13 | Quase Doce
Pego meus fones de ouvido e os coloco na mochila antes de descer para tomar o desjejum. Quando já estou a caminho da cozinha, vejo minha mãe preparando o café. O cheiro é incrível, apesar de café não ser minha bebida favorita.
- Bom dia, querida. - Mamãe se esforça para abrir um sorriso animado. Ela não é uma pessoa muito matinal, diferente de mim que não tenho tanta dificuldade assim em acordar cedo.
- Bom dia, mamãe. - Eu a abraço e beijo seu rosto, em seguida vou até a geladeira e o armário para pegar o leite e o cereal.
- Você se lembra que dia é hoje? - Ela tira o filtro do bule e descarta o papel com os resíduos do pó umedecido no cesto de lixo.
Se mamãe está me fazendo essa pergunta é porque com certeza eu deveria me lembrar de algo relevante. Me sento à mesa, enquanto vasculho minha mente em busca de informação até que me dou conta de que sei exatamente ao que ela se refere.
- É aniversário do papai.
- Isso mesmo. - Apesar de ambos não se falarem, mamãe sempre faz questão de me lembrar da data comemorativa. Ela se importa com nossa relação e, apesar de ele não ter sido o melhor marido, sempre fez questão que eu e papai mantivéssemos contato.
- Vou ligar para ele depois, ok? - digo quando ela se senta à minha frente já com a xícara de café em mãos.
- Não esquece - ela me alerta.
- Não vou.
Como meu cereal e quando termino, levo a tigela até a pia. Tiro minha aliança, deixando-a sobre a janela e lavo a louça. Sempre fazemos isso pela manhã. Um dia sou eu e no outro é a mamãe; assim deixamos tudo organizado pela cozinha.
- Tô indo, mãe. - Seco minhas mãos, pego minha mochila e beijo sua bochecha.
- Até de noite.
Apanho minhas chaves e vou em direção à porta, mas antes que eu saia, mamãe chama meu nome e eu paro. Não preciso voltar até a cozinha, pois ela está vindo até mim.
- Ia sair sem isso? - Ela ergue a aliança e a entrega a mim, com aquela expressão que faz eu me sentir como alguém que vive com a cabeça nas nuvens. - Já deve ser a décima vez. Um dia você vai acabar perdendo ela. Não sei de verdade por que a tira.
- Eu não vou arriscar estragar minha aliança - digo, pegando-a da mão dela e colocando-a de volta no meu dedo.
- Bom, assim espero. Victor deve ter gastado uma grana boa nisso aí e pode ficar chateado, então é melhor você cuidar desse anel com mais cuidado.
Não acho que Victor ficaria chateado pelo fato de o anel ter sido caro, mas minha mãe tem razão quando diz que devo ter mais cuidado com ele. Deus me livre esquecê-lo em algum lugar por aí, eu é que ficaria chateada comigo mesma, pois o valor simbólico que essa aliança tem para mim é tão importante que só a ideia de perdê-la me causa um mal-estar.
- Não vai mais acontecer - garanto.
Minha mãe não parece convencida, mas não diz nada. Gira nos calcanhares e volta para a cozinha enquanto eu corro para não perder o ônibus e chegar atrasada.
*
Aproveito que cheguei com tempo sobrando e me sento no banco do jardim do colégio. O tempo hoje não está nada agradável, então fecho o zíper da jaqueta e me encolho quando um vento frio bate em meu rosto. O céu está cinzento e uma gota aqui e ali pinga lá de cima, anunciando que provavelmente há chuva forte chegando.
Tiro meu celular de dentro da bolsa e disco o número do meu pai. Se seu horário não mudou, ele ainda está em casa e só vai sair para trabalhar daqui a umas duas horas.
- Oi, Clarice! - A voz animada do meu pai atende. - Tudo bem?
- Tudo sim. Te liguei pra desejar Parabéns! - cantarolo timidamente. - O senhor tá ficando idoso. Feliz aniversário!
- Ei! Que história é essa de idoso? - ele reclama. - Idoso, não. Mais charmoso e experiente.
- Muito modesto da sua parte - brinco.
Ele solta um grunhido.
- Mas fala aí se você não concorda? Seu pai é um coroa todo enxuto.
- A sua namorada achando tá bom, né? - digo num tom travesso e não acusatório ou como uma provocação birrenta e nós dois acabamos rindo.
