Família do barulho ღ Capítulo 2
Sentada no banco da frente do carro da sua mãe, Sol e parte da sua família seguiam mais deixar Sofia e Cristian na escola, semanas passaram de pressa e sua mãe havia conseguido pega-la na escola todos os dias. Isis mesmo com a vida corrida se esforçava para estar sempre com seus três filhos, com o passar dos anos diminuiu seu ritmo de trabalho afinal a mesma se sentia mal ao passar dias sem vê-los.
Sol cantarolava uma canção que passava na rádio e seus irmãos afirmavam que a mesma não havia nascido para cantar, mesmo assim ela cantava. A música era uma das suas fugas, a mesma sempre estava portando seus fones de ouvido principalmente quando estava nas pistas.
Parando da porta da escola mediana, Sofia e Cristian saltaram do carro e se penduraram na janela do carro. Eles eram tão fisicamente parecidos que se não fosse pela diferença de estatura as pessoas diriam que eram gêmeos. Sofia sempre foi uma menina vaidosa e amava seguir modas com duas mechas rosa em seu cabelo preto e mesmo com seu gênio forte aceitava os conselhos da irmã mais velha e Isis respirava aliviada. Cristian era o mais novo e a criança mais levada do bairro, todos o conheciam. Ele amava jogos online e futebol, era o mais apegado a Sol e se recusava a dormir em um ambiente que a mesma não estivesse. Sempre foi extremamente inteligente, possuía um senso de humor surreal e era a pessoa que mais fazia sua irmã mais velha sorrir.
— Mãe, vem buscar a gente? — Sofia falou e Cristian sorriu. — Hoje é sexta, uma hora mais cedo.
— Estarei de plantão a noite, mas farei de tudo para vir como é mais cedo. — Isis sorriu e eles consentiram. — Se eu não vier, alguém vem, ok? Mesmo amanhã sendo sábado, não fiquem acordados até tarde.
Isis não gostava de deixar os filhos andando sozinhos pelas ruas de São Paulo sendo tão novos, o mundo estava perigoso demais.
— O alguém serei eu, vão. — Sol acenou, os mandando entregar e assim fizeram.
Isis deu partida no carro e pegaram um caminho diferente do de costume, que seria para casa. Sol permaneceu em silêncio durante o caminho, com sua cabeça invadida por pensamentos aleatórios. Ela sabia que sempre que sua mãe vinha pegá-la, elas paravam em algum lugar para conversar; em casa, não tinham tanta privacidade como queriam.
Ela sentia que sua mãe queria falar sobre seu pai, elas se conheciam pelo olhar facilmente. Sol se preocupava com a saúde do pai, mesmo que as pessoas ao seu redor falassem que tudo dependia dele.
O carro parou em uma praça pequena, onde havia carrinhos com comidas e mesas de cimento na sombra. Sol agradeceu por ter tirado sua farda quente e apenas se animou ao ver comidas boas. Elas se sentaram de frente uma para a outra e Isis sorriu para a filha.
— Treinou muito hoje? — Ela passou a mão nos cabelos da filha e Sol consentiu. — Como se sente no seu último ano de colégio? Parece que foi ontem que nasceu em meus braços, já é quase uma adulta!
Sol sorriu, ela gostava quando sua mãe contava fatos do seu passado e de como ela chegou à vida da enfermeira. Isis sempre fez questão de criar Sol ensinando que a mesma havia nascido do seu coração, e com o passar dos anos a ensinou sobre adoção e da importância de em hipótese alguma se sentir menos filha que seus irmãos. E Sol cresceu agradecendo a sua mãe biológica por ela ter escolhido Isis, elas duas tinha uma conexão de outro mundo.
— Na verdade, nasci nas mãos da madrinha Laís. — Isis concordou e sorriu, Sol sempre falava as mesmas coisas. — E treinei muito, afinal é meu último ano representando o colégio Foccus. Sobre o último ano, quero passar na faculdade pública, mas é difícil... — Ela arrumou seus óculos e explicou sem jeito para continuar no assunto.
— Não te quero sob pressão, não quero que adoeça. Estude o suficiente, se não passar, nós daremos um jeito, e seus outros avós já falaram que ajudarão juntamente em sua faculdade... — Isis pediu dois cachorros-quentes e tentou falar para Sol o que estava em seu coração.
Com os braços sobre a mesa, Sol observava a mãe em silêncio.
— Eu não quero pedir ajuda aos meus outros avós, eles não são tão próximos assim... — Sol sorriu sem jeito e Isis revirou os olhos.
