Meu Erro | A. Serafim

A Autora:

Essa moça escolheu uma música difícil de encontrar (nem tem no Spotify), mas a música é linda. "Essa banda (The Avett Brothers) não é muito conhecida e é uma banda que eu amo, e queria que todos conhecessem. Eu poderia ter escolhido qualquer música deles, todas são lindas, mas essa em especial tem muito sentimento, me emociono cada vez que a escuto, tem muito de mim nela". A autora tem outras obras aqui no Wattpad como "Quem Sabe Amanhã", "A Primeira" e "Dez e Trinta e Um", vale a pena conhecer mais sobre essas histórias.

Sem mais demora, seguem a capa e o conto:

 — Éris? — pergunta o atendente.

— Sim. — respondo impaciente.

A mesma pergunta todas as vezes que entreguei currículo.

Meus pais queriam um nome diferente, então escolheram esse: Éris, a deusa da discórdia. Isso mesmo! Já não bastava ser um nome estranho, tinha que ser nome de mulher.

Eles esperavam uma menina, mas fazendo jus ao meu nome e contrariando todas as suas expectativas nasci menino.

Já deveria estar acostumado a esse nome aos 25 anos, mas ainda é chato quando as pessoas têm que repeti-lo.

— Tudo bem Éris, aguarde nosso contato. — diz o homem grisalho parecendo entediado.

— OK. Obrigado. — me despeço e saio da loja sem esperança nenhuma de receber uma ligação deles.

É o vigésimo currículo que entrego essa semana e ainda não fui chamado, mas então, quem contrataria um cara de 25 anos que só tem o ensino médio, nenhum emprego na carteira e como única experiência profissional tocar algumas músicas no pé sujo da esquina duas vezes por semana em troca de meia duzia de cervejas?

Por mim continuaria assim, mas, meus pais me deram um prazo de um mês para conseguir emprego ou eles me chutam pra fora de casa, e eu claro como não tenho onde cair morto concordei e agora passo as manhãs distribuindo currículo. Eu, claro, tentei argumentar dizendo que já tinha uma profissão, mas eles vieram com aquele papinho de música não enche barriga. A verdade é que a minha música enche, mas de um jeito que eles não imaginam.

Olho no meu relógio e solto um suspiro de alívio ao perceber que é quase meio dia. Minha odisséia acabou por hoje.

Decido então ir no bar do Léo. Ele sempre está lá essa hora limpando, com certeza deve ter algo pra forrar o meu estômago.

O sol queima minha cabeça de cabelos escuros cortados rente ao couro cabeludo e uma fina camada de suor começa a se formar embaixo da minha camisa preta. Algo me diz que calça jeans, camisa escura e tênis all star não são o ideal para horas de caminhada.

Esses tênis. Já deveria ter me livrado deles há muito tempo, eles carregam lembranças demais. Mas cada vez que tentei jogá-los fora algo me impedia.

Faltando um quarteirão para o bar algo chama minha atenção.

Cabelos castanhos, longos, cacheados, parecem...

Não deve ser, não pode ser.

Resolvo ignorar a voz da minha cabeça que me diz para esquecer e sigo a mulher que parece apressada carregando uma mochila e várias sacolas. Ela caminha durante alguns minutos e para olhando a vitrine de uma loja. Então eu vejo.

Não é ela. Nunca é. São apenas meus olhos me enganando de novo.

É impressionante como depois de tanto tempo eu ainda continuo procurando, continuo sendo masoquista.

Chego ao bar e bato na porta usando nossa batida secreta: três batidas rápidas, duas espaçadas e três rápidas novamente. Ele costuma deixar a porta trancada, fez a burrice de deixá-la aberta uma vez e teve seu estoque de bebidas saqueado enquanto lavava os banheiros.

Léo abre a porta e eu entro tentando me adaptar á escuridão do lugar. Ele deixa todas as luzes apagadas durante o dia, economia de energia, seu negócio não anda muito bem das pernas ultimamente. Entretanto a tinta escura das paredes e a falta de janela deixa o bar na penumbra.

— E ai, alguma sorte? — ele pergunta indo em direção ao balcão com um pano pendurado nos ombros.

