Depois da saída ღ Capítulo 10
Após a saída de Miguel tudo ficou em um silencio ensurdecedor na mansão Dias, Bruno se trancou no quarto e recusou qualquer tipo de conversa, já os dois meninos foram para seus quartos, naquele dia Marli seguiu o caminho da casa dos sogros chorando em silencio, na verdade ela não conseguia parar de chorar quando estava sozinha. Chegando lá, ela abriu o jogo e seus sogros demonstraram uma profunda vergonha pela atitude do seu filho, e assim que o mesmo chegou foi xingado por seu pai, e ouviu coisas pesadas da sua mãe, mas nada falou para se defender, afinal o que poderia ser falado?
Os pais do advogado não eram as pessoas mais próximas do mundo, eles viviam suas vidas e se juntavam em datas como o natal ou bodas, mas sempre mostravam apresso pela família do filho. Eles eram idosos de índole inquestionável que não admitiam falha de caráter dos seus filhos, sendo assim ofereceram toda ajuda que Marli precisava com os dois filhos até que Miguel resolvesse sua situação.
Naquela tarde Marli voltou para casa sozinha, dispensou seu motorista e desligou seus dados móveis, ela não sabia como fazer para parar de chorar e voltar para casa um pouco melhor. No fundo ela ainda era aquela menina cheia de sonhos e planos que havia se apaixonado perdidamente por um rapaz mais velho em uma festa da sua escola, ele era bonito e inteligente, naquela tarde ela se deu conta de quanto tempo havia passado.
Andando pela ponte dos ingleses, algumas pessoas tiravam fotos ali, sempre foi um ponto turístico de Fortaleza e estava sempre cheia no passado, com o tempo o lugar foi se deteriorando, mas ela tinha muitas lembranças. Ela tirou seus saltos caros e sentou ali na ponte de frente para o mar fechando os olhos.
"Lilian, dizem que é errado eu gostar de você... Afinal ainda está na escola e eu acabei de começar a faculdade, porém gosto muito de você e sentia que iria voltar para mim...".
Ela lembrava de seus passeios noturnos com Miguel naquela ponte quando se conheceram, ele sempre falava como se tivessem uma grande diferença de idade, mas para a época era grande mesmo, ela recordava com carinho e o coração lotado por dores.
"Quem disse que voltei por você? São Paulo não faz meu estilo, e não fala como se eu fosse criança, se um dia casarmos e tivermos filhos, eles pensarão que você cometeu um crime ao gostar de mim."
Seu celular tocou dentro da bolsa e a mesma ignorou, após algum tempo voltou a tocar e sem paciência ela escavou a bolsa procurando o aparelho, era sua mãe.
— Oi, mainha. — Marli atendeu. — Como está?
Suzana sempre ligava para a filha e passou a ligar mais após saber do acontecido. As fofocas foram locais, então não chegaram até São Paulo, mas ela mesma contou aos pais.
— Por que não atendeu antes? Quer matar sua mãe de preocupação? — A senhora falou, preocupada. — Como está tudo aí? Seu pai queria pegar um avião junto ao seu irmão para bater no Miguel. — Marli arregalou os olhos ao ouvir aquilo.
— Não vi tocar e acabei de sair da casa dos meus sogros, fui devolver o presente de Deus e pegar minha dignidade de volta. Pode segurá-los? Não quero mais problemas, já resolvi as coisas. — Marli bufou e levantou após pouco tempo ali.
No começo, Suzana não aprovou o relacionamento de Lilian com Miguel, mas logo percebeu que os jovens se gostavam muito e Miguel sempre respeitou muito os sogros, logo entrando para a família.
— Estamos preocupados com você e com os meninos. Sei que tem dinheiro guardado e é sócia do seu irmão, mas está precisando de algo? — Suzana falou e recebeu o silêncio da filha. — Minha filha, quer que o painho vá te buscar? — Gil falou, e Marli percebeu que estava no viva-voz.
Marli deixou lágrimas caírem junto a sorrisos quando ouviu a voz do pai.
— Mainha e painho, eu não sou mais adolescente. — Ela falou, chorando. — Está tudo bem. Se eu não tivesse meus filhos, perguntaria por que me deixaram voltar anos atrás.
Suzana e Gil tornaram-se mudos por instantes, eles podiam sentir a dor da filha.
— Maria Lilian está chorando? Venha para São Paulo com os meninos assim que organizar as coisas. Mandarei o dinheiro das passagens. Passe uns dias aqui até as coisas se acalmarem. — Gil falou.
