Caidinho ღ Capítulo 14

Entre tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo em sua vida, Vicente havia encontrado algo que literalmente o arrastava para fora da caixa cheia de preocupações e nem se dava conta. Desde a noite em que baixou o aplicativo do seu amigo, algumas coisas ao seu redor haviam mudado e a maioria estava na mesma, como o processo de divórcio dos seus pais, as brigas constantes que os levavam a nada e sua ansiedade pela vaga na faculdade.

Por outro lado, na vida do Joaquim o seu aplicativo estava sendo baixado diversas vezes, o que o deixava feliz da vida. O que ele não sabia era que Bruno estava espalhando por toda a escola e usando bastante, Dani apresentou as amigas e se gabou por ser do seu amigo, Vicente estava falando para quem conhecia e lá do outro lado do Brasil, as pessoas estavam conhecendo aos poucos e espalhando.

Após algumas semanas, Cibele estava se despedindo mais uma vez dos seus amigos para seguir seus sonhos junto ao namorado que já havia ido na frente, mas por algum motivo, Vicente não estava tão abalado como antes, apesar de sentido por sua partida.

-Faltam poucos minutos para meu voo. -Cibele sussurrou.

Ocupando a fileira inteira de cadeiras, muitas pessoas estavam no aeroporto para se despedir dela. Seus pais, os três garotos, algumas colegas, Dani e Marli. Cibele estava há muitos anos na companhia da família Dias, seus pais eram amigos e ela sabia que tinha três irmãos, e que sentiria uma imensa saudade.

-Seus sonhos em primeiro lugar, gordinha. -Vicente falou e ela o encarou.

Cibele tinha um vínculo mais forte com Vicente, mas nada que a fizesse perceber a forma que o garoto a olhava. Eles eram melhores amigos, estudaram juntos até a mesma ir para a Nova Zelândia e todas as memorias eram boas, sadias e felizes.

-Você feliz, estaremos felizes também. Chega a hora que as pessoas seguem caminhos diferentes é a vida, e a saudade será certa. Não esqueça da gente em nome do senhor... -Joaquim falou, também sentido.

Ela sorriu ao ouvir a voz mais grossa do amigo mais sério, Joaquim era sempre mais prático nas opiniões e não costumava a dar voltas no assunto.

-Ficaremos bem Ci. -Bruno falou o que veio a sua mente. -Eu acho. -Ele completou, sendo cutucado por Dani.

Cibele sorria, ela não estava triste, mas as vezes sentia vontade de chorar.

-Meus amigos, vocês são tão diferentes uns dos outros e ao mesmo tempo parecem um só. Vocês têm razão, é meu sonho, pessoas seguem caminhos diferentes e ficaram bem sim, senhor Bruno. -Ela falou, arrumando seu cabelo. -A vida sempre foi muito boa ao lado de vocês, minha infância e adolescência foi muito mais fácil.

Todos concordaram e apenas os adultos conversavam, os mais jovens entraram em um voto de silencio, sem motivos. Vicente sentiu seu celular vibrando, não era o aplicativo do amigo, mas sim o de mensagens.

Vicente, sinto muito que esteja se despedindo da sua amiga, isso é ruim. Não sou boa com despedidas, então não sei se posso falar algo que vai ajudar, tipo...

Vicente abriu a mensagem que chegou do contato da Sol, eles haviam trocado os números poucos dias atrás e estavam se falando ainda mais, visto que as mensagens chegavam instantaneamente. Esse era o real motivo dele ser arrastado para fora da sua caixa de preocupações, ele havia feito uma amizade com a menina paulista e a cada dia que passava ele podia contar suas qualidades. Ele não percebia com clareza, mas de alguma forma as mensagens chegavam quando sua cabeça estava cheia, eles conversavam sobre muitas coisas ao mesmo tempo e tinham muitas opiniões diferentes, mas a conversa não deixava de ser confortável.

Mesmo ela morando fora há anos, não sei... Sabe Sol?

Vicente digitava rápido e era respondido rápido também, já era noite e ele sabia que Sol estava em casa livre. Eles sabiam seus cronogramas, de forma natural já havia memorizado as melhores horas para conversar, e isso acontecia mais a noite.

