Do outro lado ღ Capítulo 6

Para Vicente a vida não era tão complicada, e não era pelo fato de nunca ter precisado se preocupar com dinheiro, até por que para ele isso não era o mais importante, mesmo que isso fosse clichê. Ele tinha opiniões únicas sobre a vida, e não envolvia nada sobre destino, sorte ou ajuda de divindades para alcançar seus sonhos. Vicente tinha apenas dezenove anos, era movido por sonhos altos e almejava alcança-los não importava as adversidades que precisasse enfrentar, mesmo que fosse contra um pai exigente e uma mãe submissa às vontades do pai.

Desde criança ele sempre foi menino inteligente ao extremo que encontrava solução para tudo que precisasse consertar desde computadores à pia entupida, e com sua calma do mundo todo tinha o carinho de muitas pessoas por onde passava. Ele sempre foi uma pessoa na qual seus pais nunca precisaram se preocupar com suas atitudes, muitos o chamavam de John Lennon por causa dos seus óculos, e seus amigos de chaminé por fumar bastante. Vicente tinha uma paixão incondicional pela física e desejava se tornar um astrofísico muito em breve, o rapaz amava os fenômenos do céu, da galáxia em geral e seus mistérios.

No clima quente e praiano do Nordeste, mas precisamente em um bairro nobre de fortaleza encontra-se uma luxuosa casa que pertence à família de um dos maiores e mais competentes advogados da cidade, Miguel Dias. Nessa casa moravam pessoas unidas mas com sonhos diferentes e que precisariam ir além dos seus limites para realiza-los. Todos conheciam o pai exigente, a mãe pacifica, o filho calado, o filho briguento e o amigo do interior, era assim que as pessoas os rotulavam de longe, e não estavam errados no final das contas.

Vicente, seu irmão Bruno, seu melhor amigo Joaquim, sua mãe Marli e seu pai Miguel, eram uma família de pessoas completamente diferentes, mas que sempre permaneciam unidas não importa a situação. Vicente terminou o ensino médio em uma das melhores escolas da cidade junto ao seu amigo Joaquim, eles eram inseparáveis desde a infância e tinham os mesmos sonhos desde muito novos. Eles se conheceram na fazenda dos Dias, Joaquim nasceu em uma família humilde que sempre cuidaram da fazenda com muito apresso. Sua mãe foi embora quando o mesmo ainda era muito pequeno e seu pai o criou sozinho, eles tinham uma relação muito bonita.

Os pais dos garotos apesar de crescerem em realidades muito diferentes e sempre foram amigos, assim passando para os filhos. Então, quando faltavam alguns anos para Joaquim entrar no ensino médio, Miguel seu padrinho o chamou para morar na capital e estudar com seu filho, logo seu pai o apoiou e o menino do interior se mudou para capital a fim de trilhar um futuro mais promissor.

No ensino médio Vicente se interessou por tudo que dissesse respeito à física e suas teorias, envolvendo muitas formulas e cálculos, após isso conheceu a astrofísica assim querendo seguir sua carreira nessa área. Já Joaquim almejava seguir a área da engenharia da computação, o mesmo tinha muito talento com as tecnologias, criar aplicativos e jogos em geral.

— Irmão, como se sente formado no ensino médio? Meu pai está mais feliz do que eu! — Joaquim tocou sua pouca barba e vibrou, apontando para Vicente, que baforou seu cigarro. — Vicente, para de fumar. Preciso passar em engenharia da computação na universidade pública, mesmo que seu pai tenha se oferecido para pagar, sempre dá indiretas de que minha carreira talvez não seja tão promissora.

Ambos saíram da escola com seus diplomas na mão, recusando-se a participar da formatura como todos.

— Me sinto livre desse colégio... E sobre meu pai, você fez bem. Ele insiste em dizer que uma faculdade pública não é um local para nós. Como assim ele não nos quer em uma faculdade pública? Obviamente, lá terei mais oportunidades para pesquisa, e acho que você também. — Vicente arrumou os óculos, em negação.

Bruno correu em direção aos garotos e entrou na conversa.

