Conforto ღ Capítulo 21
O tempo também havia corrido do outro lado do Brasil, Vicente e sua família estavam aos poucos reconstruindo a vida diária, Marli estava empenhada em seu emprego à distância, e precisou cortar ainda mais os gastos como vender o carro de luxo e comprar um popular, pensar em modos de economizar energia e agua, pegar no pé dos filhos para manter a casa organizada, e empregada fixa mudou para uma diarista poucas vezes na semana.
Os garotos estavam refazendo os pensamentos e atitudes, começaram a ter duas casas após o divórcio definitivo e a reaproximação com Miguel estava sendo gradativa, já que o pai estava refazendo sua vida sozinho. O advogado estava mais conformado e recuperando tudo aos poucos após tentativas diárias de convencer Sandra a parar com tamanha loucura, eram tramites complicados quando envolviam uma pessoa apaixonada e inconformada.
Certo, conformado não era a melhor palavra para definir Miguel, mas ele estava sentindo na pele a dor de não ter sua esposa e filhos, ele poderia listar todas as vezes que deveria ter sido grato e não foi, principalmente na época que não sabia o que era a solidão.
Ainda no mês de março, após pegar seus farelos de dignidade, Miguel respeitou a decisão de Marli e assinou o divórcio, ele a deixou livre para refazer a vida e se viu preso em sua própria armadilha. Ele não havia perdido tudo, continuava ganhando dinheiro e logo comprou um apartamento, mas não tinha criatividade para comprar os moveis, o ambiente estava quase vazio. Ele encheu a geladeira com tudo que mais gostava, mas não usou suas panelas por não saber como cozinhar suas comidas preferidas. Sua cama era grande, mas não bastante para ignorar que o travesseiro ao seu lado estava vazio, ele havia conquistado o silencio perfeito para analisar casos, mas era tão silencioso que poderia imaginar perfeitamente seus filhos discutindo sem motivo e o pedindo para analisar quem estava com a razão. Miguel havia recuperado tudo que o dinheiro comprava, mas então percebeu que o que ele mais queria, e o dinheiro não traria de volta.
Nesse mesmo mês, após o aniversario da patinadora, ela e Vicente se tornaram mais próximos, o rapaz poderia virar a noite conversando ao telefone com ela facilmente, e era tão prazeroso quanto observar as estrelas. Ele compartilhava seus momentos pesados e ouvia os dela, como quando seu pai adoeceu. Eles dividiam alegrias, como quando Vicente e Joaquim conseguiram suas vagas na universidade pública e foi uma festa.
Conseguir a vaga em uma universidade publica acabou sendo um alivio para os dois garotos, o pai do Joaquim chorou de emoção e viajou até a cidade grande para abraçar seu filho. Vicente por pouco achou que seu coração pararia de tanta euforia, aquele dia foi o primeiro em meses que seus pais se encontraram sem brigas, algo que ele não esqueceria tão cedo. E assim, os dois garotos fizeram suas matriculas e começaram uma jornada para seus sonhos, afinal a faculdade a começou a ajudar Joaquim quando seu aplicativo se espalhou pelo campus, o fazendo tirar o primeiro dinheiro disso.
Quando o mês de abril chegou, Vicente já tinha uma rotina fixa e gostava dela. Ele ia para faculdade de manhã junto a Joaquim, seu amigo ia para o trabalho e Vicente para casa. A tarde ele ajudava a mãe com algumas coisas do trabalho, estudava a matéria do dia, e durante todo o dia trocava mensagens com Sol, mesmo que quase todas as noites eles se falassem por ligação por algumas horas. Aos finais de semana ele e Bruno iam para casa do Miguel e ajudavam o pai a coisas básicas como comidas e passar uma camisa sem queima-la.
Dias atrás ele comemorou com euforia quando Sol passou na seleção para as estaduais, sentiu uma emoção como se fosse ele a passar. Na mesma noite eles conversavam por vídeo chamada pela primeira vez, ele pode vê-la melhor junto aos seus detalhes como sinais no rosto e seus grandes e escuros olhos, ele ainda não havia os esquecido.
