24 | Quase Doce

CLARICE

O calor de Maresias faz falta agora que estamos de volta à nossa rotina. Não há mais um amanhecer ensolarado e quentinho, pois Nova Vitória está gelada e o tempo lá fora sombrio com suas nuvens carregadas.

Jogo meu cachecol dentro do armário junto com alguns livros que não vou usar nesse período e o fecho.

- O tempo tá congelando! - Victor reclama esfregando as mãos uma na outra. Vindo em minha direção, ele me puxa e suas mãos se infiltram por baixo da camisa do meu uniforme, encontrando minha pele e me fazendo arquear as costas em resposta. - Boa maneira de aquecer. - O canto do seu lábio se ergue.

Eu dou um tapa em seu ombro e o afasto de mim.

- Muito engraçadinho!

Resmungando que sou uma estraga prazeres, ele passa o braço ao redor dos meus ombros e eu envolvo sua cintura, cutucando-o de forma provocativa.

Faltam poucos minutos para que o sinal soe. Como não vejo Bárbara em lugar algum sugiro subirmos até a sala.

Encostada à parede ao lado da porta, eu me deparo com minha amiga e Téo, que está com um braço estendido e o corpo a poucos centímetros do dela. Eu diria que o garoto está se esforçando muito para levar uma dose da simpatia e amabilidade características de seu punho, mas a verdade é que minha amiga está sorrindo e não um sorriso irônico ou debochado, mas sincero como se a companhia dele fosse muito agradável e sempre tivessem sido amigos.

- Para de perturbar a Babi, Téo! Ela é comprometida - digo, parando com Victor no corredor.

Teófilo se endireita como se minha voz o tivesse pego de surpresa. Bárbara, ao contrário, continua relaxada, seu corpo chacoalhando com uma gargalhada, achando graça na reação dele.

- Lilica - ela sai de perto de Téo, vindo até mim a passos tranquilos e segura meus ombros -, olha esse bronzeado! Você tá muito gata! Já você... - Ela lança um olhar desdenhoso para Victor.

- Também é um desprazer te rever. - Victor sorri, presunçoso.

- E aí, Clarice. - Téo me cumprimenta com um beijo na bochecha, em seguida puxa Victor para um abraço. - Ah, que saudades, cara! - diz dando uma carinhosa chave de braço nele.

- Nem me fala, irmão, nem me fala. - Victor retribui o carinho.

- Começou o bromance - Os músculos de sua face se retorcem numa expressão de nojo e Bárbara faz um gesto de vômito. - Mas me diz como foram suas férias, quero tudo em detalhes. - Ela se foca em mim, deixando-os de lado.

- Ah, Babi, lá foi tão incrível! - eu digo baixinho para que só ela possa ouvir. Enrosco meu braço no seu e a arrasto para dentro da sala, seguindo até nossos lugares habituais.

Nos sentamos e conto para ela como foi a viagem de carro, o que Clóvis me disse sobre fazer bem ao Victor, falo sobre a convivência com os Villela e como foi conhecer o mar nessas circunstâncias. Apenas omito o que quase aconteceu entre mim e Victor, porque sei como ela irá reagir e todas as coisas que vai me dizer e não quero ouvir.

- Lilica, o que você acha de fazermos uma festa do pijama? - ela sugere. - Afinal, a gente nem conversou direito esses quinze dias e faz tempo que uma não dorme na casa da outra.

- É verdade - reflito. - Nós estávamos tão distraídas com nossas próprias coisas. - Coloco as mãos nas costas da cadeira e pouso o queixo nelas. - Aposto que você e o Gustavo também curtiram muito a companhia um do outro.

- Claro. - Bárbara assente, mas desvia o olhar para se abaixar e pegar um livro da mochila.

- Só claro? - Eu rio. - Você anda muito reservada, amiga.

- Não tem novidade. - Ela dá de ombros. - Já passamos da fase de ficarmos juntos grudados que nem chiclete em sola de sapato. - Bárbara entorta o lábio em uma careta.

- Bom - eu digo com ar sonhador, recordando os momentos gostosos com Victor -, pois eu não quero passar dessa fase nunca.

- Isso porque você idealiza demais o amor, Lilica. As coisas nem sempre permanecem do mesmo jeito.

