11 | Quase Doce
Três semanas.
Há três semanas eu e Clarice estamos juntos e é muito louco como tantas coisas aconteceram. Consegui tirar uma boa nota na prova de literatura inglesa, o que foi muito maneiro. Admito que não sei se fiquei mais feliz por saber que isso eliminou a ameaça de sair da equipe ou se por ver o brilho orgulhoso nos olhos da Clarice. Sem ela, sei que não teria conseguido. Essa menina pegou pesado comigo, fazendo fumaça sair do meu cérebro, mas valeu a pena. Eu faria tudo de novo, não apenas pela nota. Faria porque não iria me importar em me apaixonar pela Clarice pelo tanto de vezes que fosse até ela ser minha, ainda que no início eu não tivesse a intenção de me envolver com ninguém, pois estar com ela tem sido a melhor coisa que me aconteceu desde que eu consigo me lembrar.
Para completar o quadro, tivemos mais um campeonato para tentarmos nos classificar para as disputas oficiais e conseguimos vencer com uma boa pontuação. Luan, escolhido para ficar no lugar de Téo enquanto ele está suspenso, é bastante talentoso e rápido quase como ele. Ainda precisa trabalhar o nado de costas, mas do jeito que está empenhado tenho confiança de que ele vai ser um atleta ainda melhor do que já é.
E falando em Téo, ele está bastante animado por finalmente poder voltar aos treinos. Depois do que aconteceu, ou melhor, do que ele causou a si mesmo, os pais o proibiram de sair por pelo menos dois meses e o fizeram passar o tempo da suspensão ajudando como voluntário numa ONG para dependentes químicos, pois queriam que ele se ocupasse com algo produtivo para os outros. Colocaram Téo para passar às tardes lendo para alguns jovens que, infelizmente, encontraram vício em drogas pesadas muito cedo. Puta merda, o cara veio comentar comigo que achava a Emma Bovary uma gostosa desvalorizada pelo marido. A Clarice teria um infarto se o visse falar assim de uma personagem clássica.
Com metade do corpo deitado sobre os travesseiros do sofá da sala, me remexo, procurando uma posição mais confortável enquanto espero alguns minutos antes de ir à igreja. Apesar de o acordo já ter acabado, disse a Clarice que continuaria indo ajudar os garotos. No início foi pelas aulas, mas, depois de um tempo, percebi que ensinar música para eles era algo que eu gostava e de certa forma me trazia paz. Não sou um cara religioso, sendo bem honesto, e nunca fui de frequentar igrejas, até porque não é um hábito que temos aqui em casa. Mas preciso admitir que quando estou lá me sinto diferente. A fé deles, o fato de estarem toda manhã de sábado aprendendo com o intuito de entregar suas canções para um Ser maior, é algo bonito, e eles o fazem de coração e sem ambição.
- Viiii! - Ergo um pouco o tronco e vejo Maia saltitar até o sofá. Ela se lança sobre mim como se fosse uma pena.
- Menina! - digo colocando a mão na barriga e fazendo uma careta, exagerando a reação como se ela pesasse mais quilos do que o que posso suportar. - Você tá muito pesada!
- Para, Viii! - Ela dá um soquinho no meu braço. - Você é tão bobo! - Maia revira os olhos.
- Você comeu o que no café da manhã? Um elefante?
Ela grunhe com raiva e faz um biquinho.
- Claro que não, né? Um elefante não ia caber na minha barriga! Dã! - Ela bate com um punho na testa como se fosse óbvio demais.
- Ué, uma anaconda consegue.
- Uma o quê? - Maia coloca as duas mãos sobre minha barriga e pousa o queixo nelas, me olhando com curiosidade.
- Anaconda é uma cobra gigaaante. - Abro bem os braços para fazê-la ter uma dimensão do tamanho.
- Afe! Como você é mentiroso, Vi! - ela ralha comigo.
- Mas é verdade. Né, Lídia?
Lídia, que acabou de entrar, se joga na outra ponta do longo sofá e cruza as pernas.
- Do que vocês estão falando?
- O Vi é um mentiroso, mãe. - Maia sopra o ar, sentando-se e cruza os braços, indignada. - Ele falou que tem uma conda grande que come elefante!