— Nosso pai muitas vezes é o contrário de tudo que deveria ser sensato, e as pessoas acham magnífico pelo fato de as falas virem de uma pessoa rica. — Bruno bufou, fazendo os rapazes concordarem. — Se você quer ser físico, seja, mesmo que eu te ache bem louco. Ouçam quem vos fala, o conhecido como a banda voou. Nosso pai não quer ajudar, ele quer estar no controle. — Ele complementou, sorrindo em seguida.

— Nosso pai não é uma pessoa ruim, Bruno. — Vicente contestou o irmão. — Ele é bem ganancioso às vezes e tem defeitos como todo ser humano, mas ele sempre ajuda a todos como pode.

— A ganância exagerada é o que fode tudo. — Bruno rebateu.

Bruno não se dava bem com o pai na maioria das vezes; as personalidades completamente distintas, ao mesmo tempo iguais, os faziam bater de frente muitas vezes.

— Ele é meu padrinho, já me ajudou muito, mas o Bruno tem razão sobre a ganância! — Joaquim deu de ombros. — E faça o que você quiser, Vicente, mesmo que seja algo tão difícil como física.

Todos acham que sou louco por amar física, mas não sabem como ela é fascinante.

— Esperem para ver a guerra quando eu disser que não tenho planos de fazer faculdade. — Bruno sussurrou, e os meninos negaram com graça.

O mais novo sorriu, sem parecer se importar. Passou a mão na cabeça raspada, mudando dos cabelos compridos para a cabeça raspada. Ele tinha um estilo próprio, com três brincos somente na orelha direita e um único anel no dedo mindinho. Ele dizia que seu estilo era uma mistura de indie com skatista. Com seus dezesseis anos, era um menino decidido e de opinião forte, muito diferente do irmão, que possuía metade da calma do mundo para si. Ele frequentemente discutia com o pai por expor as verdades que ninguém tinha coragem de falar e por ser sincero ao dizer que não sabia o que queria da vida ainda. Porém, ele precisava ter metas, segundo o pai.

Miguel não entendia que a meta do filho mais novo era ser feliz todos os dias e fazer o que sentisse vontade, sem medo de julgamentos. Ele gostava de viver a vida.

— Calma, caçula, você acha que quero viver brigado com uma pessoa para sempre? — Vicente empurrou o irmão, que deslizou sob seu skate. — Precisamos de independência para não precisar dele.

— Já falei, algo me diz para trabalharmos em São Paulo. A indústria de jogos e as grandes portas para física estão lá. — Joaquim falou. — Mas as faculdades lá são caras e difíceis de passar... que dilema.

Vicente jogou a bituca de cigarro em uma lixeira na rua e revirou os olhos.

— Sem essa de destino novamente. Ele não tem nada com isso, cara. Se nos esforçarmos, poderemos ir, um dia. — Vicente falou, fazendo Joaquim revirar os olhos. — De fato, lá pode ter mais portas para nossas profissões após a faculdade, mas aquele lugar é louco. — Ele falou, fazendo Joaquim concordar.

A escola era perto de casa, então os rapazes foram andando lentamente conversando sobre computadores, lançamentos e claro, a nova criação do Joaquim com as economias dos três anos trabalhando. Mesmo que não precisasse trabalhar, o mesmo tinha um sonho muito antigo de construir um aplicativo diferente dos outros, e aquilo custava dinheiro, então juntou por anos e em dois dias lançaria seu primeiro aplicativo e também não queria ficar totalmente às custas do pai de Vicente, por isso trabalhava.

O caminho foi curto, eles entraram no condomínio e lá estava uma das casas mais bonitas, e silenciosas da rua.

— Mainha, chegamos. O diploma está na mão e estamos de férias até o resultado do vestibular. — Vicente gritou enquanto subia as escadas.

Vicente correu escada acima à procura da mãe, seus cabelos loiros ondulados balançando. Ele se sentia feliz. Era um menino de sorriso fácil mesmo sendo quieto, que amava falar apenas quando estava animado, e não suportava roupas com estampas; de alguma forma, vestir-se assim o irritava.

— Estou na cozinha! Como foi lá? Onde está o Bruno? — Marli gritou, e Vicente desceu as escadas, indo até ela. — Quero ver se esse ano ele vai se dedicar, não suporto ouvir seu pai falando no meu ouvido.