Apesar de tudo, meu pai é realmente um cara bonito. Para sua idade, ele até que está bem. Já tem cabelos brancos, mas está em forma. Pelo menos é o que parece nas fotos que posta nas redes sociais com sua jovem namorada. A verdade é que faz muito tempo que não o vejo pessoalmente. Papai mora a seis horas de Nova Vitória e dificilmente vem até aqui me ver. Eu também não faço grande esforço em aparecer por lá, reconheço. Mas tenho planos de ir visitá-lo nas férias de dezembro, quando tudo estiver menos corrido, e quem sabe até levar Victor lá para conhecê-lo.
Mergulhamos no silêncio por alguns segundos sem saber muito bem o que dizer um para o outro. É o que sempre acontece quando nos falamos e por isso evito ligações. Por mensagens de WhatsApp a pausa é muito menos constrangedora, mas hoje é aniversário dele e eu não podia deixar passar sem um voto decente de felicidades.
- Como anda a escola? - ele quebra o silêncio.
- Indo bem. Mamãe contratou alguém para ficar na loja com ela e agora posso me dedicar às matérias extracurriculares.
- Que ótimo, filha.
Mais silêncio.
Sou salva pelo sinal, anunciando que a aula está prestes a começar. Obviamente, ligar para ele antes do início da primeira aula foi uma boa estratégia para ter um motivo para encerrar a ligação. Pode acreditar, a gente já ficou longos minutos só apreciando a respiração um do outro enquanto esperávamos alguém puxar assunto.
- Era só isso, pai. Preciso ir. Espero que hoje seja um dia muito especial para o senhor. Eu te amo.
- Eu também te amo, princesa - diz num tom carinhoso.
Desligo e guardo o aparelho na bolsa. A chuva começa a engrossar e eu entro. Sigo direto para a sala e me sento ao lado de Bárbara que sorri quando me vê. Victor entra logo em seguida, olha em minha direção e pisca. Essa é nossa rotina pela manhã e eu amo as sutilezas dos seus gestos. Meu coração sempre palpita como se eu ainda fosse aquela garota que sentia um amor platônico por um garoto que ela nunca sonhou que fosse olhar para ela um dia.
- Vocês dois são tão bregas - Babi provoca, cutucando minha bochecha com o dedo.
- Olha quem fala - eu devolvo. - A garota que nem saiu do Ensino Médio, mas já tá noiva.
Quando Bárbara me ligou no domingo e contou como Gustavo a surpreendeu, dizendo que queria que o lance deles fosse muito mais sério, e a pediu em noivado, minha primeira reação foi ficar surpresa com o fato de ela ter aceitado. Quero dizer, olha para ela. Bárbara é toda descolada e maluca. Nunca pensei que aos dezessete anos ela seria noiva de alguém. Mas ela também me garantiu que, apesar de ter aceitado, deixou muito claro para ele que aquele seria um longo noivado, pois não tinha intenção alguma de se casar antes que estivesse devidamente formada e empregada. Ela foi muito prática ao falar. Não sei como ela conseguiu, eu teria surtado do jeito que sou romântica.
Eles são meu casal vinte e eu amo esses dois.
- Foi coisa do Gustavo, sabe. Ele tá com medo.
- Medo do quê?
- Acho que da ideia que meus pais colocaram na cabeça de se mudar para São Paulo. Ele tem certeza de que eu vou esquecer ele se ficarmos a tantas horas de distância.
Fico horrorizada com o pensamento de Bárbara ir para longe. Ela é minha melhor amiga. Falamos com todo mundo e conversamos com outras meninas, mas somos a dupla dinâmica. Somos Batman e Robin; Chris e Greg; queijo e goiabada e não sei o que faria sem ela aqui. Babi lê o terror em meus olhos e me acalma.
- Não esquenta, Lilica. Não acho que eles estejam falando sério. Moraram a vida toda em Nova Vitória e eu ainda tô cursando o último ano. Não faria sentido eles se mudarem agora.
Respiro um pouco mais aliviada. Seria bem ruim perder uma amiga, mas para Babi seria péssimo também ter que trocar de escola quando já está tão perto de se formar. Claro, ainda faltam meses para que isso aconteça, mas já passamos do período de provas e seria difícil para minha amiga manter boas notas e ter que acompanhar as matérias.
- Bom, nem sonhe em me deixar, Babi, ou eu vou te sequestrar.
Ela revira os olhos, mas não consegue esconder o sorriso que se espalha pelo seu rosto.
- Tá, Lilica, vou repassar sua ameaça aos meus pais.
- Além do mais, Gustavo também não vai deixar. Ele te ama e vai fazer de tudo para te manter aqui com a gente.
- Ok, Lilia, chega de falar de sequestro. - Bárbara baixa os olhos de um jeito estranho, pega uma caneta no estojo e começa a rabiscar uma folha.