— Ir para São Paulo? Não sou mais uma adolescente para fugir quando as coisas ficam difíceis. Eu tenho três pessoas que preciso cuidar. — Marli perguntou, limpando o rosto rapidamente.
— Nossa casa é a casa de vocês, somos uma família. — Suzana falou. — Nada está acabado, você é nova, saudável e tem um bom diploma. Só irá recomeçar, querida.
Marli consentiu sem que os pais pudessem ver. Ao ouvir da mãe que nem tudo estava perdido, ela precisou ouvir tudo o que já sabia para, só então, seu coração tomar consciência, ou tentar.
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Dias se passaram rapidamente, Marli estava mais calma, havia passado a semana pensando em uma forma de contornar os gastos altos e estava tendo ajuda dos seus filhos, Miguel lutava para reaver suas coisas e em sua cabeça reconquistar sua esposa.
Vicente procurava emprego às escondidas e aguardava a inscrição dos campos da faculdade após ver sua boa nota, igualmente ao seu amigo. O aplicativo do Joaquim havia sido lançado há poucos dias atrás e o mesmo estava gastando muitos neurônios com marketing e estava desanimado por quase nenhum download do seu aplicativo, mesmo com muita divulgação poucas pessoas estavam baixando e testando, o mesmo via suas economias de anos irem por água a baixo após toda tentativa para ser tudo o mais seguro possível.
Bruno seguia pensando em tudo que havia acontecido e após muitas conversas com sua avó materna, seu coração estava um pouco mais calmo, tirando o fato do medo de Micael ser demitido, e Dani ir embora.
Marli precisou demitir dois funcionários naquela tarde mesmo pensando em mil formas de continuar com todos, ela sabia que não poderia.
Todos estavam sentados na sala, Marli com os três garotos e Dani junto ao seu pai.
— Marli, eu entendo tudo e por mim não irei embora, mas eu e minha filha sabemos que você está passando por uma luta grande. Funcionários são custos altos... — Micael encarou Marli e percebeu seus olhos marejados.
Eles se conheciam há muito tempo. Micael sempre foi muito grato por tudo. O motorista sabia que aquela mulher estava passando por um dos momentos mais difíceis da sua vida, e sozinha.
— Não quero te demitir. Ficando apenas com o seu salário e o da Zilda, eu posso dar conta. Meu coração apertou ao demitir as outras pessoas, mas não tive saída. Como não sei dirigir muito bem e não quero ocupar o Vicente, você permanece, Micael. — Marli falou, e Bruno a encarou. — Estou resolvendo tudo com os advogados. Essa casa é própria, e os avós dos meninos pagarão a pensão até vir do pai deles. Com minha sociedade na fábrica do meu irmão, daremos conta na medida do possível. — Marli sorriu, e Micael acreditou em suas palavras.
— Obrigado, por tudo mais uma vez. — O motorista agradeceu e encarou a filha.
— Tia, eu posso te ajudar no que precisar quando não estiver na escola e não precisa me pagar nada. — Dani falou, e Marli consentiu ao sorrir.
Marli expressou gratidão por aquela doce menina sempre a ajudar tanto.
— Sim, princesa, eu irei precisar de ajuda. E mais na frente, quando eu resolver tudo, passaremos alguns dias em São Paulo. Se quiserem vir conosco, tem lugar para vocês. Preciso de um tempo longe de tudo para descansar, mas caso queiram ir, estarão de folga... — Marli explicou, e todos a encararam.
Todos na sala entraram em transe com pensamentos particulares sobre a viagem repentina. Vicente lamentou, franzindo o cenho. Bruno calculou se não seria mais gasto uma viagem repentina para tão longe. Joaquim idealizou em como isso poderia ajudá-lo com o aplicativo. Micael tentou recordar o saldo em sua conta bancária, e Dani imaginou-se conhecendo locais novos.
— Mãe, quando pensou nisso? Está bem mesmo para uma viagem? — Vicente perguntou, e Marli consentiu.
— Sua vó nos chamou há alguns dias. Ainda irei deixar a papelada do divórcio pronta, e faltam quanto tempo para a inscrição dos campos da faculdade? — Marli perguntou.
— Acho que um mês, madrinha. E a escola do Bruno? — Joaquim perguntou.
— Então, pensaremos nisso para as férias. E se você for, Dani, estará de férias também. — Marli gesticulou para Dani e atendeu seu celular. — Fiquem calmos, tem tempo.