Maria Lilian ou só Marli era uma mãe extremamente presente e dedicada aos filhos, ela casou cedo e conseguiu se formar em farmácia como sonhava, mas não exercia. Apesar de amar seu marido, sabia que era uma pessoa difícil às vezes, que sempre pensava em como ter mais dinheiro. Ela e Miguel se conheceram em uma festa na escola que Marli estudava, Miguel já fazia faculdade e era um pouco mais velho que ela, mas isso não foi impedimento para nada. O que poucas pessoas sabiam era que antes de Miguel, Maria Lilian teve uma grande e profunda paixão, mas quando ficou dividida entre dois meninos completamente diferentes, acabou se encantando por Miguel, e o que ele poderia proporciona-la foi no pacote.

— Tia, precisava abrir um restaurante. — Joaquim falou ao entrar na cozinha. — Não se preocupe, o Bruno já subiu e vai se sair bem.

Marli negou a ideia de abrir um restaurante e sorriu para o filho de coração.

— Nem gosto de cozinhar, prefiro uma farmácia. — Ela sorriu. — Quando sai o resultado do vestibular que fizeram ano passado? — Ela perguntou, pedindo para Dani mexer na panela. — Vicente, já conversou com seu pai sobre a faculdade? Sabe que ele tem a cabeça mais dura que pedra...

Vicente bufou, ele não queria mais uma conversa estressante. Seu pai sempre dizia apoiar qualquer profissão, desde que ele fosse feliz, porém não em faculdade pública.

— Mainha, deixa o Vicente fazer o que ele quiser. Não seja submissa a esse ponto, nossa senhora. — Bruno entrou na cozinha e Vicente sorriu para ele, mostrando o polegar. — O que foi?

Marli arregalou os olhos ao ver que o filho estava com os cabelos mais raspados do que antes.

— Oxe Bruno, pretende ficar sem cabelo mesmo? — Ela cruzou os braços. — Esse menino...

Bruno revirou os olhos e tomou um copo enorme de água.

— Me sinto bem assim, sair dos cabelos compridos para a cabeça raspada é uma mudança legal. — Ele abriu um biscoito e fez seu irmão sorrir. — E vocês, façam o que quiserem da vida, o final é a morte.

Joaquim sorriu, se divertindo com aquela pequena reunião.

— Eu te venero, Bruno. — Joaquim gargalhou, batendo na mão dele, e Bruno confirmou que também o amava.

— Não fale sobre morte, isso faz o coração de uma mãe parar. — Marli tocou a cabeça do filho e, mesmo assim, afirmou que ele estava bonito.

De fato, o garoto estava igualmente bonito, e vê-lo feliz deixava Marli feliz.

— Ficou bom mesmo, Dani? Sua opinião é importante. — Bruno apontou para a moça e ela assentiu.

Dani era uma moça de quinze anos e filha do Micael, o motorista da família há muitos anos. Micael sempre foi um homem do coração bom e que sempre lutou muito para dá uma boa vida a sua única filha, ele perdeu sua esposa quando Dani tinha apenas seis anos e para poder trabalhar caiu de paraquedas na mansão Dias onde também poderia morar. Micael conhecia Marli desde os tempos de adolescentes, e por obra da vida ele acabou sendo contratado como motorista anos atrás.

O pai e a filha faziam parte da família e mesmo sem precisar, Dani adorava ajudar Marli na cozinha, assim ela aprendia comidas novas e conversavam sobre muitas coisas.

— Ficou bom sim, louco. — Dani falou e Bruno sorriu. — Você está parecendo com aquele ator daquela série espanhola. O filho da diretora do colégio chique, esqueci o nome dele... — Ela fez todos sorrirem e concordarem.

— Na vida real ele se chama Arón. — Vicente respondeu a Dani e ela confirmou.

Eles se tornaram bons amigos desde que Dani chegou à mansão, e Bruno sempre a fazia companhia conversando até tarde para ajudá-la a esquecer a saudade da mãe. Dani morava com o pai em uma pequena casa nos fundos da mansão e se sentia muito bem ali. Dani e Bruno tinham sentimentos reais um pelo outro, mas nenhum dos dois tinha coragem de expor seus sentimentos, afinal eram muito novos.