— Nada. Ninguém me chamou ainda.

Pego uma das cadeiras que descansa em cima da mesa mais próxima do balcão e sento apoiando meu queixo nas costas da mesma.

— Você sabe que eu te ajudaria se não tivesse tão ferrado. — ele diz dando de ombros.

— Você já faz mais do que devia me deixando encher os ouvidos dos seus clientes com a minha música.

Léo ri.

Ele olha para mim, desvia o olhar limpando o balcão depois volta o olhar pra mim de novo.

— Que cara é essa? — pergunta.

— Que cara? — disfarço.

— Desiste Éri, eu te conheço. Que foi? — ele para o movimento circular e me encara esperando uma resposta.

Suspiro.

— Eu acho... Eu achei que tinha visto alguém... — digo.

— Ela? — indaga.

Apenas aceno com a cabeça. Ele sabe de quem estou falando teve que limpar meu vômito e me dar banhos gelados depois de incontáveis porres.

Eu a conheci - a mulher que me tirou do fundo do poço pra depois me empurrar de volta - há algum tempo atrás, para ser mais exato há 2 anos 32 dias e 5 horas. Isso mesmo, eu disse que sou masoquista.

Seria clichê se dissesse que a conheci em uma noite de chuva? Provavelmente sim. Mas não importa porque foi exatamente isso que aconteceu.

Era noite de sexta 21:00 ou 22:00, não lembro exatamente, já estava meio alto - nessa época eu sempre estava alto - e estava me encaminhando para mais uma festa onde ficaria bêbado o fim de semana inteiro e provavelmente não me lembraria de nada. Era essa a intenção, esquecer.

Caía o maior toró e eu tentava me abrigar da chuva embaixo dos toldos das lojas. Foi quando eu a vi.

Parada em frente a faculdade. Segurava uma mochila maior do que ela, aquele cabelo enorme ensopado, a franja caindo nos olhos, tão pequena, tão indefesa.

Até hoje não sei porquê fiz aquilo, mas por alguma razão dei o primeiro passo. Atravessei a rua e fui atrás dela.

É uma ótima noite pra caminhar, né? — brinco ao me aproximar.

Ela me olha por um segundo depois desvia o olhar me ignorando.

Tento de novo.

O que você faz a essa hora aqui sozinha no meio da chuva?

Ela demora um pouco, mas se vira pra mim.

Olha só, suas cantadas são horríveis, eu tive um péssimo dia e meu irmão está chegando. — ela grita tentando ser ouvida acima do barulho da chuva.

Eu apenas rio. Difícil. Gosto assim.

OK, então eu espero seu irmão chegar com você. — digo.

A rua está deserta, e esse bairro não é dos melhores. Posso não ser o melhor cara do mundo, mas nunca deixaria ela sozinha.

Ela abre a boca para falar algo, mas logo a fecha, permanecendo imóvel de olho na pista.

Alguns minutos se passam e nada do seu irmão chegar, desconfio seriamente de que era mentira.

Parece que o seu irmão não vem. — falo.

Claro que vem! Só está atrasado. — retruca.

Olha só, não é seguro ficar aqui a essa hora sozinha, e a chuva vai aumentar. — aproveitando a deixa e como se lesse meus pensamentos, a chuva começa a cair mais forte, os pingos pareciam agulha quando tocavam a pele. — Eu conheço um bar aqui perto, você pode esperar o seu irmão lá. Eu te levo. — ofereço.

Ela então se vira e me encara empertigada.

Nem te conheço! Quem me garante que você não vai me levar pra um beco e me matar? — ela desafia.

Olha ao redor. — abro meus braços. — A rua tá vazia, se eu quisesse mesmo fazer algo com você já teria feito.

Ela parece pensar por um segundo depois aceita.

Tudo bem. — ela concorda.

Levo ela por algumas ruas até chegar ao bar.

O lugar está quase vazio, imagino que a chuva tenha afugentado seus clientes restando apenas um casal envolvido em uma conversa calorosa em uma mesa no centro, alguns estudantes se protegendo da chuva e um bêbado desmaiado na mesa do canto.

Escolho uma mesa no canto oposto ao do bêbado e sento sendo seguido pela menina.