— Mesmo eles não sendo emocionalmente próximos, te amam muito.
— É, eu sei. — Sol sussurrou e Isis a encarou.
— A vovó está bem, mãe? — Ela perguntou.
A senhora Luzia era uma idosa forte, que sempre dizia está bem, mas fazia alguns anos que seus rins não estavam bem por conta de sua glicose. Ela sempre foi uma mulher admirável, estressada, viciada em café e cigarro para o desespero da filha enfermeira. Sempre foi uma mãe incrível o que a fazia ser a melhor vó que o mundo já viu, segundo Cristian, Luzia ficou viúva cedo e após isso teve todo o suporte das filhas e do genro para levar a vida da melhor maneira que conseguia mesmo tomada por dores, hoje ela se encontra aposentada, dedica seu tempo à costura e aos seus netos.
— Sim, está indo bem, graças à dieta. Os exames dela deram normais, tirando a glicose; isso está sendo controlado ainda. — Isis falou, e Sol consentiu.
— E o pai? — Após o curto silêncio da mãe, Sol já sabia a resposta. — Ele está cumprindo a promessa ao longo dessa semana?
— Sim amor, essa semana ele ainda não bebeu. Mas é sempre a mesma coisa, e desanda quando chega o final de semana. — Ela suspirou, e Sol deglutiu seco. — Esse ano faz três anos que seu pai perdeu aquele emprego por conta do álcool, e se perdeu ainda mais. E me sinto mal por não ter me dado conta mais cedo...
Isis se culpava por não ter percebido o vício do seu marido com antecedência, mesmo todos afirmando que ela percebeu o mais cedo que poderia. Ninguém sabia quando de fato isso havia começado, mas se tornou tão constante que Charles perdeu seu emprego e tinha consciência de que estava perdendo sua família aos poucos.
— Mãe, não se culpe. Ele bebe, ele sabe de todo mal que faz a si mesmo, e fazemos o que podemos, mas é uma doença. — Sol falou, sem muito saber o que dizer. — A vovó sempre fala que o primeiro passo para a cura é reconhecer seu vício.
Para a menina, tudo era pesado demais para organizar em pensamentos; era tudo muito doloroso, pois sempre vinha em sua mente memórias de quem era Charles antes do vício. Ele sempre foi um super pai, um ótimo marido, sempre deu todo amor à família, e era recíproco.
— Tem razão, e o pior de tudo é que ele insistiu em dizer que irá parar sozinho. Mas são apenas promessas. O antigo Charles faz falta para toda a família; nem o reconheço mais. Tento mostrá-lo o quão esse vício acaba com tudo, mas... — Isis lamentou. — Ele está cada vez mais grosso, impaciente, e quando chega bêbado, ousa levantar a voz. Como enfermeira, eu sei o que é preciso fazer, mas como esposa é tudo tão complicado.
Sol encarava a mãe, sentindo sua dor. A dor de uma pessoa que amava profundamente o marido e sentia o perder pouco a pouco. Isis já havia tentado de tudo, desde conversas em família, reuniões no AA até uma possível internação com o consentimento do marido, toda a família tentava ajuda-lo e o mesmo recusava a ajuda.
Era muito difícil para Sol pensar sobre o alcoolismo, mas a mesma sempre fez muitas pesquisas sobre a doença a fim de acalmar seu coração aflito, ela viu que é um vício que assola muitas famílias pelo Brasil e pelo mundo. Ela sempre esperava ajudar o pai com as conversas que os dois tinham em momentos de sobriedade quando o mesmo mostrava ainda ser o pai amoroso de sempre, mas só as conversas não adiantavam, Charles sempre dizia que tudo isso sempre era mais forte que ele.
— Andei pesquisando, muitas pessoas acometidas por essa doença tendem a ficar cada vez mais agressivas quando entram em abstinência. Acabei assistindo entrevistas onde familiares relatavam sobre pessoas que bebiam e sumiam por dias, pessoas que agrediam, e até pessoas que morreram por conta das consequências do álcool frequente no organismo. — Sol falava sem parar quando estava aflita, ela explicava tudo que estudou, e Isis sentia seu coração palpitar.
Ela não queria mais seus filhos presenciando o pai daquela forma, não queria ver Charles se acabando aos poucos e se recusava a colocar seus sentimentos à frente de tudo, mesmo o amando. Ela sabia que algo precisava ser feito, mesmo que fosse contra a vontade do marido; a situação estava piorando a cada dia.
