15 | Quase Doce

Obs : 6/06/2022 Pessoal, desculpem por eu não ter respondido os comentários. Eu estou amando a interação de vocês, mas ainda não consegui tirar um tempo para responder. :(

Meu celular vibra em cima do móvel e vejo que é Bárbara avisando que já chegou. Como já estou pronta, apenas pego algum dinheiro e coloco no bolso da calça. Desço as escadas e me despeço da mamãe que está na cozinha preparando algo para comer. Ela me dá uma boa olhada e ergue a sobrancelha.

- Nossa, que milagre você vestindo essa calça.

- Uhum - concordo. - É bom a gente se renovar de vez em quando.

Sem dar chance para que ela faça mais algum comentário, eu a beijo na bochecha e saio. Encontro Bárbara ao lado de fora. Ao olhar para ela, fico impressionada em como ela está simplesmente lindíssima. As roupas, acessórios, maquiagem e o cabelo que agora ela está deixando com as pontas naturais. Até prefiro, porque o cabelo ruivo da Babi já é tão lindo que não precisa de nada para deixá-la ainda mais estilosa.

- Amei a sua saia! - digo. Ela alisa o tecido preto e dá de ombros como se não fosse grande coisa. - E amei as botas, a meia calça escura e a frase na sua blusa.

Ela dá um sorrisinho de canto. "Fofa e Grossa. Prazer, eu." é o que está estampado na camiseta branca dela.

- Valeu, Lilica - ela me agradece e faz o mesmo comigo. Seus olhos me inspecionam e sua cabeça faz um movimento positivo. - Tá bonitona, mas é estranho não te ver usando vestido.

- Minha mãe disse alguma coisa semelhante. - Torço o nariz numa careta. - Mas, me fala, acha que vou chamar menos atenção assim? - Olho para ela curiosa pela resposta e entrelaço nossos braços.

Bárbara enruga a testa enquanto caminhamos até a praça onde vamos chamar um carro para nos levar até o ginásio em que vai acontecer a competição.

- Como assim?

- É que eu não quero os garotos olhando pras minhas pernas e falando de mim, sabe?

- Quem tá falando de você? - Bárbara parece irritada com a ideia de alguém espalhando e dizendo coisas desagradáveis sobre mim. - Me conta quem é o idiota que tá mexendo com você que eu dou um jeito nele. - Ela fecha o punho como se fosse dar um soco em alguém.

Rio da sua determinação em me defender.

- Não tem ninguém mexendo comigo. É só que... - Faço uma pausa um pouco envergonhada. - É que o Victor me contou como os caras olham pras minhas pernas e... Sei lá... Não gosto de pensar que eles ficam provocando ele. E também não quero chamar atenção desse jeito.

- Ah, entendi. Ele tem ciúmes das suas pernas. - Ela ri. Sem soltar meu braço totalmente, Bárbara dá um passo para trás, joga a cabeça para o lado e ergue os olhos em aprovação, depois volta a ficar ao meu lado. O sorriso em seu rosto se alarga quando ela diz: - Victor não precisa se preocupar, agora eles têm outra coisa pra admirar.

- Meu Deus, Babi! - exclamo.

- Garota, você tem uma bundinha empinada que daria inveja até nas garotas da academia.

- Para! - Eu a empurro de leve com meu quadril.

- É sério, Lilica, como você adquiriu toda essas sustância traseira?

- Você é tão sem noção, Babi! - eu a censuro, porém não consigo parar de rir.

- Mas agora é sério, sério. - Ela me para, fica de frente para mim e segura meus ombros. - Eu espero que você não tenha colocado isso aí - ela aponta para minha calça jeans - só porque o Victor falou alguma coisa ou porque ele se incomoda que os garotos olhem pra você. Não deixa um cara te dizer que roupa você deve usar ou ele vai achar que pode começar a mandar em cada detalhe da sua vida.

- O Victor não me mandou não usar mais vestidos, Babi. Ele só comentou sobre o que os amigos dele acham de mim, tá tudo bem. Eu - enfatizo - é que preferi me vestir assim e evitar. Você sabe que gosto de ser discreta.

- Ok, então, Lilica. - Ela toma meu braço de novo e voltamos a caminhar.

