Existe amor em SP ღ Capítulo 44

Aquele mês de dezembro seria um dos mais especiais e diferentes para Vicente, pois tudo ao seu redor estava mudando. Em poucos dias, ele viajaria com toda a sua família para passar o Natal e o Ano Novo na casa de sua avó, junto com Sol.

A primeira semana de dezembro estava chegando ao fim, assim como seu primeiro ano de faculdade. Ele estava cansado, mas ainda mais encantado com a física; com certeza era o que ele queria para sua vida.

Sentado em um banco de cimento com seus amigos na faculdade, ele conversava alegremente.

— Mesmo com muitos atestados, suas notas foram as melhores. — Félix bateu palmas e apontou para Vicente.

O rapaz sorriu em direção a Félix e suspirou.

— Sim, eu realmente achei que iria precisar fazer segunda chamada em alguma matéria. — Vicente tomou seu suco e sorriu.

— Você vai passar dezembro e janeiro em São Paulo? — Juliana perguntou. — Daqui a uns anos, quero morar lá para fazer uma pós na usp.

Vicente consentiu, respondendo a menina sorridente.

— No caso, dezembro sim, Juli, mas em janeiro acredito que minha namorada venha passar aqui. — Vicente sorriu sem jeito quando a moça apenas assentiu.

Juliana não escondia seu interesse por Vicente. Mesmo sem nunca ter se declarado, ele percebia e sempre deixava claro que estava namorando e o quanto amava Sol.

— Sua namorada é patinadora? — Félix perguntou, provocando Juliana. — Estão juntos há quanto tempo?

— Sim, ela é. — Vicente mostrou uma foto de Sol patinando na última competição. — Nos conhecemos há quase um ano e estamos juntos há seis meses. Então, sempre que posso, viajo, mas como a vida dela é mais corrida, ela só vem nas férias de janeiro.

Félix encarou Juliana, arqueando as sobrancelhas com a intenção de deixar claro que Vicente era comprometido. Félix temia que a amiga de longa data saísse realmente machucada por não desistir.

— Ela é linda. — Juliana falou, e Vicente sorriu.

Eles conversaram sobre outras coisas até Joaquim chegar, o que não demorou. O rapaz, como sempre sorridente, se aproximou, apertando os ombros do amigo. Joaquim estava realizando seus sonhos aos poucos e ganhando um bom dinheiro com seu aplicativo, afinal, quanto mais downloads, mais marcas pediam propagandas, e mais dinheiro entrava. Dessa forma, ele ajudava seu pai e alguns familiares que o apoiaram quando sua mãe o deixou.

— Pessoas bonitas e Juliana, cheguei! — Joaquim falou. — Férias, finalmente.

Todos acenaram para Joaquim, que se sentou ao lado do amigo. Juliana fez pouco caso da presença do garoto, já que, de alguma forma, não simpatizava com ele e ambos sempre discutiam. Talvez fosse porque Joaquim frequentemente insinuava que ela estava sendo tola ao esperar algo de Vicente e ela sempre achava aquilo um disparate.

—Eu não sou uma pessoa bonita não? Idiota. — Ela bufou e as pessoas ao redor encararam os dois.

Joaquim  negou e ela cerrou os punhos.

— Juliana, tudo bem? — Joaquim encarou a moça, sorrindo. — Você na verdade é linda, eu adorei sua trança.

A loira revirou os olhos e bufou alto, logo Félix a mandou ter calma.

— Estou bem, obrigada por perguntar, e agradeço o elogio fingido. — Ela sorriu friamente e desviou o olhar. —Espero que quando essa faculdade acabar, eu nunca mais precise ver você. 

Joaquim fez pouco caso da irritabilidade dela e Vicente sorria com a implicância deles. Era um círculo de amigos que ele nunca teve na escola e que ficou feliz por ter encontrado na faculdade.