Mano, se você não sabe, como vou saber? Hahaha

Ele sorriu ao ler aquela mensagem e em seguida ela mandou outra.

Calma, estou brincando. Vocês são amigos e não querem ficar longe, e está dividido entre a tristeza de não a ver, com a felicidade de vê-la feliz. Traduzi seus sentimentos?

Vicente leu as mensagens dela e sorriu mais uma vez concordando com seu senso de humor, aquela menina não mais desconhecida tinha razão. Por vezes ele ficava imaginando como seria sua voz, afinal nunca tinha a ouvido e vasculhando sua rede social mais ativa, a mesma não postava vídeos com frequência, mas tinha alguns dela patinando, e ele já havia assistido várias vezes e todas as vezes ficava em choque com seu talento.

Sol, seu imenso senso de humor me faz rir. Tem razão, assim que puder me conte da Cecilia. Parou na parte que ela fez o primeiro ultrassom, mas não demonstrou sentimento.

Sol mandou carinhas rindo e em seguida tristes.

Eu gosto de fazer as pessoas sorirem, e sobre a Ceci, te adianto que nada mudou. Os pais dela estão mais calmos, mas ela está tão fechada que segue brigando muito com o namorado. Enfim, eu estou feliz por uma vida chegando, mas triste pela tristeza dela. Ela fez a ultrassom e está com quatro meses, apesar de pouca barriga. Ela não quis ver o bebê na tela, e não bateu papo com o médico, na escola ninguém sabe, ela está vivendo como se não tivesse acontecendo nada, sepah melhore em Breve. :/

Vicente arregalou os olhos e bufou, ele sabia que aquela situação era complicada, mas o bebe não tinha culpa para receber aquele desprezo, mas não seria ele a julgar.

Uau Sol, nem sei qual minha opinião sobre isso, porem é tudo tao complicado. Mas darei uma opiniao, só espera aí um pouco. O que é se pá? kkkk

Tá bom, espero. E "sepah" é tipo "talvez" no Nordeste kkkkkkk

Joaquim cutucou o amigo e ele bloqueou a tela do celular rápido.

-Faz quase um mês que está passando horas com a cara no celular e rindo, vai me contar hoje sobre isso, ou durmo com você no lugar do Bob até me falar. Que mistério é esse cara, você nunca foi risonho assim... -Joaquim falou e Vicente apenas o encarou.

Voo 345 para Boston, primeira chamada portão 5...

Todos levantaram quando o voo de Cibele foi chamado, ela começou a se despedir das pessoas sem pressa por estar em frente ao portão. Ela abraçou Joaquim com força e ele falou algo que fez sorrir, Bruno foi abraçado com força e ela deu conselhos rápidos sobre não ter pressa com seus sonhos, em seguida Dani que a fez sorrir e ao abraçar Marli, a aconselhou a se manter em primeiro lugar.

-Isso não é um adeus, nunca será galego... -Ela sorriu e abriu os braços em direção ao Vicente. -Desculpa não ter tempo suficiente para sei lá, passar mais tempo ao seu lado. -Ela sussurrou, com lagrima nos olhos.

Eles se abraçaram, Cibele sorriu ao sentir seu cheiro floral e ele sentiu seu coração amolecer quando ela o soltou. Vicente tocou suas bochechas enxugando suas lagrimas e sorriu consentindo.

-Não chore gordinha, não esqueça de nós e obrigado por passar anos cuidando de mim na escola e por toda companhia na vida. Se eu disser que estou totalmente feliz ia ser uma puta de uma mentira, mas minha parte feliz é por ver você feliz... -Ele hesitou sua fala, mas continuou. -Tem algo que preciso que saiba antes de ir...

Bruno e Joaquim o encarraram, tinham certeza que ele iria se declarar antes que ela partisse.

-O que é... -Cibele sussurrou intrigada.

-Sempre terá para onde voltar, certo? -Disse ele. -Seu lugar sempre estará aqui.

Queria te falar tudo, mas não posso Ci...

-Eu sei disso e se torne o melhor físico do mundo e encontre mais motivos para sorrir. Se de chances de ser feliz mesmo que as pessoas falem que é loucura e arrisque mais, você é incrível Vi. -Cibele sorriu e ele consentiu. -Eu te amo amigo.

