• Capítulo 2 •
Everlee! Você precisa ver isso.
Era o que dizia na mensagem que recebi da Amélia Cooper, colega de turma do meu namorado e uma das minhas amigas mais próxima. Eu estava na aula de francês e por sorte meu celular estava no silencioso. Um sentimento estranho e muito torbulento invadiu o meu coração, e fui obrigada a abrir a conversa. Quando vi a imagem que acompanhava a mensagem, quase caí dura no chão.
Meu namorado, Benjamin Taylor, estava quase beijando a minha segunda amiga próxima, Núbia Willians. A gente se conheceu na quinta série e eu nunca imaginei que ela faria isso comigo. Nos últimos anos, ela demonstrou ser uma amiga tão leal, e foi apenas eu virar as costas para isso acontecer. Se ela não tivesse reprovado, estaria aqui comigo agora.
- Fille de la mère!¹ - xinguei baixinho enquanto segurava o celular com bastante força, o meu vizinho do lado direito me olhou com uma sombrancelha erguida e voltou a olhar o próprio caderno.
Calma Everlee, não aja pela emoção. Respira fundo e relaxa, isso pode ser apenas um mal entendido. É isso, ele poderia está tirando um cisco do olho dela, nada de mais. Se controla, o Ben te ama e ele nunca iria te trair.
Solto uma risada quase histérica e todos me olham. Merda.
- Silence. S'il te plaît!² - falou a professora Lea Cartier, pela sua apresentação, ela nasceu em Marselha e foi transferida para cá com 24 anos, hoje tem 34. Mesmo estando aqui há dez anos, seu sotaque continua intacto e pelo o que a Stella disse, ela sempre conversa em francês para isso continuar.
- Oui!³ - dei um sorriso fraco e voltei os olhos para aquela imagem, que estava me fazendo ter ânsia. Eu preciso falar com ele, preciso resolver esse mal entendido. É um mal entendido, né?
Soltei um suspiro e grudei os olhos no relógio, eu não podia perder nenhum segundo e o sentimento que estava instalado no meu coração, me fazia agir assim. Eu estava na última aula e faltava apenas meia hora, as batidas no meu coração ficaram mais intensas e as minhas mãos estavam transbordando de suor. Que merda é essa?
A sala começou a ficar um pouco quente e a minha perna direita não parava de tremer. Olhei para os lados e um estalo forte atingiu minha cabeça, fazendo a minha visão ficar um pouco embaçada. Meu coração continuou afundando igual ao Titanic e eu não aguentava mais.
- Professor! - falei dando quase um pulo da cadeira - Posso ir ao banheiro? - eu sentia os olhares de todos sobre mim e isso só estava piorando a minha situação.
- Claro, senhorita Mattos. Mas não demo... - nem esperei ele terminar a frase e eu já estava correndo daquela sauna. O que está acontecendo comigo? Eu preciso ficar calma.
Corro para o banheiro feminino e entro em uma das cabines. Fecho a tampa do vaso sanitário e me sento ali. O que deu com você Everlee?
Começo a inspirar e expirar, e pouco a pouco, meu coração começa a voltar para a superfície. Jogo minha cabeça para atrás e encaro o teto branco, isso seria medo ou nervosismo? Eu sei que vou enfrentar o meu namorado daqui alguns minutos, mas eu não deveria está assim, não é nada de mais. Ele não é o primeiro e muito menos será o último. Ou será?
Ai meu Deus. Tantas dúvidas, tantos sentimentos, tantos pensamentos, eu sinto que vou morrer. Meu coração se altera outra vez e meu estômago se embrulha. Respira, Ever. Nada de vomitar.
- Everlee Mattos? - uma voz masculina da porta do banheiro, imagino, me chama - Você está aí?
Não. Não pode ser. É o Beck?
- Beck? - escuto um suspiro e uma porta fechar - O que você está fazendo aqui?