O dono do bar - acho que seu nome é Léo - está atrás do balcão distraido com seu celular.

Já vim aqui algumas vezes, mas estava tão bêbado que mal lembrava meu nome.

Então, qual seu nome? — pergunto para a mulher que mais parece uma menina, encolhida tentando se aquecer.

Paloma. E o seu?

Hesito. Essa é a hora que me perguntam a historia do meu nome e eu desconverso.

Éris. — solto.

Éris, a deusa da discórdia? — ela ri.

É um sorriso tímido, os cantos da sua boca pequena levantam levemente, seus olhos amendoados parecem brilhar. Eu devo ter tomado algo bem forte pra perceber isso.

Isso mesmo. Conhece? — descanso meus cotovelos em cima da mesa.

Ela acena veementemente.

Mitologia grega é uma das minhas paixões. — revela.

E pela primeira vez na vida eu me sinto feliz por ter esse nome bizarro.

Ah é? E quais são as suas outras paixões? — arrisco tentando meu melhor sorriso.

Ela gargalha.

Realmente você tem as piores cantadas.

Antes que eu possa me defender o cara do bar chega nos interrompendo.

Vão beber alguma coisa? — ele pergunta.

Uma coca. — responde Paloma.

Por alguma razão pela primeira vez em anos resolvo não beber. E eu não poderia imaginar que uma noite de sexta poderia ser tão interessante estando sóbrio.

O mesmo pra mim. — peço.

E então Paloma, o que você fazia na frente da faculdade á essa hora?

Eu estudo lá. — ela diz como se fosse óbvio.

Tá eu vou reformular minha pergunta. O que você fazia a essa hora sozinha na chuva?

O que você fazia na chuva? — ela me responde com outra pergunta.

Tá bem, ela não quer me dizer o que fazia lá, e eu tão pouco quero revelá-la que estava indo me embebedar e talvez se tivesse sorte morrer de coma alcoólico. Sendo assim mudo de assunto.

Você estuda o quê? — pergunto.

História. — ela diz sorrindo.

Claro, como não pensei nisso! — brinco.

Ela tira a mochila do colo e a coloca no chão.

Seu tênis! — ela levanta a cabeça rapidamente parecendo divertida.

A principio não entendo. O que tem o meu tênis? Sei que ele está meio sujo, mas isso é divertido?

É igual ao meu. — ela explica vendo a minha cara de quem não está entendendo nada.

Olho debaixo da mesa e realmente nossos tênis são iguais inclusive a cor. Não é nada surpreendente, All Star's são bem comuns, mas pra ela parece algo importante então entro no jogo.

É mesmo, será que significa algo?

O que eu descobri mais tarde naquela noite, foi que pra ela realmente significava algo. Ela também me confessou que não estava esperando seu irmão, e que o mesmo tinha morrido há um ano e aquele dia era o aniversário da morte dele.

Naquela noite após a chuva eu a levei pra casa. E a partir desse dia não nos separamos mais durante um ano. Até ela desaparecer.

— Cara, você tem que esquecer essa mulher. — Léo me desperta do meu devaneio. — Ela foi embora.

Suspiro.

— Quem me dera. Acredite, eu tentei. — resmungo.

Paloma mudou minha vida, em um dia eu era a maior decepção dos meus pais, o cara que não passava um dia sóbrio, e no outro eu estava me esforçando para fazer uma mulher de 22 anos, baixinha, viciada em mitos, sorrir.

Em um ano que eu estive com ela, me tornei um pouco menos perdedor, eu tentei ser melhor por ela, mas claro com meu histórico de merdas, isso não deu muito certo, e ela fugiu.

Um ano e eu fui do céu ao inferno.

— Você vai tocar hoje? — meu amigo muda de assunto.

Me levanto e vou até o balcão.

— Deixa eu ver minha agenda. — rio. Ele revira os olhos.

— Você tem comida ai? Tô morrendo de fome.

— Dá uma olhada na cozinha. — ele aponta para a porta em suas costas e volta á limpeza.

***

Mas eu não posso voltar

E eu não quero

Porque todos os meus erros

Eles me trouxeram para você. — termino a última música da noite e olho a multidão como sempre faço.