Vicente sorriu e consentiu ao vê-la pegar sua mala.

-Eu também te amo... -Ele a fez sorrir.

Todos acompanharam Cibele até o portão de embarque e deixaram-na a sós com seus pais ainda mais emotivos, aquelas pessoas encaravam com carinho a doce menina ir embora pouco tempo após chegar e mal haviam matado a saudade.

Marli observava Vicente encarando Cibele sumir entre as pessoas, é claro que ela sabia dos sentimentos do filho e imaginava como o mesmo estava se sentindo, seus filhos mal haviam crescido e já sabiam o que era a paixão.

-Vamos crianças? -Mari falou. -Prolongar a despedida não é sensato...

-Vamos tia. -Joaquim falou.

Marli tocou o ombro do afilhado e ele chamou Vicente que ainda encarava o portão de embarque, ela encarou os jovens já conversando entre si e suspirou recordando de momentos em família em viagens. Seu coração não estava menos quebrado por sua decisão de divórcio, como era de se esperar, estava um pouco mais quebrado do que antes. Seus saltos batiam no chão com força e a mesma percorreu o aeroporto rapidamente, não precisava de mais lembranças de momentos que não voltariam.

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Sentados lado a lado na beira da piscina, Bruno e Dani molhavam os pés nas aguas mornas, eles conversavam sobre como o futuro da Cibele será bonito em outro país cheio de oportunidades e de como Vicente está escondendo sua tristeza. Aquele local em que estavam era a divisória entre suas casas, eles sempre se encontravam ali e passavam varias horas conversando.

-Acha que o Vicente vai ficar bem? -Disse ela, mexendo os pés na água. -Ele parecia frustrado.

Bruno consentiu, parecendo distante. Ele estava pensativo desde a ida de Cibele, mas não só com o fato de sentir saudade da sua amiga, como também com os sentimentos do irmão.

-Vai, mas será que ele deveria ter se declarado antes dela ir? -Bruno interrogou Dani.

-Ela namora, o que significa que não sente o mesmo que ele. -Ela respondeu, na lata. -Ele foi sensato.

Bruno encarou-a e suspirou, ele refletia em como poderia saber se uma pessoa gosta de outra, sem ser direto.

-Como podemos saber se uma pessoa gosta da gente, sem perguntar diretamente? -Interrogou ele.

Dani o encarou e sentiu seu coração palpitar como quase todas as vezes que Bruno estava ao seu lado, e aquelas perguntas não a ajudavam, afinal com sua nula experiencias em relacionamentos, também gostaria de saber.

Eles se olharam de perto e nenhuma palavra foi dita, a pergunta do garoto ficou no ar por algum tempo, até que Dani se deixou levar pelo seu coração.

—Acho que dá para perceber... —Ela hesitou, mas prosseguiu o encarando. —Nos livros dizem que o olhar mostra tudo que não conseguimos falar, mas precisamos que a outra pessoa saiba interpretar.

Bruno consentiu e sorriu, fazendo-a sorrir também.

-Sabe... e se por acaso a pessoa acabar perdendo tempo, por achar que não é o momento certo? -O garoto perguntou.

Dani suspirou, mexendo a cabeça lentamente em negação, o que fez Bruno a encarar.

-Nunca vai saber se é o momento certo, talvez ele nem exista. -Dani sussurrou e coçou a cabeça.

Bruno concordou e se perguntou se tinha mesmo apenas quinze anos, ela era uma menina inteligente, não só em termos escolares. Dani expressava opiniões de uma pessoa vivida, mesmo que ainda tivesse vivido tão pouco. A menina levantou da beira da piscina e arrumou sua calça que estava dobrada e Bruno levantou em seguida, ela não queria mais pensar em nada daquilo.

-Já vai entrar? -Ele assustado, segurou sua mão. -Espera ai...

Dani o deu atenção e ele a soltou.

-Já, passa das onze. -Ela sussurrou. -Por que?

A cabeça do garoto rodou em segundos, ele estava confuso e temia agir por impulso.

-Preciso falar algo antes de entrar. -Ele falou, recebendo sua atenção. -Se eu não falar agora, passarei mais um tempo sendo meio que molenga.

Dani sorriu de canto por sua expressão engraçada.