- Primeiro, você xingou na aula de francês e não lembro da senhorita Lea Cartier nos ensinar isso. - ele ri - O que significa que você é fluente. Segundo, você saiu correndo da sala e parecia que estava morrendo. - seus passos ficam próximo da minha cabine - Você está bem?
- Acho que sim. - falo baixo e escuto um barulho. Ele está mesmo sentando no chão do banheiro feminino. Aí meu Deus! Aqui é o banheiro feminino! - Beck, você não deveria está aqui! - grito e escuto uma risada rouca como resposta.
- Se você ficar quieta. Ninguém vai saber que eu estive aqui. - ele diz como se estivesse sorrindo. Esse garoto é estranho. Gostei dele. - Vai me contar o que aconteceu? Ou é errado eu perguntar?
A gente se conhece não têm nem vinte quatros horas, além do mais, nem temos intimidade suficiente para estarmos tendo essa conversa. Só que, eu nem sei o que foi aquilo, nunca me senti assim, é algo novo que tenho muito medo de descobrir.
- Eu não sei o que foi aquilo para falar a verdade. - dou uma risada que não reflete no meu olhar - Foi uma fadiga estranha, a sala começou a ficar pequena e o meu coração era o próprio Titanic. - ele ri, se eu estivesse em sua frente, teria recebido um tapa.
- Eu tive essa mesma fadiga depois que a minha irmã morreu.
- Meus pêsames. - ele dá um tapa na porta, como se não fosse grande coisa.
- Eu queria ter dito que amava ela, mas eu nunca consegui dizer isso para ninguém. - ele suspira e um sentimento de dó chega até mim - A Sierra era perfeita, tínhamos só cinco anos de diferença, aquela garotinha era tudo para mim. - ele suspira como se estivesse tirando um sorriso bobo do rosto.
- Como ela morreu? - me atrevo, não sei o motivo dele está me falando isso. Mas, deve está chegando em algum lugar.
- Câncer. - ele solta, as lágrimas invadem os meus olhos - Além dela ter nascido com síndrome de down, ela lutava contra o câncer, desde dos dez anos. O médico disse que ela só tinha quatro meses e ela conseguiu durar um ano. - suspira - Minha fadiga foi causada pelo TEPT⁴.
- O que seria isso?
- Transtorno de Estresse pós-traumático. - solto um "ah" e ele suspira pesadamente - Ela estava internada há quase dois dias, e no dia de sua morte, eu fugi da escola para ficar com ela, é como se eu soubesse que era o fim e realmente foi. Ela morreu olhando dentro dos meus olhos, eu travei enquanto ela tinha uma parada cardiorrespiratória e isso nunca saiu da minha mente.
- Eu realmente sinto muito pela a sua irmã. - eu desço do vaso sanitário e me sento com as costas na porta - Mas, onde você que chegar com isso?
- Quero dizer, que se você não tomar cuidado. Pode ficar como eu e você vai odiar ficar no vazio. - um barulho vêm do outro lado, como se ele estivesse levantando - Você brilha igual as estrelas e seria triste você perder essa luz. Experiência própria. - ele ri - Eu não sou um especialista nessa área psicológica, mas recomendaria você olhar os arquivos na sua mente e procurar saber qual deles é o motivo da sua fadiga.
Me levanto também e destranco a porta, logo o último sinal chega em nossos ouvidos. Mesmo dizendo aquelas palavras, seu olhar para mim é completamente vazio. Ele estava com as mãos no bolso e com a mochila nas costas.
- Espero que entenda seu problema logo, fluente em francês. - ele pisca e vai em direção da janela - Até amanhã. - ele sai pela mesma. Garoto maluco.
Saio do banheiro e o Peter já me esperava na porta com as minhas coisas. Ele me lança um olhar preocupado, mas não diz nada. Coloco a mochila nas costas e vou para o estacionamento, ele vêm logo atrás.
Tiramos os cadeados das bikes e ao longe vemos o Beck ir embora com uma moto que polui bastante o meio ambiente.
