• Capítulo 3 •

- Eu não sabia que você morava por aqui. - ele me lança um olhar confuso, enquanto estende a mão, hesito um pouco, mas a pego.

- E eu não moro. - digo me levantando e olhando ao redor. Tinha várias casas chiques com cercado branco e a que eu estava na frente, não era muito diferente das demais. Beck continuava com o olhar confuso.

- Então, como veio parar aqui?

- Tive aquela fadiga novamente e acabei perdendo a noção do tempo. - ele suspira e vai até o meu skate. Merda, parece que perdeu uma das rodas.

- Olha, Everlee. - ele passa a mão no cabelo - Você tem que tomar cuidado, não pode sair por aí sentindo essas coisas. Quando ficar assim, beba água e expire e inspire o máximo que puder. Vai ajudar mais, do que sair de skate sem rumo.

- Eu sei... - falo baixo encarando o chão, logo os meus olhos sobem e param no meu joelho. Merda, só pode ser brincadeira. Ele olha para o mesmo lugar e se aproxima.

- Viu só! - aponta para o sangue que está saindo do meu joelho - Dessa vez foi seu joelho e na próxima? Será um braço? Sua morte? - um arrepio atravessa o meu corpo, ele está mesmo preocupado comigo ou é ilusão minha? Acredito que seja ilusão, a gente se conheceu hoje.

- Tomarei mais cuidado, Beck. Não se preocupe. - dou um sorriso fraco e pego o meu skate da sua mão - Acho melhor eu ir, pelo visto estou há três quarteirões da minha casa.

Sorrio novamente e começo a andar, será uma caminhada longa, ainda mais com esse joelho latejando. Maldita hora que fui inventar de fazer isso. Eu realmente estava fora de mim e se isso continuar acontecendo, será péssimo para mim. Já tinha passado três casas, quando ele apareceu tocando no meu ombro.

- Venha. - ele pega no meu pulso - Vamos cuidar disso e depois te levo para casa. Minha mãe acabou de fazer limonada, caso esteja com sede.

- Não precisa, Beck. - tiro sua mão do meu pulso, mas ele chama pelo seu toque. Droga.

- Eu insisto Everlee. Eu sei como isso é horrível, e ter alguém ao seu lado, é o ideal. - ele dá um sorriso sem dentes. Até que foi fofo.

Olho para ele e para o meu joelho, é melhor que nada Everlee. Suspiro e concordo, ele pega o meu pulso e me leva para sua casa. Ela é bem aconchegante, além de ter muitas paredes em tons pastéis.

Estou sentada numa das cadeiras da cozinha, esperando ele voltar da despensa com um kit de primeiros socorros. Passo os olhos pelo local e ao longe vejo um quadro de família, tem o Beck, uma garota que acredito que seja sua irmã, uma mulher que já vi nos jornais e um homem com uma cara nada boa. Não gostei dele.

- Anastasia Callahan. - diz a voz dele atrás de mim, olho para sua direção e vejo o mesmo segurando uma caixa vermelha e branca. É claro, essa mulher é a prefeita daqui, como eu esqueci seu nome?

- Desculpa. - ele ri e coloca uma cadeira em minha frente, se senta e coloca minha perna machucada em cima da sua.

- Por que? Por olhar uma foto exposta para olhos curiosos? - é a minha vez de rir. Quanto mais ele fala, mais o meu coração acelera e elimina o Benjamin Taylor.

- Sim e por esquecer o nome da sua mãe. Não sou muito ligada na política americana.

- Tudo bem. - ele ri - Nem eu. - rio e ele passa um paninho úmido para limpar a sujeira e o sangue. Mesmo ele estando concentrado, ele está muito gato fazendo isso. Meu Deus, Everlee. Se controla. Você acabou de ter um término, relaxa o coração aí.

Depois de limpar, ele passa um líquido com cheiro ruim que arde um pouco, passa uma pomada e enfaixa. Minha mãe irá surtar quando ver isso e o Peter também. Assim que ele dá a última volta, nossos olhos se encontram por alguns segundos, ele sorri e guarda as coisas na caixa. O que foi isso?

- Prontinho, fluente em francês. - ele se levanta e pega a caixa para guardar na despensa. Me levanto e arrumo as cadeiras. Ando até o quadro que eu olhava minutos atrás e de fato a Sierra era perfeita. Dou um sorriso e escuto seus passos voltando para cá.