- Uma conda? - Lídia olha para mim e, sem emitir som, eu mexo os lábios formando a palavra certa. - Ahhh! Uma anaconda - ela diz o nome bem devagar para que Maia assimile.
- É isso aí mesmo. - A loirinha abana a mão dispensando a correção.
- Bom, eu não duvido que uma anaconda seja capaz de comer um elefante inteiro.
A boca de Maia se abre em choque e seus olhos se arregalam.
- Mentira! - Ela leva as duas mãos as bochechas e olha de mim para a mãe com uma expressão incrédula.
Eu e Lídia trocamos olhares e sorrimos.
- É verdade, pequena, eu não disse?
Maia continua refletindo sobre a cobra gigante, enquanto eu me levanto, pois sei que já está na hora de ir.
- Você vai aonde? - Maia pergunta mesmo sabendo a resposta. Ela agita as pernas e fica me olhando com aqueles olhinhos brilhantes.
- Vou ajudar na igreja, lembra?
Ela faz que sim e exibe uma carinha triste.
- Você vai mesmo trazer sua namorada aqui pra gente conhecer, certo, Victor? - Lídia cruza os braços e cerra os olhos. Dá para ver de longe que não existe a menor dúvida sobre a quem Maia puxou.
- Só porque foi você que pediu. - Evito criticar Clóvis como já fiz outras tantas vezes. Não quero criar um clima ruim, mas, a verdade? Eu não faço qualquer questão de que Clarice conheça meu pai.
Lídia suspira e me olha com um misto de censura e cansaço. Sei que ela odeia essa situação porque ama a nós dois, mas, em algum momento, ela vai ter que aceitar e ponto. Eu e ele até podemos conversar, fazer coisas quando estamos todos juntos, mas é só o que posso oferecer e acho que devido ao nosso histórico, já é um ótimo avanço.
- Tá bom, Victor. - Ela descruza as pernas e coloca as mãos nos ombros, massageando-os. - Vou pedir para que preparem um almoço digno da garota que roubou seu coração e colocou uma aliança no seu dedo, assim que voltar do salão.
Ouço um gemido exasperado vindo de Maia.
- O que foi, pequena?
Maia solta um suspiro.
- O pai e o Pedro tão lá na quadra e eu não quero ir pro salão chato! A mãe demora muito lá e fica falando, falando, falando... - Ela faz cara de tédio.
- Maia! - Lídia a censura.
A loirinha para de falar e baixa a cabeça. Ela parece mesmo desolada. Acho que Clarice não iria se importar se eu a levasse comigo.
- Se sua mãe deixar, você pode vir também.
- Sério? - Maia pula do sofá e corre até a mãe, juntando as mãos. - Por favorzinho, deixa eu ir com o Vi?
Lídia finge pensar.
- Por mim tudo bem - ela cede, mas, antes que Maia comemore, Lídia a alerta: - Nada de fazer bagunça e obedeça ao Victor, entendeu?
- Sim, sim, sim! - A pequena bate palminhas.
- Ótimo! Caso contrário, nunca mais deixo você sair com ele. - Maia balança a cabeça, garantindo que vai se comportar. - Boa sorte com essa menina serelepe - Lídia diz, olhando para mim e simula exaustão.
- Pode deixar. - Sorrio para Maia. - Vem, pequena, vamos conhecer a garota do seu maninho.
- Chapéus? - Olho para as caixas e há todo tipo de chapéus ali.
- Pois é. - A senhora pega um com uma fita dourada no meio e o examina. - A gente nunca sabe, né? - Ela se volta para mim. - De repente, alguém tá precisando.
- Verdade - concordo e sorrio.
A mulher se abaixa, colocando o chapéu de volta na caixa.
- Você pode separar os sapatos? - Ela dá um aperto de leve em meu braço. - Conseguiram trazer uma quantidade muito boa, foi uma bênção!
- Tudo bem.