- Eu aposto que o Gustavo também não gosta que fiquem olhando pra você, é natural. - Agora sou eu que estou sorrindo de uma ponta a outra. - O cara te pediu em noivado só porque achou que você ia pra longe e tinha chance de esquecer ele. Isso foi tão lindo e romântico! Eu ainda nem consigo acreditar. Vocês são minha inspiração.

Ela solta uma espécie de riso.

- Sério que depois do William Bonner e da Fátima Bernardes você ainda consegue se inspirar em alguém? - Nos sentamos no banco da praça.

- Eles não deram certo e, sim, eu fiquei arrasada na época, mas não é por isso que vou perder a fé no amor. Eu acredito e vocês me dão esperança. Se o Gustavo tem tanto medo de te perder é porque te ama muito e sei o quanto você o ama também.

- Você é sonhadora demais, amiga. - Bárbara olha para o celular que tirou do bolso e suspira. - O Uber vai chegar em quatro minutos. - Minha amiga guarda o celular de volta e se recosta nas costas do banco, balançando a perna esquerda. Ela mantém seus olhos fixos em nada específico de um jeito distraído como se sua mente estivesse em outro lugar.

- Tá tudo bem? - pergunto.

Ela pisca várias vezes e se volta para mim.

- Vem cá, como é que funcionam essas competições de natação? - Bárbara finca o cotovelo na coxa e segura o rosto com a mão aberta. - A gente só fica lá vendo eles nadando, né? - Balanço a cabeça. - Que tédio deve ser assistir a isso... - Ela morde o interior da bochecha. - Ah, chegou! Vem! - Ela me puxa e eu reclamo com a força exagerada que ela emprega para que eu me levante.

Quando chegamos ao carro, Bárbara dá as coordenadas ao motorista e vamos juntas no branco de trás. Falo para ela como é ver Victor na piscina e vibrar por ele e pelos outros garotos, mas a sensação não é algo que dê para colocar em palavras. É preciso estar lá para conseguir compreender de verdadeira a emoção.

A pequena viagem demora quarenta e cinco minutos. Dessa vez o evento está sendo na cidade ao lado de Nova Vitória, numa faculdade grande de lá. O lugar é muito bacana. O pátio é enorme e há fileiras e mais fileiras de mesas. Somos instruídas por funcionários para atravessarmos a área dos restaurantes até o outro lado que é onde ficam as arquibancadas e a piscina. O lugar é totalmente descoberto e fico pensando na sorte em que eles tiveram por hoje não estar chovendo, embora eu tenha certeza de que aqui eles devem ter uma quadra coberta.

- E aí? Em que lugar a gente vai sentar? - Bárbara pergunta quando entramos.

O local já está com bastante gente e reconheço algumas pessoas da nossa escola. Analiso as opções até que vejo os rostos da família de Victor.

- Olha - eu chamo a atenção da minha amiga e, discretamente, com a cabeça, aponto para as arquibancadas de cima -, a família do Victor está ali. Vamos ficar com eles.

Puxo Bárbara comigo e seguimos até onde eles estão. Maia é a primeira a me ver e, animada, cutuca a mãe e grita meu nome.

- Vem, Clarice!

A gente se aproxima deles e Maia se levanta para enrolar seus braços em minha cintura num abraço caloroso. Eu a abraço de volta e a apresento a Bárbara quando ela me solta.

- Seu cabelo é muito lindo! - Maia elogia, fascinada, tocando numa mecha de Bárbara quando minha amiga se inclina para falar com ela.

- O seu também, lindinha - ela retribui, com os fios de Maia escorrendo entre seus dedos.

Depois das apresentações, eu e ela nos sentamos. Fico feliz ao ver que o pai de Victor está aqui também, pois, pelo que ele me contou, Clóvis nunca veio assisti-lo nadar. Acho que ele vai ficar muito contente com essa surpresa, pois tenho certeza de que ele não estava realmente esperando por isso.

Mas Victor merece. Ele merece ser reconhecido e eu torço para que ele seja capaz de, aos poucos, abrir a porta para deixar esse homem entrar em seu coração.

- Vão lá e, como sempre, façam o seu melhor - diz o treinador.

Nós quatro assentimos. Os outros caras saem na frente e eu vou atrás, a cabeça baixa. Gritos ecoam quando somos apresentados. A animação é contagiante, mas ainda não tive coragem de erguer meus olhos para vê-lo.