— Seu aplicativo está ótimo, não é? Vi um burburinho no campus de medicina e eu o amo, já fiz tantas amizades. — Félix mostrou sua página no aplicativo, e Joaquim sorriu.

— Sim, está sendo baixado muitas vezes e recebendo muitas críticas positivas. — Joaquim respondeu. —Eu sou o responsável por desencalhar o Vicente!

Juliana sorriu em direção ao menino sorridente e consentiu.

—Sim, um cupido e tanto. — Ela sussurrou e Joaquim a encarou.

— Baixa também, quem sabe eu não seja o responsável por te apresentar ao amor da sua vida, você casa e você deixa de ser chata? — Joaquim falou rápido e ela o mostrou o dedo do meio. 

— Calma crianças, quem briga demais acaba se amando. — Vicente brincou, e Joaquim balançou a cabeça em negação.

—Credo. — Juliana e Joaquim falaram em uníssono. 

O sol do meio-dia esquentava suas cabeças e, pouco tempo depois, os amigos se juntaram para enfrentar o grande caos causado pela sombra no ponto de ônibus.

Vicente estava um pouco mais em paz, ele conversava com Sol e ela se mostrava um pouco melhor a cada dia. Ela postava muitas fotos com Liz e sempre saía com a bebê e seu pai para passear. Sol havia encontrado uma forma de manter Cecília por perto, cuidando de Liz. Outra coisa que tranquilizou Vicente foi sua namorada aceitar a terapia indicada por sua madrinha e o progresso constante de seu sogro na empresa dos avós.

Nada era ou estava perfeito, afinal, em pouco tempo, muitas vidas haviam sofrido um baque enorme. Eles seguiriam caminhando aos poucos e, com o passar do tempo, todos os corações bateriam de forma calma novamente.

Dezembro estava começando e as nacionais estavam próximas. Mesmo que sua namorada continuasse treinando muito, ela dizia que sua cabeça não estava tão focada quanto gostaria, mas Vicente sempre encontrava uma forma de afirmar que ela se sairia muito bem, como sempre. Naquele dia, Sol aguardava o resultado das suas provas finais e Vicente a convencia a tirar fotos de beca em virtude do final da escola, mesmo que ela não quisesse participar da festa de formatura.

Sentado no ônibus, ele digitou para Sol.

Sério, sei que essas festas são caras e está sem clima, mas as fotos são legais.

Sol respondeu rapidamente, com carinhas chateadas.

As fotos são uma comemoração amor, e não tenho motivo para comemorar.

Vicente concentrado no celular e Joaquim lendo a conversa sem disfarçar.

— Cara, ela ainda está muito mal? — Joaquim perguntou.

Vicente assentiu, mostrando a foto de Sol ainda com uma expressão de luto.

— Ela está triste, mas caminhando. — Vicente respirou fundo. — A bebezinha está ocupando todos e mostrando coisas novas a todos. Só você vendo como a bebê é linda... — Vicente sorriu. — Os cabelos são bem laranja e os olhos cor de marte, ela já está espertinha e sorrindo muito.

Joaquim observava o amigo falando com detalhes sobre a bebê e se perguntou quando Vicente desenvolveu aquele carinho por crianças. Ao longo do caminho, Vicente falava sobre tudo que Sol mostrava sobre a criança de quase quatro meses, seu desenvolvimento e muitas fotos.

— Você quer ter filhos? — Joaquim perguntou, assim que desceram do ônibus. — Acho que nunca tocamos nesse assunto.

Vicente suspirou, segurando sua mochila.

— Nunca parei para pensar, até porque a Liz é a primeira bebê com quem tenho mais contato. Mas, no final das contas, não importa muito. — Vicente deu de ombros, e Joaquim arqueou as sobrancelhas.

Eles percorreram juntos o condomínio até chegar em casa.

— Não importa? Oxe, um dia você terá filhos, não precisa ser agora... — Joaquim sussurrou. — Mas se quiser agora, será um pai a distância. — Ele soltou uma risada.

