Capítulo 3 - Vamos dançar!

3

OBSERVEI O AMBIENTE, VENDO SE ALGUÉM reparou naquela cena. Suspirei.

—Fica aí, não se mexe. —eu falei para Thomas, que apenas me lançou um olhar confuso.

Fui até o Josh e Rose.

—O Thomas está muito bêbado ali do lado. —falei para a Rose. Ela olhou para o Thomas com os olhos arregalados, logo depois lança o olhar para o vômito dele e fez uma expressão de nojo.

—Caramba, então ele some duas semanas e é assim que o encontramos? Ridículo. —ela revirou os olhos— Vamos levar ele para  o banheiro. —ela disse para o Josh, pegando minha bolsa e dela. Ele assentiu.

—Mas onde ele está? —Josh perguntou com o cenho franzido.

—Naque... Ah meu Deus. —iria apontar para a cadeira que o Thomas estava, mas lá não tinha nada, apenas duas notas de cem dólares no balcão. Por que ele deu tudo isso? Revirei os olhos. Fui até o lugar dele, evitando o vômito. Peguei uma das notas de cem e guardei no bolso, depois iria o devolver.

O procurei com os olhos, agora Josh e Rosemary estão ao meu lado.

—Ali. —Josh apontou para a pista. Ele e a garota loira de antes estão lá se esfregando enquanto dançam.

—Fala sério! —Rose exclamou.

Fui em direção ao Thomas. Antes que eu chegasse, ele vomitou no vestido da garota loira. Parei no mesmo lugar observando a cena.

—Eu não acredito que você fez isso! —ela berrou— ESSE VESTIDO CUSTOU UMA FORTUNA! NOJENTO! —ela gritou histérica, saindo de perto de perto dele, provavelmente indo ao banheiro.

Voltei a olhar para Thomas, que observa o vômito que caiu no chão confuso. Depois deu de ombros e voltou a dançar.

Fiquei de frente para ele.

—Thomas, vamos... AH! —exclamei quando ele me puxou bruscamente pelo braço, me fazendo bater fortemente em seu tronco. Não doeu, mas me surpreendeu. Por sorte ele me puxou na direção contrária ao vômito. Algumas pessoas se afastaram com nojo.

—Vamos dançar, coisa inglesa, vamos dançar! —ele disse animado.

—Não Thomas, vamos–

Shhh! Para de falar, você reclama muito!

Ele começou a se mexer. Olhei para trás enquanto fico estática no lugar, com os braços soltos do lado do meu corpo, e vi Josh vindo em minha direção, enquanto Rose observa a cena em um misto de nojo e divertimento. Não sei se isso é possível.

Josh tocou no ombro do Thomas, que o olhou assustado. Thomas ameaçou vomitar de novo, eu e Josh rapidamente nos afastamos.

—Acho que foi alarme falso! —ele disse rindo.

Josh e eu nos olhamos, soltando um suspiro. Ele passou o braço de Thomas por cima dos ombros dele próprio, o guiando para o que eu acredito ser o banheiro.

—Rose, me dá minha bolsa, eu o levo para casa.

—O que? Não! Essa noite é nossa, amiga.

—Fique aqui com o Josh. Aproveite com ele, você disse que quase não tem tempo juntos por conta da loja. Eu posso ajudar o Thomas, já lidei com bêbados antes.

Ela pareceu pensar.

—Tudo bem, mas se precisar de ajuda, pode me chamar. Pode ser? Vou chamar o Erickzinho. —Rose disse— Obrigada amiga. —ela me deu um abraço rápido e me entregou minha bolsa.

Fui em direção ao banheiro masculino, torcendo para que ninguém me visse. Assim que cheguei lá, me espantei com o banheiro surpreendentemente limpo. Logo avistei uma cabine aberta. Josh está na porta com os braços cruzados. Cheguei mais perto e vi Thomas vomitando com o cabelo comprido preso em um rabinho de cavalo. Josh me olhou com um olhar entediado.