A maioria é de bêbados parcialmente desmaiados que mal se deram conta de que eu estava cantando, um casal dança no espaço entre a mesa e a parede parecendo alheios á sua volta e o resto são estudantes que acabaram de sair da faculdade e vieram atrás de uma cerveja barata.

Algumas palmas vêm do canto esquerdo, de uma mesa de meninas que parecem ter gostado do meu "show". Pena que nenhum daqueles rostos é o que eu estou procurando.

Não faço isso por dinheiro ou reconhecimento. Faço por ela.

Uma vez Paloma me ouviu cantando e gostou tanto que me pedia para cantar pra ela todos os dias.

Quando ela se foi eu fiquei com a música.

No começo cantava para lembrar dela, para mantê-la próximo á mim.

Depois comecei a tocar no bar, numa vã tentativa de atraí-la para o fundo do meu mar. Sua fixação por mitos me contagiou.

Se não por isso, que sirva ao menos como um pedido de perdão. Um sinal de que não a esqueci e de que ainda a amo.

Mas ela nunca voltou.

Mais de um ano e eu ainda á espero.

A esperança é cruel, estendeu sua mão como se fosse amiga como se me entendesse, e eu tolamente me segurei á ela como se fosse minha tábua de salvação.

Para quê?

Para esperar eternamente pelo nada, pelo vazio, pelo silêncio.

— Ei cara! — Léo me chama com uma cerveja na mão.

Ele sempre me salva de meus devaneios.

Apoio o violão no suporte e desço do palco improvisado me encaminhando para minha mesa habitual, aquela mesma do dia em que nos conhecemos.

Sento-me e pego a cerveja que meu amigo oferece.

— Parece que você tem novas fãs. — ele aponta para as meninas que me aplaudiram mais cedo.

Elas conversam animadas e ocasionalmente olham em minha direção. São três: duas morenas e uma loira.

A morena de costas para mim tem os cabelos castanhos longos, meu coração para por um segundo, mas logo em seguida ela se vira e eu noto as diferenças; a boca é muito grande, os olhos não são da mesma cor. Não é ela. Nunca é.

Tomo um gole da minha cerveja e ignoro as garotas. Depois de Paloma nunca mais fiquei com nenhuma mulher. Não que não tenha tentado, mas nunca consegui.

Léo voltou para o balcão e eu fiquei sozinho em meio as conversas e ao som alto que acaba de ser ligado.

De repente o ar se tornou espesso demais e eu precisava desesperadamente respirar.

Levanto rapidamente da cadeira deixando minha cerveja em cima da mesa e caminho a passos apressados em direção a saída.

O ar frio da noite chicoteia meu rosto assim que abro a porta. Inspiro profundamente.

Coloco a mão no bolso e ando até a calçada vazia. A rua esta silenciosa, esse bairro não é muito movimentado a noite.

Um movimento do outro lado da rua me chama a atenção. Uma ruiva anda apressadamente com uma mochila nas costas.

Ela me vê e para por um segundo. Um segundo que mais pareceu uma eternidade. Logo em seguida ela volta a caminhar quase correndo agora e eu me apresso em segui-la. Não pode ser. Depois de todo esse tempo.

Ela está prestes a virar a esquina quando eu a chamo.

— Paloma?!

Ela para e eu corro para alcançá-la.

É ela! Está diferente, seu cabelo está curto e vermelho, mas eu a reconheceria em qualquer lugar.

— Paloma. — sussurro quando a alcanço.

Ela está parada imóvel com os olhos fixos no chão.

Estendo a mão para tocá-la, mas ela se afasta.

— Paloma eu... eu... — não sei o que dizer. Tanto tempo esperando encontrá-la e eu não sei o que dizer.

Ela levanta os olhos me fitando. Eles também mudaram. Antes eram divertidos, atentos, agora parecem distantes, mortos.

Um soluço escapa da minha garganta.

O que eu fiz com ela?

— Você voltou. — digo.

Ela acena ainda calada. Permanecemos assim, nos fitando, nos examinando, matando a saudade apenas com o olhar.

Ela estende a mão em direção ao meu rosto, tocando minha bochecha. Uma lágrima cai em seu rosto.