Vicente fingiu socar o amigo e ambos caíram na risada.

— Que isso, não viaja, moleque. A Sol não quer ter filhos, então... — Vicente explicou.

— Ela não quer, mas e se um dia você casar com out...

Vicente negou qualquer suposição do amigo.

— Ela é o amor da minha vida e para minha vida. Não casarei com outra pessoa, a menos que ela me chute, e acho até que, se ela me chutar, não irei amar outra pessoa a ponto de casar. — Vicente explicou. — Viaja com a gente, você precisa conhecê-la.

Joaquim bateu palmas e negou.

— Não posso, irmão. Se nossos planos derem certo, no próximo ano não poderei ver meu pai com frequência, preciso aproveitar. — Disse Joaquim. — E também preciso conversar com ele. Desde que falei daquilo, ele não tocou no assunto. — O rapaz suspirou.

— Ele não tocou no assunto sobre você ser bissexual? — Vicente perguntou, e o amigo assentiu.

Joaquim tinha certeza da sua orientação sexual desde que entendeu sobre gostar romanticamente de alguém. Ele percebeu que sentia atração por ambos os sexos quando ainda era novo mesmo que não tivesse ficado com um homem ainda, e estava tudo bem. Mas, infelizmente, sabia que seu pai tinha a mente muito fechada. Era um homem do interior, com uma visão muito restritiva sobre relações que não fossem entre um homem e uma mulher.

No início do ensino médio, ele se sentiu à vontade para compartilhar isso com seu melhor amigo e, quando contou às pessoas ao seu redor em casa, não recebeu críticas; todos o apoiaram e agiram de forma natural, como deveria ser.

Agora, já na faculdade e cada vez mais independente, em um feriado com seu pai, finalmente pôde contar tudo o que se passava em seu coração e tirar um peso das costas.

— A única coisa que ele perguntou foi: Então você gosta de homem e mulher, mas vai se casar com uma mulher, não é? — Joaquim falou, com um sorriso. — E eu respondi: Se eu me apaixonar por uma, sim... Então ele consentiu e sorriu.

Vicente ouviu seu amigo e bufou com a fala do pai dele.

— Pessoas mais velhas e com uma criação arcaica como a dele levam um tempo para entender. Não tenho muito o que dizer sobre isso, mas acho que é por esse caminho. Logo ele ficará de boa quanto a isso...— Vicente cruzou os braços. — Você está saindo com alguém?

— Sim, tempo ao tempo. E não estou saindo com ninguém, acho que nunca vou gostar de ninguém, morrerei sozinho!— Joaquim encarou o trânsito pela janela do ônibus.

Micael havia aceitado a mudança de cargo que Marli propôs e havia passado a trabalhar com ela em negócios da fábrica, em pouco tempo ele pegou o jeito com programas de computador e estava se saindo bem, entretanto eles ainda iam devagar e casa um morava em sua casa.

Eles trabalhavam juntos, passeavam e até cozinhavam juntos, Marli e Micael deixaram o passado para trás e aos poucos se conheciam outra vez. Eles aprendiam sobre seus gostos, seus locais preferidos, as comidas e o mais importantes, sobre suas diferenças.

Sentados na mesa, o casal trabalhava, Marli seguia ensinando muitas coisas ao namorado e no sofá ao lado, Dani e Bruno assistiam juntos, ambos estavam encarando tudo com mais naturalidade. Ambos haviam passado de ano e os pais estavam orgulhosos, com aquilo feito, eles iriam ter o pedido de estudar na mesma escola atendido em breve.

— Querido, depois preciso que confirme com dois lojistas a distribuição. — Marli sussurrou, e Micael levantou o polegar.

Micael, com toda a sua calma, era excelente para conversar com distribuidores, o que tornava muitas situações mais fáceis.

— Certo, Charles, deixarei a administração cuidar disso. Irei passar a nota fiscal para a direção e o cliente poderá pegar as encomendas. — Micael sorriu, ao falar no celular. — Obrigado.