—Pode ir. Eu cuido dele, Rose vai chamar o Erick.

—Pode deixar. Ele veio de carro. —ele levantou as chaves do carro do Thomas— Vamos pelo menos levá-lo até o carro. Você sabe dirigir?

Apenas assenti. Ele saiu do banheiro e disse que vai ficar na porta, vigiando para ver se ninguém me encontraria ali.

Ouvi o barulho da descarga. Thomas se levantou de repente. Fiquei em alerta para ver se ele faria alguma coisa.

—Porra. —foi tudo o que ele disse antes de ir cambaleando até a pia, lavar a boca e lavar o rosto—Estou mal mesmo. —ele disse arrastado, antes de começar a rir.

Soltei um suspiro cansado.

—Daqui a pouco você vai ficar sem ar, de tanto que está suspirando. —ele disse embolado, mas com humor, se apoiando na pia para ficar de pé. Assim que ele pôs as mãos sob o mármore, minha bolsa vibrou, indicando que recebi uma mensagem.

Peguei o celular vendo a mensagem da Rose, dizendo que Erick já chegou se eu queria ajuda para levar Thomas. Neguei a ajuda.

Joguei o celular na bolsa de novo, e olhei para Thomas. Ele continua rindo sozinho, mas também está resmungando.

—Olha Thomas, eu perdi minha noite divertida para cuidar de você, então, por favor, colabora. Eu sei que você não gosta muito de mim e que nenhuma das nossas conversas acabaram em algo que não fosse briga, mas me ajuda a te ajudar. Vamos lá pra fora, eu vou te levar pra sua casa.

Ele não disse nada, apenas se aproximou de mim com passos cambaleantes e jogou o braço cima dos meus ombros.

—Sim senhora. —ele disse batendo continência.

Segurei a mão do braço que está por cima do meu ombro. A mão dele é grande e um pouco áspera. Passei meu outro braço pela cintura dele e começamos a andar pra fora do banheiro.

Josh me encontrou na porta e passou o outro braço de Thomas por cima de seus próprios ombros, aliviando um pouco o peso do ruivo.

Aqueles foram os minutos mais longos da minha vida até agora. Mesmo com a ajuda de Josh, Thomas é pesado e muitas vezes tem que se apoiar em mim, por conta da tontura. Ele é uns bons centímetros mais alto que eu, fora que tem braços fortes. Quase gritei de alívio quando conseguimos chegar na porta da boate.

Assim que saímos de lá de dentro, Erick veio para perto de nós e passou o braço que estava por cima dos meus ombros, para cima dos ombros dele próprio. Depois fez o mesmo com Josh. Senti uma leve felicidade ao me livrar do peso do seu corpo.

Rose colocou uma mão no meu ombro. Sorri fraco— O Josh até o levaria, mas ele bebeu álcool. Consegue lidar com ele? —apontou para o Thomas— O Erick vai junto.

—Vou sim, eu sei dirigir. Vamos adiar essa nossa noite. Aproveite com o Josh.

Dei um abraço nela e nos despedimos. Dei um aperto de mãos no Josh, que aproveitou para me dar a chave do carro do Thomas.

Erick ainda tem ele pendurado em si, como se nem estivesse sentindo. Inclusive, Thomas é um pouco mais alto que ele.

Ele me guiou até o carro. Destranquei as portas. O carro é uma caminhonete vermelha. Tirei a conclusão de que vermelho é a cor preferida dele.

Me senti idiota pela dedução inútil. Erick colocou Thomas no banco de trás e foi pra frente ajustar o GPS para a casa do ruivo. Depois ele entrou no banco de trás com o ele, e eu no banco do motorista. Liguei o carro me sentido estranha e inquieta. Coloquei o cinto e comecei a dirigir pelo caminho que o GPS está me guiando.

—Você sabia sobre essas lu–

—Sim. —Erick disse, sem me deixar completar. Thomas já apagou em seu ombro.

Suspirei.

Ele sabe que estou falando dessas lutas.

—Por que você deixa ele fazer isso? —perguntei.