Eu sei que Clóvis veio com Lídia e as crianças. Eu não deveria me importar, é claro. Ele nunca me viu antes e não está aqui realmente por mim, mas meu corpo enrijece com a necessidade de impressioná-lo. Não preciso da sua aprovação, mas não quero que ele me tenha como um fracasso no que mais amo fazer e na única coisa em que sou realmente bom.

A nossa e as outras sete equipes são chamadas para assumir as posições. Eu serei o último e a adrenalina corre a mil pelo meu corpo. Fecho as pálpebras, buscando me concentrar. Eu me acalmo imediatamente ao pensar em Clarice. Essa menina gosta mesmo de mim e me apoia. Se eu quero ganhar, tem que ser para nós. É ela quem eu devo querer que sinta orgulho de mim e é para ela que devo querer provar alguma coisa.

Abro meus olhos de volta quando a campainha que dá início a competição soa. O primeiro a cair na piscina é o Samuel. Ele e o garoto da equipe adversária praticamente estão na mesma posição. Está ficando cada vez mais difícil agora que o nível dos nadadores subiu. Duas das equipes de hoje são simplesmente as que disputaram as finais com a gente no ano passado, o que já dá uma ideia do quanto eles são feras, pois nadar desse jeito não é tão fácil quanto algumas pessoas podem pensar. É preciso trabalhar a rapidez, a concentração, força, músculos e respiração. Nos esportes você precisa ter controle e não pode se afobar.

Você precisa manter a calma. Só que isso parece totalmente o oposto do que o Luan faz. Ele se enrola com a chegada do Jonas, perdendo alguns décimos de segundo e, apesar de não parecerem muito, quando se trata de uma competição é o que pode te levar a perder e meu sangue congela quando vejo que o nosso garoto está com dificuldades de se igualar aos outros competidores. Quando toca na parede e Jonas toma seu lugar, eu respiro fundo, mas assim que ele faz a ida e volta e chega minha vez, ainda estamos em desvantagem.

Mergulho na água sem pensar no fato de que os outros caras, ainda que por pouco, estão na frente. Fico cego, na verdade. Minha cabeça se esvazia de qualquer outro pensamento que não seja o de vencer, os sons externos se dispersam, enquanto eu procuro dar braçadas mais rápidas e sem perder a técnica. Tenho que ser bom, rápido, mas não posso perder o controle.

Não paro por um segundo e, quando dou por mim, minha mão está sobre a parede da piscina. Solto o ar e respiro completamente ofegante. Mantenho meu braço apoiado no ferro do bloco de partida e tiro os óculos de mergulho. Meu coração martela no peito como se fosse sair pela boca. Eu tiro a água do meu rosto e chacoalho os cabelos. Meu olhar segue direto para a reação das pessoas à procura de algo que me dê uma ideia de em que posição estamos.

Meus ombros caem e eu solto o ar quando o resultado me atinge. Meus dedos apertam meus olhos com força e eu nem consigo acreditar.

Ficamos em quarto lugar.

Puta merda, puta merda...

- É isso, cara, parece que a gente se vê no próximo campeonato - o garoto do time adversário diz e eu aceno com a cabeça, porque as palavras simplesmente não saem.

O quarto lugar não é nem de longe uma boa posição, mas devido aos pontos que acumulamos ao longo das outras competições, fomos salvos de sermos desclassificados e, cacete, eu estou aliviado. Caramba, acho que nunca fiquei tão nervoso numa competição em toda minha vida, nem mesmo quando estive em uma pela primeira vez.

Ao sair da água, eu vou até minha equipe e nós quatro comemoramos. Neste momento, não importa quem errou. Nós ganhamos e passamos para a próxima fase, ainda que tenhamos chegado perto demais de perdermos.

No vestiário, o treinador nos diz algumas palavras, mas nos dispensa logo. Está guardando o sermão para quando formos treinar e sei que teremos muito que ouvir pelo que aconteceu.

Massageio as têmporas que estão latejando como se fossem explodir. Coloco minha roupa e tiro o celular do bolso. Há uma mensagem da Clarice dizendo que ela, Bárbara o os outros estão me esperando no estacionamento. Ao ir encontrá-los, passo pelo treinador que está conversando com alguém. Aproveito e espero até que ele fique sozinho e eu possa falar com ele.