Micael desligou o celular e Marli ergueu a mão para que ele batesse. O casal havia fechado mais uma venda.

— O Charles é muito eficiente, ele resolve tudo com agilidade. — Micael comentou, e Marli assentiu.

Vicente sorriu ao ouvir aquilo.

— Sim, meu sogro é muito competente. — Vicente passou perto e comentou. — Mãe, vai montar a árvore de Natal, sendo que todos vamos viajar?

Vicente sentou no sofá, puxando conversa, e Micael assentiu de longe.

— Sim, amor, é uma tradição bonita. — Marli respondeu.

— Podemos montar juntos. Sua mãe comprou enfeites legais, e bem coloridos! — Micael sorriu.

Bruno, mesmo assistindo, prestava atenção na conversa e gostava da opinião do padrasto para algumas coisas. Ele percebia a diferença nas opiniões do pai, que visivelmente deixavam sua mãe triste, como montar a árvore de Natal sem passar o Natal em casa. Ele se lembrava das falas do pai.

"Nossa Marli, iremos para a Disney, esquece isso de tradição. Melhor já comprar montada ou nem precisa disso..."

— Sim, podemos montar juntos e tirar fotos como uma grande família. — Dani falou, sorridente. — E tia, eu e o Bruno fomos ao hotelzinho para o Bob e para ele passar dezembro lá, é mil e trezentos.

Vicente arregalou os olhos, assim como Bruno e Micael.

— Oxente, como é caro. — Marli bufou. — Pediram desconto?

— Pedimos sim, mas é Natal, então eles disseram que já é o menor preço. — Bruno bufou.

A mulher fechou seu computador e encarou Bob deitado perto da porta. Ele estava ficando velhinho, e o veterinário não recomendava viagens longas para o cachorro com frequência, principalmente de avião.

— Podemos dividir o valor. — Micael falou. — É o cachorro é mais da casa do que do Vicente, então se dividir entre eu, Marli, Vicente, Joaquim e Bruno, dá o valor de...

Em segundos Vicente levantou a mão.

— Duzentos e sessenta para cada. — Disse Vicente. — Podemos dividir então?

Todos arregalaram os olhos.

— Como fez essa conta tão rápido, garoto? — Micael falou, espantado, e Vicente sorriu.

Vicente o olhou sem entender, mas depois percebeu que nem todo mundo fazia contas de cabeça tão rápido.

— Sou bom com números. — Ele mexeu os ombros, sem jeito.

— Não sabia que sua namorada é mãe de um robô, Micael? — Bruno perguntou, e Micael sorriu, negando. — Podemos dividir, essa casa enorme já é um gasto imenso.

Marli observava aquela conversa com a mão apoiando o queixo e percebia que, meses atrás, quando sua vida desabou, jamais imaginaria receber uma chance de ter tudo aquilo. Ela tinha as pessoas certas ao seu lado, agindo com muita união. Ela se dava conta de que Bruno amadureceu muito e aquilo a deixava aliviada.

— E eu, como ajudarei? — Dani perguntou, sabendo não ter dinheiro para contribuir.

Marli sorriu, unindo as mãos.

— Humm... você pode ficar responsável por fazer uma lista de tudo que o Bob gosta, não gosta e os horários que ele passeia.

Dani levantou o polegar.

— Todos já arrumaram as malas? — Vicente perguntou, encarando o celular.

— Sim. — Eles responderam em uníssono.

Vicente encarou o celular e arregalou os olhos.

— Mãe, alguém da família da Cibele morreu? Ela colocou uma mensagem de luto para alguém chamado Baker... Acho que foi esse médico oncologista abraçado com um jovem de olhos azuis. Não o conheço... — Vicente encarou a foto dela com várias pessoas, uma família grande. — Alguém chamado Gustavo foi marcado na foto, tão novo e morreu...

Marli negou, observando a foto e apontou.