Passamos o restante da aula fazendo as tarefas e conto para ela sobre como foi minha visita aos pais do Victor. Assim que somos liberados, pegamos nossos lanches e vamos para a nossa mesa. Logo em seguida, Victor se junta a nós, passando uma perna pelo banco, sentando-se ao meu lado.
- E aí? - Ele levanta uma sobrancelha para Babi que retribui com um sorriso irônico.
- E aí, Sr. Top Model.
Um vinco profundo se forma em sua testa e na minha também. Nós dois olhamos para Babi, procurando uma explicação para o apelido.
- Você sabe, V, meu namorado...
- Noivo - eu a corrijo.
- Noivo? - Victor arregala os olhos, surpreso, mas Babi o ignora.
- Tá, meu noivo - ela me encara e revira os olhos -, trabalha no jornal da cidade e seu namorado tá parecendo um mauricinho nas fotos, com a família comercial de margarina. Você vai amar, Clarice - ela diz com uma risadinha debochada.
Olho para Victor que solta uma reclamação.
- Tinha me esquecido dessa maldita revista. - Ele pega meu queixo, me fazendo olhar bem para ele. - Você não vai nem chegar perto dessa publicação. Entendeu?
- Por quê? - Eu rio. - Já vi até seu álbum de bebê.
- Isso é diferente, não são só as fotos... - Ele passa uma mão pelos cabelos. - É meio que tudo. Não quero que leia a entrevista também. Aquele não sou eu de verdade.
- Não? - Babi se intromete. - Fizeram um clone de você, V?
Ele dá uma risadinha falsa enquanto faz uma careta feia para minha amiga.
- Pois acho que você deveria ficar com o clone, Clarice, talvez ele seja melhor que esse aí - Bárbara continua, olhando para ele com uma expressão afetada.
- A Clarice não precisa disso, ela tem o original, e pode fazer absolutamente o que quiser com ele.
- Que romântico, V, você sabe mesmo dizer as coisas certas pra uma garota como a Lilica...
- Tá, não comecem - peço, tentando evitar uma possível discussão e também que essa conversa se torne constrangedora para mim já que esses dois parecem não usufruir do bom senso.
- Não se preocupa, florzinha, tô saindo. Vou deixar os pombinhos aproveitarem um pouco, se é que com ele você vai conseguir aproveitar alguma coisa.
- Cuidado, Babi, tem um lábio escorrendo no seu veneno! - Por mais que eu tente, não consigo não rir da forma como ele diz propositalmente a frase.
- Ai, ai, ai, garotinho - ela faz pose, balança a cabeça e estala a língua -, sorte a sua a Clarice estar aqui, porque eu sei usar palavras bem feias.
Em vez de rebater, Victor apenas murmura um tchau e faz um gesto com a mão, apressando-a. Ela bufa, se vira e se retira.
- Caramba, essa menina me odeia. - Victor põe um cotovelo na mesa e cobre o olho com uma mão como se estivesse cansado.
- Não odeia, não. Ela só gosta de provocar você. - Jogo a cabeça em seu peito e Victor me envolve com um braço. - Não leva ela tão a sério.
Ele apenas abre um sorriso fraco e dá de ombros, pega o livro que está sobre minha bandeja e abre na página em que paramos dá última vez.
Nós dois permanecemos em silêncio enquanto dividimos a leitura de Pollyanna, já que o fiz prometer que conheceria esse livro. Eu seguro o livro de modo que nós dois possamos enxergar. Amo ficar assim com ele, apenas sentindo seus dedos deslizarem por meus braços, seu peito subir e descer, as batidas do seu coração que constantemente se agitam quando ele está perto de mim, em sintonia com o meu, e o seu cheiro gostoso e familiar. Amo seus comentários espirituosos e até a forma como me provoca por ter que me esperar, pois geralmente sou a que demora mais na leitura das páginas, mas hoje, por algum motivo, ele parece distraído. Ainda não falou nada até agora.
Inclino minha cabeça para trás para olhá-lo e Victor está distante. Não pode ter ficado tão chateado assim com a Bárbara, porque essa é a rotina deles, então presumo que algo deve ter acontecido em sua casa. O pensamento maluco de que talvez isso tenha alguma ligação comigo faz um medo atravessar minha coluna.
- O que houve? - Eu me ajeito para poder olhá-lo melhor.
Victor pisca os cílios e leva algum tempo para processar minha pergunta.
- Nada. - Ele se esforça para não demonstrar, mas consigo enxergar que não é "nada" como ele disse.
