• Capítulo 1 •
Ato 1: Primeiro ano do Ensino Médio!
- Filha? - é a primeira palavra que escuto ao abrir meus olhos exatamente seis e meia da manhã
- Sim? - respondo ainda me acostumando com a claridade que invade a minha janela
- Se continuar nessa lerdeza, irá se atrasar! - a voz estava alta, o que significava que a minha mãe já estava bem perto do meu quarto
Rapidamente pulo da cama e corro para o banheiro.
- Como irei me atrasar, se já estou no banho? - falei quando ouvi a porta do quarto se abrindo lentamente
- Claro, claro! - respondeu de uma forma como se não acreditasse em mim - O Peter já está te esperando! - soltei uma gargalhada
- Ainda são seis e meia!!! - gritei, enquanto removia as minhas roupas - Ou esse menino foi expulso de casa ou ele ama a sua comida.
- Acredito que seja a segunda opção! - riu - Não demore, Everlee! - falou próximo da porta do banheiro - Se não o Peter comerá todas as panquecas! - riu outra vez
- Eu o matarei se fizer isso! - gritei, ouvi ela rir novamente e com passos leves saiu do meu quarto, soltei um suspiro e comecei a fazer as minhas higienes.
Peter Kylo e eu, somos amigos desde quando posso me lembrar, ele é só dez centímetros mais alto que eu e tem um vício maluco de pintar o cabelo. Se continuar dessa forma, ficará careca em breve e não vejo a hora disso acontecer. Peter também é viciado em histórias em quadrinho e é apaixonado pela comida da minha mãe, vulgo, Ellen Mattos. Se ele pudesse, comeria aqui todos os dias.
Ele mora três casas depois da minha e sempre me acompanhou no caminho da escola, e esse ano não seria diferente, visto que vamos estudar no mesmo colégio pela primeira vez. E eu estou muito feliz. Mesmo tendo o ônibus escolar, sempre fomos de bicicleta ou skate. Acredito que o planeta nos agradece todos os dias.
Saio do banheiro e começo a vestir o meu uniforme, que é bem básico por sinal, é apenas uma saia com suspensório na cor preta com um cumprimento quase no joelho, uma blusa cinza de manga curta com o brasão da escola e um blazer vermelho com cinza também tendo o símbolo escolar, essas mesmas cores se encontram no brasão, que é uma fênix renascendo. Para completar o look, coloquei um meião branco e um Jordan tradicional.
Fiz um coque com uns fios soltos na frente, como o meu cabelo é cacheado ficou perfeito, e bom, a preguiça nos faz fazer esse tipo de penteado. Passei um batom e fiz um delineado de gatinho, coloquei uma argola, o colar de amizade com o Peter e desci para cozinha. Quanto mais os meus passos diminuíam, mais o cheiro de panqueca e bacon invadiam as minhas narinas.
- Hummm! - falei entrando na cozinha enquanto seguia o cheiro igual nos desenhos animados - Essas panquecas estão com um cheiro ótimo! - sorrio
- Concordo! - diz uma voz masculina que conheço muito bem, me viro para ele imediatamente - Bom dia, dorminhoca.
- Bom dia, Peter! Como está o tempo hoje? - ele dá um sorriso do tamanho do universo, ele ama quando faço perguntas sobre meteorologia, sim, ele também é viciado nisso.
- Perfeito! Às chances de chuva é menos que quinze porcento. - sorrio e me sento ao seu lado - Você está bonita! - o analiso e dou um sobressalto
- Que merda é essa? - digo enquanto olho para sua nova cor de cabelo, da última vez que o vi seu cabelo estava castanho claro, a cor natural dele, hoje está loiro com algumas partes em preto
- Escola nova! Cabelo novo! - ele pisca - Ever, nem está tão ruim assim... - fala num tom manhoso
- Se alguém fizer bullying com você, não venha chorar no meu ombro. - ele ri, enquanto pego um pouco de panqueca.
- Então crianças, ansiosos? - minha mãe pergunta limpando a mão num pano de prato - Essa é a primeira vez de vocês na mesma escola, será que vocês estão na mesma turma?
- É o mínimo! - digo depois de engolir - Não esperei onze anos para a gente acabar separados outra vez.
- Bom, não me importo muito! Poderei ficar com ela no intervalo e na volta para casa, acho que já é melhor que antes. - reviro os olhos e ele empurra o meu ombro - Sem drama, Ever! Não somos mais crianças.