— Tudo bem sobre minha faculdade Bruno, ele vai se conformar. — Vicente falou sem se importar. — Quem vai estudar lá sou eu, e ele garantiu que apoiaria qualquer um dos meus sonhos.

Miguel sempre foi um homem atento quanto à criação dos filhos, trabalhou muito e nunca deixou nada faltar. Ele era um bom pai e queria que os filhos não passassem sufoco após ele envelhecer, mas não era tão aberto para expressar seus sentimentos.

O mais velho sorriu e chamou o amigo para subir até o quarto. Eles dormiam em quartos separados, porém sempre ficavam até tarde juntos discutindo sobre coisas que só eles entendiam.

— Eu já disse que preciso de uma faculdade pública? O resultado vai demorar demais? Não posso passar a vida debaixo da asa do Miguel, mesmo que ele seja meu padrinho. — Joaquim sentou na cama do amigo.

Vicente se sentou na cadeira de frente para seu computador e encarou uma foto com Cibele, sua amiga de infância e pessoa de quem ele gostava.

Cibele sempre foi uma menina rica, bonita, inteligente e simpática, que sempre os tratou como irmãos. Ela nunca expressou sentimentos que passassem de amizade por Vicente ou até mesmo por Joaquim, muito menos por Bruno. Os quatro sempre foram amigos inseparáveis desde a infância, quando as famílias se reuniam na fazenda, e todos sempre souberam que Vicente tinha uma quedinha por ela, menos ela. Cibele havia ido para a Nova Zelândia há alguns anos para fazer o ensino médio e levou o coração de Vicente com ela.

— Eu sei e você repete isso todos os dias, por isso também tentei a pública. Quero seguir meus sonhos sem depender do meu pai... — Vicente falou, ainda encarando a foto.

Joaquim sempre soube que seu amigo gostava da Cibele e sempre quis que isso desse certo, mas nunca souberam se a menina sentia o mesmo.

— O Bruno e a Dani se gostam e não assumem, você claramente gosta da Cibele e ela provavelmente gosta de você, e me sinto excluído por não gostar de ninguém. Eu devo agradecer ou lamentar? — Joaquim apontou para a menina de cabelos curtos na foto. — A gordinha chegou essa madrugada, sabia? Ainda deve estar dormindo...

Vicente encostou-se à cadeira e passou a mão pelos cabelos loiros, recordando-se de quando Cibele disse que gostava do seu sorriso alinhado. Ela sempre o elogiava e não percebia que o deixava com vergonha.

— Misericórdia, ela não gosta de mim, e você sabe. Prefiro que sejamos amigos... — Vicente ligou o computador. —Você é loiro, simpático, usa óculos maneiro, é alto, é fera em física e tudo que envolve o céu... É a pessoa certa para ela. –Joaquim falou, folheando livros de astronomia do amigo e soltando por não entender. –Se nunca se confessar, pode perdê-la.

—Como posso perdê-la, se nunca a tive de verdade? —Vicente interrogou seu amigo e deu de ombros sem emoção. —Odiaria perder nossa amizade...

Vicente nunca idealizou uma pessoa para si, mas sabia que gostava da menina gordinha de cabelos curtos, ele sempre gostou de ver casais juntos e até arriscava ser filmes de romance com sua mãe, mas com Cibele sabia que não era reciproco.

—Irei para uma reunião com os rapazes sobre o aplicativo, preciso dele pronto e com o máximo de segurança para os usuários, tentar minimizar fakes. Boa noite irmão! —Joaquim falou, ao atender um telefonema do seu pai e foi saindo do quarto. —Painho, como está? Estou bem, pretendo ir para fazenda em alguns dias...

—Vai lá... -O loiro sorriu e a porta fechou.

Vicente colocou seu fone de ouvido, arregaçou as mangas da blusa, exibindo a enorme tatuagem no braço, e tentou se concentrar. Sobre tatuagens, era algo que ele amava. Ele mesmo fez o desenho da tatuagem que tomava quase todo o seu braço. No antebraço, havia uma bússola junto a um relógio e uma pessoa com fones de ouvido, cercada por muitos planetas. Ele dizia que era ele com seu inseparável fone de ouvido entre planetas, a bússola representava seu próprio caminho e o relógio, seu próprio tempo. — Ele pegou o celular que estava vibrando e atendeu.