A fala dela me traz sua imagem com Téo, o brilho empolgado em seus olhos, mas balanço a cabeça, porque não tem chance. Gustavo é um cara maduro e ela não o trocaria. Além disso, Babi sempre foi e é mais pé no chão, então a ideia de que algo esteja fora do lugar em seu relacionamento com Gustavo é rapidamente descartada.

- Minha mãe sempre diz que a paixão diminui com o tempo e o que fica é o amor. Se vocês dois têm amor, isso é o principal, eu acho.

Ela concorda sem me encarar, então aponta para frente e suspira.

- De volta a realidade das lições, Lilica.

Me viro para frente para pegar meus materiais e dou uma uma única olhada para o canto onde Victor e Téo estão conversando. O garoto faz um gesto safado como se estivesse contando as aventuras que teve durante esse tempo e eu solto uma espécie de riso.

Não, não tem a menor chance.

*

Ficamos sabendo que nesse semestre as aulas de LIBRAS seriam divididas entre dois dias em sala de aula e três deles no estágio. A intenção era que nos formássemos com o diploma da escola e também do curso e para isso acontecer precisávamos acumular horas de experiência, coisa que não se podia adquirir dentro da sala de aula mesmo que tivéssemos aprendido a maioria dos sinais, não saberíamos se estávamos prontos até que colocássemos em prática.

Por isso, fomos levados para o Instituto Para Surdos de Nova Vitória. Cada um de nós terá a honra de escolher um deles como "amigo", o que consiste que estão designados a nos ajudar com nosso projeto. Eu ainda não sei bem o que irei fazer. Achei que a ideia era apresentar o projeto para a sala, mas a coisa será muito maior e vai ocorrer no Centro Educativo da cidade de modo que não só meus colegas de sala irão ver, mas todos os que quiserem participar do evento. Um miniconto não será grande coisa ainda que eu o tenha de ler em LIBRAS. Vou pensar em algo novo até lá, eu espero. Talvez uma canção, ou a leitura de um conto que já exista...

- Circulem, façam amizades, tirem dúvidas - diz a professora. - Não sejam tímidos.

Estou um pouco retraída, mas tento me soltar e seguir seu conselho. Tenho que entrar no mundo deles e fazê-los verem que estou empolgada e disposta a aprender ou jamais conseguirei seguir o caminho que desejo: lecionar para surdos.

Penso nisso há muito tempo, sobre o que gostaria de me tornar e as aulas extracurriculares do Núcleo foram decisivas para que eu fosse capaz de decidir e me encontrar. Eu queria realizar muitos outros desejos: escrever um livro infantil, ou um romance e qualquer coisa que me integrasse ao mundo das Letras, mas nada bateu tão forte no meu coração quanto isto que viemos fazer aqui.

Circulo pelo salão e me aproximo de um grupo que está sentado no chão, formando uma rodinha. Eu me ajoelho e sinalizo, sentindo-me um tanto intrometida.

- Olá! Eu posso... - penso sobre o gesto que devo usar. - Posso me juntar a vocês?

Eles respondem afirmativamente e abrem espaço para que eu me integre à rodinha. Gesticulo que sou uma das alunas do Núcleo, apesar de ser perceptível pelo meu uniforme mesmo que eu esteja usando uma pesada jaqueta felpuda que cobre o símbolo do colégio. Cada um deles também se apresenta e eu fico atenta para não perder nada, sentindo-me feliz por conseguir entender a maior parte dos sinais.

Eu tento prestar atenção a todos, mas uma garota em particular me olha de uma maneira curiosa e quando percebe que estou a fitando de volta, ela gesticula, mantendo um olhar convicto sobre mim:

- Eu conheço você de outro lugar.

Meus olhos estudam a garota. Ela usa um vestido jeans claro e desbotado, com alças de prender em estilo macacão, uma blusa de frio listrada por baixo e tênis com uma meia calça colorida e grossa, além de brincos verdes de argolas que pendem das suas orelhas. Os cabelos escuros estão presos em um rabo de cavalo por um laço vermelho e os olhos da cor de avelã emanam sagacidade. A pele muito clara é destacada pelo forte batom rosa nos lábios que faz com que seu estilo marcante seja inesquecível. Tenho certeza de que se já a tivesse visto também eu me lembraria dela.