—Cada um tem uma maneira de descontar sua raiva, Ally. —Erick disse.

—Mas isso é perigoso!

—Ele sabe disso tanto quanto você e eu. —ele suspirou— Ele não correria esse risco se não soubesse. Não vou tirar dele a única forma de se expressar.

—Você é o melhor amigo dele, Erick! Não deveria deixá-lo fazer isso!

Erick suspirou novamente.

—O O'brian é uma pessoa muito revoltada com a vida, tem muita mágoa dentro de si. Ele já passou por muitas coisas. Se um dia ele quiser te contar, ele vai. Mas não o julgue apenas pelo o que ele faz. As pessoas não são apenas o que elas fazem. Para você pode ser estranho, mas para ele é só uma forma de escape. Afinal, que atire a primeira quem nunca precisou descontar em algo.

Fiquei pensativa com suas palavras. Ele tem razão. Apesar de ser tranquila, eu tenho muitos motivos para me revoltar com a vida, mas não faço isso. Também sempre mostro estar sorrindo, mas me sinto triste por dentro. Não é justo com ele. A diferença é que eu apenas consigo lidar com a dor melhor do que ele, mas não é justo julgar as pessoas pelas atitudes.

E, realmente, todos nós precisamos fazer coisas para esquecer da vida real. Dos problemas. Da mágoa.

Apenas continuamos o caminho em silêncio até chegarmos em frente a um prédio. Estacionei o carro no meio fio e saímos. Thomas está meio dormindo e meio acordado, balbuciando coisas incompreensíveis.

Erick disse que eu poderia voltar para casa, mas discordei e disse que o ajudaria a lidar com o Thomas, tenho bastante tempo antes de ir para casa, não são nem nove da noite.

—Isso acontece sempre? —perguntei, apontando para Thomas que está com a cabeça apoiada no espelho do elevador, sendo amparado por Erick, enquanto estamos  subindo os andares do prédio dele. Ele balbucia coisas como "você é um ótimo amigo", ou "eu te amo cara", ou até mesmo "eu acho que sou uma tartaruga ninja ruiva". Ri do último.

—Só quando ele está muito revoltado com algo. —ele disse, por fim.

Chegamos ao andar dele. Erick me pediu para tirar a carteira do bolso de trás do Thomas. Peguei as chaves e entreguei para Erick, aproveitei para devolver os cem dólares que eu peguei na boate.

Entramos no apartamento dele. Erick o guiou até o sofá, Thomas não hesitou em se jogar ali e começar a roncar. Erick foi até a porta do apartamento para trancá-la.

—Até que ele não está tão mal. —Erick disse, olhando o amigo roncando no sofá. Arregalei os olhos— Pode acreditar, ele fica pior que isso as vezes.

Ele suspirou.

—Vem, vamos tirar a blusa dele. Nada que um banho de água gelada, um café bem forte e uma noite de sono não resolvam.

Ajudei Erick a tirar a blusa do Thomas. Tentei não focar no abdômen não muito definido dele. Erick anunciou que iria passar um café antes de colocar ele no banho. Observei Thomas dormindo com os lábios entreabertos. Me ajoelhei ao lado do sofá, encarando seu rosto machucado. Me assustei quando ele pegou minha cabeça e a encostou no próprio peito. Erick olhou a cena da cozinha, que é americana. Ele apoiou os braços na ilha, nos olhando. O encarei esperando alguma resposta, mas ele apenas deu de ombros com um sorriso mínimo, como se fosse para eu não me preocupar com isso, e logo  depois se virou de costas, voltando a passar o café.

Thomas empurrou minha cabeça um pouco esquerda, me fazendo conseguir ouvir seu coração. O olhei se entender, e me assustei ao vê-lo me encarando de volta, com a expressão séria.

Ele pôs uma mão nos meus cabelos e começou a acariciar eles.

—Você conseguiu ouvir? —ele falou, se referindo as batidas do próprio coração. Assenti— Eu não sou um monstro, Ally... Eu não sou um monstro. —ele disse antes de fechar os olhos de novo, acredito que ele tenha dormido, já que também parou o cafuné gostoso.