Cálculos, cálculos e mais cálculos. Era isso que Vicente via durante toda a amanhã, mas ele gostava, estava no paraíso queimando vários neurônios.
-Para a maioria esses cálculos já podem ser fáceis, mas deem suporte aos colegas que ainda não estão familiarizados com a física. Como os trios já estão formados, espero trabalhos divinos. Até semana que vem. -O professor falou, fechando sua pasta e Vicente consentiu balançando a caneta.
Ele se sentava na frente e já tinha alguns colegas que eram pessoas legais e receptivas, quando o primeiro trabalho em trio foi formado, ele conheceu um pouco mais a Juliana e o Felix.
A aula acabou por volta de meio dia, os três ficaram na sala para decidirem onde fariam o trabalho. Felix se apoiou na mesa do professor, Vicente se sentou em uma cadeira e Juliana se sentou ao seu lado.
-Que aula pesada, que trabalho chato. -Juliana resmungou.
-Certo sem reclamação, onde vocês moram? -Felix pegou um caderno. -Eu moro perto do aeroporto.
Vicente relutou um pouco, ele não era tão aberto para falar da sua vida para as pessoas, principalmente depois de tudo que aconteceu. Ele deu a vez para Larissa falar, sendo muito cordial como sempre.
-Eu moro aqui longe da faculdade. -Ela sorriu com simpatia e olhou para Vicente. -Moro com minha irmã e minha avó.
O loiro arrumou a postura na cadeira, e sorriu sem jeito.
-Moro perto da avenida beira mar... -Ele explicou e foi encarado por Felix. -Um pouco distante daqui.
Felix o mandou uma cara engraçada, um pouco distante era uma forma de dizer eu moro do outro lado da cidade.
-Você mora a quase uma hora da faculdade? -Felix perguntou.
Vicente consentiu, bufando com um leve sorriso.
-Você mora na beira da praia? -Juliana perguntou. -Que massa.
Vicente voltou a consentir gesticulando com a mão.
-Na beira mesmo... não... -Vicente riu sem graça e complementou. -Algumas ruas por trás. -O menino falou e os amigos consentiram.
Felix anotou no caderno e suspirou.
-Estamos com a elite de fortaleza, existe um rico entre nós. -Felix brincou. -Minha amizade rica aconteceu.
Vicente negou um pouco mais solto e caiu na brincadeira dos colegas que conversavam de forma descontraída, ele não explicou nada sobre, nem ia adiantar no fim. Os três decidiram fazer o trabalho na biblioteca da faculdade em algum dia a tarde, assim não ficaria distante para nenhum.
A faculdade era um mundo novo para Vicente, ele diariamente conhecia pessoas, assistia as aulas que idealizou por tanto tempo, e acabou percebendo que era mais difícil do que pensava. Ele saiu da sala de aula com sua mochila no ombro e o celular na mão, ele aguardava uma mensagem da Sol, estava preocupado.
Aquela amizade já estava seguindo por outros caminhos a algum tempo, mas não era como se ele pudesse admitir facilmente. Um dos defeitos do futuro físico era não se abrir com facilidade, ou deixar seus sentimentos um pouco mais óbvios, e principalmente após a paixão mal sucedida por sua amiga de infância
Vicente apenas sabia que adorava falar com Sol todos os dias, e ajudá-la com cálculos por horas mesmo já passando o dia todo estudando. Gostava da sua risada estranha e de como suas bochechas ficavam grandes quando ela sorria mesmos eu rosto sendo fino, era legal aprender sobre um esporte e ver como ela era regrada com a dieta e treinos. Ele sentia-se animado com suas conquistas, se preocupava com seus problemas e depois de Joaquim, Sol era a pessoa que precisava saber as novidades de imediato. Pensar ela durante o dia enquanto fazia algo aleatório era uma coisa que o mesmo estava se policiando, assim como olhar suas fotos na rede social ou até achar que em seria legal tê-la ao lado para compartilhar alguns momentos.
-Vicente, ei surdo. -Uma pessoa gritou no meio do campus, e tirou o menino de pensamentos distantes. -Falei ali atrás e não me ouviu.
Uma colega de classe se aproximou dele sorridente e Vicente retribuiu o sorriso.