- Deus, elimine esse tipo de pessoa. Amém. - Peter diz enquanto encara o Beck com cara fechada. Ele é muito fofo irritado. - A Núbia Willians me mandou uma imagem por dm. - a gente se encara, ele tira o celular do bolso e me entrega. Sim, eu tenho a impressão digital no celular dele e ele tem no meu.
A ânsia de vômito fez questão de voltar para o meu estômago, assim que coloquei os olhos naquela imagem. Isso com certeza não é um mal entendido. Será que elas duas estão de conluio contra mim? Não tem cabimento isso.
Nessa segunda foto do dia, o meu querido namorado estava de mãos dadas com a Amélia Cooper. Tipo, nada de mais, já que eu também ando assim com o Peter. Mas, isso está muito estranho. Será que elas sabem das fotos? Ou fizeram isso por ciúmes de ambas?
Devolvo o celular para ele e monto na bicicleta, aquela sensação estranha retorna para o meu corpo e posso jurar que pedalei mais rápido que o próprio flash. Em menos de quinze minutos, já estava em casa. Guardei as bikes e fui correndo para o meu quarto, ainda bem que a minha mãe está trabalhando, seria trágico ela vê a minha versão ofegante cheia de tremedeira sem sentido.
Jogo a mochila num canto qualquer do quarto e corro para o banheiro. Preciso de um banho gelado para aliviar os músculos e principalmente a minha mente. Pensar pela emoção é uma péssima ideia. Ligo o chuveiro e deixo a água cair da cabeça aos pés, não pretendia lavar o cabelo, mas está na hora de refazer os meus cachos. Meu cabelo é preto com três dedos depois do ombro. Enquanto, passo o shampoo, começo a divagar um pouco.
Namoro com o Benjamin Taylor desde de junho do ano passado e vamos fazer nove meses, daqui treze dias. Ele nunca deu indício de traição, tudo entre nós sempre foi intenso demais, muito carinho, muito grude, muito amor, muitas brigas sem sentido - passamos praticamente dois meses só brigando, por causa de coisas infantis, e um dos maiores motivos, era a falta de coragem dele vir na minha casa, eu sempre imploro para ele vir e me fazer companhia, mas ele sempre diz que está ocupado e ele morar do outro lado da cidade, também não facilita. Só que mesmo assim, eu não consigo parar de amar ele, mesmo que me destrua.
No início do namoro, inventaram que eu traí ele com o Peter e não duvido nada que não foi a Amélia, ela sempre foi mais próxima que a Núbia. O Ben terminou comigo, mas voltamos depois de oito horas, ele me ligou chorando e eu também estava mal, tive febre por causa de um término. Depois dessa mentira, tentamos sempre trabalhar com a confiança, mas só eu era a sincera da situação, pelo o que as fotos indicam.
Desligo o chuveiro, seco o meu corpo e o meu cabelo, entro no quarto e visto um vestido amarelo rodado, amarelo sempre combina bastante com a minha pele morena. Coloco a minha playlist, me sento na frente do espelho e começo a finalizar o meu cabelo. Depois de uma hora, calço meu tênis branco, faço um delineado e desço para cozinha enviando uma mensagem para o meu namorado.
Eu: Está ocupado?
Abro a geladeira e encontro um prato cheio de brigadeiro, meu doce favorito. Minha mãe teve que aprender a fazer, por causa do meu pai. Puxo um dos banquinhos da ilha, pego uma colher e tiro um pouquinho.
- Hummm... Isso nunca enjoa. - sorrio saboreando esse doce incrível. Imediatamente uma resposta chega, até que enfim.
Ele: Sim, linda. Podemos conversar mais tarde?
Eu: Não! Precisamos conversar agora.
Ele: Eu não posso agora. Mas, você pode falar, amanhã ou mais tarde te respondo. Beijo, te amo.
Eu: Eu só preciso de uma simples resposta, coisa rápida. Por favor.