Me desencostei do seu peito, o observando roncar novamente. Agora ele dormiu de verdade. Me pergunto se ele ouviu minha conversa com o Erick no carro. Me sinto um pouco perturbada com suas palavras, mas vou deixar isso de lado por hora.

De repente senti uma lambida na minha perna. Olhei para trás e vi Jack abanando o rabo.

—Oi, garotão! —eu disse me abaixando e fazendo carinho no cachorro enorme, que agora está com os pelos mais curtos.

—Você já conhece o Jack? —Erick perguntou com o cenho franzido, saindo da cozinha— Ele nem latiu para você.

—Pois é, nossa amizade começou quando ele me derrubou na praça. —ri lembrando da cena. Ele lambeu minhas mãos— Ele veio direto pra mim após se soltar do Thomas, eu imagino. Foi um pouco agressivo, mas que boa amizade não começa com histórias engraçadas? —dei de ombros.

Erick riu, concordando.

—Eu vou colocar o O'brian debaixo da água fria até ele acordar. —Erick anunciou, levantando Thomas pelo braço. Ele acordou um pouco e ajudou Erick a levantá-lo com mais facilidade— Pode pôr uma xícara de café para ele? Já está pronto, e não põe nada de açúcar. —ele pediu. Concordei com a cabeça, e Erick foi em direção ao corredor do apartamento, sumindo em uma das portas.

Me levantei e dessa vez comecei a reparar no lugar. É bem simples, e incrivelmente arrumado. Não tem nada espalhado por aí, acho que esperava ver algo completamente desorganizado, mas não foi o que eu encontrei. Olhei para a porta de vidro perto do sofá, que dá para uma pequena sacada.

A Lua brilha bonita. A observei com uma emoção desconhecida. Como um déjà-vu.

O momento durou pouco, já que me assustei com o barulho que Thomas fez no banheiro, quase como um grito contido. Ia correndo pra lá, mas parei bruscamente quando Erick apareceu na porta no banheiro com uma expressão tranquila.

—Está tudo bem, ele só não queria entrar na água gelada.

Assenti e finalmente fui para a cozinha. Jack está dormindo no sofá com a barriga pra cima e a língua pra fora. Sorri com a cena.

Ele e Thomas dormem bem rápido, aparentemente.

Finalmente enchi a xícara com o café forte e quente que Erick fez. Assim como ele pediu, não pus açúcar. Coloquei a xícara na ilha e esperei por um tempo.

Recebi uma mensagem de Rose perguntando se está tudo bem. Respondi que eu e Erick estamos cuidando dele, e que logo Thomas ficará bem. Ela agradeceu por eu não ter me importado dela ter ficado lá e disse para tentarmos ir de novo outro dia. Concordei com ela e a desejei uma noite divertida.

Depois de vários minutos Erick apareceu. Thomas está apenas de samba canção e uma cueca por baixo, sei disso pois consigo ver a barra dela aparecendo. Ele resmunga algumas coisas, mas já está conseguindo andar sozinho. A expressão dele é brava. Sem nem olhar para mim, ele pega a xícara de café e toma tudo de uma vez, fazendo uma careta.

Porra. —ele disse tendo um espasmo— Essa merda tá forte pra caralho.

Eu e Erick o olhamos.

Thomas se recompôs e foi até Erick, batendo em sua mão e dando tapinhas em suas costas, em um abraço "masculino".

—Valeu por me ajudar, irmão. Fico te devendo essa.

Erick iria falar algo, mas Thomas se virou para mim. Me desencostei da ilha da cozinha e fui para perto dele. Evitei ao máximo olhar algumas gotas de água escorrendo pelo seu corpo, assim como seu cabelo um pouco grande, agora totalmente solto, pingando.