- Sinto muito por não ter sido melhor, mas eu prometo que a gente vai dar duro pra isso não acontecer mais - digo a ele.

- Não se cobre tanto, garoto. - Ela pousa uma mão no meu ombro. - Você fez o que pôde. Era difícil recuperar, mas você conseguiu. Na próxima, tenho certeza de que essa equipe vai chegar em primeiro.

O treinador dá um tapa amigável em minhas costas.

- A gente se vê na segunda, filho.

Apesar da sensação de decepção por achar que eu podia ter feito muito mais, sei que não tenho controle sobre o que aconteceu, mas talvez eu não esteja sendo um bom líder e isso seja um reflexo da minha deficiência como alguém que está à frente de uma equipe.

Só que eu sei que o que estou sentindo não se trata só de me achar ou não um bom líder. Tem a ver com Clóvis. Queria que ele tivesse visto a gente na glória e eu odeio admitir, mas estou chateado por não ter sido assim.

No estacionamento, avisto de longe Clarice que sorri animada assim que me vê. Ela acena para mim e eu me aproximo deles. É claro que a primeira a vir é a Maia e depois os outros me enchem de elogios, até mesmo Bárbara me parabeniza, me dando um soco no ombro e dizendo que eu mandei bem.

- Muito bom, Victor - Clóvis me diz na sua vez. Com um braço, ele puxa meus ombros num abraço inesperado. É um pouco desajeitado e nada muito fraternal, mas ainda assim me sinto desconfortável. A coisa toda, porém, não dura muito e, quando ele me solta, eu assinto tentando não tornar aquele momento constrangedor para nós.

- O que vocês vão fazer? - Lídia pergunta olhando para mim e Clarice. - Querem ir numa pizzaria comemorar?

- A gente vai encontrar o pessoal lá na festa da cidade - digo a ela.

- Nos vemos em casa então. - Lídia se aproxima de mim e me abraça de um jeito que faz eu perceber como tudo parece tão errado dentro de mim. Eu não deveria me sentir mais acolhido com o carinho da minha madrasta do que com o do meu próprio pai. - Você foi o máximo, obrigada por nos deixar participar disso - murmura para mim e eu sorrio porque essa mulher merece todos os meus sorrisos sinceros.

O centro está cheio de pessoas. Barracas de todos os tipos estão espalhadas. Há comida, artesanato e na praça um palco está montado com um Dj tocando uma música animada. O volume é alto e grande parte das pessoas está dançando e parecem se divertir muito.

Segurando minha mão, Victor me leva com ele e Bárbara nos segue até que encontramos Téo, encostado a um carro preto. Uma garota de cabelos ondulados e loiros está com o corpo apoiado nele e ele está com a mão em seu rosto, um sorriso safado nos lábios. Os dois parecem absortos na paquera, mas Victor se aproxima mesmo assim.

- E aí cara?

O rosto de Téo se move em direção ao Victor e eles se cumprimentam ao estilo dos garotos com punhos cerrados e um abraço com tapinha nas costas.

- E aí, V - ele alonga o "V" praticamente como se o cumprimento fosse o refrão de um rap, então se volta em minha direção e tenho a sensação de que seu sorriso vacila, mas ele me puxa, sem me dar chance para analisar aquilo, e me dá um beijo amigável na bochecha. - Clarice! E olha só! B-Á-R-B-A-R-A - ele soletra numa evidente provocação a forma como minha amiga falou com ele na quadra. Téo passa a língua pelo lábio inferior e a encara com um brilho divertido. - Eu falei que ia me lembrar, Pimentinha.

- Parabéns pela supermemória, Teófilo - ela devolve a provocação.

- Teófilo? Seu nome é Teófilo? - A garota ao lado dele pergunta como se estivesse duvidando.

Em vez de ficar aborrecido, Téo assente.

- É, sim, gata. E você sabe o que significa? - Ela balança a cabeça de forma negativa. - Abençoado pelas deusas da beleza.

- Convencido! - A garota dá uma risada sugestiva e bate de leve no peito dele.

Ao meu lado, Bárbara revira os olhos e simula que está enfiando o dedo na garganta para vomitar, murmurando um "coitadinha" silencioso.

- E como foi lá, V? - Téo pergunta para o Victor. - Soube que você é que salvou a equipe.