— Não ocupe sua cabeça com essas coisas, por mais que ele seja seu pai e o ame. Não podemos passar a mão na cabeça dele; ele precisa querer ser tratado e voltar a ser o Charles que sempre foi amado por todos naquela casa. Vou resolver isso, ou pelo menos tentar novamente. Vamos comer. — Isis suspirou, e Sol sorriu de canto ao ver a comida.
As duas comeram lentamente; após isso, tomaram um sorvete, como era de lei, e conversaram sobre outras coisas. Sol tentava seguir o pedido da sua mãe, porém não conseguia parar de pesquisar e tentar achar soluções. Parte dela sentia medo de perder seu pai, e outra parte tinha esperanças de que ele pudesse superar isso.
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— Na primeira semana de aula, Cristian, você é inacreditável. — Sol estava estressada com seu irmão mais novo e pode desabafar assim que passou do portão de casa. — Sorte sua que a mãe não foi te buscar, não aprendeu nada sobre ser paciente e respeitoso?
Sol tentava ser paciente, mas, como todo ser humano, às vezes se estressava muito. Quando Sol chegou em casa, ajudou sua avó e seguiu rumo aos seus afazeres. Ela tinha a missão de buscar seus irmãos na escola e assim fez, mas a professora de Cristian não poupou detalhes sobre o quão seu irmão se comportou mal no primeiro dia de aula.
— Ele não se contenta com os problemas que essa casa já tem. — Sofia falou e jogou a mochila no sofá. Luzia saiu da cozinha com um pano no ombro em busca do barulho. — Cristian, você passa dos limites.
— Pelo menos eu não passo o dia como você, ficando louca por esses coreanos. — Cristian falou, puxando briga com a irmã, e a mesma ameaçou jogar sua bolsa no garoto.
Sol olhou para a irmã, mandando-a parar, e levantou bufando.
— Primeiro, gostar de cantores e bandas não é nada ruim. Segundo, não ouse a ser preconceituoso com culturas diferentes da sua. Terceiro, estou com a cabeça cheia, com a escola a mil, e passei quase meia hora ouvindo coisas erradas que você fez, então não fale mais nada. — Sol falou, cerrando os dentes e bufando em seguida.
A irmã mais velha estava desabafando, Sofia estava brava e Cristian se calou, os três irmãos sentaram no sofá grande e Luzia os encarou. Charles saiu do banheiro enxugando os cabelos, tentando estender o furacão que estava passando por ali.
— Santo Cristo, que gritaria é essa? — Charles falou de longe e Sofia apontou para seu irmão com o polegar.
Charles logo se aproximou, assustado com os gritos e Luzia o acompanhou.
— Os pestinhas estão brigando por quê? Sofia, sua mochila. — Luzia apontou para o sofá e a menina com a cara fechada pegou sua mochila enfeitada. — Charles, olha ali aquela panela.
— Pode deixar que resolvo, sogra, não se preocupe. — Charles falou e Luzia consentiu, voltando para a cozinha.
Luzia era mais paciente como avó do que foi como mãe, ela mimava os netos e os educava na ausência de Isis. Charles, apesar de igualmente paciente, sempre tinha um pouco mais de dureza para castigos.
— Pai, o Cristian desrespeitou a professora e, como se não bastasse, está caçoando os gostos da Sofia com os coreanos... Eu passei meia hora ouvindo a professora falar e falar, imagine isso. — Sol contou e Cristian fez cara de choro. — Chore e aprenda a respeitar os mais velhos, assim como eu e a Sofia.
Sol estava realmente brava, contando tudo que ouviu da professora e Charles observava atentamente seu filho mais novo.
— Cris, eu não acredito, novamente desrespeitou a professora? Sabe como ser professora é difícil? Você tem uma avó e uma tia professoras e imagina pessoas desrespeitando-as... — Charles bufou, coçando a cabeça. — E ser preconceituoso com culturas? Que belo jogador de futebol será, não acha? Sem vídeo game, por tempo indeterminado.
Cristian cruzou os braços e bufou.
— Ô pai... — O menino tentou falar e seu pai levantou o dedo, avisando que ia falar.
— Cristian, peça desculpa à sua irmã imediatamente. —Charles pediu. —E segunda feiras iremos juntos a escola e quero ver você se desculpando com a senhorita Arlete.
— Desculpa, Sofia... — Cristian falou cabisbaixo e Sol bufou, saindo da sala.
Cristian encarou sua irmã e ela consentiu o desculpando.
— Desculpas pedidas, agora lembre-se de respeitar as pessoas, seu pestinha! — Sol falou, chocando seu pai com seu estresse.