— Quem morreu foi o senhor velhinho entre todos eles, Nicholas Baker... — Marli lamentou. — Ele lutou muito contra o câncer, e o Gustavo, que é filho e médico, foi quem cuidou dele até o fim. Além de ser o maior produtor de café, esse senhor tinha uma família enorme. Olhe isso...

Marli e Vicente conversaram sobre a vida de pessoas que eles nem conheciam, e Micael ria com aquela cena. Pouco tempo depois, alguns foram ajudar em alguma parte do jantar, outros arrumaram a mesa, e Bruno, junto a Micael, foram ao mercado juntos. Claro que Marli gostava desses momentos para que Bruno ficasse sempre mais à vontade, e antes de dormir, todos iriam montar a árvore de Natal.

Segurando a mão de Marli com força, Micael fechou os olhos quando o avião pousou na cidade paulista, no acento ao lado Dani se escondia entre o banco e o braço do namorado a fim de não ouvir o barulho chato das rodas tocando o chão. Já Vicente em um assento aleatório avistava a imensa cidade do alto e sentia ansiedade em ver sua namorada que provavelmente já o esperava no aeroporto, ele encarou buque com um girassol no assentou ao seu lado e sorriu.

— Senhores passageiros, sejam bem-vindos a São Paulo. Aguardem para retirar os cintos de segurança e desejamos a todos um ótimo Natal e um próspero Ano Novo. — Uma aeromoça falou, e algumas vozes soaram na aeronave.

Minutos após desembarcarem, encontraram suas malas em meio a uma multidão que fez Dani se assustar, e todos juntos caminharam rumo ao portão de saída. O aeroporto de Guarulhos era enorme e cheio, pessoas apressadas andavam de um lado para o outro, e aquela família andava junta sem presa.

— Eu realmente senti medo. — Micael sorriu. — Meu ouvido tampou...

O homem, que andava de avião pela primeira vez, era sincero com tudo o que sentiu, fazendo todos sorrirem.

— O barulho das rodinhas no chão foi estranho, isso dá medo mesmo!— Dani segurou o braço de Bruno e negou.

— Ah, vocês se saíram bem. — Marli, segurando a mão de Micael, sorriu de orelha a orelha.

— Eu realmente não gosto de andar de avião, mas sigo fazendo isso sempre e me acostumei. — Vicente encarou o girassol na mão e Bruno sorriu.

— Vocês são medrosos, avião é super seguro. Precisam estar preparados para viagens mais longas, à noite fica tudo escuro. — O menino falou animado e se perguntou quando faria outra viagem internacional.

Entre a multidão e quase chegando no portão, Vicente avistou Sol, aparentemente inquieta, com sua mãe ao lado, conversando com Charles, devidamente fardado. Vicente acenou para Sol de longe, e a menina correu como um raio, como se não o visse há anos.

Sol pulou nos braços do namorado e o beijou, fazendo a família dele passar ao lado sem atrapalhar o momento.

— Senti saudade, pensei que ia surtar... — Vicente beijou Sol e ela sorriu. — Para você. — Ele entregou a flor a ela, e ela sorriu ao pegá-la.

Apesar de notar que Sol estava ainda mais magra, Vicente ficou feliz em vê-la mais sorridente.

— Eu estava morrendo de saudade. Hoje terá o mesversário da Liz, que atrasou alguns dias porque os avós dela precisaram viajar, e amei a flor, como sempre.

Abraçados, eles se juntaram à família e Sol cumprimentou Dani e Micael que ainda não conhecia.

— Você é linda, prazer em te conhecer!— Sol abraçou Dani e sorriu. — Você é escritora?

Bruno consentiu, orgulhoso.

— Então, a meta é essa, mas tenho um longo caminho pela frente. — Dani sorriu. — Você é ainda mais bonita do que nas milhares de fotos no quarto do Vicente.

Sol arregalou os olhos para o namorado ao ouvir sobre todas as fotos dela e ele sorriu, ajeitando os óculos.