Victor esfrega a nuca e faz um gesto indiferente com os ombros.

- Escuta, cara, que tal a gente pegar alguma coisa pras meninas? - sugere em vez de ficar se gabando.

- Tá bom - concorda Téo. - Vocês querem o quê?

Eu peço um guaraná e a garota com ele pede uma Coca-Cola zero.

- Pra mim pode ser uma Coca bem calórica. - Bárbara força um sorriso para Téo e estende uma nota de dez para ele.

Téo olha para a nota na mão dela e depois para ela.

- Os cavalheiros pagam dessa vez, Pimentinha.

Bárbara abre a boca, mas desiste de protestar e dá de ombros.

Téo se afasta com Victor. Antes mesmo que os percamos de vista, a garota que está acompanhada de Téo pede para que o avisemos de que ela foi encontrar as amigas e eu e Bárbara ficamos sozinhas. Sem nenhuma cerimônia, ela contorna o carro, se senta sobre o capô e cruza os calcanhares.

- Você não tem medo do dono chegar e não gostar?

- Não - ela responde simplesmente.

- Você é doida, a gente nem sabe de quem é esse carro - digo, mas me sento ao lado dela.

Inspiro. A noite está fresca mesmo com a quantidade de pessoas circulando. Gostaria muito de passear em algumas das barracas artesanais e levar algo para minha mãe. Sei que está muito cansada por causa da loja e não acredito que terá disposição para vir à comemoração.

- O que esse cara tem? - ouço Bárbara perguntar.

- Quê?

Bárbara chacoalha a cabeça e percebo que ela estava apenas pensando alto.

- Nada.

- Você tá estranha.

- E desde quando eu já fui normal? - Ela bate com seu ombro no meu.

- Deixa eu reformular. Você tá mais estranha. É por que o Gustavo não veio com a gente?

Como outra pessoa ficou de cobrir o evento esportivo, Gustavo acabou pegando folga e aproveitou para tirar fotos em um casamento com a equipe do seu primo. Pelo que Bárbara me disse, ele está juntando dinheiro para mobiliar seu apartamento, então tem estado bastante ocupado. Imagino que ela deva estar se sentindo desconfortável sem ele tendo tantos casais aqui.

- Eu sou mais que alguém que precisa de um cara pra ser capaz de aproveitar, Clarice. - Ela revira os olhos. - Você não para de falar do Gustavo como se eu não existisse sem ele!

- Ei! Calma, Pimentinha. - Engancho meu braço no seu e ofereço a ela um sorriso.

- Ah, cala a boca, bobona. - Bárbara ri e me dá uma ombrada.

Encosto minha cabeça na dela. As batidas eletrônicas terminam e pouco tempo depois dão vez às sertanejas. Todo mundo vibra, menos Bárbara que solta um grunhido ao meu lado. Ela detesta o estilo musical e eu dou risada.

- Eles não sabem que existem outras espécies de aves além de beija-flor?

- Ah, para. Não é tão ruim - digo a ela.

- Você tá de brincadeira, né? - ela pergunta num tom dramaticamente chocado.

Minha amiga começa a listar todas as músicas sertanejas que citam beija-flor e estou quase soltando um suspiro entediado até que percebo que meu celular está tocando. Ao olhar a tela me deparo com uma mensagem da Luana perguntando onde estamos para vir nos encontrar. Tento dar o máximo de referências para que ela consiga achar o local. Não demora muito e sinto duas mãos puxando meus ombros para trás e um berro estridente em meu ouvido.

- Te achei!!!

Depois de quase me derrubar, Luana me gira para ela e me dá um abraço apertado. Com ela estão suas amigas e mais um grupo de garotos. Eu já vi alguns no colégio, mas não os conheço. O único que posso dizer que talvez conheça um pouco seja o Samuel, mas ele está um tanto afastado de nós, conversando com alguém e não me vê.

- Cadê o Victor? - Luana olha ao redor e abre um sorriso estranho quando vê Bárbara aparecer ao meu lado, analisando-a de cima a baixo. - Você veio mesmo.

- Não é? - Bárbara diz, assumindo uma voz esganiçada e irritante.

Luana mantém o sorriso como se não tivesse notado nada e a ignora.

- E então?

- O Victor e o Téo foram buscar bebidas - digo. - Já faz um tempo, eles devem estar voltando logo.