-Ah, oi Juli. Nem te ouvi gritar antes... -Ele se explicou arrumando o óculos. -Tudo bem?
Eles seguiram caminhando, e conversando.
-Tudo bem e você, para onde está indo? -Ela perguntou.
-Estou bem e indo para o prédio de engenharia, meu irmão estuda lá. -Vicente explicou.
-Uau entraram junto, que benção... São gêmeos? -A menina arregalou os olhos e ele negou.
Chamar Joaquim de irmão era algo normal em muitas ocasiões, ele sempre soltava esse termo naturalmente, mas era como sentia.
-Ele não é meu irmão de sangue, mas é meu irmão da mesma forma. -Vicente afirmou gesticulando. -É meu melhor amigo, fomos criados juntos.
Vicente explicou para a moça que parecia estar muito interessada em tudo que o mesmo falava, afinal na sala de aula eles já haviam conversado e acabou que ela trabalha próximo a casa dele.
-Claro, entendo. -Juliana falou com timidez. -Como trabalho perto da beira mar, hoje à noite quer tomar uma água de coco, por minha conta. -Ela falou, unindo as mãos.
Eles pararam na porta do prédio que Joaquim estudava e a pergunta da moça o fez sorrir, em poucos segundos ele precisava dá uma resposta.
Hoje à tarde pai vai para a clínica, se eu ficar off a noite é por que não estou tão bem.
Vicente recordou do que Sol falou.
-Eu agradeço o convite Juli, amo água de coco. -Ele mexeu nas mãos sem jeito. -Hoje preciso ajudar uma amiga que está passando por algo complicado, fica para a próxima? -Ele sorriu.
Juliana consentiu sem parecer desapontada.
-Claro, quando você puder, eu poderei. -Ela apontou para ele e correu quando sua amiga gritou seu nome. -Tchau Vicente.
-Até mais Juli. -Vicente acenou.
De longe ele avistou Joaquim se aproximar falando empolgado com um rapaz.
Joaquim estava cada dia mais empolgado com a faculdade, mesmo que fosse tão cansativo trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Ele assim que chegou ficou conhecido como o dono do Circles of friends e foi elogiado, como uma febre muitas pessoas começaram a baixar o aplicativo.
-Olha só ele fazendo tantos amigos, por qual será que serei trocado. -Vicente resmungou quando Joaquim se aproximou.
-Falando merda em pleno meio dia. -Joaquim sorriu, estapeando sua cabeça. -Vamos andando rápido cara, quer pegar o ônibus lotado?
-Não, esse é segundo inferno. -Vicente brincou.
-Qual o primeiro?
-Perder ele. -Ele explicou, fazendo Joaquim rir.
Vicente correu o mais rápido que pode quando encarou o relógio e Joaquim fez o mesmo, eles andavam tão devagar que sempre precisavam correr em alguma parte do trajeto.
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-Ângelo, falei com o fornecedor de Santa Catarina. Esses preços são os mais baixos que consegui, fizeram uma choradeira para não baixar mais. -Marli falava com seu irmão por vídeo.
Ela estava se saindo muito bem trabalhando na administração da fábrica mesmo em experiência, seu irmão estava aliviado por ela estar superando uma queda tão grande, o mesmo até ligou para Miguel, falou poucas e boas.
-Sim, mas os preços que conseguiu estão ótimos. A planilha está no e-mail? Nossa economia aqui no Sudeste não é tão boa quanto no Sul, mas nos viramos bem. -Ele falou.
Ela consentiu e Ângelo observou as feições de sua irmã, ela parecia mais nova.
-Li, está bem? -Ele perguntou e ela se aproximou na câmera.
Marli sorriu, consentindo.
-Sim, me pergunta isso todos os dias. -Ela sussurrou, coçando o nariz.
-Você sempre será minha irmãzinha. -Ângelo falou com simpatia e Marli sorriu.
Eles conversaram mais um pouco sobre família e Marli desligou a chamada sentindo-se bem, ela se sentia mais leve com o passar dos dias, e seu trabalho deixava sua mente ocupada. Não era tão simples como as pessoas pensavam só pelo fato de ter assinado um divórcio, ela tinha muitas preocupações com o financeiro e alguns dias eram solitários, mas se modo geral ela estava se saindo muito bem.