- Sierra iria gostar de você, ela amava francês. - olho para o mesmo, que segurava dois copos de limonada, ele me entregou um e tomou um gole do seu. O observei e depois fiz o mesmo.

- Eu acho que também gostaria dela. - sorrio, enquanto a gente bebia num silêncio confortável. Depois que bebemos tudo, ele levou os copos até a pia e me levou até a porta da garagem, onde estava sua moto. Arregalei os olhos instantâneamente, nem morta que eu subo nela.

- O que foi? - ele me encara confuso - Não precisa ter medo da Âmbar.

- O nome da sua moto é Âmbar? - ele concorda e eu não consigo segurar o riso.

Ele levanta a sombrancelha e coloca as mãos na moto, como se estivesse tampando seus ouvidos.

- Pare de rir, a Âmbar ficará magoada. - fala baixo e aos poucos vou parando de rir. - Não liga para ela docinho, é apenas uma sem graça. - ele beija a moto. Não acredito que ele me chamou de sem graça.

- Eu não sou sem graça! - bato o pé no chão e ele me encara querendo rir da minha birra - Apenas zelo pelo o meio ambiente. Você deveria fazer o mesmo.

- Quem sabe daqui uns vinte anos? - reviro os olhos

- Daqui há vinte anos, podemos está mortos seu imbecil. E você será um dos culpados. - ele dá uma risada baixa e liga a moto

- Nossa! Que meda! - ele ironiza e começa a sair da frente da garagem. Meu olhar ainda está irritado quando ele chega na rua e coloca seu capacete e estende um para mim. Ele era preto com glitter roxo e tinha uma frase escrita em francês.

- Eu não vou subir nisso, Beck! - ele revira os olhos

- Sério que você prefere andar três quarteirões? Com a perna desse jeito?

- Sim, e o planeta irá me agradecer eternamente.

- Por que você preza tanto por um planeta que nos abriga e depois nos expulsa? Completamente sem sentido, fluente em francês. - bufo e me aproximo dele, apenas para ler a frase no capacete. Pego e leio.

- Volez comme des papillons !¹ - ele abre um sorriso quando escuta a frase, mas logo o retira do rosto. - Se eu for castigada por causa disso, eu venho do inferno puxar o seu pé.

- Allez!² - ele grita enquanto eu coloco o capacete. As pontas do meu cabelo já estão secas, mas a parte do couro cabeludo e um pouco do meio ainda está um pouco úmida. Me sento na garupa com uma mão em sua cintura e a outra segurando o skate e mantendo o meu capacete no braço.

Um barulho alto anuncia a partida e enquanto passamos pelas casas, vou lhe guiando até a minha casa. Por causa do vento, seu cheiro começa a invadir as minhas narinas e não acho isso ruim. Ele tem cheiro de laranja e canela, uma combinação peculiar, eu diria. Posso até está parecendo louca, mas esse é o meu novo aroma favorito.

Anastasia Callahan, como o mesmo me lembrou, é a prefeita da nossa amada São Francisco, Califórnia. E é uma das mais amadas pelo o que o jornal local indicou na semana passada. Ela é brasileira assim como o meu pai e ela nunca imaginou se tornar prefeita. O pai do Beck, David Callahan, apenas se casou com ela para a mesma ganhar o green card e pelo o que os sites de fofoca informou, ele mora em Los Angeles agora. Mas, sempre se mostram uma família feliz nos jornais mais famosos do país e do exterior.

Mesmo eu não sendo muito ligada na política americana, muita das vezes aparece notícias sobre os mesmos na minha timeline do Twitter ou feed do Instagram. E como uma boa Maria fifi, que eu sou. Não posso deixar de ler a matéria.

- Chegamos! - balanço a cabeça voltando para a realidade, nem tinha percebido que estava viajando tanto assim. Ele estaciona na minha porta e desliga a moto - Minha irmã amava essa frase, ela não via a hora de tatuar na costela. - ele sorri e eu desço da Âmbar com um olhar confuso.

- O que?