Dois minutos se transformam em cinco que viram vinte, que é quando ele resolve responder outra vez.
Ele: Tá bom.
Eu: Posso te ligar?
Ele: Melhor não, estou um pouco enrolado. Melhor continuarmos nas mensagens.
Eu: Está rolando alguma coisa entre você e as meninas?
Meia hora. Foi o tempo que ele demorou para responder e olha que ele visualizou na hora e ficou online a meia hora inteira.
Ele: Não, é claro que não. De onde você tirou isso?
Eu: Não minta para mim, você sabe que prometemos não mentir.
Ele: Eu não estou mentindo, amor. Você sabe que eu nunca me envolveria com as meninas, elas são suas amigas, sendo assim, é minhas amigas também. Elas são como irmãs para mim e você sabe muito bem disso.
Viu Everlee, ele não está te traindo, foi apenas a sua mente tentando te pregar uma peça idiota. Solto um suspiro de alívio e começo a digitar um pedido de desculpas, quando recebo uma captura de tela do Peter.
Ever, espero que esteja sentada.
Se eu não tinha vomitado antes, com certeza iria fazer isso agora. Essa captura de tela foi o meu próprio iceberg. Uma dor aguda surgiu no meu coração e a minha respiração começou a se alterar da pior forma possível, parecia que tinha algo me impedindo de respirar. Minha visão embaçou outra vez e olhar aquela imagem é quase uma tortura estilo jogos mortais.
Era uma captura do close friends da Núbia Willians no Instagram, acredito que ela adicionou o Peter para ver isso, ela sabia o quanto ele também era viciado nas redes sociais, mesmo que só tenha saído com ele algumas vezes no ano passado, já que ele não curtia muito a vibe dela. A foto foi tirada no seu quarto, eu conhecia aquela cama e aquele espelho de teto. Ela estava apenas de lingerie abraçada no Ben, que estava apenas de calça.
Eu estou rezando muito para não ter acontecido nada naquele quarto. No mesmo instante, suas palavras e o tempo foi se encaixando na minha cabeça. Puta merda.
Eu: Você é um péssimo mentiroso, deveria ser mais cuidadoso, amor.
Ele: Caramba, Everlee! Eu já disse que não estou mentindo para você.
Eu: Não está? E o que seria isso?
Envio as fotos recebida pela as duas, não tive coragem de enviar a foto do quarto. Eu quero que ele admita.
Ele: Isso são apenas fotos tiradas de contexto. Eu te amo e você sabe disso.
Eu: Inacreditável!
Ele: Aliás, quem te mandou isso Everlee?
Eu: Eu tenho olhos em todos os lugares, amor.
Eles: Acho que os seus olhos estão precisando de lente de contato.
Eu: Quer saber? Acho melhor a gente terminar.
Ele: Amém, já não era sem tempo.
Eu: Como é? Você acabou de dizer que me ama e mete essa?
Ele: Sim. Algum problema?
Eu espero nunca mais vê-lo na minha vida, não sei como pude me apaixonar por um garoto igual a ele. Acho que o meu estado emocional me fez entrar num relacionamento, eu tinha acabado de perder a minha tia e o Benjamin me apoiou mais que o meu ex namorado, que nem meus pêsames fez o favor de me enviar. Acredito que seja por isso, que sempre devemos está com a mente e o coração na mesma sintonia.
Talvez um trauma emocional seja o motivo da minha fadiga.
Eu era muito apegada a minha tia, ela era uma segunda mãe para mim e eu não tinha perdido nenhum familiar ainda. Acabou sendo um grande choque para mim, que ainda pensava na esperança de todos viverem para sempre. Mesmo que eu sempre veja mortes na tevê, nunca tinha sentido o impacto dela tão perto de mim. Num dia, ela estava sorrindo e no outro foi parar na UTI. E assim como o Beck, eu nunca pude dizer que a amava e também não pude me despedir dela.