- Para mim, vocês sempre serão... - minha mãe sorri e dá um beijo na testa de nós dois - Agora! - ela solta uma palma do nada - É melhor vocês irem, sabem que é longe.
- Sabemos, Tia! - fala se levantando e pegando a mochila de lado, bem intelectual, eu diria.
Agora sim posso analisá-lo melhor, ele está com uma calça cáqui preta dobradinha para fora, a blusa cinza de manga curta com o brasão e o blazer vermelho com cinza, ao contrário de mim, ele optou deixá-lo aberto, já eu deixei fechado com dois botões. Ele também está utilizando o colar de amizade, sua metade é o mar com a minha inicial, e a minha metade é o sol com a inicial dele. Clichê? Talvez.
E para finalizar, ele está usando um vans personalizado que ganhou de aniversário, tem um personagem de seus quadrinhos. Não faço a mínima ideia de qual seja, ele é apaixonado por tantos.
Peter tem cabelos ondulados e olhos castanhos claros, sua pele é clara e bronzeada. Um grande pedaço de perdição. Assim como eu, ele também tem quinze anos e sou mais velha por questão de cinco meses, faço aniversário em Junho e ele em Novembro.
- Até mais tarde, mãe! - me levanto e coloco a mochila nas costas.
- Até! - ela joga um beijo e a gente sai.
- Bicicleta? - pergunto assim que fecho a porta atrás de mim
- Pelo nosso atraso, é a melhor opção possível. - ele sorri e eu corro para abrir a garagem. A trava de segurança são seis dígitos mais a impressão digital.
- Se eu continuar perdendo a hora, teremos que usar o carro que o meu pai me deu. - ele revira os olhos enquanto pega a bike dele
- E agredir o planeta? - ele solta uma risada sarcástica - Só no dia da minha morte. - pego a minha bike e travo a garagem.
- Então, é melhor corrermos! - coloco os meus fones sem fio e ele também, ligamos na nossa playlist compartilhada e metemos bala.
Uns vinte minutos depois, já nos encontrávamos na frente da grandiosa Cullen High School, por sorte o trânsito estava ótimo e nossa aula só inicia sete e quarenta. Colocamos as bicicletas no lugar adequado e passamos o cadeado. Olhamos para a quantidade de alunos e fomos em busca das nossas salas, e destino ou não, caímos na mesma sala.
- Isso está mesmo acontecendo? - perguntei enquanto sentava em uma carteira no meio da sala.
- Sim! - respondeu animado enquanto se sentava no meu lado esquerdo ao lado da janela - Me beslica!
- O que?
- Só faz isso! - ele me dá o braço e eu faço - Aí! - ele passa a mão no local - Também não precisava ser tão forte, Ever
- Ué? Você que pediu! - ele revira os olhos e se prepara para devolver, quando uma garota surge em nossa frente
- Oi? - ela acena com um sorriso - Sou a Stella Alferton, desculpa vir falar com vocês, é que achei vocês simpáticos.
- E achou certo! - o Peter devolve o sorriso - Sou o Peter Kylo e ela é a Everlee Mattos, minha melhor amiga. - aceno
- É um prazer conhecê-la, Stella!
- O prazer é todo meu! - seu sorriso cresce e ela se senta na carteira em minha frente.
Stella Alferton é uma garota muito bonita, seus cabelos são lisos curtos e ruivos, seus olhos são azuis numa luz e cinzas em outra. É como se a gente precisasse mudar a perspectiva para compreender ela. Sua pele é clara, com algumas manchas que poderiam ser sardas. No pequeno período de tempo que conversamos, descobri que temos a mesma idade, além dela possuir duas mães que são brasileiras, Marina e Érika. A Stella nasceu aqui enquanto sua mãe Marina fazia um intercâmbio, seu pai sumiu no mundo e só depois de cinco anos de sumiço e um visto de trabalho, ela se casou com a Érika. Elas tem um relacionamento muito feliz e fazem de tudo pela Stella.
- Bom dia alunos! - falou um homem grisalho que aparenta está na casa do cinquenta anos - É muito bom sentir esse cheiro jovem que está com a mente fervilhando de criatividade. - ele sorri para todos - Meu nome é Jax O'brien, sou professor de matemática. Sei que é a pior matéria para o início do ano letivo, mas prometo ser muito gentil com todos e ter a paciência de uma linha. - alguém bate na porta - Entre! - diz mantendo o sorriso
- Desculpa a interrupção, Senhor O'brien! - fala um garoto de cabelo liso com um loiro que não é natural, como sei disso? Minha é cabeleireira.