— Senti tanto a sua falta. — ela diz com a voz baixa não passando de um sussurro.

Outro soluço escapa de minha garganta e dessa vez não me dou ao trabalho de me controlar e deixo as lágrimas caírem livremente á puxando pra um abraço. A abraço como se fosse a primeira e a última vez. O silêncio da noite é cortado pelo nosso choro.

Depois de um século e ao mesmo tempo alguns segundos ela se desvencilha dos meus braços se afastando.

— Eu não voltei para você Éris. — ela diz e meu coração se parte em um milhão de pedaços novamente.

Caio de joelhos. Eu ainda guardava a esperança de que ela voltasse pra mim.

— Paloma eu te amo. — solto.

— Eu sei, eu também te amo. — começo a sentir esperança novamente, mas ela continua. — Isso não significa que podemos ficar juntos. Nós somos destrutivos um para o outro Éris.

Começo a negar com a cabeça veementemente.

— Não, não, você não. Eu sou destrutivo, eu estraguei tudo, não você. Você me salvou. — suplico ainda de joelhos.

Ela suspira.

— Esse é o problema Éris, eu não quero ser sua salvação, eu nunca quis. Eu só queria ser sua, só isso. — ela diz. — Talvez a gente não tenha nascido pra ficar junto mesmo.

— Mas, Paloma, eu, nós... — me levanto.

— Eu te amo Éris, eu te amo tanto que chega a doer. Mas você precisa de algo que eu não posso te dar, você precisa de redenção.

— Quê? — pergunto confuso.

Ela se aproxima e segura minhas mãos.

— Você carrega uma culpa, não sei porquê, nunca perguntei eu sempre te respeitei. Mas o que eu sei é que você não se permite ser feliz, você sabota sua felicidade. Você só vai ser feliz quando exorcizar essa culpa, antes disso...

Começo a falar mas sou interrompido por Paloma que coloca um dedo em meus lábios me calando.

— Eu errei fugindo eu sei, mas eu não conseguia mais ver você se destruindo. Eu achei que a distância podia te fazer melhor, e realmente fez.

— Como assim? — solto suas mãos.

— Você parou de se drogar, parou de beber até desmaiar, parou de fazer burrada, começou a cantar no bar, tá até procurando emprego. — ela enumera nos dedos.

— Como você...? — tropeço para trás.

— Eu fui embora mas eu nunca te deixei, eu sempre te acompanhei.

Mais lágrimas escapam de meus olhos.

Ela sempre soube?

— Eu tô tão feliz com o seu progresso. Você se tornou uma pessoa melhor Éris.

— Não, não, eu não me tornei. — nego.

— Você pode não perceber agora, mas muita coisa mudou. — ela insiste. — Mas você ainda não tá pronto pra ser feliz. — ela afirma.

— Será que eu vou estar algum dia? — pergunto.

— Vai sim, e eu vou estar aqui esperando. — ela me abraça.

A agarro como se minha vida dependesse disso, inspiro seu perfume, sinto seu cabelo, sua pele macia.

Mais rápido do que eu queria ela se afasta e eu estudo seu rosto, guardo cada detalhe.

— Você ainda os têm? — ela pergunta apontando para meus tênis.

— Eu nunca consegui me desfazer deles. — suspiro.

Ela acena com um pequeno sorriso nos lábios.

Paloma remexe na mochila e tira de lá um pedaço de papel. Ela segura minha mão e coloca o papel nela. Em seguida se aproxima novamente e me beija.

Um beijo casto, leve, um sussurro, um até logo disfarçado de adeus.

— Me procura quando estiver pronto. — ela se afasta dando alguns passos para trás.

Quando já está a alguns metros de distância eu a chamo.

— Paloma!

Ela para e me olha por cima do ombro esperando.

— Eu cometi muitos erros na minha vida, mas sabe qual foi o maior deles? — não espero que ela responda. — Ter te perdido.

Ela acena com a cabeça e recomeça a andar logo sumindo ao virar a esquina.

E assim como um furacão Paloma passou por mim deixando um belo estrago ao me deixar novamente.

E eu? Eu sinto algo que há um tempo já não me permitia: esperança.

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