Mas, dois meses depois da sua morte, eu sonhei com ela, era como se ela tivesse dado um jeito de me dar tchau, antes de atravessar a luz eterna. Só que, invés de sentir uma leveza, senti um peso no coração e é o mesmo que estou sentindo agora.
Eu: Muitos problemas, é como se você nunca tivesse me amado de verdade.
Ele: Talvez isso seja verdade. Porra, Everlee! Você já se olhou no espelho?
Eu: O que isso tem a ver?
Ele: Tem a ver, que você é gostosa e eu estava louco para te ter por inteiro, mas você nunca abriu as pernas para mim. Tive que arrumar outra pessoa para fazer isso.
E ele admite. Só que agora estou me sentindo muito pior.
Eu: O que você quer dizer com isso?
Ele: Para com esse teatro, Everlee. É claro que você viu a foto e sim aconteceu.
Eu: Seu cretino! Ela é uma das minhas únicas amigas.
Ele: Que pena, amor. Mas, às vezes somos obrigados a ciscar em outro terreiro, se é que me entende.
Eu: Você não presta Benjamin. Ainda bem, que nunca cedi aos seus encantos baratos. E além do mais, somos muitos jovens para fazer esse tipo de coisa.
Ele: Diga por você, querida. Agora que estamos conversados. A Núbia está me esperando para o segundo round.
Ele me bloqueou. Ótimo, me poupou de fazer o mesmo. Só que eu não acredito que ele teve a coragem de fazer isso comigo. Ele sempre falava que me amava, que a gente iria viver juntos para sempre. Pelo visto, era apenas um teatro para ganhar a minha confiança e traçar as minhas amigas, as únicas aliás.
Guardo o resto do brigadeiro na geladeira e jogo o meu celular com tudo na sala, sorte ou azar, ele bate na parede e cai na poltrona. Só teve uma pequena rachadura na película de vidro. Deixo o mesmo lá, pego o capacete e o skate e saio sem rumo.
Minha respiração ainda está alterada, assim como o meu coração. A velocidade que estou no skate, também não ajuda muito o meu corpo. Droga. Por que estou agindo assim? Ele é apenas um garoto que você namorou por oito meses e meio, seu primeiro relacionamento longo. Se recomponha, Everlee. Ele é um nada.
Mas e se o problema for eu? Todos os garotos que namorei até hoje, deram um jeito de se afastar de mim. E se eu nasci para ficar sozinha e se a minha alma gêmea cortou o fio vermelho que nos unia? E se...
Merda. A fadiga de novo. Meu estômago se revira novamente e sinto uma certa tontura, aos poucos meu corpo apresenta sinal de fraqueza, junto com a minha visão que está escurecendo pouco a pouco. Merda. Sinto minha cabeça gelar e isso não é um bom sinal.
Meu skate fica preso numa rachadura e como num filme, sou arremessada em câmera lenta para um gramado cheio de flores.
- Você está bem? - fala uma voz masculina se aproximando praticamente correndo, seus coturnos aparecem na minha visão e com dificuldade vou levantando os olhos - Fluente em francês?
- Beck?
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1. Fille de la mère = Filha da mãe
2. Silence. S'il te plaît = Silêncio. Por favor
3. Oui = Sim
4. Transtorno de Estresse pós-traumático ( TEPT ) = "O Transtorno de estresse pós-traumático ou TEPT é causado por um trauma ou evento terrível. Ou seja, a pessoa passa por momentos de confusão e medo, recordando os mesmos sentimentos que sentiu durante o ocorrido."
Fonte: https://zenklub-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/zenklub.com.br/blog/saude-bem-estar/ansiedade/?amp_gsa=1&_js_v=a9&usqp=mq331AQKKAFQArABIIACAw%3D%3D#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=16510775232346&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&share=https%3A%2F%2Fzenklub.com.br%2Fblog%2Fsaude-bem-estar%2Fansiedade%2F
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