- Aconteceu alguma coisa no sábado? Tem a ver comigo?
- Linda, você tá paranoica. - Victor toca a ponta do meu nariz com o indicador e abre um sorriso de lado. - Eu só tô cansado, não dormi muito bem. - Ele coloca os braços ao meu redor, me puxa para perto e deposita um beijo no ponto sensível atrás da minha orelha.
- Victor - eu o repreendo baixinho.
Ele está tentando me enrolar, mas não vou forçá-lo a me contar nada até que se sinta à vontade com isso. Victor já me revelou coisas sobre sua vida tão relevantes que imagino que o quer que seja isso ou não é tão importante ou ele vai me contar depois.
Ainda estamos olhando um para o outro quando alguém se aproxima da mesa e se senta à nossa frente, desviando nossa atenção.
- Oi, pessoal - Luana cumprimenta e joga um punhado de cabelo para o lado plenamente consciente do quanto fica ainda mais bonita. - Os caras querem saber se você vai com a gente comemorar depois da competição da semana que vem - ela diz olhando para o Victor.
- Claro que sim - ele parece confuso com a dúvida dela.
- É que você tá namorando agora e vocês dois não se desgrudam - ela esclarece e me lança um olhar que não sei interpretar se é de animosidade ou apenas uma característica do seu jeito, já que Luana sempre foi um tanto intimidante. - Então pensamos que podia ter outros planos. Seria muito chato não ter você... Vocês - ela se corrige. Luana se volta totalmente para mim e abre um sorriso. - Aliás, Clarice, vou dar uma festa do pijama depois da comemoração e eu e as meninas queríamos saber se você não gostaria de vir também.
O convite dela me surpreende. Luana e eu estudamos na mesma sala, mas ela e sua turma nunca interagiram comigo. Não que eu tenha me esforçado para me tornar amiga dela ou algo parecido. A gente não tem nada em comum e é por isso mesmo que não entendo o motivo de ela estar me convidando para uma festa em sua casa. Ou talvez eu entenda. Agora sou namorada de Victor e tenho notado como as pessoas têm agido comigo. A maioria que sequer devia saber meu nome, hoje em dia sempre me dirige um cumprimento amigável. É quase como se eu estivesse namorando uma celebridade e talvez seja isso mesmo que Victor é neste colégio.
Luana não se abala com a minha demora em responder. Diz alguma coisa para o Victor sobre um Dj que fará um show aberto no centro da cidade em comemoração ao aniversário de Nova Victória e depois que conclui sua fala, ela me olha e sorri.
- Vai ser legal, Clarice. Vamos fazer maquiagem umas nas outras, tomar sorvete e falar mal dos garotos. - Sua sobrancelha delineada se ergue quando ela pronuncia a última sentença baixinho e em seguida Luana pisca um olho para mim.
- Preciso te alertar que a Lulu é uma péssima companhia - Victor diz e a encara com um sorriso como se a desafiasse a contrariá-lo.
- Não nego, gatinho, mas temos o sujo falando do mal lavado. - Ela joga a cabeça para trás e ri. - Não sei como uma menina boazinha como a Clarice foi olhar para um safado como você, V - diz em tom de provocação.
- Fazer o quê, Luana, sou um cara de sorte. - Ele umedece os lábios e pisca para ela, enterra o rosto entre meu ombro e meu pescoço e eu me contorço quando sua respiração faz cócegas em minha pele.
O olhar de Luana acompanha o gesto e tenho a forte impressão de que ela está se segurando para não revirar os olhos, pois por um segundo os movimentos do seu rosto fazem transparecer o quanto ela parecer achar boba a demonstração do Victor.
- Nunca achei que ia te ver tão meloso, gatinho.
A única resposta de Victor é um sorriso largo e um dar de ombros.
Luana volta a fazer aquele movimento com o cabelo e então se volta para mim:
- Pensa com carinho, Clarice. As meninas estão loucas pra conhecer a garota que conseguiu finalmente fisgar o capitão da equipe. O cara tinha uma fila grande atrás dele e você nem precisou de senha.
Levantando-se, Luana murmura um thauzinho para mim e sorri para Victor de um jeito malicioso. Quando ela já está longe, eu olho para Victor com uma sobrancelha erguida.
- Uma fila, é?
- Puff - ele bufa e faz uma careta -, a Luana é exagerada.