Cibele ligou para o amigo após acordar. Anos atrás, ela havia ido para a Nova Zelândia para fazer o ensino médio e, todos os anos, vinha para casa nas férias. Agora, acabara de se formar e deveria voltar para ficar.

— Oi, gordinha, já podemos te ver? — Vicente falou com Cibele e ela sorriu. — Pensei que não iria voltar, saudades.

Ele sorriu, girando na cadeira e se animando ao falar com sua amiga.

— Vi, que saudade de você. Pode ir até minha casa essa noite? Onde está o Joaquim? — Ela falou animada e ele sorriu. — Quero apresentar uma pessoa a vocês e contar muitos planos. O Bruno está mais alto?

Ela falava animada e ele sorria.

— Iremos após o jantar matar a saudade e quero meu presente. Quem é? — Vicente ligou o computador e seus equipamentos usando apenas uma mão.

Com certeza, mais uma de suas amigas gringas.

Ela sorriu e falou com alguém ao seu lado. Vicente sorria como bobo ao ouvi-la e se acomodou em sua cadeira, que ele chamava de trono especial.

— Oxente, é surpresa... Agora deu mesmo. Desde já prometa ficar feliz por mim, ou me revoltarei. — Ela cochichou e ele consentiu.

— Irei ficar feliz por você, sempre fico, garota... — Ele falou, sorrindo largo. — Menos se tentar outra dieta maluca a ponto de ficar fraca... — Ela negou e ele agradeceu.

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— Vocês estão tão lindos, meus maravilhosos. — Cibele abraçou seus amigos a ponto de sufocá-los, e foi abraçada de volta. — Bruno, seu estilo é maravilhoso, garoto, eu amei. — Ela encarou o mais novo, que sorriu se achando. — Pensei que ia morrer de saudade.

Cibele estava radiante e ainda mais feliz do que em dias normais. Ela havia mudado o corte de cabelo e feito uma franjinha, o que a deixava ainda mais bonita, segundo seus amigos. Vicente estava visivelmente feliz ao vê-la, e ela sentia o mesmo. Joaquim mostrou que estava finalizando seu tratamento dentário e logo tiraria o aparelho após três anos de dor. 

Ela contava de suas aventuras em um país acolhedor, sempre lotado de pessoas, e de tudo o que havia aprendido. Eles poderiam passar horas conversando, ela parecia animada como nunca.

— O que trouxe para nós? Sua mãe falou que pagou excesso de bagagem! — Joaquim a mandou levantar. — Emagreceu muito, minha filha, como ousa perder suas dobrinhas?

Cibele era gorda e amava seu corpo. Após muitas lutas, aprendeu a se amar e hoje era uma menina empoderada, confiante, e que não se importava com comentários sobre seu corpo. Ela se amava, e isso bastava para ser feliz sem precisar mudar para agradar os outros.

— A correria pode ter incentivado, não acho que emagreci. — Ela acariciou sua barriga e seus amigos sorriram. — Trouxe presentes e novidades.

Os meninos permaneceram sentados na mesa da cozinha, e Cibele subiu para seu quarto correndo. Sua mãe passou, os cumprimentou, e seu pai se alegrou ao ver os meninos. Ambos conversaram sobre muitas coisas em um curto espaço de tempo, e então ela gritou das escadas avisando sua volta.

— Que demora, acho que vamos ganhar muitas coisas. — Bruno falou de volta, e ouviram sua risada. — Sua mãe perdoa o excesso de bagagem se nos deixar felizes.

Ela correu com muitas coisas nas mãos e começou a distribuir os presentes um por um.

— Joaquim, aquele perfume que você ama e um tablet de última geração, lá disseram que é o melhor. — Ela o entregou e ele sorriu. — Use, ame e sorria.

— Nossa mãe de Deus, esse é o melhor de todos. — Ele sorriu empolgado. — Você acertou demais, Ci, é melhor que um carro. — Ele abraçou sua amiga, que correspondeu ao abraço apertado.