- Eu conheço você da lanchonete - esclarece lendo minha expressão. Ela sorri para mim e faz que sim, os olhos estreitando-se com a lembrança. - Você é a amiga do Samuel. Eu vi vocês na lanchonete.

- Você conhece ele?

- Ele é meu primo.

Fico embasbacada com a coincidência e ao mesmo tempo, quando me lembro do que quase aconteceu naquele dia, quando Victor nos viu juntos e quis tirar satisfações, sinto minhas faces arderem de vergonha, mas ela nem menciona o assunto.

- Seu nome é...?

- Clarice - soletro, gesticulando cada letra.

- Eu me chamo Genevieve, mas você pode se referir a mim como Batom. - Ela faz como se estivesse passando batom pelos lábios e nem preciso de explicação para saber o motivo de terem lhe dado esse sinal. - E agora - ela continua, me avaliando com um olhar pensativo -, você não será mais Clarice. - Ela olha para os demais e então abre um sorriso. Genevieve indica o cabelo e faz um redemoinho com o dedo indicador como se estivesse desenrolando um cacho e os demais assentem, aprovando.

Cachos. É assim que eles vão me chamar a partir de hoje. É absolutamente amável.

- Eu gosto muito! - Tento imprimir no meu rosto toda a alegria que sinto por ter tido a honra de ganhar um sinal tão belo.

- Você tem sorte. - Genevieve aponta para o garoto ao lado dela. - O sinal dele é Tucano.

O garoto do nariz cumprido dá de ombros como se não se importasse. Ele exibe um sorriso de canto e sinaliza cheio de confiança:

- Os tucanos são dóceis e inteligentes e...

Não consigo acompanhar o restante da frase, mas imagino do que se trata, porque Genevieve revira os olhos enquanto seu rosto clarinho fica todo vermelho.

- Ignore! - pede para mim com muita energia. - Vamos sair um pouco deste lugar, Cachos. Serei a sua guia.

Levantando-se sob o olhar pasmo do garoto, Genevieve dá a volta e me puxa para longe da rodinha, levando-me para uma das cadeiras vazias que se encontram no meio da sala.

- Me conta mais sobre você, Cachos - ela não apenas gesticula, mas também me dá a oportunidade de ouvir sua voz.

- Você fala! - digo, surpresa.

- Você sabe, né, que os surdos podem falar, mas a maioria não faz, porque não sabe pronunciar as palavras, já que nunca as escutou.

- Eu sei. - Me encolho, morrendo de vergonha pela forma como me demonstrei surpresa, pois não foi bem como queria soar. Sei que surdos podem falar, mas com certeza pelo modo como me expressei pareci uma completa ignorante. Escondo o rosto nas mãos. - Desculpa.

Com o dedo, Genevieve cutuca meu ombro e eu olho para ela.

- Não pare de gesticular enquanto estiver aqui e se quiser que eu leia seus lábios, não esconda seu rosto. Eu preciso ver para entender o que você tá dizendo.

Ah, meu Deus, outro fora. Dobro os três dedos do meio até que alcancem a base na palma e permaneço com o mindinho e o dedão erguidos. Levo a mão até o queixo e a chacoalho, gesticulando um pedido de desculpas.

- Não me convenceu. - Ela indica minha expressão.

Tento me esforçar um pouco mais e faço novamente o sinal de desculpa, mas acho que não consigo um bom resultado, pois ela ri.

- Agora parece que você tá com dor de barriga. - Meus ombros caem e faço um muxoxo, mas rio com ela.

- Eu sei, tenho muito que melhorar - digo e gesticulo.

Ela balança a cabeça.

- Eu tô só brincando. Eu entendi porque ficou surpresa, eu também ficaria, afinal, não falei nada durante toda nossa conversa na roda. - Ela dá um tapinha amigável no meu joelho. - E sobre melhorar, você tá indo muito bem, parece que faz isso desde sempre.

Eu sorrio.

- Treino muito quando chego em casa com as atividades da professora e alguns vídeos do YouTube.

- Você é esforçada. Isso é bom.

Sinalizo um agradecimento, pois é muito legal ouvir esse tipo de elogio.

- Me conta sobre seu projeto.

- Eu comecei um miniconto, mas acho que terei de fazer algo novo e totalmente do zero, só que ainda não sei direito o quê.

- Se precisar de ajuda você pode me pedir. Agora que saí da lanchonete tenho muito tempo. - Dá para ver que ela não está contente.