— Esse é meu padrasto, Micael. Ele é pai da Dani... — Vicente apresentou Micael, que apertou a mão de Sol. — A árvore genealógica da gente agora é bem maluca, mas dá muito certo.

Sol e Micael trocaram apertos de mão, e Sol apresentou Charles a Marli e a Micael, que sempre se falavam por telefone por questões de trabalho. As pessoas conversando se dividiram em dois carros para irem para suas residências. Mesmo ainda se conhecendo, Sol e Dani já tinham muitos assuntos em comum.

— Parabéns para a Liz, que ela cresça saudável. Onde a mamãe estiver, estou muito feliz por você! — Catarina falou, emocionada, segurando a bebê nos braços.

— A neta mais linda do mundo. — Fábio sorriu ao ver a bebê sorrir.

Todos, felizes, batiam palmas, comemorando. Na sala decorada daquela mansão, não havia tristeza naquela noite. A bebê ruiva, com um vestido vermelho de bolinhas, soltava sorrisos encantadores, cativando todos ao seu redor. Os pais da Cecília, Júnior e seus pais, Sol com Vicente, Laís e Hortência usavam tiaras da Minnie, e um fotógrafo registrava todo o evento que mais parecia um aniversário de um ano.

— Viva a Liz! — Sol exclamou, e todos a acompanharam com alegria.

— Minha bisneta crescerá lindamente. — Hortência bateu palmas, empolgada.

Vicente sorria ao ver sua namorada segurando a bebê que a reconhecia muito bem. Sol amava a criança como se fosse parte dela, e realmente era. Em poucos minutos, muitas fotos foram tiradas, e as comidas começaram a ser servidas, afinal, era um evento basicamente para juntar as famílias e comer bastante.

— Você cresceu demais enquanto seu tio estava longe, tão linda... — Vicente brincou com Liz no colo de Sol. — Seus cabelos estão cada vez maiores, é a Rapunzel? — Ele disse, e Liz agarrou seu dedo.

Sentados no sofá, já comendo docinhos e salgadinhos, Sol e Vicente brincavam com a bebê de uma forma contagiante para os demais que assistiam sentados em outro sofá. Aquele casal era visto por muitos como um exemplo de que, quando se quer, dá certo. Eles pegaram todas as probabilidades de um relacionamento à distância dar errado e usaram a seu favor com muito comprometimento, paciência e amor.

— Eles vão ter uma família de comercial de comida, não acha? — Júnior comentou com Laís, que consentiu. — A Ceci está feliz em vê-la melhor, e a Sol literalmente ficou ao lado dela até o fim.

Laís consentiu, sorrindo. 

— Após a morte da Cecília, ela caiu de verdade, e ele a ajudou demais em questão psicológica. Mas ainda está sendo uma luta grande, sabe? Cuidar da Liz também está sendo uma ajuda enorme, e você está sendo um pai incrível. — Laís sussurrou, comendo um docinho.

— A Liz é minha vida, ela é a única luz que tenho acesa em mim. Se não fosse ela, não sei como estaria em pé. — Júnior sorriu ao ver a filha sorrindo e suspirou.

Júnior segurava as lágrimas ao ver como Liz se parecia tanto com a mãe.

— Ela estava com medo? — Júnior encarou os sogros sentados próximos à neta, e Laís o olhou.

— Como? — A médica perguntou.

Júnior a encarou e deixou uma lágrima cair.

— A Cecília estava com muito medo? — Ele perguntou, sorrindo em seguida.

— Não, querida, ela estava em paz e lutando pela filha de vocês. — Laís sorriu, e Júnior consentiu.

S2

A pequena comemoração foi encerrada quando Liz adormeceu no colo de Sol. A bebê brincou até se cansar e, ao som de uma canção de ninar com sua chupeta preferida, caiu no sono e foi colocada no berço.