-O que faz o descolado Bruno ser molenga? -Disse ela.

Bruno deu um passo em sua direção, a fazendo ficar mais perto da borda da piscina novamente e respirou fundo.

-Dani, eu sou apaixonado por você. -Ele fechou os olhos e falou alto, soltando de sua garganta aquilo que guardava por anos.

Ela arregalou os olhos, deu um passo em falso e percebeu que cairia na piscina.

-Dani. -Bruno tentou segurar sua mão e caiu junto.

Os dois caíram na piscina não tão funda, e mesmo a garota a sabendo nadar, Bruno se desesperou e a puxou do fundo com força. Dani se segurando na mão do menino, submergiu e retirou os cabelos dos olhos respirando fundo.

-Você está bem? Como caiu? Me assustou. -Bruno passou a mão no rosto molhado e eufórico, a interrogou.

Ela ainda sem reação, encarou o menino a sua frente e sentia seu coração palpitar.

-Como falou aquilo assim? Você é maluco? -Ela falou alto, irritada.

Bruno sem entender, arqueou as sobrancelhas.

-Eu não quero perder mais tempo, não quero me arrepender. -Ele deu de ombros, arregalando os olhos. -Não vou esperar você entender pelo olhar, eu gosto muito de você. -Ele se declarou e ela negou.

Dani estava sentindo todas as borboletas vivas em seu estomago, estava tão nervosa que mal conseguirá pensar.

-Para com isso, vamos sair. -Ela passou a mão nos cabelos e nadou rumo a escada rapidamente.

-Eu sei que gosta de mim. -Ele falou alto, e ela pausou seu nado. -Eu também tenho medo...

Dani sentia frio, por seu corpo está molhado e por seu nervosismo. Ela sabia que ele estava certo, mas eram de mundos tão diferentes, de realidades distintas e tão novos...

Bruno nadou em sua direção e mais uma vez ficou a sua frente, ele pegou sua mão e a puxou. O garoto ainda nervoso, saiu com ela da piscina, pegou uma toalha pendurada a uma cadeira e a enrolou. Dani ainda estava em silencio sentia seu coração saindo pela boca com base ele se aproximava. Nada foi falado desde a afirmação do menino, ela não demonstrou emoção alguma.

-Tudo bem, me desculpa. -Bruno sorriu, e retirou uma mecha de cabelo bagunçado na testa dela. -Só segui meu coração e te assustei, não farei mais isso, é melhor entrarmos.

Ele espremeu a camisa e sorriu sem jeito, Bruno foi em direção ao seu celular que estava na mesa e Dani apertou os olhos, sentindo seu coração doer. Ela andou em sua direção e o abraçou prepentinamente, ele sentiu seu abraço forte e respirou fundo a abraçando de volta.

Ela o soltou lentamente e consentiu varias vezes seguidas, o fazendo sorrir.

-Eu gosto muito de você e tenho medo, somos tão... -Ela gaguejou. -Somos diferentes, em relação a tudo. Eu só tenho quinze anos e você dezesseis, nem sabemos sobre sentimentos ainda e depois outras meninas podem aparecer na sua vida e... -Dani foi interrompida.

Ela sentiu as mãos frias do garoto tocarem suas bochechas e fechou os olhos quando viu que seus lábios estavam singelamente grudados. Era um beijo simples, seus lábios se tocaram, seus corações aceleraram e algo acendeu em ambos.

Bruno se afastou dela lentamente, soltou seu rosto e ela tocou em seus próprios lábios. Ele estava nervoso, desconcertado e mesmo assim feliz.

-Esse foi meu primeiro beijo, com a garota que gosto e sei que gostarei por muito tempo. E se gostar de mim também, cresceremos juntos e aprenderemos sobre essas coisas sentimentais, sobre as diferenças quem se importa? Nem fala sobre dinheiro, não sou mais rico esqueceu? -Bruno falou, de uma forma engraçada.

Dani encarou seus olhos escuros e sorriu, ela sentia suas bochechas queimarem e suas pernas estavam fracas, ela havia dado seu primeiro beijo com o menino que tanto gostava, em uma noite aleatória e sem o romantismo dos livro, mas ainda sim havia sido perfeito. Elqq estava sentindo todas as melhores sensações junto ao medo e nervoso, era um misto de sentimentos que estava guardado em seu coração a muito tempo. Ainda encarando ele, a menina ficou de ponta de pés e o beijou novamente, ainda um beijo simples e inexperiente.