Erick deu um último tchau e saiu pela porta. Quando eu ia fazer o mesmo, após ter pego minha bolsa, Thomas pegou gentilmente meu braço, me trazendo para um abraço. Fiquei sem reação enquanto ele passava os braços por cima dos meus ombros. Senti inclusive algumas gotas de água me molhando.

Ele se abaixou mais, susurrando em meu ouvido.

—Obrigado e desculpe. Por tudo. —foi tudo o que ele disse antes de se afastar um pouco, mas sem tirar os braços dos meus ombros.

Ficamos nos encarando por algum tempo, bem perto um do outro.

Eu não posso negar que esse garoto é tão bonito que chega a ser um pecado. Meu coração foi acelerando aos poucos. Vi seu olhar vacilar para minha boca. Acabei fazendo o mesmo.

Thomas começou a se aproximar e eu não fiz nada para impedir. Meus olhos começaram a se fechar e eu consegui ouvir meu coração pelos ouvidos. Nossos lábios roçaram levemente. A maciez de seus lábios fez com que eu me arrepiasse. Thomas fechou os olhos completamente e eu estava fazendo o mesmo.

Nos distanciamos rapidamente ao ouvir batidas leves na porta. Erick entrou, mas acho que não viu o que aconteceu.

Ou melhor, o que quase aconteceu.

—Vamos? —ele perguntou calmamente. Acenei com a cabeça e dei um tchau baixo para Thomas, antes de sairmos. Dei uma última olhada para o ruivo. Ele bagunçou um pouco próprio cabelo e sorriu de canto para mim, antes da porta se fechar completamente.

Fomos até o elevador. Eu estou com as penas trêmulas.

O que. foi. isso?!

Eu ia mesmo beijar Thomas O'brian?

Não tem nem um mês que esse garoto parecia me odiar, e agora tentou me beijar e eu não fiz nada para impedir.

—Ele vai ficar bem? —perguntei para Erick, após me acalmar um pouco.

—Vai. As vezes isso acontece. —Erick disse simplesmente. Ele é um garoto de poucas palavras.

Fomos até a portaria e o Erick disse que iria pedir um táxi pra mim. Ele vai dormir aqui, segundo ele, para "ficar de olho" no Thomas. Assim que ele pediu, me olhou.

—Ele vai chegar em alguns minutos.

Ficamos em silêncio. Erick se sentou em um dos bancos da recepção.

Me aproximei.

—Me desculpa pelo o que eu disse no carro. Você tem razão, não podemos julgar as pessoas pelas atitudes.

Ele me encarou surpreso, mas parece feliz pelo meu pedido de desculpas. Ele assentiu levemente.

Me sentei no banco que tem ao seu lado, e deitei minha cabeça no encosto da cadeira confortável.

—Há quanto tempo vocês são amigos? —perguntei.

Ele parou para pensar um pouco e começou a contar algo nos dedos.

—Oito anos.

—Tudo isso? —exclamei surpresa— Como se conheceram? —quis saber.

Ele parou para pensar um pouco.

—Acho que foi na praça da nossa antiga cidade. Isso, foi isso mesmo. Thomas estava brincando sozinho na praça e eu fiquei com pena. Eu só tinha nove anos, perto de fazer dez, e achava que não era permitido crianças ficarem sozinhas. —ele riu da própria fala. Ri junto— Cheguei perto dele e começamos a conversar. A partir daí, nos encontrávamos todos os dias na praça. Somos amigos desde então.

—Uau. —foi o que eu consegui dizer— Isso é tão fofo. Vocês são melhores amigos mesmo. Você sempre foi sensível assim? —perguntei, com uma certa admiração.

Ele acenou levemente. Parece perdido em memórias.

Me calei.

Aproveitei o silêncio confortável para pensar. Eu quase beijei o Thomas. Não sei como me sinto sobre isso, mas o palpitar avassalador do meu coração me incomoda.

Assim que o táxi chegou, me despedi de Erick. Ele disse que já estava tarde e então iria junto. Agradeci e fomos até minha casa, o caminho não foi muito longo, fomos conversando. Bom, eu conversei com ele, ele apenas me deu respostas curtas. Mas eu sei que é o jeito dele.