Ela estava feliz com os dois filhos mais velhos na faculdade e tranquila por Bruno sair menos a noite, inclusive o mesmo pediu a mãe que reservasse um tempo da sua noite para uma conversa.
Marli seguiu para cozinha para começar a preparar o jantar, ela era responsável por todas as refeições e Dani a ajudava. Após colocar seu avental e prender os cabelos, ela começou a separar tudo que precisava para o jantar, o baião d dois que restou do almoço iria se juntar a um arroz novo e bife acebolado, simples e gostoso.
-Tia, quer ajuda hoje? -Dani entrou na cozinha sem muita animação.
Marli sorriu ao vê-la e gesticulou para que a mesma entrasse.
-Não preciso de ajuda, mas sente-se aí e me faça companhia, meus filhos somem. Comprei um bolo, prove um pedaço e coloque em um pote para o seu pai. -Marli sorriu e a menina se aproximou do bolo. -O que houve?
Dani estava preocupada, após o jantar ela e Bruno falariam com os pais para obterem permissão para um namoro que já estava acontecendo. Mesmo Bruno insistindo para falar com Micael, Dani o freou pois queria estar presente na conversa.
-Estou preocupada. -A menina sussurrou, já cortando o bolo.
Marli encarou a adolescente de longe e sorriu e forma imperceptível, era louco a forma como o mundo girava e as coisas aconteciam, o passado parecia aos poucos se fazendo presente.
-É sobre a conversa que o Bruno me falou que queriam ter?
Dani deglutiu lentamente, até onde Marli sabia e o que pensava sobre isso?
-O que sabe sobre isso tia? -Dani se aproximou da pia, onde Marli estava cortando a carne.
A jovem senhora lavou as mãos rapidamente, as enxugou e tocou os cabelos ondulados da menina ao seu lado. Marli a viu crescer, ela chegou ainda criança quando havia perdido a mãe e estava crescendo muito bem.
-Eu já fui novinha assim, também já senti muito medo e um dia também já gostei de alguém muito diferente de mim, o Miguel. -Marli falou baixo e Dani a encarou. -Gostei de alguém que era muito diferente de mim em questão de idade, opiniões, vida e criação.
Elas sentaram a mesa rapidamente e Dani a escutava atentamente.
-Como fez para dá certo? -A menina perguntou e Marli respirou fundo. -Quando deu errado, se arrependeu?
Eram duas perguntas muito fortes, mas pertinentes.
-Lá atrás nossa história deu certo porque apesar das diferenças, havia bons sentimentos e eram recíprocos. Essa é a chave para um bom relacionamento, os dois estarem no mesmo ritmo e seguindo o mesmo caminho.
Marli respondeu uma das perguntas e respirou fundo para responder a outra.
-Sei que já ouviu muitas brigas e nelas eu falei coisas duras e algumas bem ruins, mas aconteceu isso e aquilo, não pude evitar. Porém, não me arrependo de ter amado profundamente, eu dei o meu melhor e sai de cabeça erguida com dois filhos maravilhosos, tivemos muitos momentos incríveis em vinte anos. -Marli sorriu e Dani consentiu.
A menina ainda muito inocente respirou mais aliviada e apertou as mãos sem jeito.
-Acha que meu pai... -Dani piscou os olhos com força.
Marli tocou sua cabeça e negou fazendo uma careta.
-Com ele eu me resolvo, caso exista algum obstáculo. -Marli afirmou com certeza e acariciou seus ombros. -Relaxe, irá criar rugas na testa.
Marli levantou a mão para Dani bater e a menina bateu já mais tranquila, Dani não tinha muitas lembranças da mãe, mas gostava se imaginar que ela era parecida com aquela mulher gentil e doce ao seu lado.
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Em uma mesa lotava por livros Vicente tentava ajudar Bruno que não tinha muito sucesso em matérias de exatas, a noite havia chegado e Sol ainda não tinha respondido nenhuma de suas mensagens, apenas postado uma mensagem sobre Deus ainda pela manhã.
-Vicente, eu respondi à questão. -Bruno encarou o irmão e não houve resposta.