- Vou ficar com vocês. - Luana se encosta ao meu lado e leva sua bebida aos lábios, mas quase derrama o líquido quando Samuel a abraça por trás. - Samuca, seu imbecil! - reclama.

Ele faz uma careta para ela e então me nota e seus olhos se iluminam em reconhecimento. Ele puxa Luana para trás e se coloca entre nós.

- Lilica! Diz aí - ele puxa minha mão e analisa o anel em meu dedo -, sou um cupido e tanto, não?

- Na verdade - eu o corrijo -, você fez a gente se desentender e quase fico sem isso.

- Sério? - Ele estreita os olhos como se estivesse perplexo. - Caramba, que mancada. Sendo assim... - Ainda segurando minha mão, ele a leva ao seu peito e bate os cílios de forma exagerada. - Foi mal quase ter acabado com seu namoro. Você poderia perdoar esse cupido atrapalhado?

Finjo pensar a respeito tamborilando os dedos no queixo. Samuel continua me olhando com aqueles olhos grandes e eu rio de todo o seu drama.

- Tá perdoado, Samuca.

Ele solta um suspiro como se estivesse aliviado e eu volto a rir, mas sinto uma cutucada em minha cintura que me faz parar. Eu me viro para olhar para Bárbara e saber o motivo de ela ter chamado minha atenção, quando vejo Victor abrindo caminho entre os demais vindo direto até mim. A expressão dele é de pura irritação. Victor se aproxima, me puxa e pressiona sua boca na minha. Meu peito é comprimido ao seu devido à determinação dele em manter nossos corpos tão colados. Seus lábios se movem sobre os meus com força. A língua dele não pede passagem delicadamente como sempre faz, ela irrompe para dentro de mim com uma voracidade que ele nunca tinha usado para me beijar antes. A mão que está em minha nuca se posiciona firme e não consigo recuar. Não parece desejo o que está acontecendo agora. Parece que está nos exibindo para os outros, ou apenas me exibindo como sua e quero empurrá-lo e afastá-lo de mim, mas não posso humilhá-lo desse jeito, então deixo que ele continue mesmo que esteja me magoando.

Victor se distancia apenas o suficiente para que o ar circule entre nós. Seus olhos ainda estão enraivecidos e estou tão desnorteada e surpresa com esse comportamento que não consigo nem falar. Mal sou capaz de olhar para os lados, porque estou morrendo de vergonha do que acabou de acontecer aqui.

- Eu falei, Clarice, que o Victor era um safado. - Luana está rindo ao dizer isso.

- Hum... Bom... - Samuel limpa a garganta e se esforça para não parecer desconfortável com a situação. - Eu vou ver se acho o Jonas por aí.

No mesmo instante em que ele sai, Victor toma seu lugar. Ele me mantém perto dele com um braço sobre meus ombros. Téo, Bárbara e Luana começam a conversar e, depois de um tempo, Victor estende para mim a lata de guaraná que eu nem tinha notado que ele estava segurando.

- Desculpa. - Sua voz doce e suave contrária o cara de minutos atrás, mas eu ainda estou com raiva e estou tentando entender o motivo de ele ter me beijado daquele jeito.

- Por quê? - Olho para ele sem compreender.

- Porque eu não suporto ver outro garoto te tocar - ele diz, o olhar vulnerável.

- Ah, Victor - eu murmuro baixinho e escondo meu rosto em seu pescoço.

Pelo resto da noite, Victor é gentil e atencioso, mas eu ainda não sei o que sentir. Odeio o que aconteceu, mas odeio ainda mais que Victor se sinta tão inseguro. Se ele pudesse estar dentro de mim saberia que não há espaço para mais ninguém além dele.

Eu só queria que ele pudesse se enxergar com meus olhos.


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Oi, meus leitores amados! Como vocês estão? Que saudades!
Falei que as tretas iam começar e olha aí.

Um pequeno spoiler: no próximo vamos ver como se sai o trio Lilica, Babi e Lulu no mesmo ambiente! 🤭

Ahhh! Queria agradecer pelos bons votos para que eu passe no concurso. Vocês são umas bênçãos! Obrigada pelo carinho e apoio.

As homenageadas de hoje são a sdkyasia e a MaTTiDA 🤗😍 Suas lindas!

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