Mesmo tendo insistido muito, foi Erick que pagou o táxi. Me despedi dele com um abraço rápido, que não foi retribuído, acho que ele não tem costume disso. Não me importei com isso realmente.

Saí do táxi e entrei em casa, ainda são nove e meia. Meu pai me perguntou por que eu cheguei tão cedo e eu disse que estava cansada pelo longo dia, e que acabei nem gastando dinheiro. Ele me deixou ficar com os cem dólares.

Fui até o meu quarto e tirei as coisas de dentro da minha bolsa, guardando em seus devidos lugares. Ann está na cama dela. Nossa cama é uma bicama, ela dorme na debaixo. Fui direto para o banheiro tomar uma ducha e remover minha maquiagem, eu não sei como as pessoas aqui conseguem se contentar com um único banho.

Assim que terminei, pus meu pijama de gatinhos e passei um hidrante do meu rosto, logo depois me deitei na cama, fazendo o mínimo de barulho que eu consegui. Ouvi um barulho alto de notificação no meu celular e rapidamente me levantei, torcendo para Ann não ter acordado. Ela continua dormindo serenamente. Fiquei mais tranquila e fui até a minha escrivaninha, onde meu celular carrega. Recebi uma mensagem de um número desconhecido.

                                    HOJE

Valeu pela ajuda, coisa inglesa. Da próxima vez vou te deixar se aproveitar do meu corpo bonito, que você tentou de qualquer jeito não olhar  21:44

um simples "obrigado" já seria o suficiente. não quero ficar olhando pra esse seu corpo sem graça  21:45

Percebi isso... mas minha boca é diferente, né? E eu vou voltar pra escola, sei que tá morrendo de saudades de mim   21:45

"nenhenhe saudades de mim". vai dormir Thomas. boa noite, senhor tartaruga ninja ruiva  21:45

O que? Como assim? 21:46



Ignorei meu coração palpitando com rapidez pela menção do que quase aconteceu. 

Li novamente as mensagens.

Ri. Ele com certeza não lembra das coisas que disse, deve ter só alguns flashes. Aproveitei para salvar o número dele. Devolvi meu celular para a escrivaninha e fui me despedir do meu pai, que ainda assiste algo na tevê. Dei um boa noite para ele, disse que o amava. Ele disse que também me amava e me desejou uma boa noite.

Fui novamente para o meu quarto. Ann continua dormindo. Fechei a porta e as cortinas para deixar o quarto mais escuro. Escovei os dentes e finalmente me deitei para dormir. Obviamente não consegui, minha cabeça está borbulhando de pensamentos.

Segunda vou questionar Thomas sobre isso. Não, eu não tenho direito, eu sei. Mas pelo menos saber que ele se garante para ficar bem. Ou talvez ele nem se lembre que tenha falado isso para mim.

Suspirei.

Será que ele ainda quer distância de mim?

Eu não quero distância dele.

Lutas... O que será que ele passa? Eu sinto que estamos mais próximos depois de hoje. Será que posso conversar com ele sobre as lutas? Eu não entendo nada disso, mas ele deve  ter ficado bem mal, para ter sumido.

Eu me sinto feliz aqui, talvez deva começar a confiar mais nas pessoas. Rose sempre me fala sobre sua vida, sobre seu relacionamento, sobre seus sonhos... E eu sempre na minha.

Acho que já passou da hora de sair da toca e começar a falar com as pessoas.

Está decidido. Segunda conversarei com Thomas e falar um pouco mais sobre mim para Rose.

Só de pensar na ideia, já penso em recuar, mas eu juro para mim mesma que irei tentar.

Érick não fala muito sobre ele, talvez ele não se sinta confortável. Mas também está na hora de mudar isso e fazer com que ele se sinta confortável comigo, até porque o considero um amigão.

Está decidido. Segunda terei muitas coisas para fazer.

Está na hora de me aproximar das pessoas que eu quero por perto na minha vida.

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