Sigo até o outro lado do jardim, com algumas caixas vazias. Fico de joelhos no gramado e me sento sobre minhas pernas. Começo a abrir os sacos. Tiro os sapatos de lá, verifico se estão bons e separo os masculinos, femininos e os infantis, colocando-os em caixas diferentes. Namoro uma linda bota de camurça, cor lilás, que vai até o tornozelo, com saltos altos e pretos. Há um detalhe de bordado floral que se estende pela lateral do calçado e eu fico olhando e babando, porque a bota é muito maravilhosa. Suspiro ao colocá-la na caixa, mas não estou precisando de sapatos novos, e de qualquer forma eu não teria onde ou com o que usar algo tão elegante. Estou até surpresa que alguém o tenha colocado para doação, porque nem parece que esse par de botas já foi usado.
- Oi, Cinderela, tentando achar o sapatinho de cristal? - uma voz que eu conheço bem demais sussurra em meu ouvido. Não havia notado sua aproximação. Victor está curvado, com um sorriso no rosto, mas se ajoelha ao meu lado, e agora que estou bem consciente da sua presença, seu perfume atinge em cheio meus sentidos. É um cheiro que não sei descrever, mas é tão bom e intenso quanto o garoto que o está usando, como se aquela essência tivesse sido feita a partir da sua própria numa mistura do seu cheiro natural e sua personalidade. Fragrância Victor. Acho que é assim que vou chamar de agora em diante.
- Oi - devolvo com uma careta e um sorriso.
Ele puxa minha nuca e sela seus lábios nos meus. O beijo é delicado e não dura muito, mas nem por isso fico menos sem jeito quando ele se afasta. Victor percebe isso e seu sorriso se alarga.
- Quero que você conheça alguém. - Ele se vira um pouco e puxa uma garotinha pela cintura. - Essa é a Maia; e, Maia, essa é a Clarice.
- Clarice! - A menina loira, que é um pouco maior que Victor de joelhos e tem olhos alegres e as bochechas rosadas, acena para mim, abrindo um sorriso.
- Oiii, Maia. - Estendo a mão para ela, mas a garotinha chega mais perto e coloca seus bracinhos magros ao meu redor e eu a abraço de volta. - É muito bom te conhecer - digo, apertando-a de leve.
Ela se afasta para poder me olhar.
- Eu já conhecia você - anuncia como se estivesse em vantagem, dá uma risadinha e depois aponta para o irmão. - O Vi mostrou uma foto sua no celular dele, só que você é ainda mais bonita de pertinho.
- Você é muito gentil, Maia - digo a ela e deslizo os dedos pelos seus cabelos lisos.
- Ela tem razão - Victor concorda e ainda está sorrindo daquele jeito que me deixa completamente tonta.
- Obrigada, príncipe emburrado - brinco antes que fique sem graça demais com seus elogios. - E aí, Maia? Quer me ajudar?
- Sim! - Ela entrelaça as mãos e se mostra animada.
- Eu vou lá pra dentro. Você fica aqui com a Clarice, pentelha? - Maia revira os olhos, provavelmente por não gostar de ser chamada assim, mas assente. - Se comporta.
- Tá bom, Vi!!! - Ela ergue as sobrancelhas como quem diz "já sou grandinha" e Victor ri. - Vai logo!
- Tá bom. Até daqui a pouco.
Ele se afasta, deixando eu e Maia ali. Eu a observo se sentar, então digo a ela o que estou fazendo e ela começa a me ajudar. Conversamos e ela me conta sobre a escola, seus amigos e como ama assistir séries de super-heróis. Sua favorita é Meu Herói, que ela ama passar o dia vendo na Netflix. Curiosa que sou, não consigo deixar de perguntar sobre o Victor. Os olhos dela brilham ao falar dele e ela começa a narrar como a amizade começou.
Aconteceu antes de os pais deles se casarem, num dia em que Maia estava na casa deles, sentada na borda da piscina, olhando para a água. A menina conta que queria muito entrar, mas estava com medo de se afogar. Victor estava lá nadando e quando a viu perguntou se ela queria aprender a nadar também. Ele disse que a seguraria e que não a deixaria afundar, que Maia podia confiar nele e ela confiou.
- Ele é o melhor irmão mais velho do mundo todo, Clarice! E quando eu ficar grande vou ser uma nadadora que nem ele. - Há tanta admiração na forma como ela parece querer seguir os passos dele que fico encantada.