— Para o Bruno, quatro bonés da sua marca preferida para aumentar a coleção e muitos doces estranhos, como pediu. — Ela entregou uma embalagem para o menino, que abriu de imediato e já colocou um boné.

Ele havia ficado ainda mais bonito, e todos confirmaram isso.

— Olhem isso, esse boné não tem no Brasil. — Ele sussurrou e fez todos sorrirem. — Minha coleção está completa. — Cibele sabia bem os gostos dos amigos, ela os conhecia bem e os amava, ela sempre se sentiu acolhida e protegida por eles, afinal quem não gostaria de ter três amigos legais?

— Para o Vicente, trouxe uma coisa que você sempre falou muito e nunca quis gastar dinheiro comprando: um telescópio bem tecnológico. Sei que ama o céu e sempre lembrava de você ao olhar para ele. — Cibele entregou a caixa ao amigo, e todos ficaram boquiabertos com o presente. Ela o abraçou e demorou a soltá-lo.

Vicente se mostrou muito feliz ao abrir o presente, que era de fato algo que ele queria muito. Ele amava tudo que envolvesse o céu e sua imensidão, e claro, estava ainda mais feliz por ser um presente vindo dela.

Eles conversaram muito, viram muitas fotos e compartilharam tudo que fizeram no ano anterior. Cibele mostrou sua formatura no último ano do colégio, que era exatamente como nos filmes, com armários, líderes de torcida e grêmios estudantis.

— Eu preciso muito falar outra coisa com vocês a respeito do futuro. Sei que passamos anos sem nos ver muito e ainda iremos conversar sobre muita coisa. Então, por enquanto, quero apresentar uma pessoa a vocês. — Cibele sorriu, e ao ouvir algo, ela pulou da cadeira e foi até a garagem, enquanto os garotos estavam ansiosos e curiosos para o que estava por vir.

No entanto, Vicente não sabia que seria a pessoa mais surpreendida daquela noite. Quando Cibele entrou na cozinha brincando com um rapaz alto e de cabelos cacheados, ele ficou estupefato.

— Gente, esse aqui é o Brad Moore. — Os garotos arregalaram os olhos e o rapaz sorriu. — Ele é metade brasileiro, filho de uma brasileira com um americano. A mãe dele é daqui do Nordeste e se mudou para os Estados Unidos quando era criança para morar com o pai. — Ela sorriu, e os meninos sorriram de volta.

— Que massa, cara, seja bem-vindo! Vocês se conheceram na escola? Está no Brasil para visitar sua família? — Joaquim apertou a mão do rapaz, que consentiu. — Fortaleza é ótima, sério.

— Olá, é um prazer conhecê-los, ouvi muito sobre vocês... Sim e sim. Também fiz o ensino médio na escola com a Bele, mas só nos conhecemos no último ano. — Brad sorriu. — Podemos sair todos juntos algum dia desses. — O rapaz se animou, e Cibele vibrou.

Brad apertou a mão de todos e conversou com seu maravilhoso português. Vicente não estava entendendo muita coisa, mas percebeu algo quando Brad cutucou a costela de Cibele com muita intimidade.

— Gente, eu quero apresentar oficialmente o Brad como meu namorado. Sei que demorei um pouco para contar, mas queria fazer isso pessoalmente. — Ela sorriu, fazendo Brad sorrir também, e Joaquim engasgou com seu suco. — Brad, esses são meus melhores amigos do mundo: Vicente, Joaquim e Bruno.

Bruno a parabenizou sem jeito e sentiu o olhar do seu irmão em direção aquele jovem americano. Joaquim coçou a cabeça discretamente e cumprimentou o rapaz, os meninos sempre cogitaram que Cibele gostasse do Vicente também; eles realmente cogitavam isso.

— Seu... namorado? — Vicente gesticulou forçando um sorriso, e ela consentiu.

Parte do Vicente murchou, ele sabia como aconteciam os corações partidos por causa de filmes e séries, e agora ele também sabia como era ter o seu coração partido. Jamais poderia culpá-la por uma paixão completamente unilateral, o menino sorridente queria ficar feliz pela felicidade da sua amiga, apenas precisava descobrir como fazer isso.

S2

O que acharam do Vicente e seu mundo?

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