Sozinha no quarto da bebê, Sol acariciava seu rosto e a cobriu lentamente. Uma imensa rede de apoio havia sido formada para cuidar da criança, e assim ela crescia acostumada com muitas pessoas a fazendo dormir e cuidando dela. Liz era simpática e calma, como sua mãe sempre pediu que a filha fosse.

— Sua madrinha estará sempre ao seu lado, para sempre! — Sol cochichou. — Vamos viver coisas lindas, passear, viajar, e eu irei em todas as festinhas da sua escola. Se quiser patinar, eu te ensinarei...

Sol sorriu e tocou os cabelos ruivos da bebê.

— Irei para casa, mas logo estarei aqui. — Ela sussurrou, beijou a cabeça da bebê em sono profundo e sorriu.

A patinadora se afastou do berço e observou o quarto sempre muito arrumado. Já havia muitas fotos com todas aquelas pessoas e um quadro enorme da bebê com seus pais no ensaio do primeiro mês. A menina das fitas encarou o quadro e logo saiu do quarto.

Ela já havia ido àquela casa muitas vezes após a morte da amiga, por causa da afilhada. Entretanto, foi a primeira vez que seus olhos se fixaram na porta do quarto da amiga, e suas pernas a conduziram até ali. Sol apoiou o ouvido na porta em busca de ouvir algo e fechou os olhos, sua mão tocou o trinco e apenas o segurou.

De longe, Vicente avistou a namorada relutando para entrar no quarto da amiga. Seu coração apertou quando viu a mão dela se afastar do trinco e uma lágrima cair. Então, ele rapidamente se aproximou.

— Querida, estava te procurando. — Vicente se aproximou dela e sorriu sem jeito. — O que está fazendo?

Sol se afastou da porta e encarou o namorado, que usava uma camisa do Mickey que combinava com a sua da Minnie.

— Não consigo, eu queria mas não consigo! — Sol sorriu, sem jeito, e tocou a fita que amarrava sua trança. — Não tenho forças.

Vicente abraçou a namorada e beijou sua testa de maneira carinhosa.

— Não se force a nada... — Ele sussurrou, tocando seu rosto. — Um passo é cada vez, é assim que percorremos longos caminhos.

Sol consentiu rapidamente e respirou fundo, o puxando pela mão.

— Vamos, comeremos algo para comemorar minha saída do ensino médio e a prova que fiz mês passado. Oremos por uma vaga na faculdade pública. — Ela falou, e ele consentiu. — Semana que vem são as nacionais, precisarei treinar todos os dias...

Vicente segurou sua mão e consentiu.

— Tudo bem, te busco todos os dias. — Ele consentiu, fazendo-a sorrir. — Sempre na sua cola, minha filha.

Um dia de cada vez, era assim que Sol tentava viver após perder sua melhor amiga. Ela já não chorava todos os dias, mas todas as semanas levava flores para Cecília, e ali compensava os dias em que não havia chorado. Não tinha jeito.

Naquela noite, Sol e sua família sairiam para comer juntos e comemorar sua saída do ensino médio. Com a ajuda de Vicente, Isis sabia que conseguiria convencer a filha a tirar ao menos algumas fotos com a beca e deixar uma recordação, já que a festa realmente não tinha clima.

O beco do Batman era um os locais que Micael mais gostaria de visitar quando via São Paulo pela televisão, como o nome do local já entregava, os becos eram estreitos lotados por grafites que deixavam tudo muito colorido e muito artesanato, um os pontos turísticos mais visitados da capital.

Em um final de tarde, Marli passeava de mãos dadas com Micael ela gostava de ver seu entusiasmo, assim como quando eram jovens, ela poderia recordar muito bem das vezes que saiam juntos e de como seu coração acelerava com os sorrisos do rapaz.

