisas novas, sentido tantas emoções e até feito compras que antes não sentia vontade de fazer.

— Amor, apenas salada é o suficiente? O bebê precisa de mais sustância... — Júnior perguntou, sendo fuzilado com o olhar de Cecilia.

Os pais de Cecilia conversavam entre si enquanto comiam.

— Você aprendeu o que era saudável para o bebê indo apenas em duas consultas de pré-natal? — Cecilia cochichou, e Júnior pisou lentamente. — Que autodidata você é...

O jantar continuou, e Júnior sentiu uma pontada de culpa quando foi atingido pelas palavras da namorada. Ele se sentiu deslocado ao ouvir seus sogros discutindo sobre o arquiteto que viria na próxima semana e se era melhor deixar a janela ou retirá-la do quarto do bebê. Ele nem sabia de que janela estavam falando.

O casal entrou no quarto, e Júnior quebrou o silêncio. Cecilia, sem responder, entrou no banheiro e bateu a porta, decidida a tomar um banho longe dele. Pouco tempo depois, ela saiu do banheiro vestindo um roupão que deixava sua barriga evidente, sentou-se na cama e começou a passar cremes no rosto.

— Por que está tão ríspida? — Júnior perguntou, olhando para ela.

Ele se sentou na cama à sua frente, buscando uma resposta.

— Amor, o que houve?

Cecilia bufou e o encarou.

— Você achou que por eu ser mais nova e ter engravidado na adolescência, eu sou burra? — Ela sussurrou. —Não se esqueça que eu também sempre quis transar com você, já sou bem grandinha e esperta.

Júnior arregalou os olhos.

— Achar que você é burra? Como assim?

Cecilia se manteve calma, respirou fundo e sorriu.

— Você está distante há pouco mais de um mês, mal vem aqui, atender minhas ligações está sendo um desafio, e quando atende, me manda ligar depois como se eu fosse um brinquedo — ela falou, e ele arregalou os olhos ainda mais.

— Cecília, eu trabalho e estudo, o que quer que eu faça? Eu sempre estive aqui, não está sendo injusta? Esqueceu que estive ao seu lado quando você surtou e passou meses rejeitando o...

Cecília o interrompeu, assentindo.

— Eu já fui muita coisa, já errei muito e sei que vou errar mais, não preciso que você me lembre o quão péssima fui como mãe, pois isso eu já lembro todos os dias. Mas injusta com você nunca fui... — ela falou, com o rosto já vermelho. — Muito obrigada por ter feito sua obrigação de estar ao lado da pessoa que carrega um filho seu, em um momento como aquele. Quer mais algum agradecimento ou prefere um premio em dinheiro?

Ele boquiaberto sem palavras, apenas sorriu coçando a cabeça.

— Onde estava você quando eu precisei que fosse ao psicólogo comigo, ou nas ultimas ultrassons? Onde estava quando meu peito vazou leite ou quando o bebê mexeu pela primeira vez? Onde estava quando a médica perguntou pelo pai nas últimas consultas do pré-natal? Onde estava quando o quarto foi escolhido e eu precisava de uma opinião sobre a janela? Lembra quando disse que eu poderia escolher os nomes sozinha? Tipo, sério? O nome de um filho seu? — ela perguntou, com lágrimas nos olhos. — Você sabe de quantas semanas estou? Quais os sintomas que venho passando? Sabia que mal posso amarrar os cadarços e que meu peito está doendo? Sabia que fui em uma loja de bebê pela primeira vez hoje e você não estava lá, mesmo sem ter aula a tarde e seu patrão sendo seu pai?

Ela cruzou os braços e ficaram em pé juntos, um em frente ao outro.

— Eu errei sim, e me perdoa, tá? Mas eu estou fazendo o que posso e em nenhum momento quis te deixar sozinha. Tudo também é novo para mim, caramba eu amo vocês... — ele falou. — Eu disse isso sobre os nomes porque não tenho criatividade. Por que tem que ser tão insensível assim?

Ela arregalou os olhos e gargalhou.

— Insensível? Eu? Então não está vendo o quão estou me esforçando para cuidar de mim e da bebê? Você não pode ver o quão tenho me esforçado para me livrar de sentimentos ruins e amar nossa filha?

Junior encarou Cecilia, que tinha seus olhos cheios de lágrimas, deixando uma escorrer.

— Fi... Filha? — ele gaguejou.

Cecilia riu, pegou o ultrassom e jogou em sua direção, fazendo-o segurar.

— Insensível? Eu? Então não está vendo o quão estou me esforçando para cuidar de mim e do bebê? Você não pode ver o quão tenho me esforçado para me livrar de sentimentos ruins e amar nossa filha?

Junior encarou Cecilia, que tinha seus olhos cheios de lágrimas, deixando uma escorrer.

— Fi... Filha? — ele gaguejou.

Cecilia sorriu, e consentiu.

— Semanas atrás, você não pôde ir à aula de parto e amamentação comigo. Dias atrás, tentei te falar que ela mexeu pela primeira vez. Ontem, te mandei mensagem para ir comigo ver sua filha, e você não pôde. E hoje te liguei para contar que você será pai de uma menina, mas você me mandou ligar depois... — Ela o encarou, indignada. — Então, eu sou a insensível?

Junior se sentou na cama, se sentindo péssimo, e viu o laudo do exame que confirmava que era uma menina e uma foto da ultrassom com um laço na cabeça da bebê.

— Vamos ser pais de uma menina, amor... — Junior sorriu largo, fazendo o coração dela bater forte. — Podemos escolher um nome em homenagem à minha...

Cecilia o encarou indignada.

— Homenagem? Não fode... — Cecilia soltou um palavrão, o assustando. — Liz, o nome dela é Liz. — Ela concluiu.

Junior encarou Cecilia, sem jeito.

— Você já escolheu... — Ele sorriu sem graça.

— Como pedi, escolhi sozinha. — Ela guardou a ultrassom. — E para ficar sabendo, esse nome significa a prometida de Deus  ou a que foi consagrada a Deus.

Cecilia sorriu ao falar o nome da filha em voz alta pela primeira vez.

— Não é fácil, Junior. Enfrentar a depressão na gravidez não é fácil, e os sintomas junto ao cansaço são horríveis. Eu não suporto o fato de estar grávida e aguentarei os julgamentos, pois sou sincera. Mas... eu sinto algo tão bom com seus chutes fortes e seus batimentos acelerados. Luto todos os dias para deixar o amor que já está aqui florescer e para que ela nasça com muita saúde. Porém, ainda não sou o exemplo de mãe perfeita. Eu vou deixar esse bebê seguro em mim, vou protegê-la e ela vai nascer saudável, não importa o que. — Cecilia falou com decepção ao olhar para o namorado. — Porém, continue vivendo sua vida com suas prioridades, sejam elas quais forem, mas veja bem o que está perdendo e o que está disposto a perder futuramente, pois não irei cobrar nada, nem presença e muito menos dinheiro.

Cecilia deixou Junior mudo ao afirmar que amava a filha, pegou as sacolas com as coisas da bebê e foi até o futuro quarto da bebê sem chamá-lo. Cecilia não sabia muito bem como amar um filho, mas definitivamente amava Liz.

Deem as boas-vindas a pequena Liz ♥

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