Charles concordou com a filha e sentou para conversar com o filho mais novo, que desfez a cara de choro e reconheceu seu erro.
As meninas foram para o quarto, e Sofia recebeu um remédio para cólica. Ela estava passando por isso há poucos meses e sabia que nunca se acostumaria com a dor, por mais que sua irmã falasse o contrário.
— O Yuri foi levar a Yuna na escola e me cumprimentou — Sofia sussurrou, fazendo Sol a encarar. — Fiz mal em responder? Ele disse que ficou feliz em me ver e a irmã dele é minha melhor amiga...
Sofia sabia de tudo que havia acontecido e jamais queria magoar a irmã.
— Não fez mal. Ele não é uma má pessoa e você é educada. Apenas não demos certo, apenas se ele falar de mim, você corta. A Yuna é uma ótima menina e vocês serem amigas é algo ótimo! — Sol prendeu os cabelos e sorriu. — Se anime, sua menstruação significa que seu útero está sendo limpo.
Sofia revirou os olhos com o sorriso da irmã e se perguntou como ela poderia ser tão positiva assim. A patinadora sentou e começou a arrumar suas coisas do colégio, mas pausou para responder mensagens de Cecilia.
Ah Sol, estou cansada de ficar sozinha, meus pais viajaram mais uma vez em plena sexta. Ninguém poderia cuidar dos hotéis para eles?
Sol leu a mensagem e seu coração baqueou, sua amiga era uma pessoa solitária as vezes e deixava isso claro, sua família era dona de uma rede de hotéis espalhados pelo brasil e tinha dinheiro a perder de vista, sendo assim seus pais precisavam abdicar de algumas coisas para administrar todo esse império, e acabavam se ausentando de casa por semanas, as vezes meses.
Não fique triste por isso Ceci, quer vim para cá? Fez a atividade de hoje? *--*
Não quero incomodar, não se preocupe Sol. Estou caçando aplicativos legais para passar o tempo, o Junior também está ocupado :D
Já falei que não incomoda, e me passa os aplicativos legais. Vou ajudar a vó, se quiser venha.
Não fiz as atividades ainda. Estou sem cabeça solzinha, mas tarde nos falamos. s2
Sol bloqueou a tela do seu celular, trocou de roupa e lamentava internamente pela vida solitária da amiga, elas sempre dividiram todas as alegrias e tristezas, e Cecilia sempre afirmava a vontade de ter uma família barulhenta como a da sua...
As horas passavam de pressa à noite na casa dos Moreira, sempre faziam o jantar juntos e alguém lamentava por ser seu dia de lavar a louça. Cristian tinha a obrigação de levar o lixo para fora e verificar se os portões estavam trancados, Sofia arrumava as camas e a sala, Sol e sua tia sempre dividiam a louça e quando sua mãe estava também entrava para a divisão.
Sentados à mesa, Sol comia seu misto de lei e seu suco de uva quase sem açúcar. Nicole conversava com a mãe sobre como foi seu dia, Sofia ajudava Cristian com sua carne, e Charles saiu do quarto animado.
— Boa noite, família — disse ele, com a barba feita, e foi recebido com sorrisos.
Charles sempre foi um homem bonito, conservado e simpático. Todos sempre o elogiavam por sua paciência e compreensão, foi assim que ele sempre foi um filho para Luzia e um irmão para Nicole. Ele estava visivelmente animado, e todos sorriam em sua direção quando ele beijou a cabeça de cada um dos seus filhos e se sentou ao lado da sogra.
— Pai, está ótimo — Sol sorriu, e ele consentiu. — Vai sair?
— Irei levar o jantar da sua mãe. Sabemos como é a comida de hospital... — Ele deglutiu. — Me sinto mal quando não levo.
Todos na mesa não comentaram nada sobre sua declaração, afinal, todos sabiam os motivos para tal falha.
— Pai, a Sol está no último ano e em breve irá para a faculdade — Sofia explicou, fazendo o pai sorrir.
Charles mostrou felicidade pelos filhos. Luzia encarava aquela cena com esperança de que todos os dias fossem daquela forma.
— Orgulho da minha filha mais velha! — ele sorriu para Sol, e ela sorriu de volta. — E dos meus filhos mais novos também.
— Cunhado, sem barba você está mais novo. Continue assim, quando me vai dar mais currículos? — Com simpatia, Nicole se ofereceu novamente para ajudar seu cunhado.
Ela sempre entregava currículos para Charles, e ele se mostrava grato.
— Te darei em breve, prometo — Charles sorriu, e Nicole se animou.