Micael consentiu, e Marli saiu para atender uma ligação do seu advogado. A mesma tinha dado entrada no divórcio, e Miguel não queria aceitar.
— Nossa, será que vamos nos mudar? — Bruno perguntou. — A voinha estava bem preocupada.
— Mudar? — Joaquim arregalou os olhos.
— Mudar de vez? — Dani perguntou. — Para sempre?
Vicente coçou a cabeça sem muita paciência, cerrando os dentes para Bruno.
— Não instaure o caos, cabeça oca. Iremos passar uns dias nas férias para ela descansar. — Vicente falou, e Joaquim consentiu. — Ela precisa apenas de uns dias...
Bruno debochou do irmão, fazendo todos sorrirem.
— Meninos, eu vou à igreja com a Dani. Caso precisem de algo, me liguem. — Micael falou, e os meninos consentiram.
Todos foram saindo da sala, e, por fim, restaram apenas os três meninos. Cada um pensava e refletia sobre como a vida seguiria...
— Está tudo zoado, seus pais se separaram e meu aplicativo não deu certo. — Joaquim bufou. — Gastei todo o meu dinheiro, e as pessoas parecem não confiar.
Vicente jogou uma almofada no amigo, e o mesmo arregalou os olhos.
— Lançou há poucos dias, tenha calma. Vamos espalhar mais. Quanto aos meus pais, sem solução. E como assim vamos para São Paulo? — Vicente falou, sendo atingido por uma almofada que Bruno jogou.
— Segundo você, ir para São Paulo não é um passeio... Por que não gosta de viajar? — Bruno perguntou ao irmão, e Joaquim riu. — Qual é o seu problema?
Os meninos se levantaram juntos quando a campainha tocou. Eles sabiam que era Cibele. Ela sempre aparecia nos finais de semana e os alegrava.
— Eu amo viajar, Bruno, mas já parou para calcular a probabilidade de um avião cair e a probabilidade de sobreviver à queda? Uma dica: a probabilidade de sobreviver é quase nula... — Vicente explicou, e os meninos bufaram.
— Só você para calcular isso, nerd... — Bruno balançou a cabeça e o mandou calar a boca.
— Pensa no quase, irmão... — Joaquim falou, tocando o ombro de Vicente, e Vicente bufou. — Bruno, ser nerd não é uma ofensa, é uma qualidade. — Joaquim fez Bruno se desculpar e sorriu contente.
Eles abriram a porta para Cibele, que os abraçou com euforia. A mesma sabia de tudo que estava acontecendo e havia diminuído suas visitas à casa dos Dias para dar um pouco de privacidade, mas sentia falta dos melhores amigos. Como iria se mudar de vez para fora do país, queria aproveitar mais o tempo com eles.
— Trouxe lanches, doces e eu. — Ela entrou. — Cadê a tia? Como estão as coisas por aqui? Joaquim, seu aplicativo é maravilhoso, fiz uma amiga do Espírito Santo.
Joaquim sorriu feliz.
— Obrigado por baixar, Ci. — O dono do aplicativo sorriu, e ela o abraçou.
— Que bom que está aqui, Ci. Seus dias estão contados novamente. — Vicente falou, e a menina confirmou. — Por aqui está um completo caos.
Eles subiram as escadas lentamente e lamentavam pela nova viagem de Cibele.
— Não queria deixá-los, principalmente na situação como está. — Ela lamentou e bufou. — Mas voltarei...
Cibele realmente os amava e estava triste por tudo que estava acontecendo com seus amigos. Ela e sua família se dispuseram a ajudar caso fosse preciso, porém todos ali sabiam que ela não poderia abandonar seus sonhos; provavelmente não teria outra chance daquelas.
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Sentado em uma cadeira de praia na varanda do seu quarto, Vicente observava as estrelas e a lua por seu telescópio como quase todas as noites e fazia muitas anotações em seus cadernos. Mesmo sem estar na faculdade, desde muito novo ele vem estudando sobre o universo e seus mistérios, a galáxia e sua beleza, ele amava tudo aquilo.
— O futuro astrônomo Vicente Dias está observando a constelação Órion composta por três brilhantes estrelas enfileiradas, ou apenas as três Marias. — Vicente sorriu da sua própria observação feita em voz alta. –Será que as pessoas sabem que seus nomes não são Marias? –Ele observou-as novamente com calma e anotou em seu caderno.
O céu é surpreendente...