- Beck Callahan! Que honra tê-lo aqui novamente! - o professor sorri de forma sarcástica, e o garoto revira os olhos - Sairá nunca daqui?
- Não posso, senhor! Sabe que amo sua companhia! - ele pisca e passa a mão no cabelo - Não tê-lo no segundo ano, é doloroso. - ele coloca mão no peito
- Largue de lorota e vá sentar! - ele aponta para o lugar no meu lado direito
- Sim, senhor! - ele sorri e vêm em direção do lugar, cada passo que ele dá acelera uma batida no meu coração. Que merda é essa?
Ele se senta sem olhar para mim e o professor inicia sua aula, minha sorte é que sou ótima em matemática, mas sou péssima em artes, que é a matéria que estou antes do intervalo.
- Merda! - murmura o garoto no meu lado direito, ele suspira e cutuca o meu braço - Teria um lápis para emprestar?
- O que? - me viro em sua direção - Não ouvi o que disse.
- Poderia me emprestar um lápis? - pergunta me mostrando seu lápis que se partiu em dois, como ele fez isso?
- Claro! - dou um meio sorriso e começo a mexer no meu estojo, pego um lápis com estampa de unicórnio e um pompom no topo - Serve? - dou uma risada, enquanto mostro para ele, com certeza foi o Peter que colocou no meu estojo, ele tem essa mania de comprar coisas frufru e colocar nas minhas coisas sem eu perceber.
Ele bufa
- Não tem outro?
- Infelizmente não! - ele revira os olhos
- Serve, obrigado senhorita... - faz um gesto para dizer o meu nome
- Everlee Mattos.
- Obrigado, senhorita Mattos. Sou o Beck Callahan, não precisa usar o meu sobrenome.
- Anotado! - falo num tom divertido, mas ele já voltou a desenhar me ignorando completamente.
Estico o meu corpo um pouco e o vejo desenhando um dragão tacando fogo na escola, solto uma risada e volto para o meu desenho, que era para ser o Cristo Redentor. Como é a primeira aula do ano, a professora pediu para que a gente desenhasse a coisa que mora em nossos corações ou que vive constantemente na nossa mente.
Eu visitei o Rio de janeiro com Dez anos e acabei me apaixonando pelo cristo. Pena que sou péssima desenhando, já o meu vizinho aqui, manda muito bem, mas vejo que ele quer destruir a escola, só que é difícil um dragão aparecer aqui, não estamos numa história de fantasia.
O sinal do intervalo toca e todos guardam os materiais. Beck coloca o lápis na minha mesa e sai colocando os fones de ouvido, agora que percebi que não está com o uniforme adequado. Ele está usando uma calça jogger preta, a camisa escolar, uma jaqueta jeans clara e um sapatênis branco com suas iniciais, imagino. Eu não sabia que podíamos usar apenas a blusa, não informaram isso na reunião da semana passada com nossos pais.
- Beck Callahan é famoso por aqui! - diz Stella olhando para a gente com um sorriso
- Como assim? - Peter pergunta
- Fiquei sabendo que ele tentou colocar fogo na escola ano passado, depois que foi reprovado. - meus olhos se arregalam
- Sério?
- Pode parecer loucura, mas é sério. - ela olha para a porta - Só que não é culpa dele, ele perdeu a irmã no ano passado e acabou se desligando do mundo. Ele já estava puto com o planeta, a reprovação foi apenas o combustível.
- Tadinho.
- Tadinho? O cara é louco! - Peter fala se levantando
- Ele é louco? O que você fez também não foi loucura? - ele suspira - Pois é, não o julgue.
- Desculpa, Ever. - ele pega na minha mão e eu dou um sorriso reconfortante para ele
- Que fofos! Sério que são só melhores amigos?
- Sim, Stella! A Ever tem namorado... - dou um sorriso
- Sério? Ele também estuda aqui? - fico sem graça
- Não, temos dois anos de diferença... Sou mais velha que ele.
- Entendo. - ela puxa a gente e enrola seus braços no nosso - Vamos comer, estou morrendo aqui. - a gente sorri em concordância e ela nos guia para o refeitório.