- Você não parece feliz.

Ela concorda.

- Eu gosto de trabalhar e... - Ela dá um sorrisinho. - Gosto de dinheiro. Mas era muito difícil superar o ambiente hostil, então eu saí.

Ela me fala um pouco mais sobre seus problemas e o preconceito que sofria por parte de um dos seus gerentes. Fico triste em ver como existem pessoas tão mesquinhas, sobretudo porque não é preciso ir longe para perceber o quão inteligente e esforçada Genevieve é. O fato de não ser capaz de ouvir não tira ou altera nenhuma das suas habilidades.

Uma ideia de repente ilumina minha cabeça. Minha mãe está precisando de ajuda e talvez eu possa falar com ela para que empregue Genevieve na loja. É uma boa ideia, mas que guardo para mim, pois não quero dar a ela falsas esperanças caso não dê certo.

Nós duas continuamos conversando e nos conhecendo um pouco até o momento de ir embora.

Estou muito animada, mas também cansada quando entro no ônibus e me sento à janela. Tiro o celular da bolsa e vejo uma mensagem do meu pai. Respondo logo e ele demora um minuto para retornar. Depois de me perguntar como estou, me conta sobre ter se casado no cartório e que agora está morando na capital. Fará uma festa, embora ainda não tenha uma data, pois as coisas estão apertadas. Ele me passa seu endereço para quando eu quiser visitá-lo e prometo fazer isso em breve. Encerramos a conversa e paro para pensar que estou há meses com Victor e eles nunca se conheceram, pois nenhum de nós dois têm tirado tempo um para o outro.

- Leon Tolstoi tinha mesmo razão, cada família é imperfeita à sua maneira.

Quando chego em casa, coloco a mochila no pé do sofá e jogo minhas costas contra ele. Ouço barulho de algo vindo da cozinha e ergo meu olhar, pois também estou ouvindo o barulho do chuveiro, o que significa que minha mãe está no banho e tem mais alguém aqui.

Não demora muito para que esse outro alguém apareça e vejo que é Victor.

- Que surpresa - eu digo com um sorriso de ponta a ponta.

Victor se senta no sofá e coloca minhas pernas esticadas sobre seu colo. Ainda nem tirei os tênis, mas ele gentilmente faz isso para mim. Não sei por que ele está aqui em plena quinta-feira sem que tenhamos combinado nada, mas não consigo verbalizar a pergunta quando sua mão massageia meu tornozelo e panturrilhas. Fecho os olhos e deixo a sensação gostosa me envolver, aproveitando cada segundo desse privilégio.

- Espero que você continue me fazendo massagens se um dia a gente se casar - eu brinco, abrindo os olhos.

Victor ergue os lábios em um sorriso malicioso. Ele se inclina e de repente está pairando sobre mim, equilibrando-se com uma mão sobre o encosto e a outra no braço do sofá, sua coxa em contato com meu quadril. Seus lábios chegam próximo ao meu ouvido e ele sussurra:

- Primeiro... É claro que vamos. - Seus olhos azuis penetram os meus com uma intensidade elétrica que percorre meu corpo. - Segundo: vou fazer muito mais do que só massagens, Clarice, pode apostar.

Meus lábios se entreabrem naturalmente a espera da sua boca quando ele faz menção de me beijar, mas seu celular começa a tocar e Victor se endireita, tirando-o do bolso da frente. Ele olha para o visor como se estivesse em dúvida sobre atender ou não, mas desliza o dedo sobre a tela para aceitar a chamada.

- Oi - Victor se levanta, se afasta até a cozinha e fica por lá alguns minutos, quando volta, sinto que está pensativo como se estivesse em conflito com algo.

- Tá tudo bem? - pergunto depois de um breve momento de silêncio.

Victor pestaneja.

- Sim... Quero dizer, não sei.

- Não sabe? - Puxo minhas pernas e ele torna a se sentar. Eu me aproximo dele e viro seu rosto para mim. - O que aconteceu? Foi a ligação que te deixou assim, não é?

Victor solta o ar e descansa a nuca no encosto do sofá.

- Eu achei ele, Clarice. Tem quase um mês que eu achei ele e não sei o que fazer.

Não sei a quem Victor está se referindo, porque nem sabia que ele estava procurando por alguém.

- Quem você achou?