Bruno sorriu ao ganhar um beijo rápido e a abraçou, erguendo-a. Não tinha nada além de todos os sentimentos mais clichês do mundo, e mesmo sem saber muito sobre gostar de alguém, eles se gostavam, muito mais do que podiam imaginar.

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O mês de fevereiro estava acabando, o que significava que estava chegando a marca de um mês de separação dos seus pais , de fato Vicente estava se acostumando aos poucos com a ausência do pai, porém mesmo que ele mandasse mensagens todos os dias, não era a mesma coisa. Haviam pensamentos que não faziam mais sentido, como viagens em família, todos sentados a mesa e os aniversários tumultuados. O garoto já havia presenciado outras crises dos seus pais e na infância chegava a pensar caso um dia tivesse pais separados, mas conforme o tempo passou, não cogitou mais. Assim, aos dezenove anos, foi pego de surpresa.

Como sempre, sentado na sua famosa cadeira de praia que nunca estava na praia, ele encarava parte da cidade e seus pensamentos foram interrompidos por Joaquim.

-Cheguei do trabalho, trouxe cervejas. -Ele balançou a sacola e Vicente sorriu.

Joaquim trabalhava em um posto de gasolina há alguns anos, e não gostava do emprego por vários motivos, mas gostava do salário e alguns descontos na loja de conveniência.

-Seu trabalho é muito bom, pega a outra cadeira e senta aqui. -Vicente apontou para a cadeira fechada e Joaquim pegou.

Eles eram assim por vida, tudo que poderiam fazer juntos, faziam.

-Sério, estou pôdre de gasolina. O único trabalho que gosto são os quem envolvem computador. -O rapaz tirou seu boné, deixando o vento bagunçar seus cabelos. -Quer uma cerveja?

-Não, valeu. Não gosto tanto de beber... -Disse Vicente.

Vicente não gostava de bebidas alcoólicas, mas as vezes não as recusava se estivesse em uma festa ou algo parecido, mesmo que não bebesse o suficiente para ao menos ficar tonto.

-Ainda não parou de fumar? Falou que quando acabasse a carteira, não iria comprar mais. -Joaquim abriu uma cerveja e o amigo negou. -Não bebe álcool, mas fuma, que cabeça boa. -O garoto sorriu e Vicente fez pouco caso da provocação.

Eles brincavam e se alfinetavam com naturalidade, nada que gerasse uma discussão.

-Escolhi uma forma só de antecipar minha morte. -Vicente sorriu e Joaquim engasgou.

-Falou pouco, mas falou merda. -Joaquim sussurrou, cerrando os dentes. -Para de falar sobre morte.

Eles riram e se calaram, Vicente estava pensativo e Joaquim percebia facilmente, mas já conhecia o amigo. Se algo estivesse em sua cabeça, ao invés de falar, ele guardava para si. Nesse meio tempo Joaquim começou a contar como estava indo os downloads do seu aplicativo e no final de semana passado que esteve com seu pai, veio que o mesmo ficou feliz com suas conquistas.

Em meio a conversas com seu amigo, Vicente pegou o celular e sorriu ao ser uma mensagem na menina paulista. O mês de fevereiro estava acabando, o que significava que o aniversário dela estava chegando e diferente dele, ela amava aniversários.

Eu fiz dezenove em janeiro e você faz dezoito em fevereiro, o tempo está passando rápido. Estamos conversando a praticamente um mês, Sol. O que quer de presente?

Ela mandou carinhas sorrindo.

Sim, ainda bem que mandou a solicitação, ou não conheceria uma pessoa incrível como eu :D  sobre isso meus pais querem fazer um jantar simples e presente, você disse que desenhava na escola, me faça um desenho. Pensou que eu ia recusar um presente? Sorte sua que não pedi um carro...

Certo Sol, o que eu desenho? Tenho tempo livre por agora e ia ficar sem o carro. Hahaha

Vicente riu e Joaquim o encarou.

-Me fale sobre isso agora, por que o mundo está acabando e está sorrindo? -Joaquim falou alto e o Vicente bloqueou a tela do celular.