Vicente encarava o celular como se estivesse mandando algum tipo de energia para o aparelho.
-Irei largar a escola e fugir de casa... -O menino falou algo absurdo para chamar sua atenção e Vicente apenas consentiu balanço a cabeça. -Sério?
Bruno o cutucou com o lápis já irritado.
-O que cara? -Vicente bufou e logo percebeu ter ignorado o menino ao seu lado. -Desculpa, irei corrigir.
Bruno sabia o motivo do irmão está daquela forma, na verdade estava sabendo por Joaquim.
-Liga para ela carai ! -Bruno exclamou. -Que mania de ficar se segurando quando sente as coisas, se está preocupado apenas liga.
O mais novo apontou para o celular e Vicente o encarou negando. Sim, isso já havia passado por sua cabeça, mas pensava ser invasão demais ligar sem avisar. Ele corrigiu o caderno do irmão e por algum milagre o mesmo não havia errado nada.
-Não funciona assim, ela não está bem e nunca liguei sem a permissão dela. -Vicente bufou. -Parabéns, não errou nenhuma.
Vicente parabenizou o irmão por seus acertos e Bruno começou a arrumar seus materiais. Ele também estava preocupado demais com a conversa em breve para se preocupar com a cabeça dura do irmão mais velho.
-Tá bom, o pai diz que quando uma mulher diz não ligue, é o oposto. Se você ligar, ela atende ou não. Se atender, você pode perguntar se ela está bem... -Bruno sorriu.
Vicente sorriu e negou.
-Nosso pai não é um bom conselheiro, visto sua vida amorosa... -O mais velho falou e coçou a cabeça com força.
Bruno gesticulou para que o irmão fizesse o que quisesse, fechou a porta e saiu do quarto.
Vicente se jogou na cama, encarou o cigarro e o ignorou. Com impaciência ele pegou seu celular, procurou o número da Sol e relutou por muitos minutos. Enfim o menino deixou chamar e roeu a unha já nervoso.
A chamada atendeu e ficou em silencio.
-Sol? -Ele se levantou da cama em um salto.
-Oi. -Ela respondeu baixinho.
Vicente começou a andar pelo quarto.
-Desculpa ligar assim, sei que nunca fiz isso, mas você sumiu... -Ele se explicou, nervoso. -Não quero te atrapalhar...
Vicente notou sua voz um pouco mais abafada que o normal, ela poderia estar gripada ou chorando, quem sabe debaixo das cobertas ou no banheiro.
-Eu estava sem cabeça para o celular, por isso não respondi mais cedo. Tudo bem ligar... -Ela explicou e ele suspirou.
Vicente massageou a nuca e se sentou na cama novamente.
-Fico aliviado que atendeu, estava preocupado. Não confio em São Paulo... -Ele falou e a fez sorrir. -Eu já imagino que não está bem, podemos falar depois se não estiver bem.
Sol pareceu sentar-se em algum lugar e falou com a irmã.
-Perai. -Disse Sol. -Sofia, eu lavei a louça e você seca. O Cris se deitou com a mãe, já irei entrar.
-É o menino que fez aquele desenho? -Sofia perguntou e Vicente sorriu do outro lado da linha.
-É sim, agora vai. -Sol a mandou ir.
Vicente ouvia a conversa e sorria com a voz de Sofia ao fundo, ela parecia ser uma menina bem curiosa.
-Voltei.
-Sim...
-Meu pai foi internado hoje à tarde, estou processando tudo. -Sol explicou.
Ele sorriu ao ouvir seu sotaque, estava aliviado a ponto de sentir seu coração mais calmo.
-Entendo, sei que é uma barra, você está triste? -Ele perguntou.
Sol demorou um pouco para responder e suspirou.
-Não, acho que triste não é o sentimento. -Ela falou e ele pode imaginar suas expressões faciais.
-O que está sentindo?
-Esperança. -Ela foi sincera. -Uma grande dose de esperança, pode nos deixar com medo.
Vicente consentiu mesmo sem ela ver e Sol começou a contar como tudo aconteceu. A família Moreira havia passado a semana se preparando para o dia, e quando ele aconteceu foi um misto de sentimentos. Charles estava feliz em ir para a clínica, Isis estava com um nó em seu peito e Sol tentou transformar a tristeza em esperança. As crianças estavam quietas, e os adultos com a cabeça a mil por hora...