Demora algum tempo para que Victor tome coragem, mas ele o faz. Coloca os cotovelos nos joelhos e cruza as mãos.

- O amante da minha mãe. Eu sei quem é e sei onde ele tá.

Fico surpresa com a revelação.

- Era ele no telefone?

Victor faz que sim com a cabeça.

- Victor... - começo com uma voz de advertência.

Inclinando-se, ele pega a minha mão entre as suas. Parece ansioso e um tanto aflito.

- Eu pensei em ir até São Paulo, comprar ingressos para o concerto em que ele toca e conversar, mas achei que seria loucura. - Ele ri sem alegria. - Então, eu decidi apenas falar com ele pelas redes sociais e descobri que ele está vindo visitar alguns parentes na cidade vizinha.

- Aonde você quer chegar? - pergunto, embora a resposta seja óbvia.

- Ele tá disposto a me encontrar amanhã à tarde.

- Amanhã à tarde? - Pisco os olhos, atordoada. - Mas você tem o treino...

- É só um dia, não fará mal eu não aparecer.

- O seu pai não sabe disso, não é? - Ele fica duro e é claro que sei a resposta. Não consigo ignorar a sensação de que tudo isso não parece certo. - Não acha que ele já te contou tudo que sabia? Você não acha que talvez esteja um pouco obcecado?

- Obcecado? - Victor parece refletir. Então ele firma seus olhos azuis nos meus com tristeza. - Eu não sei, Clarice. É só que existe um vazio dentro de mim, um buraco tão profundo quando se trata dela e eu não sei como preencher a falta que ela me faz. Eu só quero saber por outras pessoas como ela era, o que sentia... Eu preciso disso. Você consegue me entender?

- Sim, mas... - Solto o ar, procurando as palavras certas. - Eu não sei como é estar no seu lugar, mas se você não encerrar esse ciclo, não vai conseguir seguir em frente. Em algum momento, você vai ter que aceitar o que tem e viver sua vida sem pensar no passado ou sobre as atitudes dela.

- Eu sei. - Victor passa a mão pelos cabelos. - Eu prometo que será a última vez. Sei que tenho que parar, só que isso me consumiu por toda minha infância até agora. Não é fácil deixar para trás tantos anos que me fizeram cogitar e pensar quem ela era. Preciso conhecer todas as suas nuances e saber se existe algo dela em mim, algo bom. - Victor segura meu rosto e olha dentro dos meus olhos. - Eu sei que é egoísta te pedir isso, mas... Só me dê seu apoio. Não me ache um... lunático.

Eu o envolvo em um abraço. Queria poder arrancar esse vazio dele, mas não tenho esse poder. Então tudo que posso fazer é dar o que tenho.

- Eu não acho que você seja lunático só não me parece certo que o Clóvis não saiba. De todo modo - sorrio docemente para ele -, é claro que você pode contar comigo. Você sempre pode contar.

- Obrigada, Clarice, isso significa muito para mim.

Eu me aconchego em seu peito, sentindo sua leve respiração e ele desliza aos mãos pelos meus cabelos.

- Hoje eu conheci o Centro Para Surdos de Nova Vitória - comento.

- É mesmo? E como foi?

Conto minha experiência para ele que ouve tudo sem me.interromper.

- Fiquei amiga de uma garota e você não vai acreditar? - Ergo meus olhos para Victor que me encara com indagação curiosa. - O nome dela é Genevieve e ela é prima do Samuel.

Victor se remexe, mas sua expressão é indecifrável e a voz neutra quando diz:

- Que coincidência.

- Também achei! - concordo. - Nova Vitória é mesmo um lugar pequeno.

- Com certeza - ele concorda, pensativo.

Ficamos em silêncio até mamãe se juntar a nós. Victor almoça aqui em casa e logo depois vai embora. Na quietude do meu quarto, eu me deito na cama, olhando para o teto com um aperto no peito. Não sei o que a conversa de amanhã reserva para meu namorado, mas faço uma oração pedindo que o que quer que eles digam ou for revelado seja capaz de fazer com que seu coração encontre a paz que ele tanto precisa.

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O Victor e essa coisa com a mãe!
No que será que vai dar esse encontro com o Ricardo?
A quem me acompanha, muito obrigadaaa ❤️
E não esqueçam de deixar uma estrelinha 🥰

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