Acho fofa a relação que ambos têm. Ele a trata como uma verdadeira irmã ainda que Maia não tenha seu sangue. Não é todo filho que aceita quando o pai se casa novamente e traz os filhos de outra mulher para casa. Victor parece tirar a situação de letra.
Maia e eu continuamos conversando e mal vemos o tempo passar. Quando dou por mim, Victor já está ao nosso lado e todos estão organizando o jardim. Ajudamos e, em seguida, vamos até a lanchonete para que Maia tome um Milk-Shake. Victor a fez prometer que, se ele a deixasse tomar um copo pequeno, ela não perderia o apetite para o almoço e ela se comprometeu a comer tudo que estivesse no prato.
Maia e Victor estão juntos, sentados do outro lado da mesa, e eu estou sentada à frente dele. É uma graça como essa garotinha linda tem tanto assunto, e como Victor é paciente e atencioso em ouvi-la e rir das coisas que diz.
Um atendente se aproxima para anotar nossos pedidos. O garoto olha para Victor e Maia, sorri e lança a menininha uma piscadela animada. Faz um cumprimento tocando a aba do boné do seu uniforme, então pergunta o que vamos querer. É bastante simpático porque a todo instante mantém seu grande sorriso nos lábios e até faz algumas sugestões. Victor recusa todas e diz que para ele e para Maia apenas as bebidas, então ele se volta para mim.
- Você... - O garoto aponta a caneta em minha direção. - Desculpa, mas você é aquela garota que ajuda com as doações na igreja, né? - O atendente me olha com ar de reconhecimento. - Clarice, certo?
- A própria - confirmo com um sorriso. - Mas eu não me lembro de você por lá.
O garoto não se ofende e dá uma risadinha.
- Eu não tenho ido tanto ultimamente, mas já te vi algumas vezes e meu avô fala muito de você.
- Mesmo? Quem é seu avô? - pergunto, porque não faço a menor ideia.
Ele abre um sorriso de lado.
- Seu Patrício. Acho que o sonho dele era ter você na nossa família. Ele...
- Cara, tem como trazer logo os milk-shakes? - Victor pede de um jeito um tanto quanto rude.
O garoto olha na direção dele um pouco perturbado e surpreso.
- Bom, foi um prazer, Clarice - ele diz antes de se afastar e eu retribuo com um sorriso.
- Isso me tira do sério! - Victor espuma.
- Relaxa um pouco, príncipe emburrado. - Chuto de leve seu pé por baixo da mesa. - Ele só tava querendo ser simpático.
- Me pareceu que ele queria outra coisa... - Ele solta um ruído debochado, estica as pernas e cruza os braços à frente do peito.
Quero perguntar o que ele quis dizer com aquilo, mas não tenho chance porque Maia o provoca com o apelido que dei a ele.
- Príncipe emburrado! - Ela bate os dedinhos no queixo. - Vou te chamar sempre assim, Vi.
- Não vai, não - ele protesta.
- Príncipe emburrado - ela começa a repetir sem parar, quase cantando. - Príncipe emburrado! Lá lá lá!
- Qual é, pentelha?! - Victor se ajeita e começa a fazer cócegas em Maia com os dedos. Ela se encolhe toda e tenta se afastar, mas Victor não deixa.
- Para! - pede rindo, mas ele continua torturando a pobre garotinha. - Para ou eu conto pra sua namorada aquilo que você falou pro Téo! - ela ameaça e consegue pular para fora do seu lugar vindo se sentar ao meu lado.
Pela sua expressão, Victor não parece saber sobre o que Maia está falando.
- Agora eu tô curiosa, me conta - peço pra ela com uma voz cúmplice.
A menina morde o lábio inferior e olha para Victor que a está encarando como se estivesse tentando se lembrar de algo que tenha dito que devesse temer.
- Você tá blefando, pentelha. - Ele arqueia uma sobrancelha e abre um sorriso presunçoso.
- Quer ver? - Maia desafia, olha para mim e dispara bem rápido: - Ele falou que gosta dos seus peitos pequenos.