-Eu irei morrer de saudade, já estou. -Ela indagou a voz. -Mas lá é um lugar lindo, parece um hotel fazenda e existem muitas regras. Ele irá se alimentar bem, podemos ir visitá-lo quatro vezes por mês e o celular é liberado aos finais de semana. -Sol explicava um pouco mais falante.
O garoto ouvia tudo com atenção, tentando imaginar o cenário.
-Sei que será difícil, desejo toda força para ele e sua família, mas é apenas um período difícil, para o resto da vida de alívio. Ele foi muito corajoso, eu não sei se conseguiria, isso foi um ato de amor si mesmo e por vocês. -Vicente falou e ela sorriu. -Ele irá ficar curado, não precisa ficar com medo.
-Você fala coisas bonitas, você sempre me ajuda. Que Deus ouça suas palavras e as conceda. -Sol sussurrou
-Amém. -Disse ele.
Sol sorriu brevemente sem entender.
-Não acredita em Deus, não precisa...
Vicente suspirou, ele nunca imaginou que com sua história com a fé, Sol ia falar sobre isso naturalmente.
-Você acredita, e respeito a fé das pessoas acima das minhas crenças, querida Sol. -Ele explicou. -Pode falar de Deus quando quiser.
Vicente foi sincero e ela ficou em silencio por alguns segundo.
-Obrigado por ligar, não queria incomodar, mas que bom que ligou primeiro... -Ela deglutiu algo. -Eu ainda não sou tão boa para dividir esses meus problemas, mas consigo fazer isso com você.
Vicente sorriu largo, fechando os olhos em seguida. Ele sentia seu coração aquecido por nenhum motivo ou por todos que ainda não sabiam quais eram.
-Fiquei aliviado quando atendeu, as nossas conversas não precisam se resumir a coisas boas ou festivas. Estarei aqui nos momentos difíceis, mesmo tão longe fisicamente, ligações podem ser quase suficientes. -Vicente explicou. -Sabe o que comi hoje?
Sol sorriu com sua mudança de assunto, mas ela não sabia que aquela era sua tática para distrai-la de assuntos tensos.
-O que? -Ela perguntou.
-Sorvete na chapa, com morangos e avelã... -Vicente falou animado. -Irei te mandar a foto.
Ela viu a foto pelo bate-papo, dele sorridente segurando um sorvete não muito grande.
-Nossa que lindo.
Vicente sorria como do bobo, já deitado na cama, ignorando o chamado de Bruno para jantar. O mais novo encostado na porta, encarava o irmão agarrado ao celular, sorrindo. Bruno saiu em seguida aliviado e fechou a porta com delicadeza...
-Eu ou o sorvete? -Ele perguntou a fazendo gargalhar.
Sol gargalhou naturalmente, sem se importar com a altura da sua voz.
-Claro que você. -Ela sorriu, sem jeito. -Afinal nem consigo ver o sorvete mano, que pequeno.
Vicente concordou e mandou outra foto só do sorvete.
-Aqui, tão gostoso quanto bonito, o sorvete. -Ele riu, com graça. -Mas tão caro, nossa senhora. Você precisa provar o quanto antes, é bem refrescante em dias quentes.
Sol pedia detalhes do sorvete e quais sabores tinha, algumas frutas ela nem conhecia, mas Vicente a deixava com vontade de provar.
-Queria ter provado também, mas você pagava, ainda tem mais dinheiro que eu.
-Sim, eu pagaria sem problemas. -Vicente sorriu, por um momento imaginando aquilo.
-Certo, me deve um sorvete de quinze reais. -Ela falou animada.
-Certo, te devo um sorvete de quinze reais. -Ele sorriu, tampando o rosto com as mãos.
Sol estava explicitamente mais calma com poucos minutos de conversa, e ele havia esquecido a preocupação, naquele momento um de cada lado do Brasil compartilhavam o mesmo sentimento, a tranquilidade, a imaginação e o conforto.
♥
O amor nascendo é tão lindo...
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