Seu telescópio o lembrava de Cibele, que o lembrava de que a mesma estava com os dias contados no Brasil novamente. Apesar de qualquer sentimento, eles eram amigos de longa data e ela era uma pessoa incrível, vê-la longe era ruim.
— Mintaka, Alnilan e Alnitaka. — Ele sussurrou o nome das três estrelas e voltou a encostar-se na cadeira. –Nada de marias.
Ele estava tentando se distrair mais nada tirava algumas coisas da sua cabeça, sua mãe ainda extremamente triste, seu pai longe e o aplicativo do seu amigo que por algum motivo mesmo sendo ótimo, não estava sendo baixado. Ele sentia uma profunda tristeza mesmo sem demonstrar, mesmo sem nenhuma lagrima cair.
Vicente encarou sua carteira de cigarro e lamentou estar vazia, ele sentia vontade.
"Irmão, baixa o aplicativo do Joaquim mesmo sem gostar de conhecer pessoas dessa forma, isso irá anima-lo."
Horas antes, entre conversas com seu irmão, Bruno tentava o convencer a baixar o aplicativo do amigo mesmo sem gostar de conhecer pessoas virtualmente. Vicente não se achava bom em socializar, mesmo fazendo amizade com facilidade. Contudo, ele definitivamente iria ajudar seu amigo.
Vicente, pegou seu celular e baixou o aplicativo rapidamente.
O rapaz não acreditava em sorte ou destino, não costumava a idealizar coisas que poderiam acontecer ao baixar aquele aplicativo, em sua cabeça no máximo conversaria algumas horas com alguém, que morava em algum lugar Brasil, e fim.
Ele fez sua inscrição, leu todas as regras duas ou três vezes e parabenizou seu amigo por tudo tão bem organizado e seguro, Joaquim o orgulhava mais do que imaginava.
— Se quiser garantir sua permanência em nossa plataforma, aqui estão as regras a serem seguidas. É proibido pornografia, qualquer tipo de preconceito, palavras de baixo calão e o uso de imagens que não sejam suas.
O aplicativo fazia uma série de testes para garantir que o usuário não era falso, o que aliviava Vicente. A princípio, ele não veria a foto da outra pessoa e nem veriam a sua; apenas o nome seria visível. Após a solicitação de amizade ser aceita, os usuários poderiam ver as fotos, se desejassem.
Vicente colocou um emoji de um planeta e a letra "V" na sua foto e usou uma imagem borrada de si mesmo em um planetário.
— Vamos lá, ler mais regras, Joaquim sendo o Joaquim. — Ele sorriu. — Para encontrar novos amigos, basta clicar nesse círculo brilhante e alguém aparecerá em sua tela. A partir disso, você decide se envia uma solicitação ou não, e se aceita ou não. Caso cancele alguma amizade, ela sairá definitivamente do seu círculo de amigos. Se não se sentir confortável com algum dos nossos usuários, se sentir ofendido, discriminado ou intimidado, nos comunique de imediato. — Ele leu e consentiu.
Naquela noite estrelada e silenciosa, ao clicar no círculo, alguém iluminaria sua vida. O aplicativo exibiu em sua tela uma solicitação de amizade. Não havia foto, pois ainda não eram amigos, mas algo chamou sua atenção: não havia nome ou gênero, apenas um emoji de um Sol.
Ele clicou em solicitar amizade e, assim que a solicitação foi aceita, uma mensagem apareceu na sua tela.
"Parabéns, você acabou de fazer sua primeira amizade em nossa plataforma e espero que conheça pessoas incríveis. Desejamos uma boa conversa e que tal dá o primeiro oi? Deixe a timidez de lado."
— Nossa, minha primeira amizade foi mais rápida do que pensei. Eu tenho que dá o primeiro oi? –Ele encarou o céu novamente. –Deixando a timidez que não tenho, de lado.
Ele falava sozinho e ria, então abriu o chat e por um momento pensou de onde aquela pessoa era e por que o sol? Gostava do sistema solar ou apenas amava o verão? Por que aquela pessoa estava no aplicativo tão tarde? Estaria com a cabeça cheia como ele ou apenas se divertindo?
Oi, boa noite. :)
Vicente mandou a primeira mensagem e quando foi entregue com sucesso, ele se sentiu bem por realmente ter gostado do aplicativo. Joaquim tinha feito um ótimo trabalho e precisava urgentemente ser espalhado.
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O destino está começando a fazer seu trabalho e vocês mal podem esperar para ver ;)
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