Vicente sabia que ia ter que falar isso com seu amigo, mesmo tentando mexer no celular de forma discreta, estava sempre conversando com a menina simpática.

-Vou contar e é tudo culpa sua... No início do mês, baixei seu aplicativo... -Ele iniciou a explicação.

Vicente contou tudo com detalhes, de forma cronológica e Joaquim ouvia tudo com atenção tentando não parecer chocado. O loiro mostrou o inicio das conversas e como Sol podia ser séria e engraçada na mesma frase, contou o básico sobre ela, mostrou de um dia que conversaram até quatro horas da manhã e por fim mostrou ao amigo sua rede social mais ativa, apenas algumas fotos sem entrar em mais detalhes.

-Ela é muito legal sabe? Ela conta coisas aleatórias da sua vida, mas é cautelosa me fazendo achar que existe algo que ainda não me falou. Manda algumas fotos de plantas e comidas, mas ainda não ouvi sua voz... -Vicente explicou sem pausas e quando se calou, Joaquim estava olhando para sua cara como um cachorro pidão. -O que foi?

-Uau, que fanfic é essa cara. Do nada, meu aplicativo juntou sua vida com a de outra pessoa aleatória e você está caidinho por ela a ponto de fazer algo que diz detestar? -Joaquim bateu palmas e sorriu.

Vicente arregalou os olhos e negou.

-O que eu detesto? -Perguntou ele, mexendo os ombros, com espanto.

-Conversar com pessoas aleatórias, as vezes acho que não gosta de conversar nem com os conhecidos. -Joaquim gesticulou de forma engraçada e Vicente sorriu.

-Eu gosto de conversar com algumas pessoas e calma aí pequeno gafanhoto, ela é uma amiga. Não tenho queda por ela ou nada disso, nem nos conhecemos pessoalmente. -Vicente explicou e o amigo fez pouco caso. -Eu converso com ela a cerca de um mês, apenas.

O dono do aplicativo orgulhoso por seu feito estava sentindo algo no ar por conhecer Vicente tão bem, mas jurou descrição, afinal ele mais do que ninguém sabia como as relações por vias digitais ainda eram vistas como algo perigoso e de fato existiam muitas pessoas ruins por aí.

-Não é uma loucura e isso está te fazendo bem não importa quanto tempo faça, mesmo que seja uma amizade agora, não pode prever o futuro. E aliás, que menina linda é essa? O sorriso dela é largo, olhos redondos, a pele bronzeada e um corpo de atleta real... -Vicente encarou o amigo e o mandou se calar.

Joaquim riu da sua cara sem cerimônia,  e percebeu como aquilo o deixou desconfortável.

-Ela não é um objeto, do que está falando? -Vicente esbravejou. -A aparência não é nada, perto da personalidade.

Joaquim abraçou seus ombros se desculpando e logo afirmou que estava brincando.

-Por que não está mais tão triste com a ida da Ci?

Vicente encarou o amigo, que já estava acabando suas cervejas e se tornou pensativo, aquele não era o tipo de reflexão que o mesmo havia feito.

-Apenas me conformei. -Vicente respondeu.

Joaquim bebeu o resto da sua cerveja, amarrou a latinha e suspirou pensando na possibilidade de se apaixonar, o que assustava. Ele entendia um pouco do amor apenas pelos outros, todas essas coisas eram complexas demais. 

-Acho que sua vida está sendo preenchida lentamente, por algo que te afasta dos problemas sem que ao menos perceba, isso é bom. -Joaquim falou e Vicente abriu sua conversa com Sol quando chegou uma mensagem.

-É, pode ser.

Fazendo sentido ou não, Joaquim tinha aberto uma janela na cabeça do amigo.

Sobre o desenho, pode ser... Eu patinando em cima do sol, plenamente...

Certo, farei isso, como está longe, irei fazer um PDF.  Hahaha

Vicente leu discretamente, e sorriu afirmando como se a menina pudesse ver. Fazendo sentido ou não, com aquela pessoa, ele gostava de conversar pois sentia que poderia falar tudo que pensava, e ele mal sabia que ela sentia a mesma coisa. 

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É meus amigos, algo nasceu ali e ainda não percebem 

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