Admiro sua modéstia porque sei que realmente muitas garotas gostariam de namorá-lo. Por um momento, cheguei até a ficar com ciúmes, imaginando-as flertando com ele, mas o sentimento foi rapidamente substituído por orgulho. Entre tantas, Victor Walter Villela me escolheu. Não sou rica e há meninas muito mais bonitas que eu, como a própria Luana, só que foi por mim que ele se apaixonou e foi no meu dedo que Victor colocou uma aliança de namoro.
- Você ficou com raiva? - noto o tom preocupado em sua voz.
- Não, só vou ficar com raiva se um dia você der mole para elas.
- Isso não vai acontecer - me garante. - Nenhuma delas é você e meu coração só tem espaço para uma única Clarice.
E assim, com suas palavras doces e sinceras, esse garoto me ganha mais um pouquinho.
É muito louco e completamente insano como um sonho pode fazer sua cabeça girar e girar e te levar a ter ideias completamente absurdas sobre coisas que provavelmente foram projetadas pelo seu subconsciente por qualquer razão nem um pouco racional.
Eu meio que menti para Clarice. Na verdade, meio que tenho mentido para mim mesmo desde sábado, quando, depois de mostrar o álbum de fotos para ela, eu acordei no meio da noite, assustado e com suor pingando do meu rosto.
Sonhar com a minha mãe não é nenhuma novidade para mim, apesar de não acontecer com frequência. Mas havia alguma coisa diferente dessa vez. Porra, eu nunca fiquei tão perturbado assim antes, mas a imagem dela segurando a mão de um homem carinhosamente, enquanto ele a mantinha sobre seu joelho, era tão viva que era como se eu tivesse vivenciado aquela situação e a presenciado com meus olhos.
Me permito pensar por um instante que talvez essa possa ser uma lembrança, embora seja difícil conseguir visualizar o poderoso Clóvis sendo aquele homem. Só que eu não sei nada sobre como eles eram antes da morte dela e a julgar por como ele trata Lídia agora, talvez eles tivessem sido um apaixonado casal.
Mas eu não tenho certeza de nada e isso me mata. Eu odeio essa sensação de estar perdido como se eu escolhesse diversos caminhos que apenas me levam a outros caminhos sem um fim. É como estar preso num maldito labirinto.
- Tô de volta, manés! - Téo grita no vestiário e sua voz e os urros dos nossos colegas reverberam pelo ambiente.
Eu olho para ele e vejo os outros alunos ao seu redor dando as boas-vindas. Nós somos uma equipe unida e me sinto honrado de ser capitão desses caras. Téo estampa um sorriso no rosto que diz o quanto ele se sente feliz por estar de volta. Assim que fala com todos, ele vem até mim e se encosta ao armário, dobrando um joelho e cruzando os braços.
- Não vejo a hora de cair na piscina - diz e tá na cara o quanto ele sentiu falta disso tudo. É uma pena que ele não vá competir na nossa próxima prova, mas estou extremamente orgulhoso por ele não se abater.
- Então agora acabaram as leituras para os dependentes? - Eu me levanto do banco e abro o armário a fim de pegar minha sunga e os óculos.
- Não exatamente, cara. - Téo coça o queixo e pigarreia.
- Seus pais ainda vão te obrigar a continuar com isso? - pergunto surpreso.
- É... Pois é... - ele diz isso mantendo seus olhos no chão.
- Que merda, hein.
É estranho que os pais do Téo continuem com a punição. Eles são firmes na educação dele e dos irmãos, mas nunca os vi deixarem eles de castigo por tanto tempo.
- Tenho certeza de que eles vão acabar te liberando quando virem que você não vai mais fazer nada assim - digo e fecho uma mão em seu ombro.
- É... Claro. - Ele abre um sorriso estranho como se estivesse escondendo alguma coisa. - Eu ainda preciso falar com o treinador. Até daqui a pouco.
Téose afasta e fico com a sensação de que tem algo a mais que ele não estáquerendo me contar. O cara nem olhou para mim direito e rapidinho chispoudaqui. Mas estou mentalmente exausto para procurar analisar a situação, entãotudo que faço é seguir até a piscina para me preparar para o treino. Vou deixarTéo para mais tarde, por enquanto preciso mesmo me concentrar, o campeonato seaproxima e não posso me dar ao luxo de vacilar agora que nosso futuro é tãoincerto.
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Oi, amores! Espero que tenham gostado do capítulo. As coisas estão meio lentas porque não quero jogar nada corrido pra vocês, mas as emoções vão começar logo.
Obrigada aos que votam, aos que comentam, aos que comentam e votam! É muito bom ter o apoio de vocês.
Hoje as homenageadas são LuanaBeatriz566 Joerika-G e cyntilante ❤
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