O rosto de Victor é tomado pelo choque. Acho que nunca o vi o ficar tão pálido, ele sequer consegue olhar para mim. Fico dividida entre atravessar a mesa para bater nele e rir, porque é bem engraçado como ele parece tão sem jeito. Deus, como eu queria poder tirar uma foto dele agora e guardar numa espécie de mural da vergonha!
- Isso é verdade, Victor? - Descanso o queixo nas mãos entrelaçadas, encarando-o.
- Hum... Bem... É... - admite, esfregando a nuca, e pela primeira vez eu o vejo passar de branco para vermelho como um pimentão. - Você foi longe demais, sua monstrinha. - Ele fuzila a irmãzinha com o olhar, mas de um jeito que dá para perceber que não está bravo de verdade, só muito constrangido.
- Você duvidou de mim. - Ela dá de ombros.
- Isso vai ter volta, dona Maia... - Victor solta uma risada meio maquiavélica.
- Vi, eu te amo! - A menina faz um símbolo de coração com os dedos e uma carinha de inocente, então volta para o lado dele e o abraça, exibindo um sorriso carinhoso.
- Tá com medo de eu te dedurar pra sua mãe quando você comer doce escondida, é?
- Você não vai fazer isso porque é o melhor irmão de todos os tempos!
Ele ergue uma sobrancelha, mas não resiste ao olhar carinhoso dela. Rola os olhos e abraça seus ombros. Ela se aconchega nele até que os milk-shakes chegam. Maia começa a falar do quanto o seu de chocolate é delicioso e o quanto ama o irmão por ele tê-la levado ali; logo é como se nada tivesse acontecido. Acabo deixando o assunto sobre ele gostar dos meus "peitos pequenos" para lá, porque não é como se eu e Babi nunca tivéssemos reparado em Victor ou falado sobre... Digamos que a calça apertada do uniforme até que exibe contornos interessantes assim que se olha bem quando ele está de costas.
Terminadas as bebidas, Victor chama um carro para nos levar até sua casa. Durante o percurso, reconheço a paisagem familiar. Praticamente passamos pelas mesmas ruas que percorremos na noite em que fomos à festa do Jonas, mas com a claridade do sol tudo parece muito mais chique e pomposo e, logo que chegamos, fico encantada em como o lugar é grande e bonito.
A entrada é dividida. De um lado fica a garagem que abriga dois carros que devem custar o preço da minha casa ou até mais se bobear, e do outro se encontra o jardim com seu gramado verdinho e algumas árvores. Amplas sacadas e grandes janelas de vidro preenchem minha visão quando descemos. Sigo Victor até a entrada, enquanto Maia já desapareceu para dentro da casa. Ao entrar, vejo que o lugar é ainda mais bonito. Não consigo deixar de olhar para tudo com certo fascínio. Os móveis parecem terem sido tirados daquelas revistas que mostram casas de famosos. É tudo moderno e tão sofisticado que faz eu me sentir um pouquinho deslocada, como uma decoração inadequada para o ambiente.
Victor aperta minha mão e sorri como se sentisse meu desconforto.
- Você tá linda. Eles vão gostar de você. - Ele beija a minha bochecha e esse pequeno gesto de carinho me conforta.
Sou guiada por ele até um cômodo que imagino ser a sala de estar. Nós nos sentamos em um longo sofá, de frente para uma TV gigante na parede, que fica em cima de uma lareira. Nem consigo acreditar que eles têm mesmo uma lareira! Quase pergunto para Victor se eles usam lenha de verdade no inverno, mas logo uma mulher loira surge e eu e ele nos levantamos.
- Oi, Clarice - ela me cumprimenta como se já nos conhecêssemos há séculos e me dá um abraço apertado, que eu retribuo com igual carinho. - Você é tão linda quanto a Maia descreveu. - A mulher me analisa com um sorriso.
- Onde tá a pentelha? - Victor pergunta e entrelaça a mão na minha.
- Foi receber o Clóvis e o Pedro, eles acabaram de chegar do clube, já devem estar vindo pra cá. - Lídia sorri e reparo que ela é muito bonita.