Bruno e Dani andavam na frente as presas, como se não pudessem perder nada de vista, o namoro dos jovens seguia firme com alguns avanços e muita responsabilidade, o que deixavam aqueles pais tranquilos. Bruno não fez questão de sair de uma escola na qual passou toda sua vida para seguir Dani em uma escola mais barata na qual Micael insistiu que ela estudasse, mesmo ela relutando em sair da escola pública. Em um novo emprego e ganhando mais, aquele pai se sentiu seguro para colocar ela filha em uma escola na qual sempre quis que ela estudasse e não precisasse passar por greves escolares varias vezes por ano.

— Se um dia eles deixarem de ser namorados, ainda serão da mesma família. — Micael apontou para os jovens tirando fotos.

Marli negou com a cabeça e olhou para o namorado.

— Não sei por quê, mas acho que eles não se separam. — Ela sorriu. — Eles parecem se gostar desde criança, e outro dia estavam conversando sobre faculdade. O Bruno disse que vai buscá-la na faculdade por causa dos perigos noturnos.

— Sei que ele fará isso. — Micael concordou com certeza.

— Ele começou a cogitar estudar algo depois da escola. Talvez a Dani precise de um Nobel da Paz, porque, no ano passado, ele sempre ameaçava largar a escola e sumir no mundo, acredita? — Marli falou, arregalando os olhos.

Micael riu alto, e Marli o acompanhou. Aquele homem esperançoso concordou e olhou para a mulher à sua frente. Para ele, Marli ainda era uma das pessoas mais lindas que já viu. Ela ainda era doce, e seu abraço era caloroso.

— Eu me apaixonei por você mais uma vez. Sabe, duas vezes pela mesma pessoa e mesmo sabendo que poucas pessoas vão entender como tudo aconteceu novamente, não me importo. — Ele falou baixinho. — Podemos ficar juntos até o fim?

Marli sorriu com aquelas palavras e tocou sua barba. Ele era bem mais alto que ela, mas o salto dela não deixava a diferença aparecer.

— Imagine eu, me apaixonar novamente após um evento tão traumático e ainda pela mesma pessoa de mil anos atrás. — Seriamente, ela o abraçou com firmeza, e ele a retribuiu. — Não me deixe, certo?

— Eu que preciso pedir isso, sabe... — Ele brincou, e ela o estapeou levemente.

— Para com isso, não te deixarei outra vez... — Disse ela, emburrada.

Ela o soltou, mas ele a agarrou novamente. Micael segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou, fazendo-a sorrir, enquanto seus olhos observavam a cena de longe.

Bruno e Dani poderiam dizer que estavam acostumados com isso ou que simplesmente gostavam de ser uma família.

— Já se acostumou? — Bruno cutucou Dani.

Dani piscou lentamente e o abraçou.

— Sim, ela é a melhor madrasta que eu poderia ter. Desde que eu era criança, ela sempre me tratou tão bem. — Sussurrou Dani. — Meses atrás, na minha festa de aniversário, toda aquela comemoração que ela organizou deixou meu coração aquecido. Ela é calorosa como uma mãe, isso é reconfortante.

Bruno sorriu e beijou a testa dela, sabendo que Dani estava sendo sincera sobre seus sentimentos pela madrasta.

— Seu pai também é um ótimo padrasto e sempre foi uma pessoa muito gentil. Aos poucos, estamos fazendo mais coisas juntos e nos aproximando mais, ele até me ensinou a pescar! Ver minha mãe feliz é algo muito bom, me deixa em paz! — Bruno olhou para a mãe, que fazia uma pose enquanto Micael tentava encontrar a melhor forma de tirar a foto.

— Obrigada por ter o aceitado. — Dani sorriu e o beijou rapidamente. — Eu te amo.

O coração de Bruno sempre acelerava ao ouvir essas palavras.

— Eu também te amo. — Ele tocou os cabelos cacheados dela e assentiu. — Muito.

Bruno a abraçou novamente e a fez rir quando a balançou. Talvez aquela música que diz que em São Paulo não existe amor não se encaixasse diante de todos aqueles casais.

Eu sinto um cheiro de despedida no ar...

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