Todos concordaram com Nicole, inclusive Luzia que sempre admirava os traços alemães do genro. Aquela noite Sol estava feliz mesmo que sentisse falta da sua mãe na mesa, por aquele momento recordou de sua infância e renovou as esperanças para que tudo permanecesse assim. Em poucos minutos cada um ali falava sobre um assunto diferente e Luzia ria por Cristian imitar Sofia dormindo de boca aberta.
— Quando eu for uma brilhante estilista, ficarei rica e irei aumentar essa casa para todos terem seus quartos, não é, vó? — Sofia falou e Luzia se animou.
— Com certeza, será uma mansão enorme. — A senhora consentiu e bateu palmas. — Terminem a comida, e Charles, deixarei o portão encostado.
Luzia deixou claro que esperaria acordada o retorno do genro, e o mesmo confirmou que não demoraria muito, afinal, o hospital era perto, sem o trânsito infernal de São Paulo.
Todos jantaram, a mesa foi arrumada por Sofia, os pratos ficaram por conta da tia Nicole, e Sol, após colocar o lixo fora com Cristian, rodava o jardim com o celular na mão, tentando falar com sua mãe. Esse era o combinado sempre quando seu pai dizia sair. Isis atendeu em um local abafado e Sol respirou aliviada.
— Mãe, amarelo. — Ela sussurrou, olhando para a porta da casa. — Repito, amarelo.
Elas tinham códigos: o verde era para Charles sóbrio, o amarelo era para ele saindo de casa, o vermelho era para ele bêbado e o cinza era para quando ele não aparecia em casa. Para muitas pessoas, isso poderia ser uma bobagem ou exagero, mas para elas duas era uma forma de não falar na frente das crianças ou de Luzia. Afinal, as pessoas ficavam preocupadas com Charles.
— Tudo bem, ele me ligou avisando que traria meu jantar. Não fique aflita, eu chego pela manhã e te levo no treino. — Isis falou tranquila. — Lembre-se que devemos preservar nossa saúde mental, mesmo que a situação seja difícil. Já voltei a pensar em medidas para tudo, caso seu pai não cumpra sua promessa.
— Beleza mãe, vamos pensar que ele irá cumprir. — Sol cochichou ao ouvir a voz do seu pai. — Preciso desligar. Te amo.
— Te amo, raio de Sol. — Isis sorriu e a ligação foi finalizada.
Sol disfarçou, encarando as plantas muito estimadas por sua vó, e percebeu seu pai correndo para a garagem com uma marmita em mãos. Ela seguiu os passos do pai e, ao percebê-la, ele achou graça. Sol acompanhou seu pai até a porta do carro com as mãos dentro dos bolsos de seu moletom, o frio da noite paulista muitas vezes era pesado.
— O que deseja, minha filha? — Ele tocou sua cabeça, e ela sentiu conforto com seu gesto repentino.
— Estou sem sono hoje... — Sol bateu o pé no chão, sorrindo em seguida. — Irei esperar o senhor, pois o portão está abrindo lentamente e a tia diz que é bom observar a rua antes.
Eram todos cúmplices para ajudar Charles, cumplicidade poderia sempre resumir a família Moreira. Sol não mentiu, de fato, sua tia havia falado aquilo dias atrás após ver uma reportagem sobre assaltos, mas ela sabia que poderia usar aquilo naquele momento. Sol estava decidida a esperar seu pai chegar.
— Iremos esperar também, amanhã não tem aula. — Cristian apareceu como um fantasma e se aproximou do carro.
— Certo, mas esperem lá dentro, está frio. — Charles falou e entrou no carro.
Após Charles sair, seus filhos seguiam sentados no sofá, Sol admirava os cabelos cacheados dos irmãos, era uma vontade sua ter cachos assim.
— Mesmo seu cabelo sendo escorrido, é bonito. Eu acho todos os cabelos bonitos! — Cristian afirmou, e Sofia concordou.
— Escorrido não, se chama liso, Cris. — Sofia corrigiu o irmão, e Sol sorriu.
A menina das fitas coloridas era constantemente animada com as conversas dos irmãos e ficava impressionada com a inteligência de ambos.
— Vocês nunca me deixam entediada, e todos os cabelos são lindos mesmo. — Sol cochichou quando sua vó pediu silêncio por ser a hora da novela.
Eles assistiram à novela e, após isso, brigaram pelo controle da televisão. Quem fosse mais rápido venceria e escolheria o canal. Como sempre, Sol desistiu e Sofia entrou em um consenso com Cristian, colocando em algum desenho que ambos gostavam.
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O que estão achando dessa família?
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