Os olhos dela têm uma tonalidade linda de castanho. É mais alta do que eu, porém uns dois ou três centímetros mais baixa que Victor. Está usando uma calça jeans e blusa branca. Os cabelos soltos escorrem pelas costas e são loiros, mas mais escuros que os de Maia. Eu diria que não são naturais, mas mesmo assim a cor combina muito com ela. Não está usando joias pesadas, a não ser um colar e brincos discretos, além da aliança. É uma mulher bastante simples e simpatizo com ela de cara.
- Querida, você gosta de qual sobremesa? Vou mandar preparar. - Ela coloca meu cabelo atrás da orelha, me fitando com um olhar maternal.
- Não sou difícil de agradar. Como de tudo. Minha mãe diz que sou uma formiguinha.
- Ela é das minhas, Victor. - A mulher sorri para ele.
- Eu disse que você ia gostar dela. - A mão de Victor se solta da minha para agarrar de leve minha cintura e me trazer para mais perto de si.
Amo esse brilho em seus olhos e fico contente por saber que ele fala de mim para as pessoas que fazem parte da sua vida.
- Aqui! Eles tão aqui! - A voz de Maia atravessa o cômodo chegando até nós.
Ela aparece à porta e corre até meu lado, em seguida um garoto surge também. O menino, de cabelos escuros bem diferentes dos da irmã, entra e caminha até nós. Ele estende a mão para mim e se apresenta como Pedro. É um garoto muito educado e percebo que também se dá bem com Victor. Conta para gente como ele e o pai ganharam de lavada do outro time no clube que frequentam e noto o contentamento em seus olhos quando Victor o elogia pelo bom desempenho.
Alguns minutos depois, outro homem aparece no cômodo. Ao olhar para a porta, eu o vejo se aproximar. Victor também percebe e, quando ele chega bem perto de nós, os dois se encaram e seus olhares conversam. Todos permanecem em silêncio até que um deles diga algo.
- Essa é a Clarice, Cló... - Victor pigarreia e se corrige. - Pai.
O homem parece surpreso pelo filho tê-lo chamado assim, algo que deveria ser tão normal já que foi ele quem o criou. Mas parece que as coisas por aqui são mais complicadas do que eu poderia imaginar.
- Então você é a famosa Clarice. - A voz dele é grave e seu aperto firme. Não consigo tirar meus olhos desse homem. Ele é simplesmente uma versão mais velha do Victor. Cada traço, as sobrancelhas, os olhos oceânicos, a cor indecisa dos cabelos, os lábios e até mesmo o ar de seriedade tudo me faz pensar que é desse jeito que Victor vai estar daqui a alguns anos. - É um prazer conhecer a namorada do meu filho.
- É um prazer conhecer o senhor - digo tentando não soar tão nervosa quanto estou me sentindo.
- O Vi é um sortudo, né, papis?! - Maia pisca para ele.
- Com certeza - ele concorda. Um sorriso se insinua em seus lábios, mas ele não chega a exibi-lo. Ainda assim há simpatia quando continua: - Sinta-se à vontade, Clarice.
Eu assinto, agradecida. Clóvis não me parece tão ruim, mas só o conheço há o quê? Dois ou três minutos? Não é possível traçar uma personalidade em tão pouco tempo.
- Tudo bem, pessoal, vamos deixar o Victor apresentar a casa a ela. - Lídia pisca para nós e pega o braço do esposo. - Agora meus meninos precisam tomar um banho e você também, Maia.
Os dois irmãos reclamam, mas apenas um olhar atravessado de Lídia é o suficiente para fazê-los se calarem e a obedecerem.
Eu e Victor somos deixados sozinhos e respiro aliviada por ter conseguido não estragar tudo. Acho que estou me saindo bem. Até agora os Walter Villela têm sido mais legais do que eu esperava e quero muito conhecer todo o resto, descobrir muito mais da vida do garoto que agora posso chamar de meu namorado.
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Oi, meus amores! Tudo bem? Espero que tenham gostado do capítulo de hoje. Eu não consegui preparar as homenagens por motivos de muito frio :'( Tá tenso o frio por aqui e por aí onde vocês estão?
Enfim, obrigada pelos votos, comentários e carinho de vocês!
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