Acho que vou começar a trazer comida de casa, pois o refeitório fica após uma longa escadaria. No meu antigo colégio, tinha food trucks na frente e isso era um máximo. Mesmo eu gastando muito lá. O refeitório daqui tem mesas redondas, quadradas e em forma de triângulo. Depois de enfrentarmos uma longa fila, resolvemos nos acomodar na triangular, que tinha a quantidade certíssima de cadeiras.
- Quem são eles? - perguntei assim que sentei na ponta direita do triângulo, meus olhos estavam no Beck e nas pessoas que o cercava.
- Eles estão na nossa classe, pelo menos três deles. - responde Peter e eu o olho confusa
- Sério?
- Ah! Qual é Ever?
- Eu não prestei muita atenção nos outros alunos... - falei baixo
- Mas no Beck Callahan, você prestou o suficiente. - diz seco enquanto bebe um pouco do suco de maracujá que pegou.
- Ciúmes, Pet? - ergo uma sombrancelha e ele dá um sorriso de lado.
- Jamais, Ever. - pisca
- Ok... - fala Stella - Isso foi muito estranho. - ela olha para eles - Aqueles são Josh e Gregory, os melhores amigos do Beck. Josh está no segundo ano e Gregory está na nossa turma, mas ele sempre fica calado e no fundo da sala.
Uau. Como é possível essa menina saber tanto? Será que ela gosta dele ou é uma stalker?
Analiso o Josh, e ele é muito gato. Seus olhos parecem ser castanho claro e mesmo sua cabeça estando raspada, seus cabelos tem um tom claro, como se fosse loiro, sua pele é clara, mas bronzeada. Já o Gregory, é negro e seus olhos aparentemente são pretos, seu cabelo é encaracolado e castanho. Ambos os garotos são gatos, mas o Beck tem um raio que está mexendo com o meu coração e isso não é certo. Visto que tenho namorado e não deveria está mexida.
- E as meninas? - pergunta Peter
- Ah! - ela sorri - São as gêmeas Cordélia. Mia Cordélia e Margot Cordélia. - nós dois as encaramos e minha mente dá uma pequena bugada, então ela continua - Sei que é difícil distinguir agora, mas com o tempo melhora. - ela sorri e continua comendo.
Sim, elas eram idênticas e isso pode acabar sendo um problema na minha vida. Sua pele era clara e bronzeada, seus cabelos eram longos e castanhos, assim como seus olhos. A única coisa que podia distinguir elas, eram as sardas, que uma tinha e a outra não, e seus estilos também. Uma vestia a farda escolar com uma saia verde quadriculada, um salto baixo e uma presilha de borboleta azul. Já a outra, usava uma calça preta, a blusa escolar, uma jaqueta de couro e um coturno.
- Quem é quem? - pergunto quase terminando meu lanche, Stella me olha e sorri. Essa garota é estranha.
- Mia Cordélia é a que parece uma patricinha dos anos noventa, e Margot Cordélia é a rebelde, digamos assim. - ela ri
- Como você sabe tanto sobre essas pessoas? - ela me dá um sorriso sombrio.
- Vantagens de ter uma mãe que trabalha na secretária. - ela lança um olhar quase arrogante - Minha mãe Érika, sabe muito e ela sempre me conta tudo, como se fosse um relatório.
- No caso, você seria a chefe dela? - Peter pergunta num tom brincalhão, ela pensa e responde com um sorriso
- Acho que sim.
- Isso é bem bizarro da parte de vocês. - digo segurando uma risada - Vocês são bem Maria fifi. - solto a risada e eles me encaram
- Maria fifi? - Peter pergunta no seu português fajuto, ele tem muita dificuldade com esse idioma - O que isso significa?
- Sim? Não conheço essa expressão. - fala Stella
- Suas mães são mesmo do Brasil? - brinco
- Fazem uns anos que elas não tem notícias de lá... - diz baixo
- Entendo. Significa que sua mãe é fofoqueira. - ela solta um "ah" e começa a rir.
- Qual o problema de ser fofoqueira? - ela pergunta entre as risadas
- Problema nenhum, mas é melhor controlar a língua. Apenas isso. - ela para de rir e passa um zíper invisível nos lábios.
- Tá bom, mamãe. - ela fala em português e volta a rir, o Peter apenas revira os olhos por não entender.
A gente continua conversando, mas logo o sinal toca e temos que voltar para a sala. E de fato as gêmeas e o Gregory eram da minha turma. Como eu fiquei tão cega? Será que o Beck Callahan também está afetando a minha visão? Isso não é um bom sinal.
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