- A frase que você leu! - ele aponta para a mesma e eu solto um "ah" e concordo. - Se a gente soubesse que isso iria acontecer, tínhamos dado um jeito. - ele suspira e estende a mão para mim - Olha! - olho para onde ele está apontando com a outra mão - Ela sempre estará em mim.

Abro um sorriso ao ver sua prova de amor, ele tatuou o nome dela na mão com várias borboletas azuis ao redor. Essa é a coisa mais linda que eu já vi e me admira não ter percebido antes.

- Minha mãe fez nos calcanhares, no esquerdo o meu nome com uma moto e no direito o nome Sierra com uma borboleta azul. - concordo enquanto ele pega o capacete da minha mão.

- Uma linda prova de amor. Mesmo que você nunca tenha dito que a amava, o sentimento ficará eternamente em ti. - ele liga a Âmbar.

- A gente se vê amanhã, fluente em francês. - pisca e dá partido, sem nem esperar a minha resposta.

Balanço a cabeça e começo a caminhar para a entrada, digito o código e entro. Tiro o tênis no hall e ali mesmo deixo o meu skate quebrado e o capacete. O cheiro de lasanha chega até mim, o que significa que meu pai finalmente está aqui.

Miguel Mattos, vulgo, meu pai, é piloto de avião e de jatinhos particulares, e por causa disso, é raro vê-lo em casa. Principalmente nessa época do ano, onde os alunos riquinhos estão voltando de suas férias na Suécia ou Itália. Ele conheceu a minha mãe na primeira viagem que fez para fora do Brasil, ele precisou de um corte de cabelo e o salão dela era o único aberto às uma da madrugada. E boom, foi amor instantâneo, ele tentou levá-la para o Brasil várias e várias vezes, até que o amor venceu e ele que teve que ficar aqui.

E bom, até hoje ele tenta convencê-la de tentarem ter um menino, mas sem sucesso. E até que eu gosto do não da minha mãe, é maravilhoso ser filha única. Ter tudo para mim é a melhor coisa que existe, eu diria.

- Pai! - grito assim que o vejo de costas lavando alguma coisa na pia, ele se vira e abre os braços para mim.

- Você cresceu, cachinhos! - diz assim que me aperta bem em seus braços, como se estivesse com medo de me perder - Eu senti sua falta, filha.

- Eu também! - sorrio o apertando também, sentindo seu cheiro de lavanda.

- Como você está? - ele me afasta para me analisar e para os olhos no meu joelho. Merda. - O que aconteceu, princesa?

- Eu cai do meu skate, relaxa. - rio e desligo a torneira que ele deixou ligada.

- Tem certeza disso?

- É claro que tenho, pai. Você sabe que nunca mentiria sobre esse tipo de coisa. - começo a me aproximar do forno para sentir mais o cheiro da lasanha.

- É a sua favorita. - ele mostra o seu sorriso branco - Lasanha de Camarão. - lambo os beiços e seu sorriso se alarga.

- Você ficará até quando dessa vez? - falo indo até a banqueta da ilha, ele volta para a pia para terminar de lavar o que estava lavando antes deu chegar.

- Até o fim da semana. - ele bufa - Tenho uma viagem no sábado, da família Callahan e da família Cordélia, eles vão visitar uns políticos na Itália.

- Eu conheci os filhos deles hoje. - ele me encara - Não falei com as garotas, mas o Beck Callahan parece ser legal. - ele ri

- Legal? O Peter é legal, o Beck é o próprio diabo na terra. Ele tentou colocar fogo na escola, filha. - concordo, ele desliga a torneira e se aproxima da ilha - Você tem idade suficiente para escolher suas amizades, mas recomendo ficar longe de Beck Callahan. Pois não quero ouvir você chorando, quando ele for a sua ruína.

Minha ruína? Por que ele seria a minha ruína? Acredito que o meu pai tenha enlouquecido de vez, isso que dá passar mais tempo nas nuvens do que em terra firme.

Primeiro, eu nunca me apaixonaria por ele, então, não existe segundo, pois o mesmo nunca seria capaz de me destruir. Ou seria?

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1. Volez comme des papillons ! = Voe como borboletas!

2. Allez! = "Significado: Vamos! vamo que vamo! 'allez' é usada para animar a gente e ir para frente, por exemplo, quando você lidera as operações de um grupo ou simplesmente quer animar um time de esporte."

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